Capítulo 7 - Unidas
Olhei para ela, procurando mentiras e falsidade em sua expressão, mas não havia nada além de verdade genuína. Tudo o que dizia era verdade, inclusive que meu irmão sabia a aparência e talvez até mesmo o nome do anjo da guarda de Cassandra que era o motivo de ela ter aceitado começar a trabalhar com um grupo extremista.
— Você não o encontrou quando estava mandando os anjos? — Perguntei, estava sendo direta dessa vez, embora suspeitasse que não.
— Não, ele se escondeu de mim. Mas agora que você os trouxe de volta eu posso procurá-lo novamente — Ela falou, um sorriso muito bonito se abrindo em seu rosto mostrando o quanto ainda estava apaixonada por ele — Ah, sabe como isso é difícil? Sabe quantos Anjos Caídos com a letra D existem?
Eu não sabia, só conhecia dois deles. Daimen era um deles e com certeza não tinha nada a ver com isso e o outro era o doutor Jenks. Seu primeiro nome era Damon, pelo menos no hospital era esse o nome usado, mas eu não duvidaria se caso não fosse.
— Você voltou a vida para procurar por ele? — Ally perguntou, sacando tudo finalmente.
— Sim, claro. Eu sei que ele me amava e estava me testando, mas agora com a minha morte sendo uma prova do meu amor não tem como negar que o amo tanto quanto ele me ama — Ela disse, um olhar sonhador brilhava em seus olhos.
Olhei para Ally, entendia claramente as pequenas chamas que ali em seus olhos âmbar cresciam. Eu não gostava de Cassandra, pois sabia da sua história e da sua decisão sem arrependimentos de nos abandonar. Mas agora Ally também sabia da sua história.
Eu queria sorrir por saber que talvez Cassandra não conseguiria nada com esse encontro, se ela queria criar laços ou até mesmo fazer com que nós duas sentíssemos compaixão pela sua situação, ela estava enganada. Cassandra apenas tinha criado a própria cova diante de nós para que enterrássemos ela.
Ally tinha dito que meu instinto maternal era o meu ponto forte e era exatamente por causa dele que eu não poderia gostar de Cassandra. Ela escolhera outra pessoa à sua família, escolhera um homem que não a amava de verdade à os três filhos e ainda não se importava com o fato de ter tentando matá-los. Não havia um pedido de desculpas, não havia uma palavra de saudade, consolo e nem um "vocês cresceram bem apesar da mãe de vocês ser uma maluca egoísta e por causa dela vocês tiveram que comer o pão que o diabo amaçou. Sinto muito por ser a culpada de tudo isso."
Respirei fundo e segurei meu copo de chá, o liquido estava realmente gelado e gotículas de suor escorriam pelo vidro.
O silêncio reinou entre nós três, Allyson ao meu lado tinha a respiração ofegante e Cassandra mantinha o sorriso de adolescente apaixonada nos lábios.
Eu pensei que deveria quebrar o silêncio e fazer mais perguntas, Cassandra estava feliz e talvez soltasse algumas coisas, mas eu não estava afim de falar com ela quando suas palavras tinha machucado minha irmã.
Esse era mais um dos muitos motivos para não gostar de Cassandra. Ela machucou os três filhos antes da sua morte e após esse infortuno, fizera o mesmo.
— Ah, eu quase me esqueci — Ela disse, levantando os olhos escuros brilhantes do resto de bolo que ainda tinha no prato — Eu tenho que reformular minhas palavras de quando eu a encontrei no supermercado, Atelina.
Confusa, encarei seu rosto esperando que falasse mais.
— Sobre você não saber como é a dor de abrir mão daquilo que ama e eu mencionei que deveria deserdar seu filho que não era seu sangue...
Ah, eu me lembrava disso. Quando ela ameaçou Luke. Antes de fazê-lo ela tinha comentado sobre eu nunca ter perdido nada que me causasse tanta dor que mudaria a pessoa que eu era. Contudo, ela não sabia, eu tinha sim perdido algo que me fez perder o chão, algo que eu quis desesperadamente e me agarrei como quem agarra um punhado de areia e ela escorre por entre os dedos.
— Tenho que reformular minhas palavras, porque descobri a história daquele tumulo ao lado do de Nathan... — Ela disse, suas palavras lentas e suaves, tentando fazer com que eu entendesse o significado oculto em suas palavras.
— Que tumulo? — Ally perguntou, confusão nítida em seus olhos.
Eu estremeci, minhas pernas e minhas mãos travaram e minha garganta se fechou.
— Allyson não sabe dessa história? — Cassandra perguntou, malicia venenosa escorria de suas palavras.
