Capítulo 6 - Um Encontro

   Quando voltei a abrir meus olhos Daimen tinha voltado a ficar em pé, o canto dos lábios curvados em um sorriso reprimido e os edredons e travesseiros agora estavam em seus braços.

   Talvez realmente fossem impossível voltar a beijar Daimen e só nesse momento a gravidade dessa afirmação caiu sobre mim. Talvez eu quisesse... eu queria voltar a estar tão próxima dele como estávamos antes de minha morte ou até mesmo antes da sua viagem.

   Ele deu a volta, caminhando na direção do seu quarto de onde eu tirei aqueles edredons e travesseiros. Sim, todos foram furtados do quarto dele. Eu tinha dito que não pegaria mais nenhuma camisa dele, não falei nada sobre suas roupas de cama.

   Quando Daimen volta para a sala minhas coisas já estavam todas dentro da mala, todas as que eu precisaria no momento como os papéis, a bola de cristal, os cadernos e os livros de feitiços. As minhas roupas que eu não levaria hoje estavam empilhadas ao lado do braço do sofá.

     — Já terminou? — Ele perguntou, olhando ao redor.

   Eu não sabia dizer se a pergunta tinha sido carregada de um questionamento irônico ou apenas pura curiosidade, pois eu tinha pegado as minhas coisas, mas ainda ficariam muitas outras ali como se a casa fosse mais minha do que dele.

   Sem jeito, eu assenti.

     — Posso pedir para Dabria vir buscar o resto, se você...

     — Tudo bem — Ele disse, mais uma vez se aproximando silenciosamente para pegar a mala aos meus pés antes que eu pudesse dizer alguma coisa.

   Daimen seguiu até a porta a passos lentos, esperando que eu o seguisse e foi o que fiz. Tínhamos ficado menos de uma hora lá dentro, mas quando chegamos ao estacionamento quente e abafado eu estava sedenta para tomar alguma coisa gelada e doce. O verão estava aquecendo a cidade um pouco mais a cada dia que passava, como se fosse um forno sendo lentamente aquecido.

   Olhei para o homem na minha frente que estava entrando dentro do carro e abri a porta para pedi mais um favor, como eu sempre fazia quando ele estava por perto. Parecia que era um habito meu diretamente conectado a ele.

     — Daimen? — Chamei, recebendo um grunhido em resposta. — Você poderia me emprestar algum dinheiro para eu comprar um milk-shake?

   Sua cabeça vagarosamente se virou na minha direção, os olhos surpresos com o meu pedido. Eu não poderia culpá-lo, mas estava calor demais para não tomar alguma coisa gelada.

     — Você sabe que ainda me deve, né? — Ele perguntou, um sorriso se abrindo e uma sobrancelha arqueada.

   Franzi o cenho tão confusa quanto ele antes, contudo, logo a ficha caiu e eu me lembrei do dinheiro dele que eu usara quando vim aqui pela primeira vez. Eu não lembrei disso antes e ele não me cobrara, até o momento.

     — Não estou dizendo que não vou emprestar, mas... entre no carro primeiro — Ele disse, fazendo sinal para que eu subisse.

     — Eu vou pagar, só não me lembrava que essa dívida existia.

   Daimen sorriu em resposta, ligando o carro.

   E essa nem era a pior parte, o dinheiro não seria um problema, mas e quanto a todas as coisas que Daimen fizera por mim que eu não tive o bom senso em retribuir? Isso sim seria um grande problema.

   Ele dirigiu um pouco para chegar a lanchonete com o melhor milk-shake da cidade, isso de acordo com Luke que amava descontroladamente comer doces. Eu não sabia se ele realmente gostava deles ou se tinha algum motivo para ele amar dessa forma, mas ele nunca os recusava, mesmo sendo um vampiro que poderia viver o resto de seus dias imortais sem encostar em um doce que nem falta faria.

