⚜️Potestas⚜️
Tradução: Poder.
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As correntes prendem meus braços abertos, ajoelhada em meu próprio sangue.
- Como eles sabiam do ataque? - o rei berra em pura cólera acertando minhas pernas e costas a cada palavra - Como? Como?
- Eu não sei! - frustado, Valentino arremessa a ferramenta contra a parede.
Eu não tenho a mínima noção de como, mas graças aos deuses, quando John chegou à base, não havia nem mesmo uma alma penada.
- Foi um ataque bem planejado, uma semana de grande preparo e então esses seres imundos escapam como areia entre os dedos.
- Me parece... - tento reunir um grão de força para falar - Que você não é tão inteligente assim, não passa de um burro com referências teóricas. - a zombaria resulta em uma série de socos e pancadas que me fazem perder o ar.
- Para onde foram? Quem é o informante?
- Eu já disse que não sei, porra!
Algo em minha face faz o rei se afastar com uma leve expressão de pavor, mas logo é substituída pela expressão de satisfação e soberba, como se visse algo que estava a procura a bastante tempo. Com um aceno da mão dele, os guardas começam a me soltar das amarras e me arrastar para minha cela. Apesar da alta quantidade de caldo de papoula que tenho sido obrigada a ingerir e da falta de uma alimentação decente, me sinto forte, como se uma junção de todo o caos que me atormenta
implorando para ser libertado. A sensação não dura muito, sufocada pela exaustão e fome.
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Eu não sei a quanto tempo estou aqui.
Cada momento é um tormento, não só para mim. Mirela está tão destruída quanto eu. Sua pureza, sua liberdade, as pessoas que mais lhe importavam. Tudo destruído por minha causa.
Depois da morte de May, fui jogada nesta cela pútrida, acorrentada a parede oposta onde minha irmã está. Todo meu corpo doía devido a surra que levei de três soldados - cortesia de boas vindas -, porém nada doía mais que o desespero crescente de Mirela questionando o paradeiro de sua gêmea. A notícia da morte a devastou de um modo que a fez se calar e desistir, não há reação nenhuma de sua parte, apenas o olhar perdido sobre um ponto fixo na parede.
Luuk talvez seja o menos quebrado entre nós ou o que desfaça melhor, sempre procura tentar fazer Mirela reagir ou me põe a par de tudo que sofreram antes da minha chegada.
Eu estou em um estado de deriva, perdida entre dor, culpa e delírios. As únicas coisas que não me deixam me entregar de uma vez a morte, são a ideia de que não vou morrer antes de dar a Valentino o que ele merece e - por mais desconcertante que seja - o príncipe de olhos brilhantes.
Quando não estou presa em algum pesadelo horrível ou quando não fui espancada, cortada, envenenada, dopada e queimada o suficiente para apagar por horas a fio, são nos bons momentos que tive ao lado de Octávio.
Entre um delírio e outro, lembro da sensação de seu abraço, o sentimento de ser cuidada e seu doce aroma de lavanda. Ele estava se tornando a pessoa que me faz sentir coisas estranhas, a pessoa que me faz rir e escuta pacientemente enquanto estou tendo um ataque de nervos. Com ele e Marti, me sentia pertencente a um lugar, a uma família.
Em alguns momentos imagino como eles estariam, se Octávio estaria cuidando bem do meu pequeno tagarela. Se Marti havia chorado pela minha prisão. Se Octávio tinha seguido em frente.
Me tirando dos pensamentos voltados aos meus garotos, Mordoon -um dos carniceiros de Valentino - entra na cela com duas tigelas de um caldo esverdeado fedorento. A minha tigela, ele apenas larga aos meus pés com uma carranca horrorosa. O bastardo derramou metade do conteúdo. Devagar ele se aproxima de onde Mirela está encolhida, como nas outras vezes ele deixa a tigela delicadamente em um canto. Com um sorriso malicioso e macabro, o desgraçado aproxima as mãos sujas da minha irmã. De novo não, não posso ver isso de novo.
- Fique longe dela, seu verme! - advirto sentimento meu sangue ferver e meu estômago embrulhar.
Ele apenas me ignora, continuando as carícias sobre minha irmã. Cabelos, bochechas, pescoço, busto, suas mãos passeiam por cima de minha irmã aproveitando-se do seu estado deplorável e sua falta de reação. Sinto nojo e impotência pelas correntes estúpidas que me impedem de me aproximar e destroçar a traquéia do desgraçado.
O desespero se instala, assim que a mão suja do agressor apalpa o seio de Mirela e com a outra coloca seu membro para fora de suas calças. As correntes se agitam com a tentativa de impedi-lo de continuar com essa atrocidade, mas estou longe demais.