— Eu não sei do que você está falando — Falei, fingindo que a menção daquele tumulo tinha causado algo em mim.
Coloquei um sorriso amarelo no rosto e bebi um longo gole azedo do meu chá gelado, a maioria das pedras de gelo já tinha derretido tornando a superfície em água apenas.
Talvez tivesse funcionado, mas eu acreditava que não. Cassandra era uma bruxa que desde criança tinha aprendido a usar seus poderes e se ela estava dizendo que sabia de quem era aquele tumulo, então ela realmente sabia. Entretanto, mostrar que ao usar aquilo tinha me atingido era mostrar uma fraqueza que ela poderia usar quando quisesse exatamente como eu tinha mostrado no mercado ao mencionar Luke.
— Deve ter doido — Cassandra disse, sua voz demonstrava pena — Mas se você diz que isso não aconteceu, vamos deixar para lá, eu também não gostaria de relembrar de algo tão doloroso.
Meu peito se contorceu, e eu quase pulei a mesa para lhe dar um soco, mas aguentei no meu lugar cerrando minhas mãos em punhos em baixo da mesa.
Como ela podia ser assim? Cassandra dizia aquilo sabendo que estava me fazendo sofrer, embora não demonstrasse no meu rosto, doía, doía demais e ela sabia que sim!
Ela pigarreou alto, levantando-se e olhando em volta.
— Com licença, meninas, eu vou ao banheiro — Ela murmurou, abrindo um sorriso vitorioso.
Então ela se afastou e seus ombros estavam lívidos como se tivesse feito a ação mais feliz do mundo e pudesse saltitar de felicidade.
Eu queria suspirar de alivio com o seu distanciamento, mas ela havia me deixado com uma bomba. Allyson não fazia ideia de quem pertencia o tumulo, ninguém além de mim, Nathan e tia Michaele sabia e ela tinha apenas 13 anos quando isso aconteceu.
— De quem é o tumulo ao lado do tumulo de Nathan? — Ela perguntou, suas palavras sussurradas para não gritar. — Eu pensei que era de uma parente antiga que não conhecíamos, pois só havia o nome Piierce ali.
— Não é ninguém, Ally — Falei, mentindo e estava mais do óbvio o que eu estava fazendo — Não deixe que Cassandra plante ervas daninhas na sua cabeça...
— Mas ela não estava mentindo, eu sei que não estava — Allyson virou o corpo na minha direção, e seu olhar de pena cortou meu coração — Eu senti seu cheiro mudar quando ela mencionou o tumulo, era medo e dor. Uma dor antiga.
Uma dor antiga. Realmente era antiga.
Se Ally tinha apenas 13 quando aconteceu, eu tinha apenas 16 e aquilo me machucou tanto que só voltei a ver ela um ano e meio depois do ocorrido. Sendo assim, foram quase três anos sem ver a minha irmã.
— Atelina, o que aconteceu com você? — Ela questionou, sua voz implorando para que eu falasse com ela — Você continua me escondendo coisas e já brigamos por causa disso...
— Não, não é porque quero esconder de você... — Finalmente olhei no fundo dos seus olhos cor de âmbar e tentei transmitir a minha dor, aquela dor antiga e profunda guardada a tanto tempo que sobrava apenas alguns fiapos dela, mas que ainda doíam — É porque eu não quero lembrar.
— Ah, Atelina — Exprimiu Ally, suavemente.
Senti quando a vontade de chorar apareceu e minha garganta se fechou, mas eu não queria que Cassandra voltasse e visse o resultado que ela obviamente queria se realizando, então engoli a massa na minha garganta e doeu, doeu mais ainda quando Ally tocou meu punho cerrado em consolo.
— Eu não sei o que aconteceu, mas lembro de uma época em que eu morei sozinha com tia Michaele e você e Nathan se foram, depois eles trocaram de lugar, mas você não voltou... nenhuma vez. — Ela disse, olhando com atenção minha expressão — Foi nessa época, não foi?
Assenti, sentindo como se minha cabeça pesasse toneladas.
— Não precisa me contar agora, não com ela logo ali, mas se precisar falar sobre... eu estou aqui, Atelina — Ela abriu um sorriso de consolo, tentando acariciar minha dor inflamada — Quem disse que precisamos de mãe e pai para ser família? Nós somos a nossa família, você, Luke, Nathan, tia Michaele, nossos amigos e eu...
Eu sorri, não sabia que Ally considerava tantas pessoas como nossa família e um calor preencheu meu coração, escondendo mais uma vez aquela dor antiga inflamada no lugar onde deveria estar, guardada no passado. Segurei sua mão gelada de vampira e fiquei feliz por estar um pouco quente, sentindo conforto naquele calor de temperatura ambiente.
