Capítulo 29 - As Chaves
Não tinha conseguido ver tudo acontecendo, mas quando notei, quando me afastei contra a porta do carro e Allyson começou a se levantar para me atacar, Daimen apareceu dentro do carro abrindo a porta oposta a que eu estava e segurou ela por trás e Scott parara o carro rápido o suficiente e correra para minha porta puxando-me para longe do alcance de Ally e seus dentes.
Quando vi tudo já tinha acontecido.
Eles suspiraram em alivio.
Meu peito ao contrário estava batendo desesperadamente dentro do meu peito, com medo e surpresa do quão perto eu estive de ser atacada.
— Você está bem? — Scott perguntou, colocando-me na sua frente.
Eu estava em choque ainda, então não conseguia ouvir e nem compreender o que falava de primeira.
— Atelina! Você está bem? — Ele perguntou de novo, sua voz alterada.
— Sim, sim. Eu estou bem.
Finalmente de volta ao presente, eu me virei na direção do carro de novo para ver como Allyson estava e se Daimen tinha usado novamente sua essência para colocá-la para dormir, mas ele ainda não tinha feito isso ainda e ela estava esperneando enquanto ele a puxava para fora do carro e para longe de mim.
— Daimen, coloque-a para dormir de novo, por favor — Pedi, meu peito doendo ao vê-la naquela situação.
— Não dá, isso não é dor que eu possa acalmar com a essência. — Ele explicou, resfolegando por causa do esforço.
— Então, o que...
Isobel apareceu às pressas indo até Daimen com um saquinho na mão, eu suspeitava que fosse ervas. Ela entregou nas mãos de Daimen e esperou ao lado ele fazer o que ela ditava, que era colocar sobre o nariz de Ally até que ela perdesse a consciência.
Logo, Allyson estava desmaiada nos braços de Daimen.
— Ah, meu Deus — Soltei, minhas pernas trêmulas e meu equilíbrio quase deixando de existir.
Scott segurou meus braços para que eu não perdesse totalmente meu equilíbrio e Daimen e Isobel saíram dali indo para dentro da casa.
Não querendo perder muito tempo, recompus meu estado de choque e segui eles para a sala de estar. Daimen deitara minha irmã no sofá.
— Senhorita, você vai precisar de alguma coisa? — Isobel perguntou, vendo eu me aproximando.
Lembrei de Val, eu nunca fazia os feitiços sem ela, mas agora nesse momento ela estava tentando usar um feitiço para tentar sair do colar e eu não queria atrapalhar.
Então neguei, agradecida.
— Obrigada, Bel. Vamos só esperar a Dabria chegar.
Todos concordaram, Scott sentou-se no outro sofá, Daimen e Isobel continuaram em pé prontos para agirem. Eu me sentei ao lado de Ally, o saquinho de ervas de Isobel depositado ao lado da sua cabeça obrigando-a a inalar o que quer que seja que estivesse lá dentro.
— Cuidado, ela pode tentar atacá-la novamente. — Daimen advertiu, vendo-me ainda próxima de Ally.
Ele tinha razão, essa já era a segunda vez que minha irmã tentava me atacar. Pelo jeito o veneno a estava fazendo perder a noção das pessoas ao seu redor e ela não sabia diferenciá-las mais, ou a pessoa que ela realmente queria atacar fosse eu.
A campainha tocou. Isobel foi atender.
— Por que você quis tirar ela do hospital? — Daimen perguntou, baixinho.
Eu não estava fugindo da sua pergunta, mas Dabria também ia querer saber os meus motivos e seria mais fácil repetir o que aconteceu uma única vez para simplesmente esquecer depois.
Esperei Bel voltar com a pessoa que tocara a campainha, pois suspeitava que fosse Deb, assim todos poderiam ouvir os meus motivos e pensar o que quisessem sobre minhas decisões.
Dabria vinha ao lado de Bel, uma bolsa de lado pendia de seu ombro, seus cabelos presos em um rabo de cavalo e sua expressão preocupada. Ela respirou aliviada e sorriu para todos em cumprimento.
— Ok, agora posso saber por que tirou ela do hospital?
Eu assenti, contando a todos ali presentes o que aconteceu com Ren no terraço, evitando a sua história verdadeira com detalhes, e sobre o fato de que ninguém poderia saber que tínhamos as doze chaves e que as utilizaríamos para salvar Ally e Ren. Agora pelo menos um deles.
