Capítulo 13




Blusa, sapato. Bota, meias, casaco, calças e cachecóis, talvez estivesse faltando mais coisas além de seus cosméticos e materiais artísticos, só que sua mente parecia não colaborar consigo mesma. Até que recobrasse o que deveria ser, ela ainda estaria na metade de sua arrumação.

- Phoebe, querida, você se lembra que serão apenas quatro semanas, né?- perguntou Peter, analisando a situação caótica do quarto da filha e sua mala gigante, cheia de roupas, sapatos e etc. Talvez ela estivesse indecisa sobre o que levar, mas, para que tanta coisa? Bem, os homens jamais entenderiam o cérebro feminino.

- Eu sei, eu sei, mas, tem tanta coisa para levar e não sei se vai caber- reclamou ela, enquanto apoiava as mãos sobre o queixo.

- Hum... vejamos, é inverno, Londres é úmida, gelada, muito gelada, e quase não há sol nesta época do ano, o que indica que há muitas chuvas, o que eu sugiro, que você leve menos blusas e coloque mais camisas de frio, se não houver sua avó compra por lá, e sem sapatos, lembre da umidade, ou seja, do frio e da chuva, juntos, então leve as botas que tem e será suficiente...

- Mas, pai, se eu retirar os sapatos o que eu vou usar durante o tempo que estiver em casa?- perguntou confusa, não se lembrava de Londres, talvez porque a última vez que fora, era muito pequena.

Peter coçou a cabeça indeciso, uma velha mania dele. Apesar da pergunta pertinente, ele queria entender para que tanta coisa.

- Eu acho que você vai usar apenas meias, então pegue quantas tiver, quando chegar lá sua avó compra pantufas se necessários, e por favor, leve meia calça, ou vai acabar tendo uma hipotermia.

- Que exagero- resmungou Phoebe, revirando os olhos.

- Hum... leve os vestidos que nunca usa, porque são muitos quentes para nosso inverno brasileiro, ah, e não se esqueça das luvas- isso, eram as luvas que estavam faltando, mas, havia mais alguma coisa?- acho que é só isso, o restante eu não sei pra que serve, mas, você deve saber,

- Oras papai, não é você quem diz que a nossa avó é influente e vive visitando as pessoas e aparece sempre em festas?- questionou ela, com um olhar impactante, como a mãe costumava fazer. Céus, como Phoebe era idêntica a ela- imagina, eu indo de qualquer jeito nas casas desses ricos londrinos.

- Querida, não se preocupe com essas futilidades, garanto que dona Judy sabe muito bem o que fazer- assegurou ele, se lembrando de sua adolescência e de como sua mãe era impertinente com ele.

- Se você diz- respondeu ela em desdém.

As cartas estavam sobre a mesinha ainda bagunçada, estava exausta, havia bagunçado tudo e foi um tremendo desafio colocar tudo no lugar, exceto a mesinha de estudos. Só faltavam duas cartas, e sinceramente, ela estava ansiosa, mas, acreditava que tudo deveria ser lido no momento certo.

Bom, eu seu caso, talvez depois de um bom banho.

Se Peter a pegasse em cima do tapete do quarto, com o prato de comida, era castigo na certa, mas, acreditava que seria capaz de não derrubar comida na pelagem sintética branca, dele. Com a carta nas mãos, ela suspirou, pois sabia que essas seriam as últimas palavras dela, e somente dois envelopes estariam, revelando o que ela desejava para ela.



05.08.23

Querida Phoebe, você me chamou de mamã hoje, eu confesso que esbocei algumas lágrimas, enquanto deixava a quantia de sorvete pega com a colher cair no chão, porque sim, eu sou sua mamã. Mas, quando esses olhinhos verdes brilharam eu entendi que o que você queria era o sorvete, mas, não me aborreci, porque era a mim que você estava chamando.

Confesso que mais atrapalhei do que ajudei, e no fim, sobrou para a vovó limpar a nossa bagunça. Eu sei que parece que estou em um hospital em sua imaginação, e não me pergunte como eu sei disso, e se estiver errada, ficarei aliviada, mas, na verdade, por minha decisão não recorrerei mais a nenhum tratamento, com os dias contados, e a promessa de aproveitá-los ao lado de vocês, eu decidi ficar em casa. Mas, confesso que tenho guardado só os momentos alegres, e não os pequenos acidentes que tenho deixado você e seu irmão sofrerem.

