Capítulo 34 - Preparativos

   A primeira coisa que decidimos fazer era convencer Cassandra de que seriamos obedientes. Ouviríamos o que queria, o que deveríamos fazer e não seriamos contra. Depois começaríamos com as exigências.

   Eu precisava que alguém de fora viesse fazer uma visita, precisava de alguém para me dizer os detalhes do que estava acontecendo lá fora, pois estando dentro do covil do inimigo nos dava uma vantagem, mas também uma desvantagem.

     — O que tem na nossa agenda hoje? Mais bolos e doces? — Perguntei, revirando os olhos enquanto Peyton estava ao meu lado extremamente calmo.

     — Não sei, ela não disse.

   Estávamos na sala de Cassandra, o mesmo lugar onde ela tinha me dopado e colocado para dormir. Entretanto a sala estava diferente. Os livros não estavam mais espalhados, dessa vez estavam nas estantes guardados e os sofás não estavam mais ali, havia apenas algumas cadeiras e poltronas e uma mesa com lanchinhos.

   Desde o dia em que Cassandra começou com os preparativos do casamento, viemos a essa sala para escolher e tomar as decisões dele. Ontem mesmo, experimentamos os doces e bolos, mas Cassandra surtou e disse para escolhermos depois.

     — Será que dessa vez podemos alfinetá-la sobre os convidados? — Perguntei, tomando água em um copo transparente que eu tinha cheirado antes de beber.

     — Vamos ter que fazer isso em algum momento, talvez hoje ela esteja feliz para podermos perguntar — Peyton respondeu, comendo os lanchinhos salgados e evitando os doces.

   Cassandra não tocou no assunto dos convidados e esse parecia ser uma tema proibido, principalmente quando ela nos encontrava brava e estressada. Às vezes eu ficava me perguntando qual poderia ser o motivo, pois levando em consideração a nossa situação ela estava ganhando.

   No entanto, ela aparecia constantemente com um humor de querer arrancar os cabelos dos outros.

   Olhei para Peyton para continuar a conversa sobre os planos que estávamos fazendo e refazendo todos os dias por causa da falta de avanço, quando ouvi passos saltitantes logo antes da porta ser aberta e Cassandra entrar.

   Um sorriso alegre iluminava o seu rosto.

     — Bom dia, pombinhos! — Ela se aproximou, duas mulheres vinham atrás muito bem vestidas — Vamos olhar alguns vestidos hoje, pena que eu não poderei estar aqui para vê-la escolhendo, Atelina. Mas fique à vontade para me perguntar depois quando eu chegar.

   Os olhos de Peyton se encontraram com os meus.

     — Srta. Piierce, queríamos saber como será decidido a lista de convidados? — Peyton perguntou, dando a entender que Cassandra tomava todas as decisões para as visitas que ela trazia.

     — Ora, vocês são os noivos. Façam a lista juntos e depois me enviem para que possa enviar os convites que escolheram — Ela respondeu, seu sorriso se tornando amarelo.

   Ainda bem que quem perguntara foi Peyton, se tivesse sido eu, ela ia encontrar meios de me atacar com algo.

     — Ah, essas mulheres fazem parte da empresa de vestidos de casamento e elas trouxeram algumas amostras para você testar. Sintam-se em casa, eu estou me retirando.

   E sorrindo ainda mais e lançando olhares de advertência para nós dois, Cassandra saiu.

   As mulheres foram bem gentis comigo, trouxeram araras cheias de vestidos de diversos tons de branco, cheios de brilhos e pedras. Eu nunca tinha me pegado imaginado se teria a chance de me casar um dia, na verdade, nunca pensei na possibilidade.

   Sempre acreditei que o casamento era algo muito mais afirmativo para os seres humanos, como se aquele simples ritual independente do quanto fosse gasto nele era como se tornasse real o que existia entre aquele dois seres. Não importava as palavras, as histórias, os momentos ditos antes, era aquele simples ato que mostrava que eles se amavam.

   Pelo menos era isso que parecia para eles e por isso eu não gostava de superestimar o casamento. Por que ele era mais importante quando aquelas duas pessoas passaram por tanto para estarem juntos?

     — Srta. Atelina? — A mulher de coque escuro chamou minha atenção — O que achou do vestido?

   Olhei para o meu reflexo no espelho, eu estava vestindo um vestido grande de aparência pesada e cheio de pedras no corpete que se ajustava perfeitamente no meu corpo. Apesar de parecer pesado, o vestido era muito leve. Sua saia cheia era feita de um tecido extremamente leve e gostoso que roçava a minha pele com delicadeza.

   O corpete também parecia desconfortável, mas ele levantava os meus peitos e abraçava minha cintura.

     — Ah, a senhorita não gostou? — Ela perguntou afobada.

