Capítulo 28 - Fuga
Renyer Ross, era meu amigo. Mas...
Na verdade, tudo não passava de uma mentira.
Isso não me deixava escolhas, o certo e mais normal seria eu odiá-lo pelas mentiras, odiá-lo por ter fugido para sempre após soltar essa bomba... mas eu não queria odiá-lo. Não parecia errado, nem muito menos certo. Contudo, eu não queria que todas as memórias boas com ele fossem modificadas.
Em momento algum eu me senti humilhada, traída, ou enganada estando com ele. Muito pelo contrário, todos os momentos eram bons, alegres e divertidos.
Ren podia achar que seria cansativo reformular a sua imagem dentro de todos com quem ele teve contato. Talvez ele estivesse errado, novamente. Não seria cansativo, nós o apoiaríamos, estaríamos juntos e ele poderia ser aquilo que ele queria ser. Não a parte que nem mesmo ele gostava e nem mesmo sua parte falsa. Ele seria ele.
No entanto, agora não dava mais para pensar nisso. Ele se fora.
Olhei para o lugar na grade, onde seus dedos estavam há poucos minutos e senti meu peito se contorcer. Não dava para imaginar se o que ele tinha feito era por causa do veneno, ou era por que ele teve tempo demais para refletir sobre e a culpa o estivesse corroendo.
Mas... o que eu diria a todos?
O que eu deveria dizer para Luke e Peyton?
A verdade? Contar que o amigo deles esteve mentido todo esse tempo?
Não, eu não podia fazer isso. Se dentro de mim eu queria conservar o que Ren fora para mim, por que não poderia fazer o mesmo por eles?
— Atelina? — Ouvi o som da porta e depois o meu nome ser chamado — O que você...
Meus olhos encontraram os escuros de Peyton, os dele se espantaram. Talvez minha aparência estivesse acabada depois das lágrimas e as cinzas que voaram por todo o terraço.
— Por que está chorando? — Ele se aproximou rapidamente sem olhar para o chão e acidentalmente pisando no amuleto que estava implantado sob a pele de todos os vampiros, mas que antes estava sob a pele de Ren.
Esperei ver sua reação, mas ele apenas se abaixou e pegou na mão. Analisando a peça entre os seus dedos, eu pude notar o quão velha era, confirmando que Renyer era realmente mais velho do que nós.
— Isso tem o cheiro do Ren, ele estava aqui? — Peyton perguntou.
Aquela peça era desenvolvida pelo concelho de vampiros quando os vampiros aceitavam se submeter as regras deles, caso o vampiro negasse, não receberia essa peça e nem muito menos iria conseguir que fizessem uma para ele. Só quem poderia fazer seria uma bruxa com uma receita que apenas o concelho tinha, dessa forma os vampiros pertenceriam a comunidade e as peças mudavam a cada cinquenta anos para diferenciar os vampiros novos dos mais velhos.
Antigamente quando o concelho de vampiros era apenas um sonho, os vampiros mais velhos se viravam sozinhos, mas hoje quase não existia vampiro que encontrasse uma forma para criar esse amuleto sem que o concelho estivesse envolvido.
Concordei com a cabeça, cruzando os braços sobre o peito e respirando fundo.
— E por que está chorando? — Ele continuou a perguntar.
— Ele... isso é dele.
Apontei para o amuleto em suas mãos, eu sabia que era uma resposta vaga, mas faria todo o sentido. Havia sangue pelo chão, o amuleto que protegia um vampiro do sol estava fora dele e o sol brilhava, embora o céu estivesse meio nublado.
Era um eufemismo. Uma frase mais sútil que escondia por trás dela uma carga enorme. A carga que significava uma perda, uma morte. A morte de Renyer Ross.
— Ah meu Deus! Não pode ser, ele arrancou de si mesmo? — Peyton questionou, sua mão tremendo e o rosto pálido.
— Eu sinto muito, ele fez antes que eu pudesse impedir — Falei, o sentimento de culpa inundando meu peito — Eu podia ter chegado mais perto e tirado o bisturi dele, mas...
Peyton cerrou as mãos em volta da peça e me puxou para os seus braços, apertando-me contra seu peito. Eu não deveria estar sendo consolada agora, ele sim. Peyton perdera um de seus melhores amigos.
— Não, Peyton... você.
Tentei me afastar dele, entretanto, ele não permitiu e com um shih embargado Peyton pediu para eu ficar quieta. Seu corpo aos poucos começou a tremer, sons abafados eram emitidos dele.
