Capítulo 23 - Duende Verde
A fada ao lado, pequena e de aparência adorável, olhou para Séph da mesma forma que eu, assustada. Séph era alta de músculos nítidos e marcados e carregava armas amarradas a cintura. Sua aparência era mortífera.
— E o que faz aqui? Se entregando tão facilmente? — Séph tinha a voz grossa, exatamente a mesma da fada que tinha ameaçado o homem quando chegamos.
— Eu não consegui abrir as celas, não imaginei que vocês usariam um campo tão forte — Menti, tentando pôr em meu rosto uma expressão de alguém que tinha tentado até cansar.
— Ah, então o que Lauren disse sobre você ser fraca é verdade. — Séph continuava sorrindo maliciosamente — O que andou fazendo até agora era só uma brincadeira da qual você teve muita sorte.
Com certeza, tanta sorte que eu consegui invadir o Castelo de vocês sem perceberem, pensei. Segurando-me para não rir na frente delas.
— Mas ainda tem algo que eu não consegui entender — Ela falou, seus olhos curiosos — Cadê seus amigos? Eles estão aqui embaixo também?
— Não, eu deveria soltar os prisioneiros e depois esperar que eles atacassem vocês para poder me encontrar com eles lá no portão... mas toda a minha magia foi drenada pelo o que vocês colocaram no campo de força.
Eu estava apostando na possibilidade de Cassandra ser tão egocêntrica que não tinha falado como funcionava seu feitiço e também apostava na ignorância dos seres desse mundo em relação a bruxaria do meu mundo.
— Que pena, não? — Séph soltou uma gargalhada que ecoou pelo corredor e por um momento fiquei com medo de alguém do meu grupo vir para saber o que estava acontecendo — Peça para as fadas se prepararem para uma invasão e fiquem apostos.
Olhei para a fada ao lado de Séph, ela concordou antes de correr de volta pelo caminho que elas tinha tomado antes.
— O que vai fazer comigo? — Perguntei, parecendo estar amedrontada — Você não poderia me entregar aos meus amigos para irmos embora?
— Ah, com certeza eu não farei isso.
Séph veio marchando à passos pesados na minha direção e com mãos pesadas e fortes me puxou pelo cotovelo, fazendo-me segui-la pelo caminho que a outra tinha corrido. Pelo menos não ficaríamos na prisão, e isso daria tempo para Scott acordar e ajudar os outros a terminar de soltar os prisioneiros.
— Sabe o que vou fazer com você?
— Era por isso que eu tinha perguntado... aí!
Ela apertou o meu cotovelo moendo minha pele e carne no seu punho de ferro monstruoso.
— Vou mostrar a você que não se deve brincar com uma fada, não da forma que você nos fez parecer fracas e bobas.
Continuamos por mais alguns metros, ela me arrastando por todo o caminho após subirmos as escadas que levavam a prisão e Séph atravessou uma porta dupla de madeira com um ponta pé raivoso. A porta se abriu brutalmente e o som reverberou pelas paredes frias de pedra.
A fada me soltou, jogando-me para a frente com tanta força que eu quase perdi o equilíbrio, entretanto, eu me mantive em pé e dei a volta para encará-la mais uma vez esperando e tentando adivinhar o que ela ia fazer comigo. Quando olhei o que eu vi foi a visão borrada e rápida do seu punho vindo na minha direção.
Fadas deveriam ser fofas e amorosas, não brutais e vingativas.
No entanto, era exatamente isso que elas eram, pois o soco que recebi dizia tudo sobre a intensão de Séph. Vingança. Ela queria vingança por eu ter ameaçado o império da sua superior, vingança por ter invadido a cela delas e roubado seus prisioneiros, por ter sequestrado a filha da líder e por insistir que poderia vencer elas.
Séph não parou no primeiro soco, os outros vieram antes que eu pudesse me recuperar do anterior. Sempre seguidos e em lugares diferentes do meu corpo. E quando ela parou para descansar a mão eu senti a explosão de dores espalhadas e o gosto de ferrugem presente na minha boca.
Eu já estava no chão, ajoelhada e me controlando para manter minhas asas nas minhas costas. Elas queriam sair, mas ninguém além dos meus amigos sabiam da existência delas e essa não seria uma atitude de alguém que quer ganhar tempo.
Eu precisava permitir, precisava deixar que ela fizesse isso, enquanto lá embaixo os prisioneiros eram soltos e aqui em cima o outro grupo se aproximava para iniciarmos a outra parte do plano.
— Você já cansou, bruxinha? — Séph perguntou, irônica vindo com o pé na direção do meu abdômen.
— Você vai permitir que eu descanse se eu falar que sim?
Em resposta o tapa estralou na minha cara. Não era um soco, menos mal.
— Lauren vai me agradecer se souber que eu acabei com você no lugar dela, mas ai ela vai ficar triste pois não pôde aproveitar — Ela disse, olhando para o meu estado com olhos brilhantes — Bom, pelo menos ela pode se gabar de ter tido seu filho como seu brinquedo bem aqui nesse mesmo lugar também...
Sem pensar duas vezes meu punho acertou a cara dela, fazendo Séph ser pega desprevenida e cambalear alguns passos para trás.