   Neguei, respirando fundo e limpando a lágrima que escorreu pelo o meu rosto.

     — É só que o momento parece surreal. — Falei, desculpando-me por assustá-las.

   Peyton que estava próximo da porta, sorriu tristemente e saiu da sala.

     — A senhorita deve amá-lo bastante para se emocionar apenas com a prova do vestido — A loira de tranças comentou.

   Eu sorri para não ter que negar e parecer com uma mulher sendo forçada a se casar com o seu primeiro amor quando não o amava de forma romântica mais.

   Continuamos as provas e eu experimentei outros vestidos, alguns bem justos desde o busto até o joelho, outros pareciam um bolo de tão grandes e outros mais simples e leves. Era cansativo, mas eu sabia que essa seria a única vez em que eu experimentaria um vestido de casamento.

     — Que tal fazermos uma pausa, senhorita? Você parece cansada.

   Concordei, sentando-me na poltrona que tinha me sentado antes delas chegarem. Elas se aproximaram para se servirem de chá e lanchinhos, mas a porta se abriu e elas se viraram para ver quem era.

     — Ah, querida. Vocês terminaram? — Peyton entrou, um sorriso feliz estampava seu rosto.

   Não estranhei o apelido carinhoso, ele andava fazendo isso na frente das pessoas nessa casa e das visitas para que a farsa de Cassandra se mantivesse.

     — Estamos tomando uma pausa...

     — Ah, sendo assim eu as levarei até a cozinha para comerem, não comam esse lanchinhos já estão passados — Peyton disse, empurrando-as até a porta.

   Esperei, louca para poder tirar o vestido, mas não sabia o que Peyton estava tramando com isso, então esperei para saber.

   Ele voltou, correndo e segurando minha mão me arrastou pelo corredor da casa sem dizer nada para mim. Descemos para o andar de baixo e depois de alguns corredores, ele parou diante de uma porta normal de ferro e pequena em comparação a dos outros quartos. A porta e a sala atrás dela pareciam abandonadas. E o tempo que levava para vir até aqui, só poderia confirmar que ela estava mesmo abandonada.

   Olhei da porta para Peyton, esperando pela resposta que meus olhos faziam e minhas mãos trêmulas pediam.

   Peyton não falou nada, enquanto tirava do bolso um molho de chaves e colocava na fechadura. A porta se abriu e eu ouvi o som de correntes se moverem lá dentro.

     — Você só pode ficar alguns minutos, cuidado com o vestido e tranque a sala quando sair — Ele disse, entregando para mim um celular com temporizador e as chaves — Vou enrolar aquelas mulheres, enquanto isso.

     — Peyton, o que tem ai...

   Antes que eu pudesse terminar de perguntar ele me empurrou para dentro.

   A escuridão me englobou assim que a porta se fechou atrás de mim, procurei por um interruptor para acender a luz, mas meus olhos se acostumaram rapidamente com a escuridão e se fixaram nas correntes presas as paredes, segui elas com os olhos até encontrar o que Peyton queria que eu visse.

   Encostado na parede de pedra gelada, bem no canto uma pessoas estava encolhida e coberta de cortes pelo corpo...

   A pessoa se mexeu e eu reconheci os cabelos castanhos e o rosto...

     — D-Daimen? — Chamei, minha voz quase ficando presa na minha garganta.

   Eu corri até ele, caindo de joelhos no chão gelado e molhado pelo seu sangue que parecia estar por toda parte.

   Ele não me ouviu chamando-o, mas reagiu aos meus passos no chão e encolheu seu corpo mais uma vez contra a parede.

     — Daimen, sou eu — Falei, tocando seu rosto e chamando-o pela linha dourada dentro de mim que parecia extremamente fraca e distante — O que eles estão fazendo com você?

     — Piierce... — Suas mãos acorrentadas tocaram meu rosto também — Você está tão bonita nesse vestido.

   Eu quis chorar, duvidava que ele pudesse me ver direito depois de tantos hematomas vermelhos no rosto, até mesmo seu olho parecia inchado.

     — Ah, Daimen. Isso não importa, o que está acontecendo? Vou tirar você daqui, não vamos deixar eles vencerem...

     — Atelina, o Anjo renegado é o anjo criador. — Daimen disse, forçando sua voz cansada a dizer.

     — O que?

     — Escuta, Leandro o anjo que criou o grupo extremista é o anjo criador. Ele quem fez as 12 chaves e ele roubou as essências dos anjos para poder criar uma arma capaz de matar Anjos do Céu, igual a arma dos anjos terrestres. — Daimen tossiu e sangue escorreu pelo seus lábios — Encontre uma forma de dizer isso a Scott, os céus precisam saber sobre isso, antes que ele finalize...