Peyton estava sofrendo, Luke ia sofrer e Ally eu não sabia dizer o que ela realmente sentiria. A relação que eles tiveram ainda era bem desconhecida para mim.
Querendo ajudar no seu momento de dor, passei meus braços ao redor do seu torço e permitir que ele se apoiasse em mim, como ele já tinha me ajudado antes, eu podia fazer pelo menos isso por ele. Esfreguei suas costas em consolo e esperei o momento em que ele estivesse mais calmo.
Ele se afastou, seus olhos desviando de mim e o rosto envergonhado.
— Eu sinto muito — Falei, mais uma vez.
— Eu achei que conhecesse ele o suficiente para apostar que ele não seria capaz disso. Mas as pessoas que mais achamos que conhecemos são as mais misteriosas — Ele olhou para o céu, as nuvens caminhando na direção do sol para cobri-lo mais uma vez.
Eu não sabia como consolar outras pessoas, normalmente a pessoa a ser consolada era eu e parecia que consolar alguém mudava dependendo da pessoa que precisava de conforto naquele momento. Talvez para Peyton ser ouvido fosse suficiente, mas eu não tinha certeza disso.
— Você quer ver Ally? — Peyton perguntou, repentinamente. Parecia querer mudar de assunto.
— Eu vou vê-la — Respondi, preparando-me para sair e dar espaço para ele — Acho que seria melhor você contar ao Luke, eu não... não é uma boa ideia ele me ver agora.
— Por que você acha isso?
A porta estava a alguns passos de distância quando ouvi a pergunta de Peyton. Parei e olhei para atrás.
— Ele não vai querer ver a pessoa que ele culpou por machucar seu amigo e que levou a morte dele.
— Não fala assim, Atelina...
Não esperei que ele falasse por Luke, que disse a mesma coisa que Ren disse no acampamento. Pois as provas eram mais do que nítidas e todos foram testemunhas disso.
Enquanto descia as escadas para o andar de Ally, o medo do mesmo acontecer com ela se aflorou no meu peito. Eles não conseguiram conter Ren e ele fugiu para tirar a sua vida. E se o mesmo acontecesse com Ally? Se ela se sentisse tão mal por causa do veneno e arrancasse o amuleto de sob sua pele também?
Eu precisava dar um jeito de usar as doze chaves nela o mais rápido possível, mesmo que eu precisasse usar apenas onze delas.
Não sabíamos onde a outra chave estava, eu não sabia o nome dela também e se ela fosse tão importante, por que as onze que eu tinha se juntaram em uma mesmo sem ela presente? Talvez fosse só para completar o nome e ela nem era importante.
Então eu levaria Ally para casa e me prepararia para o feitiço? Mas como se usava as chaves? Onde estava o manual de instrução de como deveriam ser usadas?
Parei no corredor, meus olhos indo na direção do quarto que pertencia a Ren e depois indo para o quarto de Allyson. Provavelmente era burrice da minha parte, mas eu levaria ela sim para casa e daria um jeito de mantê-la viva até ter tudo o que precisava para usar o amuleto das chaves nela.
Entrei no quarto de Ally, ela estava amarrada a cama, mas seus olhos estavam fechados e seu peito subia e descia calmamente enquanto ela dormia.
Respirei fundo e comecei a desamarrá-la da cama.
Não foi difícil. Não me admira que Ren tenha escapado para o terraço.
Assim que seus braços e pernas estavam soltas, eu tentei levantar o seu tronco sobre o meu para puxá-la, mas seu corpo estava extremamente mole. Se eu não a carregasse no colo seria impossível levá-la de outra forma.
Eu precisava de ajuda.
Como eu poderia pensar que tiraria ela dali sozinha?
Frustrada, comecei a pensar em outras maneiras de sairmos daqui sem que fossemos vistas. Ally não estava sendo mantida prisioneira, eu sabia disso, mas tirar ela de um hospital que estava disposto a tratá-la levantaria suspeitas e eles iriam começar a fazer perguntas sobre meus motivos.
Eu não podia falar sobre as doze chaves para eles. Embora fossemos aliados, isso não podia ser espalhado e nem todos poderiam ficar sabendo.
— Ah, caramba. O que eu faço? — Perguntei, a ninguém em especial.
— Talvez chamar alguém?