   Assim que o carro parou do outro lado da rua próximo o bastante para uma pequena caminhada até a lanchonete, meu celular no colo tocou com uma mensagem. Eu não tinha terminado de passar tudo que tinha no outro para esse, mas o número que me mandara mensagem dizia em letras maiúsculas como se gritasse descontroladamente comigo e eu podia sentir a fúria e raiva, apesar de ser apenas uma mensagem.

   "EU ODEIO O FATO DE VOCÊ NÃO TER ME CONTADO NADA SOBRE NOSSA MÃE, E POR ESSE MOTIVO EU DECIDI ME ENCONTRAR COM ELA. ESTOU MANDANDO A MENSAGEM PARA AVISAR VOCÊ E PARA DIZER QUE PODE VIR SE VOCÊ QUISER ENCONTRÁ-LA TAMBÉM, ESTAREMOS NO CAFÉ LEYS!!! NÃO A TRATE MAL!"

   Eu olhava para a tela do celular assustada. Eu estava com medo, não de Cassandra. Eu temia por Ally. Cassandra era nada mais do que uma mulher desconhecida que não cultivou nada por nenhum de nós e que tinha muito poder para fazer mal a alguém.

   Allyson não poderia ir sozinha. Ela ainda estava com raiva de mim, mas eu queria correr até o café e afastá-la de Cassandra mais uma vez como eu andei fazendo, mas as palavras de Nathan ainda estavam frescas na minha cabeça e eu não poderia negar isso a Ally e injetar na cabeça dela opiniões próprias minhas sobre Cassandra e fazê-la odiar aquela mulher.

   Se ela chegar a odiar Cassandra... que seja por suas próprias convicções e opiniões formadas após um encontro.

   Eu não duvidava que Ally a odiasse por algo que Cassandra pode dizer sem medir suas palavras, exatamente como aconteceu no nosso primeiro encontro no mercado quando ela ameaçou Luke. Se não soubesse do seu passado, eu ainda poderia odiá-la por ter ameaçado ele.

     — Tudo bem? — Daimen perguntou, sua voz preocupada.

   Olhei para o rosto, medindo minha atenção entre o celular e o amarelo meio dourado de seus olhos. Queria pedir que fosse comigo, mas Cassandra era culpada por mandar os Anjos para o inferno, então eu não podia pedir que se encontrasse com ela apenas para o meu conforto.

     — É a Ally. Ela vai se encontrar com a Cassandra e eu preciso estar com ela quando ela perceber quem realmente é a pessoa que nos deu a luz. — Falei, minhas mãos pressionando o celular em mãos até que os nós dos dedos ficassem brancos.

   Não queria admitir, entretanto era óbvio que estava nervosa.

     — Você quer que eu...

     — Não, nós precisamos fazer isso sozinhas — Eu disse, interrompendo suas palavras — Não se preocupe comigo, posso pedir para que Ally me leve depois. Você só precisa mandar a localização, eu sinto que talvez eu não seja muito boa com direções e podemos nos perder.

   Um sorriso ligeiro apareceu no seu rosto. Era esse o resultado que eu queria ao fazer a brincadeira, remover a preocupação de seus olhos. Embora não fosse mentira.

     — Vejo você depois — Falei, saltando do carro.

   Esperei que o carro de Daimen desaparecesse para que começasse a andar na direção da cafeteria, por sorte não era tão longe da lanchonete onde Daimen iria me levar antes e eu tive que passar na frente dela, xingando mentalmente o fato de que realmente queria um sorvete naquele momento e não conseguiria.

   Assim que as mesas escuras com guarda sois bonitinhos e verde musgo apareceram na minha vista, cacei Allyson entre as pessoas torcendo para que tivessem escolhido uma mesa do lado de fora. A conversa, seria intensa e bem louca para outras pessoas ouvirem se Cassandra decidisse contar sua história do começo ao fim.

