Suspeito
Darian andava por entre as ruas de terra daquela vila, entre casas simples e algumas estalagens até, por fim, chegar à feira.
O lugar era como um bairro de vendas: uma ampla região onde os estabelecimentos ofereciam dos mais diversos tipos de produtos, às vezes expostos na beira da rua e às vezes no interior de uma pequena loja.
O objetivo do elfo era comprar um vegetal vermelho que Dona Lúcia insistia ser uma fruta, porém ele nunca aceitaria essa verdade. Ela sempre estava precisando de algo para fazer as refeições, e Darian se mantinha de prontidão para fazer estas pequenas e monótonas compras.
A multidão era razoável, ao passo que não chegava a ter uma confusão generalizada, mas havia uma quantidade significativa de pessoas, capaz de manter o comércio em funcionamento total. A diversidade de espécies que havia ali era enorme e isso fazia Darian ficar mais confortável, sabendo que não era o único a deixar um reino.
- Eu nunca sei como escolher isso...- resmungou ele para si mesmo enquanto pegava o vegetal avermelhado da bancada exposta ao ar livre.
Olhou para um, olhou para o outro e por fim decidiu que seguiria sua intuição naquela escolha. E sua intuição dizia: o que estiver na frente você pega, salvo se estiver muito feio. Ele deu uma pequena risada enquanto realizava essa escolha tão minuciosa.
Assim que selecionou oito dos melhores produtos dali, ele os levou em uma sexta para o dono da venda; porém, parou por alguns instantes ao sentir alguém em suas costas. O elfo se virou e se deparou apenas com um monte de indivíduos seguindo o próprio caminho.
- Duas moedas!- o homem velho e calvo anunciou, ao vê-lo trazendo a cesta. O mercenário retirou de um bolso duas moedas de prata e entregou ao senhor enquanto o agradecia; jogou o vegetal/fruta em um saco pequeno de pano e seguiu viagem rumo ao próximo destino.
A sensação atacou novamente, mas não havia nada ali.
- Preciso tomar cuidado com esse chá- falou baixo, apenas para si.
Após expulsar seus maus pensamentos, o elfo abriu uma porta de madeira bastante detalhada e bonita. Aquele certamente era um estabelecimento de maior nível. Assim que entrou, teve a visão clara do local que o fazia sorrir e se sentir em casa: era uma loja de armas. O lugar era bastante amplo, possuía dos mais diversos tipos de armas espalhadas nas paredes e em estantes enormes. Machados, lanças, flechas e espadas de todos os tipos, além de uma área reservada para testes, preenchida por bonecos de palha e objetos para serem cortados.
Avançou rapidamente até o balcão que havia nos fundos e pôs-se a conversar com o atendente e também dono do lugar.
- Olha só meu elfo favorito! Que bom vê-lo aqui, Darian- foi logo dizendo o homem forte e robusto enquanto estendia a mão em cumprimento. Sua aparência e vestes lembravam um viking.
- Olá, Cobra!- respondeu o elfo, correspondendo ao ato. Seu nome era Mor, porém os que o conheciam ou ouviam boatos sobre ele o tinham como "O Cobra", devido ao seu fascínio pelo animal. O homem era capaz de reconhecer qualquer espécie de cobra à sua frente e sua peculiaridade.Ele contava já ter matado uma delas a enforcando com o mindinho, mas, logicamente, o elfo sabia filtrar tais exageros.
- O que traz você à minha humilde loja desta vez?
- Quero vender isto!- Darian dizia enquanto pegava um embrulho que estava preso atrás de sua cintura. O embrulho era da cor bege e estava amarrado por uma faixa de couro. Colocou-o sobre a mesa.
- E o que seria? Mais uma espada que conseguiu romper, eu presumo...- o homem mostrava-se interessado, à medida que acompanhava o movimento das mãos do elfo enquanto este desatava a fita de couro.
- Sim!- riu o elfo.- Ela não resistiu à batalha de ontem.- finalmente, a espada estava à mostra: um punho de ferro com couro ao redor, uma pequena guarda apenas de um lado e uma lâmina larga levemente curvada. Um lado de corte.
- Você faz meus produtos parecerem de péssima qualidade, sabia?- o homem ria, mas também se mostrava assustado ao ver uma arma daquela partida.
- Ah, mas durou quase um ano...- tentou amenizar, mas sabia que uma espada daquela duraria por vários anos- Mas enfim, você vai querer?
Mor olhou, pegou, analisou em todas as direções e, por fim, respondeu:
- Dou 3 moedas de ouro!- jogou o preço.