- Eu disse para ficar longe dela, filho da puta! Deixe ela em paz!
- E se eu não quiser? - ele diz sem se virar para mim, gemendo em êxtase ao seu estímulos - Não é como se não fosse a primeira vez, não é gracinha?
As lágrimas de ódio descem silenciosas, ao passo que a mesma sensação de semanas atrás me preenche. Aquela coisa desconhecida clama para se solta. E eu irei atendê-la.
Minhas mãos esquentam. Grades começam a chacoalhar. O chão treme. Confuso o carniceiro se afasta dela, dando atenção a mim. Vejo o horror em seu rosto. Sinto o cheiro de seu medo.
- Q-que tipo-o de ab-berração é você? - ele gagueja em puro pavor.
- Seu pior pesadelo.
O homem barrigudo começa a sufocar, seu corpo começa a suspender no ar. Eu sinto o ar escapar de seus pulmões junto com a vida. A sensação é fascinante, como uma peça que faltava se encaixar. Quando o homem para de se debater e a morte o agarrar, seu corpo inerte cai em um só golpe ao chão e tudo ao meu redor parece se desligar.
Em um piscar de olhos vejo tudo roxo e no outro vejo o maior caos. Tesla segura Mirela em seus braços, Margot ajuda Luuk a se levantar de sua cela e um Octávio um pouco assustado e desesperado me chacoalha, mas não sinto nada. Tudo fica escuro e eu apago.
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Ela é o ser mais poderoso que existe entre nós. Uma pequena semente da deusas entre nós. Tão poderosa quanto a sua própria ancestral Crescite.
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Não sinto o cheiro ruim da minha cela, correntes ou a umidade do chão sujo. Sinto um cheiro conhecido de lavanda, uma brisa tranquila ventilando o espaço.
Ao abrir os olhos consigo me situar um pouco, uma tenda bem arejada, tem poucas coisas nela, mas é charmosa. Minhas roupas ensangüentadas deram lugar a novas - uma blusa duas vezes maior do que meu tamanho e calças pretas -, de repente sinto um bafo quente próximo ao meu ouvido e pelos macios se arrastando próximos a minha cabeça. Ao me sentar um pouco sobressaltada, o vejo.
Furry.
Em uma versão maior. Bem maior. Está cochilando esparramado na cabeceira da cama. É lindo, simplesmente lindo que nem parece real.
"- Que tipo de aberração é você?
- Seu pior pesadelo."
A memória vem rapidamente, me atingindo com uma leve dor. Pelos deuses! Eu fiz aquilo? Como? Que porra...
O grande lobo de repente pulou - literalmente - sobre mim, interrompendo meu pequeno surto mental, para me cobrir de lambidas eufóricas que me fazem gargalhar.
- Finalmente você acordou! - a fala vem com a interrupção das lambidas e me faz abrir os olhos assustada, dando de cara com Octávio. Por extinto ou surpresa acabado por dar uma joelhada em sua região sensível, o fazendo cair no chão.
- Que porta é essa? - exclamou assustada me afastando - Mas... Como... O que...
- É b-bom... Te ver... também. - ele diz com uma careta de dor e as mãos entre as pernas - Puta que pariu, como dói.
- Que caralho de alucinação é essa?
- Não é uma alucinação, alteza. - Margot diz na entrada da tenda dividida entre rir da situação e sentir pena do pobre príncipe - Do que se lembra?
- Um nojento iria abusa da minha irmã, eu fiquei possessa e aterrorizada, fiz algum coisa e ele morreu lindamente, eu apaguei e acordei aqui. - digo tudo em um só fôlego.
- Até que para um semana desacordada, você está ótima. - ela diz se sentando em um canto da cama, próximo de onde Octávio ainda tenta se recuperar da dor.
- Uma semana?
- Você usou muito de seu poder para uma primeira vez, é normal o desgaste, principalmente quando se não está acostumada com um poder tão raro e intrigante.
- Que história de poder é essa?
- Está na hora de mais uma história, princesa.
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- Antes da grande guerra contra os demônios, em um tempo de paz, Crescite conheceu o amor. Um jovem rapaz chamado Narciso Vaccim, um mortal, roubou o coração da deusa. Um romance considerado inapropriado, mas ambos se entregaram de toda alma ao que sentiam.
"Por onde o doce casal passava, flores brotavam, a música exalava e o amor era sentido. Mas a guerra chegou e com ela o caos e a destruição. Ao final das batalhas a deusa apaixonada, se via chorando a morte de seu amado, se lamentando por seu grande amor não ver a semente que crescia em seu ventre.