   Não consegui encontrá-las de primeira entre as pessoas e graças ao suor e o latejar nos meus machucados decidi eu mesma escolher um lugar, caso ela não tivesse chegado ainda e respondi a mensagem avisando que estava esperando. Eu escolhi um lugar afastado e do lado de fora, estava quente, mas ainda era possível ter a graça do tempo de ser agraciada por um vento refrescante de vez em quando.

   Olhei em volta e vi quando Ally saltou às pressas de um carro vermelho, uma mulher morena era a sua carona e ela acenou para minha irmã com carinho e cumplicidade. Eu sabia bem pouco sobre as pessoas com quem ela saia ou onde ela ia quando dizia que ia sair, na verdade, eu não sabia nada sobre as coisas que fez desde que eu apareci na cidade para salvá-la dela mesma.

   Eu não me importaria se caso ela tivesse seguido com uma vida normal o bastante para pensar duas vezes antes de se oferecer para me ajudar. Era perigoso, Cassandra era perigosa, Lauren e Leandro também eram e eu nunca teria me envolvido com eles se eles não tivessem me colocado a força nessa merda toda quando Cassandra decidiu voltar a vida através de alguém que eu conhecia. Por isso não queria isso para Ally.

     — Quem trouxe você? — Ela perguntou, aproximando-se a passos apressados e a preocupação brilhando nos seus olhos âmbar — Você está bem para estar aqui sem companhia?

   Sorri da sua preocupação. Eram raros os momentos em que ela realmente se importava comigo, então aquilo me confortou.

     — Estou bem, ainda dói, mas estou bem — Falei, sorrindo e aplacando sua preocupação — Daimen me deixou aqui perto.

     — E como ele está? Não o vi muito desde antes da sua...

   Ela se sentou ao meu lado, deixando a cadeira da frente obviamente para Cassandra se caso ela realmente aparecesse.

     — Eu acredito que bem, não estamos muito... próximos — Expliquei, contudo, aquelas palavras também não pareciam definir nossa relação atual, não depois da noite anterior.

   Eu queria agradecer ele por isso e por todas as outras coisas como encontrar um médico para mim, deixar com que fosse sua hospede, se oferecer para ajudar na missão... eu devia muito mais a ele do que um simples "obrigada".

   Assim que Allyson percebeu que eu ficara pensativa por causa de Daimen, seus olhos mudaram para um sentimento de compaixão.

     — Eu sinto muito — Pedi, fazendo seus olhos olharem na minha direção com espanto e confusão — Eu ia contar para você sobre ela quando contei ao Luke sobre Nathan, mas eu deixei de lado... e desculpa por não inserir você nas missões eu só não quero que você corra riscos.

     — Eu posso decidir com o que quero arriscar a minha vida, Atelina — Ela disse, seus olhos desviando-se de mim para olhar a garçonete que trazia um cardápio — Você pode tentar me proteger do seu jeito e me afastar, mas eu ainda vou querer ajudar você. Sua vida só se tornou o que é por minha causa e eu preciso aliviar essa culpa de alguma forma.

   Eu não gostei de saber que ela se culpa por ter me trazido a essa cidade mais uma vez e realmente, eu só estava de volta por causa dela e permaneci pelo o mesmo motivo, mas parando para pensar se eu soubesse que tudo isso fosse acontecer eu ainda escolheria vir até aqui e reencontrar meus antigos amigos, descobri o que aconteceu com Peyton e saber o motivo de nunca termos nos encontrado em nossos muitos anos viajando... pelo menos eu viajava e ele, ele me perseguiu por anos, sendo afastado de mim por forças que nenhum de nós sabíamos da existência. E além disso, conhecer Daimen.

   Embora perigoso e assustador, esse ano tinha me mostrado ensinamentos e conhecimentos bem importantes, fazendo-me tomar decisões ainda mais.

     — Não precisa sentir culpa, eu não a culpo. — Eu disse, tentando aliviar a pressão da sua culpa, mas eu sabia que isso não mudaria nada — Se quiser ajudar, não a afastarei, mas se sua vida estiver em perigo... em perigo extremo, não vou hesitar em proteger você.