- Ótimo, aproveito e compro um doce com esse valor- o elfo foi irônico à medida que Mor revirava o olhos.
- 5 e você some daqui!- o homem colocou os cinco círculos de ouro detalhados sobre o balcão e Darian os pegou com um sorriso no rosto.
- Amo fazer negócios com você. - se retirou do lugar.
- Darian, Darian...- Mor suspirou em voz baixa.
Já na rua, Darian pensava em seu próximo destino naquela feira, pois gostaria de aproveitar o tempo livre para que resolvesse tudo de maneira direta. No entanto, a sensação constante da presença de algum indivíduo indesejado estava tomando conta de sua mente. Olhou para todos os lados por alguns segundos até, por fim, seguir em frente.
Mais à frente de onde ele estava havia uma área aberta, à direita. Não possuía casas ali, apenas um pequeno muro de pedra, de modo que o elfo pôde apoiar seus cotovelos e observar a paisagem. Do outro lado, havia uma queda enorme e um rio passava por lá; mais adiante, uma enorme mata seguia por quilômetros no campo de visão. A região onde o elfo estava parecia uma grande praça, na qual várias pessoas se reuniam. Foi do aglomerado que surgiu quem Darian tanto esperava.
- Sabia que beber muito é ruim para a saúde, não é!? Infelizmente, parece que você não bebeu o suficiente ontem...- Ele dizia sem tirar o olhar do horizonte. Nenhuma resposta veio.
Alguns segundos se passaram e o mercenário se virou enquanto se esquivava para o lado. Um machado cortou o ar verticalmente e acertou o muro de maneira a ficar preso. O elfo aproveitou e atingiu o Orc na barriga, o fazendo recuar, e seguiu deferindo golpes frenéticos em sua face. Finalizou com um chute giratório.
O inimigo balançou a cabeça para recuperar a consciência e partiu para cima ferozmente. Enquanto aquele corpo se movia em sua direção, Darian se colocou em posição firme, desviando do primeiro golpe direto. Aquele braço que havia passado rente a seu rosto foi agarrado com força e, com o auxílio do próprio tronco do inimigo, o elfo tentou jogá-lo no chão.
O corpo do Orc passou por cima do elfo; porém, Darian não havia percebido que estava na beirada. Logo, seu adversário acabou ultrapassando o muro e entrando em queda livre.
- Não!- O mercenário falou por impulso enquanto observava o corpo cair e se chocar no caminho de pedra que havia na beira do rio.
Rapidamente, o elfo correu por toda a extensão do muro buscando um modo de descer, até encontrar uma escada de pedra feita na lateral do paredão. Utilizou do acesso e chegou até o caminho de pedra, por onde seguiu até o Orc morto.
- Droga! Precisava fazer umas perguntas a você... Sabia que já é o quarto este mês que tenta me matar!?- ele ia dizendo enquanto procurava alguma pista útil no corpo.
Olhou, olhou e, por fim, chegou ao pulso direito onde havia dois "K" marcado por algo extremamente quente, um de costas para o outro.
- Bom, já sabemos quem me quer morto, mas isso só me fez continuar com dúvidas...- disse o elfo enquanto erguia o corpo para se retirar do local, quando então algo aconteceu.
Darian sentiu um vento frio passar por ali e, de repente, o Orc que se encontrava morto ao seu lado respirou fundo, como se buscasse o último fôlego de sua vida.
- Ela vem atrás de você!- disse em uma voz rouca e fraca, enquanto sangue saía por sua boca.
Darian olhou diretamente aquele ser e seus olhos arregalaram ao ouvir tais palavras. Rapidamente, sua consciência saiu dali, como se entrasse em um sonho.
Nele, várias pessoas corriam para todos os lados, sob a luz brilhante da lua. Gritavam de medo enquanto dois indivíduos lutavam no meio de uma praça. O elfo não conseguia distinguir quem ou o que estava lutando, apenas sabia que tinham poderes devastadores. Antes mesmo que se movesse em direção ao campo de batalha, tudo se distorceu e uma das figuras foi até ele de modo instantâneo. Agarrou seu pescoço e o ergueu do chão. O elfo conseguia ver apenas uma silhueta feminina.
O ar estava lhe faltando, quando então retornou para sua consciência. Seu coração estava acelerado e os pensamentos confusos. Pôde apenas perceber o seu adversário já morto, então coube a ele sair daquele lugar para se recuperar.
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OBS: Podem ter percebido que a descrição e imagem da espada não batem muito, mas a imagem foi apenas para demonstrar o formato da lâmina.
Obrigado :):):)
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