Olhei para trás, rápido o suficiente para cair no chão, mas me segurei na cama de Ally. Estava preocupada que alguém tivesse me visto querendo tirar Ally do hospital e meu plano que não tinha sido nem formulado estivesse caído por terra, entretanto, era Scott.
Ele abriu um sorriso e levantou uma sobrancelha na minha direção.
— Você sabe que tem dois anjos da guarda, né? E outros vários amigos que poderiam facilmente ajudá-la com isso? — Ele perguntou, debochado.
— Ah, eu sei. E estou muito grata por estar aqui — Devolvi o sorriso — Então, pode me ajudar?
Ele revirou os olhos como se a resposta para a minha pergunta fosse óbvia.
Scott se aproximou de mim e da cama de Ally, esquecendo que eu poderia atrapalhar não me afastei e fiquei ao lado, sentindo o aroma de grama e sol que vinha dele inundando minhas narinas e sua pele roçando na minha.
— E... eu vou abrir a porta.
Afastando-me rapidamente abri uma fresta da porta e olhei para fora, não havia ninguém ali, então abri ela totalmente e dei espaço para que Scott saísse na frente.
Percorremos os corredores em silêncio, evitando os que levavam a recepção. Scott liderava o caminho, e ele parecia estar andando pelos corredores da casa de alguém que conhecia ou até mesmo da própria casa, pois ele estava evitando todos os caminhos que eu conhecia e sabia que levavam para a frente do hospital.
— Como você sabia que eu precisava de ajuda — Perguntei, quando o caminho era deserto demais para haver alguém.
— Pensei que soubesse da nossa ligação — Ele disse, sendo sarcástico.
— Eu não estava tão desesperada para que meus sentimentos ecoassem dentro de mim. Pelo menos não tanto que você escutasse... — Falei, desacelerando meus passos enquanto pensava.
Scott também desacelerou com Ally nos seus braços, olhando para mim.
— Ok, eu estava só dando uma olhada e ouvi quando pediu ajuda. Pronto, satisfeita? — Ele perguntou, o cenho franzido de frustração como se tivesse sido obrigado a contar um segredo.
Sorri para ele em resposta, voltando a andar ao seu lado.
— Então realmente se eu olhar para cima e pedir ajuda você aparecerá — Comentei, lembrando-me do dia que saiu da prisão de Lauren.
— Fica quieta e continue andando.
Embora estivesse me advertindo para ir mais rápido eu sabia que ele estava rindo por causa da lembrança.
O caminho que Scott estava me levando era a saída dos fundos do hospital e como ele, um anjo do céu, inimigo dos anjos falsos, sabia disso? Eu não fazia ideia, mas estávamos cada vez mais perto de poder ir embora como eu queria, então eu não ia começar a questionar.
Aproximamos do carro, Scott indo direto para as portas traseiras.
— Pode dirigir para mim? Eu vou com ela atrás.
Ele assentiu, esperando que eu abrisse aquela porta também para deitar Ally no banco de trás. Descansei sua cabeça no meu colo e Scott nos tirou do estacionamento e em seguida de Demeure.
No caminho até a casa de Daimen, meu celular começou a tocar assustando-me e Scott no banco da frente.
— Oi. — Eu atendi tão rápido que nem tinha visto quem era.
— Eu acho que descobri como usar as chaves! — A voz do outro lado pertencia a Deb.
Meus olhos encontraram os de Scott, ambos estávamos curiosos para ouvir mais.
— Como você...
— O livro. As páginas antes do espaço onde a chave estava, elas não eram apenas para enganar as pessoas. São de verdade, os nomes de todas estão aqui e como usá-las.
Em choque, pisquei algumas vezes acalmando meu coração que pulava no peito.
— Tem como fazer isso hoje? — Perguntei, sentindo a respiração dela parar por uns segundos e os olhos de Scott se fixarem em mim.
— Atelina, a chave que falta...
— Precisa ser hoje Deb. Eu sei que pode ser estupidez, mas a vida de Ally corre perigo... Ren, ele não...
Novamente sua respiração ficou suspensa momentaneamente.
Eu pensei em contar sobre Ren e explicar que Ally estava a alguns passos de ter os mesmo efeitos que Ren se não tomarmos uma precaução, mas minha voz se perdeu e não consegui pôr em palavras o que aconteceu.
— Ok, só me diga o nome das chaves que você tinha antes para eu ter certeza de que a chave que falta não seja importante e se for iremos contornar isso.