   Seus olhos brilharam, como se eu tivesse acabado de elogiá-la e não aceitado colocar ela em perigo, envolvendo-a nessa loucura.

     — Você pode não ser a mais velha, mas... seu instinto materno sempre foi um dos seus pontos fortes — Ela disse, abrindo um sorriso meio carinhoso.

   O espanto em meus olhos a fez gargalhar alto.

   Eu não estava costumada a receber isso dela, nenhum pouco. Carinho e elogios, eram a área de Luke. Ally sempre fora mais do que só espinhosa, mas agora, falando a verdade para ela e recebendo-a também da sua parte eu comecei a pensar em uma frase que Daimen me disse quando estávamos sonhando juntos. "Vocês sofriam a mesma dor, a mesma perda e mesmo assim preferiram passar por isso sozinhas".

   Será que se fossemos sinceras naquela época teríamos superado nossa dor juntas e Allyson não teria vindo até Falls Stay, ameaçado e perseguido Dabria apenas porque essa dor de perder Nathan ainda doía muito?

     — Ah, eu também gostaria de rir com vocês — Uma voz cantarolou sobre nossas cabeças.

   Eu sabia quem era sem precisar olhar, por isso entendi o tremor no corpo de Allyson quando ela a ouviu, expectativa transbordava de seus olhos.

   Cassandra deu a volta por nós e antes de se sentar, olhou para nós duas com um sorriso quase fraternal nos lábios. Eu não quis me dar ao trabalho de me virar e ver que realmente era ela, contudo, Ally o fez e seus olhos cor de âmbar carregados de lágrimas seguiram a mulher que era nossa mãe biológica a cada passo que ela dava.

     — Fico honrada por ter a presença das duas aqui para me encontrar — Ela disse, inclinando levemente a cabeça em um cumprimento — Allyson, é um prazer finalmente ver o quanto cresceu.

   Eu estava ali por Ally, não por Cassandra, sendo assim eu pretendia não reagir a nada que ela falasse com aqueles lábios falsos e traiçoeiros que enganaram Mason por anos e anos até que decidira que não precisava mais dele.

     — É um prazer conhecer você, mã... Cassandra — Ally disse, travando na forma de como deveria chamá-la.

     — Ah — Cassandra murmurou, um olhar entristecido, claramente falso, aparecendo em suas feições delicadas. — Não pensei que a veria novamente, Atelina.

     — Estou aqui para acompanhar Ally, não vim para vê-la — Falei, sem rodeios.

   Cassandra sorri mesmo assim, finalmente se sentando à nossa frente e Allyson me acertando uma cotovelada por estar sendo grossa.

     — Eu não faria mal a minha filha — Ela falou, defendendo-se.

   O cinismo na sua voz quase me faz rir, mas respirei fundo e fingi que nem ouvi uma palavra do que disse.

     — Você parece bem machucada, Atelina. Espero que sua recuperação não demore muito a acontecer — Cassandra disse, suas palavras como farpas bem afiadas.

     — Ah, não se preocupe. Eu estou ótima — Falei, ainda sem olhar para ela. — Mas você não está aqui para conversa comigo e sim com Allyson, quem sou eu para monopolizar sua atenção?

     — É a pessoa que foi mandada de volta a vida para salvar os anjos, não? — Ela perguntou, sútil — Isso a torna minha inimiga, certo?

   Finalmente olhei na sua direção, um sorriso convencido estava presente em seus lábios e eu queria poder tirar dela, mas não podia. Não quando este encontro significava algo para Ally.

     — Eu pensei que meu plano de confundir o véu tinha dado errado quando a vi de volta na cidade. Nem passou pela minha cabeça que tivesse encontrado Mason e Michaele, aqueles dois... — Ela mordeu o lábio inferior e parecia usar muita força, talvez ao pensar neles como seus inimigos naturais. — Ah, mas deixemos isso de lado. Vamos pedir alguma coisa?