Não foi apenas a coroa que a deusa deixou aqui, mas também sua filha, para que crescesse em um lugar de paz. A criança, uma doce garota de aparência radiante, foi criada por sua tia, a rainha Flora Vaccim. Quanto mais crescia a menina mostrava que herdará o poder de sua mãe. Um poder pequeno se comparado a deusa, porém mais poderoso que qualquer ser mágico existente na terra.
Ela era graciosa, inteligente e bondosa, não demorou para que um jovem ninfoide elementar, controlador dos quatro elementos, tivesse seu coração fisgado pela bela Celeste.
Com o alcançar da maior idade da sobrinha, a rainha Flora achou correto que a coroa e o trono de Crescite passasse para sua legítima herdeira. E ao seu lado seu amado ninfoide - o mais poderoso de sua espécie -, poder e gentileza prevaleceram neste reinado.
Dos três filhos de Celeste, nenhum herdou o poder vindo da deusa e apenas seu primogênito foi agraciado com a magia, que foi passada de geração após geração da linhagem Vaccim. Com a grande caçada a qualquer dominador de magia, muitos nobres e até famílias reais varreram de seus registros e esconderam qualquer coisa que comprometessem seus herdeiros."
Não sei se fico aterrorizada ou tenho uma síncope nervosa ou se desmaio. Estou decidindo entre essas opções.
- Está me dizendo que além de princesa de Crescite, tenho poderes e um pedaço da própria deusa correndo em minhas veias?
- Exato. - ela se ajeita no espaço, agora sem o príncipe, que conseguiu com muito esforço sair para pegar gelo - É um pouco difícil saber exatamente qual a extensão dos seus dons. Por exemplo, a princesa Tesla, seus poderes são uma fusão entre uma fada da luz e metamorfo, mas a senhorita é algo além da nossa compreensão.
- Se Tesla é parte metamorfa, então...
- Sim, o príncipe Octávio é um metamorfo. - ele afirma - Ele e o cãozinho que você se apegou são a mesma pessoa. Devo dizer que do meu ponto, já deixa bem claro o quanto isso é uma prova de que é perdidamente apaixonado por você. - sua fala me faz corar e algo se agita em mim.
Foco.
- Certo. Mas e eu? O que sabe até agora?
- Quando recebeu aquela caixa cruel, toda a carga emotiva somada com seu estado mental deteriorado conseguiu liberar um "gatilho" para seus poderes ninfoides, no entanto quando fizemos aquela missão de resgate você matou aquele homem em uma espécie de combinação de ambos os poderes, que causou um choque em seu sistema nervoso desprovido de preparo para algo tão grande. Tudo isso meio que confirma que você é a primeira da árvore genealógica a herdar os dois poderes.
- Como?
- Não faço a menor ideia.
Isso é... Insano.
Sou descendente da própria deusa, com um poder absurdamente grande em mãos e que não tenho ideia de como controlar. Minha cabeça dá voltas. Preciso raciocinar direito.
- Eu preciso de ar puro. - digo me levantando e saindo o mais rápido possível.
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A base de Percus é duas vezes maior que a outra base. A parte onde encontrei meu refúgio - a beira de um riachinho mais afastado da tendas destinadas aos rebeldes fugitivos do ataque de Valentino - é bem próximo a floresta de árvores de troncos largos, se olhar na direção oposta uma bela ravina se estende a perder de vista. Mais a direita um grande morro se eleva com várias casas esculpidas na rocha, dando a impressão de várias tocas de coelhos. É um lugar maravilhoso, digno da benção do deus Percus.
Junto da leve brisa, milhares de pensamentos seguem rodopiando por minha mente. Meus irmãos. A vingança contra Valentino. Octávio metamorfo. Marti. Meus recém descobertos... Poderes. Mais uma história que a Margot me contou.
Tudo vai e vem como o vento. Alguns meses atrás minhas preocupações eram meu trabalho e qual seria o novo corpo que dividiria a cama comigo naquela noite, para suprir um pouco da solidão que sentia - que sinto até hoje -, agora tudo mudou completamente, me deixando mais perdida do que já era antes de tudo.
Sempre que me sentia tão perdida ao ponto de não ter vontade de levantar da cama, meu pai e Gigi eram os primeiros a notar. O primeiro sempre vinha com um abraço que só ele tinha e passamos horas em silêncio acompanhando uma boa leitura. Já Gigi, aparecia em minha janela com doces, jogos e produtos de beleza para uma "festa das meninas", como ela gostava de chamar.
Eram bons tempos.
- Oi. - Octávio aparece com um sorriso tímido. Acho que existe mais alguém que sempre irá notar quando não estou bem.
- Oi. - dou um sorriso amarelo - Desculpa pela joelhada, foi o susto.
- Está tudo bem, eu deveria ter sido menos... Eufórico. - ele se senta ao meu lado, igual na noite de Quievit, quando surtei.