— Diga o nome delas e eu direi se as tinha, mas pode pular as das espécies porque eu tinha todas as sete.
— Tudo bem, assim é mais rápido — Ela disse, suspirando — Você tinha a chave Líder?
— Sim, essa estava no livro.
— Proteção?
— Sim, encontrei junto com a chave dos "Lobos", no dia em que Ally e Ren...
Um silêncio repentino surgiu entre nós. Era um silêncio que dizia tudo sobre os acontecimentos mencionados.
Dabria pigarreou.
— Ok, as próximas são mudança, controle e união.
Duas dessas eu tinha encontrado na cabana de Cassandra e Mason, quando eu fui atrás dos diários de ambos. Mas eu não tinha certeza de qual delas era a que faltava, eu as encontrei a bastante tempo e tanta coisa aconteceu nesse tempo.
— Dabria, desculpa, eu não tenho certeza.
O silêncio se estendeu novamente. Eu sabia que ela poderia estar decepcionada.
— Tudo bem, vamos torcer para que seja a chave união que falta — Ela disse, eu sentia o tremor na sua voz — Essa é a única que eu posso dizer que a sua falta não faz diferença, pois é incerto a sua função.
— Então, podemos fazer o feitiço?
— Sim, eu vou pegar umas coisas e me encontro com você em Demeure...
— Deb — Chamei antes que ela terminasse a frase — Scott e eu tiramos Ally do hospital de Demeure, escondidos.
Ela ficou em silêncio mais uma vez.
— Ela deve estar achando que você ficou louca — Scott comentou, do banco da frente.
— Sim! É óbvio que eu estou pensando isso. Por que você fez isso, Atelina? — Dabria questionou, furiosa.
Daimen não era o único que me chamava pelo nome quando estava bravo comigo, Deb também fazia isso e acontecia em momentos muito raros, pois ela se continha mais vezes.
— Eu vou contar o motivo, só vamos nos preparar para o feitiço.
— Onde nos encontramos?
— Vou ligar para Daimen e perguntar se posso usar sua casa para isso...
— Ele disse que tudo bem, Isobel vai ajudar — Scott respondeu, levantando seu celular na mão livre para mostrar o que estava fazendo.
Suspirei aliviada.
— Então vá para a casa de Daimen, Dabria.
Ela concordou e desligamos.
Scott continuou dirigindo para a mansão e dessa vez ele acelerou um pouco mais.
Ally começou a se mover no meu colo, sua mão indo de encontro com o machucado da mordida no pescoço que estava coberta por gaze e fita, mas eu ainda conseguia ver que a vermelhidão permanecia ao redor da ferida.
Segurei sua mão, parando-a antes de tocar a ferida e a mantive entre meus dedos. Não foi fácil, ela queria tocar a ferida e estava reagindo a minha intervenção, soltando gemidos e grunhidos nervosos.
Até que ela parou de se mexer, cedendo.
Pelo menos eu pensei isso, mas não era verdade. Allyson estava acordando, e não só como uma pessoa normal ou doente acordaria. Ela estava acordando com a sua face vampírica no rosto, dentes a amostra e suas unhas também se pareciam com garras de tão grandes que eram.
Afastei meu corpo contra a porta, largando sua cabeça no banco do carro e todos os movimentos seguintes aconteceram rápido demais para que eu pudesse raciocinar o que estava acontecendo.
BRILHA, BRILHA ESTRELINHAS 🌟🌟🌟
Olá amorinhas, como estão? Espero que muito bem, o livro se aproxima do final! 👏🏻👏🏻 Estamos prestes a acabar mais um livro, mas já vou avisando que esse ficou um pouco maior do que os outros dois. Fico muito feliz por quem chegou até aqui e esteve firme e forte para saber o final dessa trilogia tão querida para mim. Agora vamos ao capítulo. O que vocês acharam? Atelina deveria mesmo ter tirado Ally de Demeure? Será que é inteligente utilizar apenas onze em um amuleto de doze chaves? Alguma coisa vai dar errado? E a decisão de Atelina de não falar sobre a verdadeira identidade de Ren? Ou conversar com Luke. E esse final, mdssssss, o que aconteceu?
Espero vocês nos próximos capítulos!
Não se esqueçam de VOTAR e COMENTAR.
E INDIQUEM para os amigos, quem sabe não dá tempo para eles lerem os outros dois e acompanhar o final desse?
Um grande abraços e beijinhos para vocês.
💖💖💖
- Atelina T. L. Silva.
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