   Do nada as pequenas chamas presentes em seus olhos quando falou nos nomes de minha tia e de Mason sumiram, rápidas como se o foco realmente tivesse mudado com um piscar de olhos. Ela levantou o braço chamando a garçonete e sorriu lindamente para nós.

     — Vocês já escolheram? — Cassandra perguntou.

     — Atelina? — Allyson chamou, perguntando com os olhos se eu queria algo.

     — Eu não esperava vir até aqui, então estou sem carteira — Recusei, embora o que eu realmente queria estava na rua ao lado a alguns poucos metros.

     — Eu pago para você... — Allyson começou a dizer, antes de ser interrompida por um pigarro.

     — Eu pago para as duas, não é sempre que se tem a chance de ver as filhas quando se deveria estar morta — Ela proferiu, sem se importar com a garçonete ao lado.

   Não podendo recusar, graças aos olhos insistentes de Ally lançados na minha direção para que não fizesse pouco caso das intenções dela, pedi um chá gelado com muito limão e gelo. Se não podia tomar sorvete, então tomaria algo gelado.

     — Azedo. — Ally murmurou apenas para que eu ouvisse e eu sorri, lembrando o fato de que ela não gostava de coisas muito azedas. — Só quero um suco pode ser de morango.

     — Nada parecidas — Cassandra falou, um olhar interessado brilhava em seus olhos — Além da aparência, logico. Isso vocês puxaram de mim.

   Revirei os olhos para sua afirmação no momento em que ela balançou os ombros orgulhosa por algo que não deu valor até agora, jogando os cabelos para trás. Era difícil negar, realmente parecíamos muito com ela.

     — Quero um café e um bolo de chocolate — Ela pediu, esperando a garçonete se afastar.

     — Como você morreu? — Allyson perguntou, direta.

   Claro, ela não sabia. E o comentário de Cassandra só fez com que a curiosidade brilhasse em seus olhos. Na verdade, era bom que perguntasse diretamente para a própria Cassandra responder, eu fiquei sabendo por Mason e Michaele e não era porque eu não confiava neles, mas saber da própria pessoa que causou tudo era diferente. Uma moeda sempre tem dois lados.

   Além disso ela poderia querer contar coisas que envolvessem seu tão amado anjo da guarda que nunca correspondeu seus sentimentos e era um mistério para todos.

   Cassandra deveria se sentir abatida pela pergunta, sua morte não foi um momento de muitas alegrias, entretanto, ela apenas sorriu, super feliz por poder contar sua história.

     — Bom, acho que devo começar bem do começo se quero chegar nesse ponto. Vocês me permitiriam contar uma história? — Ela perguntou, a expressão extremamente misteriosa.

   Lentamente, tanto Ally quanto eu concordamos.

     — Tudo começou com a minha mãe. Ela morava na Itália antes de me ter com um cara perigoso demais para ter como marido, ele era tão maluco que a caçou por toda a Europa para matá-la e especificamente me matar. Ele disse que eu não deveria ter nascido — Ela sorria com a memória, era um sorriso assustador — Minha mãe com a ajuda de uns amigos e parentes viajou em uma das embarcações que vinha até o Novo Mundo para começar uma vida nova. Uma boa parte do Clã Piierce estava vindo para cá e minha mãe acreditou que teria um refúgio, mas não tivemos nada além de recusas e eles deserdaram minha mãe do clã. Era errado ter filhos com outras espécies e eu era uma filha de outra espécies, renegada até mesmo pelos meus meios-irmãos.

   "Então, fomos viver sozinhos no meio do nada. Éramos seis no início. Mas quando a coisa ficou difícil mesmo e pensamos que íamos morrer de fome e frio, minha mãe fez um acordo com o clã. Se eles levassem os seus quatro filhos e os criassem como seus, ela trabalharia para eles em qualquer trabalho e ela sumiria comigo para que nunca soubessem que eu um dia existi. Eu sei que parece horrível, mas ela só queria que sobrevivêssemos e ela não me jogou fora. Na verdade, ela encontrou uma cabana longe deles para que nunca me encontrassem e sempre foi me visitar.