— Sabe, Mason não é tão ruim assim — Falei, tomando partido ao lado de nosso pai, embora não tivesse interagido muito com ele — Você vai ter a oportunidade conhecer ele.
Ela sorriu ao notar que eu estava brincando e que meu rosto não mais demostrava que eu sentia dor, e lógico provavelmente estava feliz por não sentir o cheiro de medo com seus sentidos de vampira.
Respirando fundo, após ter afastado aquela nuvem escura que pairou momentaneamente sobre nossas cabeças, voltei a tomar meu chá gelado, vendo a silhueta de Cassandra voltando.
— Vocês parecem bem unidas — Ela comentou, voltando a se sentar.
Provavelmente seu comentário era mais uma farpa venenosa, como tudo o que saia da sua boca e eu estava quase respondendo quando Ally sorriu para ela com o seu melhor sorriso vingativo.
— Somos ainda mais quando temos um inimigo em comum — Ela disse, e um orgulho que nunca senti por ela inflamou no meu peito.
Olhei diretamente para Cassandra, não perdendo o momento em que seus olhos brilharam amedrontados. Ela não esperava por isso.
— Vocês deveriam tomar cuidado com as pessoas que escolhem como seus inimigos — Cassandra disse, não se abalando por muito tempo — Leandro não é de uma espécie simples da qual podem destruir com facilidade.
— Você fala como se ele e você não trabalhassem juntos — Comentei.
Ela deu de ombros, sorrindo.
— Ele precisava de mim e disse que daria o que eu queria se o ajudasse.
— Você queria a chance de encontrar seu anjo? — Eu não queria que parecesse uma pergunta, porque eu já sabia disso, mas ela precisava achar que eu não sabia.
Cassandra olhou para o relógio na sua mão, antes de voltar os olhos para nós.
— Exatamente, parece que já me conhecem bem o suficiente, filhas.
A palavra filhas saindo de sua boca me causava náuseas. Mas fingi que não ouvi, pensando em fazer outra pergunta, não era todo dia que se podia tomar um chá com o seu inimigo em paz.
— Leandro se encontrou com Deb no dia da festa do anjos falsos — Comentei, lembrando que ela disse isso para nós na casa de Daimen ontem — Ele disse que ela lembrava uma irmã dele.
— Ah, sua amiga hibrida — Cassandra disse, um brilho aparecendo nos seus olhos — Era de se esperar que ele conversasse com ela quando ela parece tanto com a mãe. Pena que o amor dele por ela se tornou em ódio.
Ally lançou um olhar confuso para mim e eu devolvi o mesmo, pois eu não sabia de nada disso. Mas agora sabia que Leandro odiava a mãe de Dabria e que sua aparência o lembrava dela... "Ele me disse algo sobre minha aparência lembrar ele de uma de suas irmãs anjas".
Ah, meu Deus! Dabria era filha de uma Anja do Céu? Um Anjo Falso com uma Anja do Céu. E Leandro amara ela. Mas se ela era uma Anja do Céu, por que não estava aqui agora?
Talvez tivesse voltado para o céu, ou estivesse em uma missão como Daimen uma vez foi ou poderia estar... morta? Nathan me disse que a mãe biológica de Dabria estava morta. Então Anjos do céu podiam morrer?
As informações novas faziam meus pensamentos fervilharem na minha cabeça, eu queria voltar para casa e pensar em tudo sozinha, mas não sabia como sair daquela mesa. Será que Cassandra tinha mais coisas para falar? E o mais importante, por que ela marcara um encontro com Ally?
Não podia ser para criar simpatia através da sua infeliz história de amor.
— Cassandra, por que quis se encontrar com Ally hoje? — Perguntei, fazendo ambas olharem para mim — Você com certeza tinha algo em mente.
Ela esboçou um sorriso vitorioso, inclinando o corpo na nossa direção.
— Ah, claro — Ela disse, cruzando as mãos sobre a mesa — Eu ia perguntar a ela, mas com você aqui posso ter mais certeza. E como já perceberam eu consigo descobrir as coisas com facilidade.
Seus olhos se prenderam aos meus, os dela mais claros, porém mais sombrios e perigosos.
— Diga logo o que quer, eu preciso ir embora — Proferir, odiando o fato dela querer enaltecer seu poder ao invés de chegar no ponto principal.
— Sei que você teve um romance com um Anjo Caído quando chegou a Falls Stay — Ela começou lentamente, como sempre fazia quando queria que eu entendesse cada palavra antes da conclusão. — O nome dele é Daimen.
Esperei que ela continuasse, mas parou no nome de Daimen e embora ela falasse devagar para que eu entendesse o que queria dizer eu demorei uns longos minutos para compreender o que exatamente ela queria mencionando o nome dele. Seu nome começava com a letra D, e essa era a única informação que ela tinha do seu anjo, além da aparência.