   Meu coração doía, batia descontroladamente e queria fazer Leandro sangrar. Se ele estava fazendo uma arma capaz de matar um anjo do céu... Daimen estava sendo sua cobaia? Ele não o mataria, certo? Cassandra era doentiamente apaixonada por Daimen e pretendia usar a poção feita para mim e Peyton nele logo depois.

   O estado em que Daimen estava era só temporário, certo? Como ela podia dizer amar alguém se estava vendo e permitindo que fizessem isso a ele?

     — Daimen, eu... eu vou tentar. Vou tirar você daqui de qualquer jeito — Falei, minha voz embora chorosa estava firme e eu grudei minha testa na dele chorando audivelmente — Desculpa não dizer isso antes, agora parece até como se fosse uma despedida, mas não é, por favor não pense nisso e aguente até poder voltar ao meu lado.

     — Atelina, você precisa ir — Ele disse, entre minhas fungadas e choros que não parava o suficiente para que eu disse o que queria a tanto tempo dizer a ele.

     — Daimen, Daimen — Chamei, levantando minha cabeça e olhando no fraco brilho amarelo dos seus olhos que eu amava tanto — Daimen, eu amo você. Desculpa demorar tanto para responder você.

   Por um minuto eu pensei que ele pudesse ter desmaiado, pois sua respiração era apenas uma linha fraca, mas Daimen criou forças o suficiente para me puxar e colocar seus lábios nos meus. Não foi um beijo intenso, nem possessivo, mas foi o melhor que poderia ter me dado.

   Era como uma promessa.

   Eu não gostava de promessa, entretanto faria questão de ter aquela na minha cabeça para o resto da minha vida e me esforçaria para receber o que ela prometia. Porque eu queria ser egoísta o bastante para ter cada pedacinho dela realizado e entregue totalmente para mim.

   O celular na minha mão apitou.

§ § § § §

   Eu voltei para a sala das trocas de vestido rapidamente e trocara o vestido, enfiando ele entre os outros ali nas araras para que elas não notassem a falta dele e só descobrissem o estrago feito nele quando olhassem mais atentamente.

   Minutos depois Peyton entrou na sala novamente acompanhado das meninas e fingimos que nada tinha acontecido, eu escolhi o vestido que queria preferindo um mais leve, mas também bem espalhafatoso para não ter que ouvir as reclamações de Cassandra se eu escolhesse um bem simples.

   E depois de elas terem ido embora, nos sentamos na cama do nosso quarto e fizemos a lista de casamento. Contei para Peyton o que tinha ouvido de Daimen e que precisávamos que alguém nos visitasse urgentemente e não só para saber o que acontecia lá fora, mas para que eles se preparassem. Eu estava mais do que decidida em usar o dia do casamento para concluirmos todas as minhas missões e salvar Peyton, Daimen e eu das mãos desse grupo.

   Enquanto Peyton fazia a lista, eu observava ao lado e nos assustamos quando Cassandra entrou no quarto como um relâmpago.

     — Ah, vocês estão aqui. Pensei que estavam aprontando — Ela disse, olhando para o pouco espaço que nos separava — O que é isso?

     — A lista de convidados — Peyton respondeu.

   Cassandra se aproximou e estendeu sua mão.

   Peyton entregou sem contestação.

     — Parece não ter colocado seus pais aqui, Peyton — Ela disse, arqueando uma sobrancelha questionando-o.

     — Eu não tenho um bom relacionamento com eles — Ele disse, sem olhar para ela.

   Estiquei minha mão na direção da sua ao lado e a apertei.

   Cassandra gostou do que viu, seus olhos brilhando imensamente.

     — Tudo bem, vou continuar minha pesquisa — Cassandra disse, largando a lista.

     — Pesquisa? — Perguntei, sem conseguir me conter.

     — Sim, eu quero desfazer sua conexão Anjo-tutelado com Daimen.

   Não, ela não podia.

   Brooke disse que só quem criou pode desfazer a ligação Anjo-tutelado, mas no caso da minha com Daimen apenas ele poderia desfazê-la? Porque Scott e eu... Ah, merda!

   Eu tinha me esquecido da ligação Anjo-tutelado que tinha com Scott! Como eu poderia esquecer que tinha duas linhas dentro de mim? Eu não precisava que alguém viesse até aqui, eu só precisava entrar em contato com ele pela ligação e contar tudo a ele.

     — Você sabe como fazer isso? — Cassandra me perguntou, notando meu silêncio.

     — Não, eu não sei.

   Convencida disso, ela foi embora.

   Peyton permanecia em silêncio mesmo com a saída dela, então deixei que ficasse em seus pensamentos enquanto eu ia atrás da linha verde de Scott dentro de mim. Eu não sabia se era por causa da distância, mas ela parecia turbulenta e instável.