   Ela me ensinou magia sozinha para me proteger e graças ao sangue do meu pai, minha força era bem maior que qualquer um naquele clã e ela se assustou com o fato de que eu precisava aprender mais do que o pouco que ela conseguia me ensinar. E foi assim que em uma de suas visitas ela veio acompanhada. As vezes ela levava meus irmãos, incluindo Michaele que era minha irmã mais gentil e eu gostava muito dela, mas naquele dia o cara que ela trouxe era um Anjo. Ele tinha uma beleza de outro mundo e lógico, sabia muito sobre magia e tinha aceitado ser meu professor em tempo integral e meu anjo da guarda."

   A garçonete se aproximou com nossos pedidos, o bolo de Cassandra parecia apetitoso, mas eu não queria comer, no momento a história tinha toda a minha atenção. Ally por outro lado olhou aquele pedaço com olhos gulosos. Ela se parecia muito com Luke no fato de amarem doces.

     — Moça, pode trazer outro pedaço de bolo? — Pedi, sentindo seus olhos esperançosos olharem agradecidos para mim.

     — Ally gosta de doces? — Cassandra perguntou, o interesse nos olhos mais uma vez presente.

     — Ela e Luke amavam juntar o dinheiro deles só para comprar a maior quantidade que podiam, quando morávamos juntos — Falei, a lembrança dos dois sentados separando os doces aparecendo na minha mente e um sorriso brotando em meus lábios.

     — Ah, essa é uma história para outro momento — Allyson disse, constrangimento inundando suas feições — Por favor, continue.

     — Tudo bem. Continuando, então. Eu passei a conviver com aquele anjo por praticamente toda a minha infância e adolescência, ele não morava comigo, mas estava sempre por perto quando eu precisava e aprendi magia como minha mãe sempre quis, esperando que algum dia fosse encontrar um perigo que nunca chegou, pelo menos eu estava aliviada de que não tinha chegado. Nesse meio tempo, meus irmãos se casaram tiveram filhos, minha mãe morreu e eu estava mais uma vez sozinha e completamente apaixonada pelo Anjo que cuidava de mim.

   "Eu passei a amá-lo, pois embora fosse frio a maior parte do tempo ele era gentil e o único que se importava comigo. Quando comecei a desejar que retribuísse meus sentimentos, eu me peguei fazendo planejamentos e tentando encontrar formas o fariam ficar loucamente apaixonado por mim. Durante minhas buscas eu conheci Mason após a sua queda e o trouxe para casa depois de uns cinco encontros, eu esperava que sua presença pudesse fazer algo despertar no meu Anjo, mas não foi o que aconteceu, trazer Mason para fazer ciúmes nele não funcionou e apenas o afastou de mim.

   Ele começou a aparecer menos e Mason se tornou mais presente. Ia até vilas, aldeias e aprendia tudo o que podia em pouquíssimo tempo e voltava para mostrar para mim. Ele foi um amor o tempo todo. Era carinhoso e me deu mais do que qualquer outra pessoa, nem mesmo meu anjo tinha me dado aquilo e por isso foi fácil ter ficado com ele e ter tido vocês três."

     — E o que mudou? — Perguntei, instigando a continuação pois até aquele momento a história parecia ser a superação de uma amor não correspondido, mas o final da história não era esse ou não estaríamos onde estávamos naquele momento.

   A garçonete apareceu outra vez, trazendo o bolo de Ally que ela largou rapidamente sentindo a tensão no ar que crescia enquanto Cassandra não terminava a história.

     — Você não amou Mason? — Ally perguntou, antes de enfiar uma garfada na boca sua voz entristecida por descobrir que nossos pais nunca se amaram.