Eu queria evitar que Cassandra e Lauren, até mesmo Leandro, soubessem da existência delas e suspeitassem da força que poderíamos ter conseguido com elas. Não que eu suspeitasse que havia espiões dentro de Demeure. Era só uma precaução para nos manter um passo à frente, um nível mais forte do qual eles acreditavam que éramos.
— Ah, eu não consigo acreditar que ele fez isso. Talvez o veneno tenha perturbado demais as dores dele — Dabria disse, pesar presente no seu tom de voz.
Os dois anjos abaixaram a cabeça, pareciam dizer que sentiam muito pela perda de um amigo nosso que eles não conheciam muito bem. Mas eles não faziam ideia do quanto nós também não conhecíamos. Ren era um misterioso galanteador e embora não mais galanteador, ele ainda era misterioso... e um mentiroso.
Pigarreei alto para chamar a atenção de todos para o que faríamos.
Deb notando que eu queria mudar de assunto, abriu sua bolsa e retirou o livro branco como a neve e dourado nos detalhes, onde antes havia um chave.
Segurando em mãos abri o livro e comecei a procurar mais informações.
— Eu descobri que há dois feitiços diferentes nos quais dá para se usar as chaves — Deb disse, poupando-me de ler cada palavra e descobrir mais lentamente — Um deles, acredito eu, seja o que você quer usar. Ele simplesmente devolve ao ser escolhido a espécie da qual ela pertence desde o nascimento. Nesse caso as chaves com os nomes de outras espécies serão inúteis, mas as com outros escritos necessárias.
— Qual chave falta, Piierce? — Daimen perguntou, olhando-me diretamente.
— Uma com os escritos, só não tenho certeza de qual — Respondi, abaixando minha cabeça com vergonha e concentrando minha visão nas palavras do livro sem realmente lê-las.
— Como estamos com pressa, podemos tentar com Ally e depois com você, mas não podemos deixar de procurar a última chave. Pode não parecer importante agora por fora, mas talvez em vocês, transformadas, faça diferença.
Todos balançaram suas cabeças concordando com cada palavra que Deb dizia. Ela tinha razão, não podíamos arriscar deixar a última chave de lado apenas por que as outras se uniram sem sua presença.
— Ok, e o segundo feitiço?
— Esse é o que usaremos em você, todas as chaves para adquirir todos os poderes das sete espécies —Ela disse, concluindo.
— Então usaremos os dois. — Afirmei.
Ainda assim ela concordou, pegando das minhas mãos o livro que eu já não folheava e colocando na página que descrevia o primeiro feitiço.
Olhei para os ingredientes não sabia o nome de uma boa parte deles, principalmente pelo fato das ervas estarem em seus nomes originais e não nos nomes comuns.
— Bel, poderia dar uma olhada nessas ervas para mim? — Perguntei, olhando para ela parada ao lado de Daimen.
Ela se aproximou, pegando o livro nas mãos e olhando para aquelas ervas franzindo levemente o cenho enquanto pensava e traduzia para os nomes comuns.
— Quer que eu as anote para você, senhorita?
— Sim, por favor.
Eu me levantei na sua direção, enquanto ela pegava um bloco de notas no avental que vestia e começava a anotar, usando a mesa de centro como apoio. Os nomes mesmo traduzidos eram quase totalmente estranhos para mim, mas o fato de Bel saber seus nomes era tranquilizante.
Quando ela terminou retirou o papel e me entregou.
— Eu acho que tenho no máximo duas delas... — Comecei a falar, olhando tristemente para o papel.
— Eu as tenho, em casa. — Bel acrescentou e eu senti um sentimento de gratidão florescer no meu peito.
— Você pode...? — Ela assentiu, antes que eu terminasse minha sentença — Muito obrigada.
Scott se ofereceu para ir com Isobel até a sua casa para que ela buscasse os ingredientes que precisávamos. Nós ficaríamos e prepararíamos o lugar, onde realizaríamos o feitiço.
— Daimen, eu preciso desenhar na terra um pentagrama. Desculpa, por bagunçar dessa forma...
— Tudo bem — Ele respondeu, balançando a cabeça como se o que eu estivesse pedido não fosse nada e depois apontou o caminho da cozinha.
Comecei a seguir o caminho indicado, lembrando-me que alguém precisava ficar para cuidar de Ally.
— Deb...
— Eu vou tomar conta dela.
Sorri para ela agradecida e continuei a seguir Daimen para a área externa.