- Por que não me contou antes? Se olharmos bem para a situação, você está me parecendo um pervertido perseguidor. Se você ficou me espionando, juro por Deus que arranco suas bolas com mais uma joelhada.
- Eu juro por todos os deuses e pela memória da minha mãe que nunca fiquei te observando em momentos íntimos. Todas as vezes que voce adormecia ao meu lado naquela forma, eu sempre sai no meio da madrugada e com o tempo eu mesmo não estava mais confortável em me apresentar a você naquela forma, queria que gostasse de mim pelo meu verdadeiro eu. — seus olhos imploram que eu acredite nele e eu realmente sinto a verdade saindo de sua boca — Você estava desmoronando e eu só queria te dar um motivo para não ceder.
Nós ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas escutando o cantar dos pássaros e som das águas correndo. Sua companhia é tranquilizante.
- Por que você cuida de mim? Por que se importa? - pergunto tranquilamente, com curiosidade.
- Por que gosto de cuidar de você. - ele diz se voltando para mim, olhando no fundo dos meus olhos - E por que me recuso a ver a garota que gosto tentar se destruir sem fazer nada para impedir.
Sua fala e seu olhar penetrante me deixam sem palavras. Ele parece não ter mais nada a dizer, com sua bochechas ganhando um pequeno tom rosado. Adorável.
Todos os momentos legais que passamos juntos, me vem a mente. E se, por algum acaso, pudessemos ter algo a mais? Não como os outros, algo bonito e romântico, como meus pais tiveram. Seria bom dormir e acordar com seu perfume, rir de suas piadas ruins - que são tão ruins que dão vontade de rir - e ser cuidada. Seria bom me deixar levar sem medo.
No entanto não posso. Sou um ímã para qualquer coisa ruim. Vou machuca-lo. Ele merece mais que alguém confusa, melancólica e principalmente, alvo de ataques constantes.
- Está fazendo aquilo de novo. - ele diz de repente.
- O que?
- Aquilo de pensar demais. Estou quase vendo fumaça sair de sua cabeça.
- Só estou perdida. - digo com uma risada anasalada - A Judith Redder morreu a bastante tempo, então não sei quem sou ou o que tenho que fazer.
- Você é Agatha Concis Vaccim. Única e poderosa. Descendente da deusa Crescite. - ele diz tranquilo - Muitos disseram que seu destino estava traçado pelos deuses, porém em seu sangue corre um pedaço da deusa, o que tecnicamente te torna uma deusa também. Seu destino é traçado por você. Faça o que você achar que deve fazer.
Suas palavras são tão profundas quanto a sinceridade em seus olhos. É isso que ele me faz sentir. Tranquila e sem medo, sinto que posso me afundar em seus olhos, sem julgamentos e sem que algo fatídico aconteça.
Lentamente começo ae aproximar do moreno, que ao notar minha intenção, fecha os olhos em expectativa. Isso me faz sorrir. Quanto mais próximo, mais meu coração martela. Só senti essa sensação uma vez - com Annelise -, é aterrorizante e mágico ao mesmo tempo. Esse príncipe - bobalhão, espontâneo e que tem um jeito delicado de cuidar de mim - talvez esteja me fazendo sentir coisas.
Antes que meus lábios pudessem chegar aos seus, sou atirada ao chão por um corpo menor que o meu e de cachos característicos. Marti.
- Graças aos deuses, você está viva! - ele diz entre um soluço e outro - Quando o Octávio disse que você tinha sido capturada, eu fiquei tão preocupado. Tive medo que morresse.
- Ei. Ei. Calma. - começo a acariciar seus cabelos - Está tudo bem. Sou mais difícil de matar do que imaginava.
Ele permanece ali agarrado a mim. Aos poucos ele vai se acalmando e o choro vai parando devagar. Ficamos os três ali, observando a natureza, jogando conversa fora. Ou melhor o menor preenche a maior parte do diálogo acompanhado do príncipe, enquanto me contam com riqueza de detalhes como eles se dão muito bem e como a cabana de Octávio é confortável.
- Não é querendo desmerecer a outra base, mas eu gosto bem mais dessa. Nem é por quê é minha terra natal, mas tem muito mais flores e coisas bonitas. - ele diz me apertando mais em seu abraço, como se tivesse medo de que fosse me perder se apenas me solta-se - Eu tinha feito um buquê para você, mas seu resgate foi tão demorado que elas murcharam.
- A intenção é o que vale. - digo com um sorriso doce - Você poderia fazer um para que eu leve para minha irmã?
- Claro! Eu posso... - Tesla surge, fazendo Marti se interromper.
- Alteza. Margot está a sua procura.
- Pode me adiantar o assunto?
- Os lordes e ladys dos portadores de magia desejam conhecê-la.
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