     — Eu não consegui, mas só descobri quando o meu Anjo apareceu outra vez e todos aqueles sentimentos voltaram. Ele veio quando eu estava grávida de Ally e Atelina era só um bebê de dois anos. O problema era o motivo da sua visita, ele disse que só estava lá para me dar uma notícia e me felicitar pela família que eu tinha conseguido... eu esperei, esperei que fosse me dizer algo que não fizesse tanto estrago quanto o que disse, contudo, foi exatamente o que ele fez. Ele disse que como eu já tinha uma família para proteger e um marido que também podia me proteger, seu serviço não era mais necessário.

   "Eu não sei o que aconteceu comigo, eu não o via há sete anos e mesmo assim aquelas palavras me doeram. Eu pedi que continuasse, que eu sabia que ele estava fazendo aquilo apenas porque gostava demais de mim e queria que eu largasse todos vocês. Eu não queria largá-los, mas não queria deixá-lo ir. Passei os meses seguintes pensando e balanceando o quanto queria a minha vida atual e a minha vida ao lado dele e decidi. Abriria mão da minha família por ele, ele esteve comigo a mais tempo do que os poucos anos que Mason e eu estávamos juntos, ele devia me amar mais se estava fazendo tudo aquilo para que eu o seguisse, então seu amor por mim era imenso.

   Eu o chamei depois e disse que largaria tudo, mas ele disse que não era isso que ele queria e que não me amava, não podia me amar. Mas eu sabia que amava e que estava apenas brincando comigo. Então passei os dias seguintes criando colares e amuletos que provariam que ele me amava. Assim que o amuleto estava pronto, eu o chamei novamente, mas ele não apareceu. Chamei e chamei, mas nada. Um mês depois de ter tido Ally, ele apareceu e foi o auge para mim."

     — Você morreu logo em seguida — Falei, não era uma pergunta e mesmo assim ela concordou.

   Ally lançou um olhar questionador na minha direção. Eu lancei um dizendo para prestar a atenção no que ela dizia, pois logo acabaria.

   — A última vez que apareceu eu implorei para que me levasse com ele, que o amava ainda mais do que ele me amava e mais uma vez ele recusou, dizendo que não me amava e que não podia. Quando foi embora dizendo que quebraria nosso laço, eu voltei para casa e a queimei, com todos ali dentro. Mason não estava, então foi fácil fazer tudo, pelo menos até o momento em que ele os tirou de mim e levou os três para Michaele. Eu morri nas chamas da casa. Minha morte repentina, prendeu meu Anjo a nossa família fazendo com que em seguida ele tivesse que cuidar de Nathan como se eu tivesse passado o bastão para ele. Eu soube que eles até mesmo se viam e conversavam."

   O que? Nathan sabia da existência do Anjo de Cassandra e conversava com ele? Então ele sabia como ele era e mesmo assim não tocou nem no assunto?

     — O nome do seu anjo era? — Perguntei, tentando lembrar de alguém que nos visitava quando Nathan era vivo. Eram muitas pessoas.

     — Eu nunca soube, ele nunca disse nem mesmo para minha mãe — Ela falou, e finalmente eu pude ver um olhar triste genuíno em seus olhos — Eu o chamava de D, mas não sei nada além disso.

ESTRELINHAS, CADÊ MINHAS ESTRELINHAS??? 🌟🌟🌟

Oiii amorinhas, como vocês estão?? O que acharam desse capítulo? Vocês acreditam na história de Cassandra? Acham que ela é pirada das ideias ou ela tinha motivos para acreditar no amor imenso que o seu tão amado anjo tinha por ela, mas nunca admitiu? E essa bomba de que Nathan via o anjo e ainda por cima conversava com ele? Por que será que ele não disse isso para Atelina? E a Ally tadinha que estava esperançosa para esse encontro será que vai se decepcionar?

Não se esqueçam de VOTAR e COMENTAR. Ah, eu quero muitas teorias. Vou amar ler todas elas.

💖💖💖

BEIJINHOS E BEIJÕES.

❤❤❤

- Atelina T. L. Silva.


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