Havia uma sala de instrumentos de jardinagem que ficava um pouco afastada da área da piscina e próxima dos jardins. Daimen entrou, pedindo que eu esperasse por ele e saiu carregando uma mini pá para que eu pudesse desenhar na terra o pentagrama.
Depois seguimos para a escada que levava ao pomar.
O espaço que tinha ali era perfeito e o vento fluía constantemente, embora o tempo da tempestade anterior ainda permanecesse no ar.
Assim que descemos as escadas estendi minha mão na sua direção para que pudesse me entregar a pá, mas ele negou e se agachou na terra e grama úmidos para desenhar.
Daimen desenhou o pentagrama certinho na terra, fazendo o círculo e retas bem sulcadas na grama e deixando-o bem demarcado possibilitando que fosse visto a uma distância considerável.
— Obrigada — Falei, vendo-o fazer as últimas retas.
— Não precisa agradecer. — Ele disse, a cabeça ainda voltada para o desenho.
Eu sabia que ele tinha boas intenções dizendo que não precisava agradecer, mas era o que eu conseguia fazer no momento. Agradecer. Isso me mentia em movimento, mantinha minha cabeça aliviada por ter a quem agradecer, a quem dividir o fardo.
Quando me dei conta, Daimen tinha acabado com o desenho na grama e tinha se aproximado, a pá não estava mais na sua mão, mas mesmo assim ele foi cuidadoso puxando-me contra seu peito e acariciando meu cabelo com a mão limpa.
— Ei, vai ficar tudo bem, Atelina — Ele murmurou sobre a minha cabeça — Quer dizer, Piierce.
Eu não consegui evitar rir da sua confusão, ele riu também enquanto eu me afastava e limpava as lágrimas que eu sentia molhando meu rosto.
— Eu não entendo ainda o que você acha diferente — Ele disse, olhando docilmente para mim.
— Tem diferença, isso eu afirmo com toda certeza — Respondi, com firmeza.
Daimen aproximou os lábios da minha testa e depositou um beijo carinho ali, afastando-se em seguida.
— Qual é a diferença, Piierce?
Um calor reconfortante se instalou no meu coração, deixando-o quente.
— Você, Daimen, você é a diferença. — Respondi, abrindo um sorriso e dando a volta para ir buscar o livro e as velas.
Eu estava muito envergonhada para falar a verdade para ele, então dizer dessa forma ainda mantinha o mistério envolta do motivo real.
Passei por Deb na sala, avisando que ia buscar os outros itens lá em cima e subi rapidamente para pegar. Peguei as velas, enfiando tudo em uma bolsa para carregar, pois seria preciso mais velas acesas.
Voltando para o andar debaixo com as velas e as ervas que eu tinha, Scott e Isobel já tinha voltado. Bel carregava uma bolsa também, essa bem mais pesada e cheia que a minha.
— Aqui está, senhorita — Bel apontou a bolsa pendida em seu ombro.
— Ok, então vamos começar. — Avisei, indicando Ally com a cabeça para Scott levá-la — Por favor.
Ele concordou, pegando-a no colo e esperando que Dabria colocasse na sua clavícula o saquinho de ervas para evitar que ela acordasse repentinamente. Seguimos para a frente do pomar, os quatro.
Daimen esperava ao pé da escada e estendeu o braço para a bolsa que eu carregava. Ele a pegou e começou a dispor as velas nas pontas do pentagrama.
— Não coloque nas pontas, duas em cada espaço de uma ponta a outra.
Ele me ouviu e fez como eu pedi.
— Scott coloque-a no centro.
Scott deitou Allyson no meio do pentagrama, eu caminhei ao lado já me preparando para ficar ali e começar o feitiço.
Na bolsa que eu entregara a Daimen estava as doze chaves, que agora não passavam de uma apenas. Ele trouxe para mim após espalhar as dez velas ao redor do pentagrama.
Em seguida, Bel se aproximou abrindo sua bolsa e revelando para mim as ervas e uma mini caçarola de barro. Precisávamos criar uma fumaça e defumar o ar ao redor para limpar qualquer interferência que poderia haver ao usar as chaves.
— Eu irei defumá-las para a senhorita — Bel disse, tirando o que ia usar para fazer a defumação.
Dentro da sacola tinha também uma faca de ponta bem afiada, fazendo-me lembrar que eu precisava usar o meu sangue. Ele seria a ligação de Ally com os nossos ancestrais. Mãe e Pai. Ligação com o que ela seria se caso não tivéssemos alterado tanto o nosso sangue.