Apesar de tudo, tem sido emocionante, ver a bagunça que vocês dois fazem enquanto comem o almoço, e em como são lindinhos dormindo ao meu lado no sofá, depois de uma deliciosa mamadeira no meio da tarde. Você as vezes é tão maldosa com ele, que chega a me preocupar, mas, deve ser coisa de criança, acredito que essa fase vai passar.

Ontem, eu observei que você gosta muito de borboletas. Decidi tomar um sol com vocês na minúscula varanda que possuímos e acredite se quiser, havia uma borboleta por perto, ela era amarelinha e pequena, e você esticava a mãozinha e gargalhava a cada batida de asa mais próxima, era tão emocionante ver a sua empolgação.

E nesta noite, eu senti meu coração apertar, porque enquanto vocês dormiam aninhados ao meu lado, seu pai escondia as lágrimas, e isso me fez cair na realidade, e entender que não estarei aqui por muito tempo, que não poderei salvá-los do perigo, nem fazê-los pagar vergonha com o meu jeito protetor de mãe. Mas, eu confio que seu pai possa fazer tudo isso por mim, ele é bom nisso, tem cuidado de vocês bem melhor do que eu. Soube por sua avó, agora a pouco, quando busquei um chá, pois estou ainda sem sono, que a partir de amanhã, ele ficará conosco, até que eu parta para um descanso.

E me veio uma repentina ideia porque não, fazer algo que eu gostava muito antes me casar.

A borboletinha.

Em uma planta vizinha, se escondia uma borboletinha, ela era curiosa, aventureira e desfrutava do néctar das flores, com tamanha habilidade que se tornava impressionante. Ela era rápida, mas tão rápida, que nem os lagartos e os sapos, eram capazes de capturá-la. A borboletinha, era amarela, rosinha, tinha um pouco de preto e um verde bonito em volta de seu rostinho, apesar de quase imperceptível ela tinha um sorriso, bem minúsculo, bem sincero e muito fofinho. A borboletinha não tinha muita idade, o casulo ainda parecia recém- aberto, o que comprovava a teoria, mas, também não era sozinha. Sim a borboletinha, tinha uma irmãzinha. Mas, está em questão, era bem azul, bonitinha, mas, muito lerdinha, enquanto a coloridinha rápida e esperta fugia, a azulzinha, pobrezinha, caia, caia e caia.

Um dia um lagarto feioso, todo verdolengo surgiu, e uma grande e brava borboleta surgiu, ela era amarela, azul e estava uma fera, voou, voou e voou e cegou o lagarto verdolengo, que fugiu em busca de comida, bem longe das plantas vizinhas. Ao lado, a dona abelhinha, contava que a azulzinha, só caia, caia e caia, então a borboleta, brava e preocupada, resgatou a sua pequena, e a colocou de volta a sua casa, pois o sol que já se punha, indicava que era hora de dormir.

Sei que não é mais idade de histórias infantis, mas, eu sei escrever muitas coisas, pergunte ao seu pai, ele pegou metade dos meus trabalhos e não levou as editoras, ao menos não até hoje. Mas, há um livro publicado a mais de um ano e meio, foi uma semana antes da minha formatura. Em um de meus trabalhos, vai gostar de conhecê-lo. Bom meu amorzinho, de olhos verdes brilhantes e de uma risada fofinha, eu preciso dormir, afinal, eu tenho pouco tempo, mas, devo estar disposta para aproveitá-lo.

Com amor, Mamãe.



Não queria chorar aquele tanto, mas, era tão linda, que levaria consigo e encontraria uma maneira de todos conhecerem seu lindo texto. Não sabia de sua veia literária, na verdade só não se recordava. Alguém deve ter dito, mas, ela ignorara. Sorriu, secou as lágrimas e tratou de limpar o prato antes que Peter a encontra-se naquela situação, pois não via a hora de estar em Londres e visitar os castelos e os museus. 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top