   Percorri o caminho nela e deixei marcas para que fosse possível que ele notasse minha presença, e na metade ele apareceu. Desesperado para saber se eu estava bem.

   "Atelina, o que aconteceu com você e o Kennedy?"

   "Fomos sequestrados por Cassandra e o grupo extremista, estamos sendo mantidos aqui na Mansão. Olha, desculpa ter fugido de você daquele jeito. Eu fui idiota e nos meti nisso, mas preciso contar a você qual será o meu próximo passo para finalmente concluirmos a missão."

   Então contei a Scott o que Daimen tinha descoberto sobre Leandro ser o anjo criador e renegado e depois contei o que eu estive pensando enquanto Peyton fazia a lista dos convidados para o Casamento. Deixei que fizesse para ocuparmos tempo e Cassandra não suspeitar de nada, mas desde o momento em que deixara a sala onde Daimen estava acorrentado eu pensei em como acabar com isso.

   Se Scott fizesse a parte que eu estava pedindo para ele, havia uma chance enorme de tudo dar certo. Mas precisava que tudo do lado de fora desse certo, então Scott seria muito mais do que uma ajuda, ele seria meus braços e pernas e ele teria ajuda de Deb e Val, o que me tranquilizava.

   Eu queria pôr um fim nas minhas missões. Pensei que demoraria mais alguns meses para finalmente me livrar delas, mas com todos esses acontecimentos que ocorreram, eu não poderia colocar mais vidas em perigo, nem mais vidas sendo torturadas.

   No meio da noite, após terminar de passar todo o plano para Scott e ele ter me ajudado a refazer outras partes que para mim faziam sentido, mas eram arriscadas demais para ele e modificamos até que estivesse perfeito. Eu me levantei para tomar água, quando senti meu ossos doerem.

   Eu gemi de dor, contendo-me para não acordar Peyton, mas minhas articulações se viraram em posições nada naturais fazendo o som de ossos se quebrando ecoarem pelo quarto.

   O chão me recebeu assim que minha pernas fizeram o mesmo movimento estranho que meus braços, como se meus ossos estivessem se alongando.

     — Ateh? — Peyton disse meu nome, assustado.

   Abri a boca para responder, o que saiu não foi a minha voz e sim o som de um rosnado.

   Garras apareceram nas minhas mãos e minhas costas se alongaram, encurvando-se horrivelmente.

   Minha cabeça doía também, como se um alarme soasse dentro de mim.

   Eu estava me transformando em lobo? Agora? Com Peyton no quarto era perigoso, eu poderia machucá-lo, envenená-lo.

   Não, não, não, não.

   Lobo não! Gritei e repeti dentro da minha cabeça, eu precisava evitar que a transformação acontecesse. Então insisti, procurei forças e mais forças para fazer com que parasse.

   Ao contrário da transformação de lobo, minhas asas se abriram e se fecharam ao redor de mim, prendendo-me dentro de um casulo e eu pude sentir a linha de Daimen, dourado e brilhante dentro de mim latejar como se dessa forma me ajudasse a me acalmar e afastasse a transformação, igual ao dia em que peguei fogo na cela de Cassandra.

   Assim que a dor passou, eu estava no chão, olhando para o teto. Peyton pareando sobre mim assustado, mas aliviado por eu estar bem e normal novamente.

   Ele me pegou do chão, levando-me de volta para a cama e deitando-me do lado que eu estava dormindo.

     — O que foi isso? — Ele perguntou.

     — Eu estou bem, só foi uma reação...

   Ele não acreditou em mim, eu sentia isso, mas não estava na hora de pensar nisso, eu precisava esperar que nos próximos dias Scott resolveria as coisas que eu tive que deixar em suas mãos para que ele concluísse. Estava na hora de acabar com o grupo extremista e o Anjo Criador e Renegado.

CADÊ MINHAS ESTRELAS, CADÊ MINHAS ESTRELAS? 🌟🌟🌟

Oiê, meus anjinhos, como estão?? Mais alguns capítulos e acabamos mais um livro, o que acharam desse capítulo? Daimen está sendo torturado e usado como cobaia de Leandro. Alguém ai suspeitava de que ele fosse o anjo criador, o mesmo que criou as chaves e agora criava uma forma de matar anjos? E Atelina foi muito lerda em perceber que poderia usar sua linha conectada com Scott para poder polar um plano. Será que Cassandra vai conseguir o que ela quer? Atelina vai concluir suas missões e salvar Daimen, além disso a chave restante? Será que isso que está acontecendo com Atelina é por causa dessa chave?

Vejo vocês nos próximos capítulo.

Não se esqueçam de VOTAR e COMENTAR.

Abraços quentinhos.

💖💖💖💖💖

- Atelina.

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