2.Três vassouras

Palavra do dia: Eutimia - é definido como um estado de equilíbrio no humor e tranquilidade. 

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Sabrina estava linda. Optou por uma blusa de gola alta e mangas longas, com um vestido rubro por cima; meias escuras adornavam as coxas, e os sapatos completavam o traje. Os cabelos estavam soltos, e ela havia passado um pouco de gloss.

— Anda, Bina, não vai chamar seus namorados? — Agatha perguntou, fazendo-a sorrir minimamente. É claro que pretendia falar com os gêmeos.

— Vai na frente, Agatha, eu preciso de um momento — respondeu Sabrina. A loira logo maldou, rindo baixinho.

— Só não perde a compostura, meu bem — ironizou, se afastando. Sabrina não tinha do que reclamar; estavam construindo uma boa amizade.

Enquanto isso, no campo de treino, os alunos da Grifinória se divertiam entre uma rodada e outra. Treinar à noite tinha sido uma ótima ideia e evitava os Sonserinos fofoqueiros que queriam descobrir suas táticas de jogo.

Aloísio, um dos muitos grifinórios que faziam parte do time, se aproximou.

— Pretendem ir à festa em Hogsmeade?

Os irmãos se olharam de maneira cúmplice; queriam ir à festa, mas ainda não haviam conversado com Sabrina, pois pretendiam levá-la também.

— Talvez — respondeu Jorge, em tom de dúvida.

— Ah, qual é! Vocês nunca perderam uma comemoração — o grifinório insistiu, e estava com razão. Em muitas das festas, eram os gêmeos que davam as ideias. — Não me digam que é por causa do boato que está rolando sobre o namoro de vocês com a Sonserina.

Fred arqueou a sobrancelha; ele até sabia dessa palhaçada, mas não ligava.

— É realmente muita falta do que fazer, não acha, Jorge?

— Põe falta nisso — Jorge riu. — Talvez eles precisem de umas dicas, não acha, Fred?

A dupla riu, e Aloísio desistiu; sabia que, no fim, eles fariam o que bem entendessem. Antes que pudesse conversar mais, ao longe, eles viram Sabrina se aproximando em um traje branco e vermelho.

— Parece que vocês vão à festa — Aloísio comentou, afastando-se.

Conforme Sabrina se aproximava, ambos os gêmeos sorriam, com um brilho no olhar que a desconcertava.

— Você está bonita — Fred sussurrou.

— Realmente, adoramos te ver de vestido — Jorge completou, fazendo-a corar.

— Meninos... — Sabrina deixou um beijo na bochecha de cada um. Como estavam em público e o time claramente os observava, ela não queria arriscar problemas em Hogwarts. Sabia que, embora relacionamentos entre alunos fossem comuns, eles eram um trio, e as pessoas ainda eram retrógradas quanto a isso. No fundo, nem ela mesma entendia como aceitou tão rápido, embora se martirizasse mentalmente no início. Talvez fosse pelo fato de serem eles, os gêmeos que ela sempre quis. — Tem uma festa rolando em Hogsmeade. Querem ir? — perguntou diretamente, e eles respiraram fundo.

— Só poderemos depois do treino — Fred disse, parecendo um pouco frustrado, embora a ideia de treinar à noite tivesse sido dele e do líder do time.

— Mas te encontramos lá — Jorge sorriu, concordando.

— Vou aguardar vocês. Só não prometo que terá cerveja amanteigada até lá — ela riu. — Até breve, meninos.

Se afastou, percebendo que ambos a observavam.

— Nossa garota é realmente linda — Jorge sussurrou, e Fred sorriu.

— É, ela é sim.

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O Três Vassouras estava cheio; alunos de todas as casas confraternizavam entre si, esquecendo-se da rixa boba que existia dentro das paredes de Hogwarts. Sabrina não fazia a menor ideia de que a festa fora organizada por alguns alunos em cooperação com os apoiadores de Hogwarts, que não perderam o espírito escolar. Era divertido observar os alunos conversando, despreocupados.

Agatha estava com os lábios grudados em algum sonserino que Sabrina não reconhecia. Quando o beijo acabou, a loira passou pelo balcão, pediu duas cervejas amanteigadas e retornou para a mesa.

— Em nome de Merlin, ele parecia que iria te engolir ali mesmo — Sabrina comentou, levando a amiga a rir.

— Não direi nada, apenas que foi um dos melhores beijos da minha vida. — Agatha era emocionada e muito desapegada quando se tratava de relacionamentos. Ainda assim, olhava para a amiga um pouco receosa. Apesar da brincadeira, Sabrina estava distante; ela não conversava muito, e toda vez que ficava sozinha, o semblante era o mesmo. De alguma forma, Agatha sabia que aquilo não tinha a ver com os gêmeos. — Por que não me conta o que aconteceu na sua casa?

Sabrina piscou. Era tão evidente assim o seu mau humor? Ela poderia negar e afirmar que Agatha estava sendo invasiva, mas a loira possuía um semblante carinhoso, deixando claro que só queria ajudar. A castanha respirou fundo antes de dar um gole na cerveja amanteigada.