Fechei meus olhos, fiz com que minha magia acendesse as velas ao redor lentamente, utilizando apenas um fio para economizar o resto para o feitiço principal. Apesar de achar que não utilizaria tanto, pois o que criara as chaves não fora magia, o que significava que para usá-las também não seria necessário magia. Talvez ela fosse usada só como um empurrão a mais.
A fumaça atingiu meu olfato, o cheiro das ervas defumadas inundou o ambiente enquanto a fumaça era espalhada por Bel ao nosso redor.
Daimen, Scott e Dabria estavam foram do círculo esperando e observando com olhos atentos.
Respirando fundo, peguei a faca na mão.
Bel entregou a mini caçarola, depositando-a do meu lado e antes de se juntar aos outros ela abriu o livro no lugar que Deb tinha marcado.
Olhei as instruções, pressionando a ponta afiada da faca na palma da minha mão e esperando o sangue se acumular ali no meio. Derramei ele na caçarola, ouvindo o chiar das gotas contra as ervas apagando o que restava de brasa.
Esfreguei a ponta dos meus dedos no sangue e ervas misturados e esfreguei eles nas têmporas de Ally. Exatamente como uma massagem, lenta e suavemente.
— Quaeso claves, his utar. Utere potestate tua ut quid mali mutes, muta hoc modo quod non debet. — Eu repeti as palavras escritas no livro.
A massagem nas têmporas de Ally continuaram, como se dessa forma eu pudesse inserir dentro dela o sangue que compartilhávamos, o sangue que ela deveria ter pelo menos uma semelhança com ele.
Conforme conjurava e massageava, a chave que era apenas uma flutuou no ar parando na altura do meus olhos e sobre o peito de Ally rodando rapidamente até que não fosse apenas uma e sim, onze novamente. Onze chaves rodopiavam formando um círculo dourado no ar.
Ally grunhiu em resposta uma vez, duas vezes e parou.
Quando ela tentou grunhir novamente ela não conseguiu apenas soltar um som de desconforto, ela na verdade gritou. Gritou com toda a força que tinha, sua garganta provavelmente se rasgando no processo.
Seu corpo se arqueou no ar, suas mãos querendo agarrar e cortar alguém procuravam algo para se agarrar, mas só encontraram o chão firme sob ela.
A sua face vampírica se formava prestes a começar a se mexer a procura daquilo que lhe causava tanta dor, entretanto, percebendo que eu não poderia contê-la e manter o feitiço ao mesmo tempo Daimen e Scott entraram no círculo e a seguraram, um em cada lado dela.
Allyson continuou gritando, esperneando e arqueando seu corpo no ar a procura de liberdade e de se distanciar da dor.
No entanto, eu continuei.
Sabia que ela estava sofrendo, mas isso salvaria a vida dela.
Eu não sabia até quando precisava falar as palavras do feitiço, quanto tempo até que um efeito fosse notado.
Repentinamente Ally parou de espernear com tanto ardor e sua face vampírica se fora, os gritos diminuíram também, dando lugar a um choramingo de doer o coração.
— Para... para com isso. Está doendo! — Ela choramingou.
— Ally, estamos quase acabando — Eu avisei, sabendo que era uma mentira.
— Não, não, não, não! Doí, doí!
As chaves brilharam, juntando-se novamente em uma chave apenas. Uma chave com a ponta de uma espada, uma faca extremamente fina que flutuou e se gravou no peito da minha irmã, as veias e artérias ali perto petrificando instantaneamente com o contato e espalhando-se por todo o seu corpo.
As palavras me fugiram ao ver o que tinha acontecido, minhas mãos paralisaram no crânio dela. O ar parecia pesado ao meu redor.
O que tinha acontecido?
Por que as chaves se tornaram uma faca e esfaquearam minha irmã, quando deveria ter a transformado?
O que eu fiz?
— Ally? — Chamei, minha voz não passando de um grunhido estrangulado.
CADÊ MINHAS ESTRELAS, CADÊ MINHAS ESTRELAS? 🌟🌟🌟
Olá anjinhos, como estão? Espero que maravilhosamente bem, mesmo com um final de capítulo desses. Espero que esteja gostando, mas me digam o que acham que aconteceu? Atelina errou o feitiço? Será que por causa de uma chave Ally perdera a vida? Será que era mentira e as chaves não fazem isso? O que vocês acham?
Não se esqueãm de VOTAR e COMENTAR.
Vejo vocês no próximo capítulo.
Beijinhos e beijões quentinhos.
💖💖💖
- Atel.
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