Ela queria se encontrar com Daimen. Era isso que ela queria e pelo fato de ter namorado com ele pedir para mim fazia mais sentido do que pedir para Ally que o encontrara menos vezes.
— Ele voltou com os anjos que você tirou do inferno, não? — Ela perguntou, não se importando com a minha reação, de novo — Peça que se encontre comigo, só uma vez. Eu só preciso vê-lo para saber se ele é o meu D, ou se não é nada além de mais um anjo caído qualquer.
— E-eu vou falar com ele — Falei, não sabia se ele aceitaria, mas a curiosidade de saber se Daimen era o D de Cassandra cresceu em uma proporção descomunal dentro de mim.
— Ah, fico muito agradecida — Ela disse, o olhar sonhador e o sorriso fazendo ela se tornar muito mais jovem do que era de fato. — Se já colocamos todas as cartas na mesa, acho melhor eu ir. Preciso caçar uns anjos com a letra D. Tchau, tchau, anjinhas.
Ela pegou a bolsa, largou uma quantidade exorbitante de notas na mesa e se levantou não dando a mínima se tínhamos nos despedido dela. Lançando os cabelos cheios e cacheados sobre o ombro Cassandra se afastou.
Ally olhou para mim, seus olhos avaliadores.
— Você vai mesmo dizer para ele se encontrar com ela? — Ela perguntou, receosa.
— Vou deixá-lo saber o que ela quer. Aceitar ou não, isso só ele pode decidir.
Eu não olhei para ela, mas senti que assentia após se lembrar da informação que eu tinha dado mais cedo de que não estávamos em um relacionamento mais e que eu não tinha nada a ver com as decisões que Daimen fazia.
— Eu pensei que você fosse vir de carro — Falei, ao notar que não poderia ser levada por ela para a casa de Daimen.
— Minha carona ainda está na cidade, ela disse que me esperaria — Ela disse, mordendo levemente o lábio inferior — Podemos... ela pode deixar você no lugar onde está ficando. Onde você está ficando mesmo?
Eu senti meu rosto queimar.
— Na casa de Daimen.
— Ah, e vocês não têm mesmo nada? — Ela perguntou, franzindo o cenho confusa — Quem leva a garota que não quer ter nada para a própria casa, cuida dela e chama o médico para ela?
Eu poderia repreender ela pelo o que estava dizendo, mas eu não podia evitar que estava pensando o mesmo quando Daimen disse que não voltaríamos. Eu sabia que estava muito machucada após tirar os anjos do inferno, mesmo assim eu poderia voltar para casa... meus amigos poderia ter me levado, cuidado de mim.
Entretanto, ele fizera tudo.
Ao pensar nisso, uma vaga memória do momento em que eu afastara os raios de mim e estava quase inconsciente voltou. Daimen estava ao meu lado, mesmo quando eu não o tinha visto sair pelos portões e nem o vira pelo campo destruído, ele simplesmente apareceu ao meu lado quase me fazendo prometer que acordaria depois de descansar.
E eu me lembrava do sentimento na sua voz. Ele estava com medo. Daimen estava com medo de que eu nunca mais acordasse... "Eu odeio você, por causa de toda a dor que você o fez passar e eu não vou perdoar você nunca!". Será que ele ainda sentia algo por mim? Ou será que sentiu algo por mim antes, quando para todos ele ainda era o anjo forasteiro?
Eu precisava tirar essa história a limpo, se Daimen tinha mesmo me amado antes, se tinha nutrido sentimentos por mim... e se o fazia também agora.
BRILHA, BRILHA ESTRELINHAS 🌟🌟🌟
Oie anjinhos, como estão? O que acharam desse capítulo? Tantas coisas foram reveladas e outras perguntas apareceram para serem respondidas. Dabria é filha de uma Anja do Céu? O que foi isso que Atelina vivenciou que a fazia sentir tanta dor ainda? E Cassandra pedindo para se encontrar com Daimen para ter certeza se ele é o D, seu anjo. Atelina vai avisar, mas ele vai aceitar? E essa dúvida de Atelina sobre ele ter amado ela realmente no primeiro livro, ele realmente a amou, ele ainda a ama?
Não se esqueçam de VOTAR e COMENTAR.
Quero saber a opinião de vocês, as reações... coloquem tudo aqui. Vou amar saber!!!
💖💖💖
Até o próximo capítulo.
Ele é um dos meus favoritos, não sei se vão gostar, mas eu amo demais ele.
Beijinhos, abraços, docinhos.
❤❤❤
- Atenas.
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