— Tudo bem. São os meus pais. Minha família é complicada, Agatha. Aqui em Hogwarts eu sou completamente livre, mas é só cruzar os portões do "castelo" dos Folks que viro uma mera prisioneira.

— Então por que você foi visitá-los? Você estava tão bem depois de ter conhecido sua sogra — comentou Agatha.

— Eu sei. Apesar de serem controladores ao extremo e, às vezes, uns carrascos, ainda são meus pais. Pode parecer loucura, mas sinto saudade deles de vez em quando. — Ela encarou a borda do copo antes de continuar: — Tivemos uma festa... estava mais para um ultimato. — Sabrina revirou os olhos.

— Nossa, sua família é tão ruim assim que até a festa é um inferno? — Agatha perguntou, confusa.

— Então... A festa era para me apresentar a um filhinho de papai ridículo. Meus pais dizem que já estou na idade de ter um noivo e, para piorar, queriam falar de negócios. Foi assim com toda a minha família, negócios à frente de qualquer mero sentimento, inclusive com eles.

— E você negou, imagino.

Sabrina riu sem humor.

— Eu fiz pior. O que meus pais consideram como desonra. Simplesmente deixei claro que já estou namorando e fui embora no meio do evento. — Ela deu de ombros. — Desde então, eles já me ameaçaram e afirmaram que vou para Beauxbatons se não pedir desculpas — revirou os olhos, chateada.

— Tudo isso porque você não quer casar? — Agatha perguntou. — Sinceramente, seus pais são antiquados e a educação deles é uma merda.

Sabrina riu.

— Você não faz ideia. Não se trata de casamento. Meus pais seguem fielmente as regras implantadas na família há séculos, são conservadores ao extremo, e isso me deixa irritada. Eles escolheram minha educação, meus amigos e todo o resto. Fui criada para suprir expectativas, e Hogwarts foi meu ponto de libertação. — Finalizou bebendo novamente. Agatha percebeu o desconforto dela e sorriu.

— Por isso não contou aos gêmeos?

— Exatamente. Se meus pais descobrissem, meu maior problema seria Ethan Folks ferrando com gente inocente por capricho além de ser um preconceituoso com tudo que não representa o seu conceito de monogamia e família perfeita, a felicidade para ele nunca importou e sim o conceito e status que toda essa encenação traz. Então, prefiro assim: o que ninguém sabe, ninguém estraga.

— Isso aí, garota! Agora, tentando alegrar sua noite... como vai lidar com eles? — Agatha sugeriu, e a castanha revirou os olhos.

— É sério, Agatha, você é uma pervertida mas hoje está demais! Eu não quero que me escutem e algo me diz que está aprontando...

A Astley riu levemente.

— Bobagem Bina. Só tem nós duas aqui, as mesas são separadas. Abre logo o jogo, querida, ou foi tão ruim assim?

— O quê? Não! Está longe de ser ruim, foi... — Ela mordeu a bochecha internamente para reprimir a vontade de falar a verdade.

— Só por essa carinha eu sei que foi bom pra você.

— Agatha Astley, você precisa focar em outra coisa. Que tal falarmos de você?

— O que quer saber? Sou um livro aberto, amor.

Sabrina revirou os olhos.

— Quem era aquele sonserino?

— Um ninguém. Ele é bonitinho, e eu só queria dar uns beijinhos em um cara bonito e não obcecado. — Agatha revirou os olhos antes de encarar um certo lufano ao longe. — Por que raios eu fiquei com ele? Quer dizer, ele tem um sorriso bonito e uma conversa mole, mas não deveria ser o suficiente! Eu arrumei um fã sem querer! — Fez um biquinho de quem estava prestes a chorar e Sabrina afagou as costas.

Ela já sabia do que a Astley estava falando; Agatha tinha o costume de ser boca grande quando estavam só as duas e revelava o que vinha na mente. Essa era a vantagem de se ter uma amiga.

— Quer mudar de assunto, já que esse te deixa desconfortável? — Sabrina sugeriu.

— Com toda certeza. O que acha de voltarmos a sua relação? — Agatha gostava de provocá-la, mas hoje estava demais e Sabrina tinha plena ciência de que ela só se aquietaria quando conseguisse alguma reação.

— Você sabia que o Três Vassouras também é uma hospedaria...

— Ah, claro, vou alugar um quarto para passar a noite com os Weasley's e depois me viro com os cochichos na escola — ironizou, notando que Agatha estava perversa, muito mais maliciosa que o normal somente por ter ficado feliz com tal sugestão.

De repente, Sabrina sentiu os ombros serem afagados e os cabelos também.

— É uma ótima ideia, meu bem. O que acha, Fred?

A respiração de Sabrina sumiu.

— Olha, estou lisonjeado por isso. Quer escolher, gatinha?

O sorriso de Agatha se alargou demonstrando seu estado total de eutimia antes de levantar.

— Bom, meu trio favorito, divirtam-se. Acho que encontrei algo para mim.

Foi naquele momento que Sabrina entendeu que a loira tinha armado boa parte dos acontecimentos.

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