— Ah, então você sabe bater?
Ela devolveu o meu soco duas vezes mais e com mais força, mas antes que o segundo me atingisse fadas entraram no salão onde estávamos às pressas e eufóricas.
— O que foi? — Séph perguntou, brava por ter sido interrompida.
— O duende, ele está... está fazendo algo com as fadas.
Séph bufou furiosa, indicando com gestos que uma das suas fadas me carregasse enquanto ela partia na direção que elas indicavam para encontrar o tal duende. Ela poderia deixar para depois, mas a voz da fada tremia e elas pareciam com medo. Eu ainda conseguia me manter em pé e andar, mas tudo doía e meu rosto latejava.
Eu fui carregada por elas e Séph seguia na frente, furiosa e eu tinha certeza que se o duende estivesse fazendo algo de errado receberia essa fúria dela no meu lugar, um lugar do qual eu daria sem pensar duas vezes.
Quando chegamos as portas que atravessamos eram enormes, só não tocavam o teto, porque o teto era ainda mais alto. Estávamos na sala do trono, o lugar onde os reis e rainhas encontravam seus súditos, faziam festas ou reuniões na corte.
Aquele salão quase não era decorado, mas tinha muitas presenças ali, incluindo o grupo do acampamento que não gostava de mim. Eles estavam posicionados ao redor de um dos tronos enquanto o líder deles estava sentado no trono maior e mais bem decorado.
Fadas paradas fixamente na frente dele se ajoelhavam, e ao lado delas havia um grupo maior liderado por mim, Deb, Luke e Peyton.
— Ah, querida vice-líder decidiu se juntar a nós? — O líder do grupo falou, um sorriso debochado em seu rosto — E olha o que temos aqui, duas bruxas fracas? Será que juntas ficam um pouco mais forte?
Ele comentou quando seus olhos encontraram o meu rosto no meio das fadas. Não entendia como era possível ainda ser reconhecida após a sequência de socos que levei, meu rosto com toda certeza estava desfigurado, inchado e todo vermelho.
— O que estão fazendo? — Séph perguntou às fadas ajoelhadas ao pé do trono —Levantem-se!
Pois elas não o fizeram.
As fadas ajoelhadas nem se mexeram na direção da segunda no comando, que eu descobrira à pouco que era Séph. Quando Lauren não estava, ela era a líder e responsável por tudo nesse mundo.
Em resposta a desordem das fadas inferiores Séph bufou, a raiva antes dirigida à mim aumentando e sendo dirigida a suas fadas. Olhei em volta, pois já sabia o que aconteceria desse lado, meus olhos se fixando sobre os de Daimen ainda na forma de Luke.
Ninguém tinha percebido, mas sua forma estava tremeluzindo como se fosse falhar a qualquer momento. Tentei demonstrar que estava bem, entretanto, eu sabia que não era possível com a aparência que estava ostentando. Por sorte antes que ele avançasse na direção em que eu estava, Malia sutilmente tocou em seu braço, negando com a cabeça para que não fizesse nada.
Eu estava evitando a linha dourada dentro de mim que pertencia a ele, porque ainda estava brava por ele guardar tantos segredos de mim, mas o momento pedia para que eu tomasse proveito da nosso conexão para acalmá-lo.
"Daimen, eu estou bem. Sua forma está tremeluzindo, não deixe que o plano seja destruído. Eu precisei deixar que ela me batesse para ganhar tempo." Eu disse, minha voz firme e neutra.
Ele olhou mais uma vez para mim e eu podia jurar que conseguia ver seu rosto na forma normal entristecido e pesaroso, por não poder fazer nada. Mas era preciso.
— Vocês estão surdas? — Séph gritou, as veias no seu pescoço saltando sob a pele.
— Séph, elas não estão escutando. — Uma outra fadas comentou.
— Você acha que eu sou cega? — Séph questionou, nervosa dando passos pesados na direção delas e se prostrando na frente.
Eu estava olhando para ela quando viu algo que a espantou no olhar das fadas paralisados e ajoelhas. Séph estremeceu e engoliu em seco.
— O que fez com as minhas fadas, duende nojento?
Uma gargalhada ecoou pela sala do trono, vinda do nível elevado onde o líder e os integrantes do grupo estavam.
— Ah, você sabe o que eu fiz — O duende disse, um sorriso cruel e diabólico se abrindo nos lábios.
— Você nunca precisou de nós... — Séph começou a dizer, interrompendo a si mesma ao notar que tinha feito merda em confiar naquele duende.
— Na verdade, precisei. Estar aqui só foi possível por causa de vocês — E ele riu mais uma vez, as mãos estendidas no ar sinalizando o lugar que estava.
Eu estava perdida. Não entendia nada do que eles estavam conversando, mas o seres do Mundo da Ilusão no nosso grupo estavam tão confusos quanto eu, o que significava que a resposta estava nas fadas petrificadas e talvez mesmo vendo elas eu não pudesse encontrar uma resposta.
— O que quer de nós? — Séph perguntou, finalmente desviando os olhos das fadas e olhando para o duende no trono.
— Ah, eu posso deixá-las em paz se me entregarem o que tem em mãos — Ele disse, um brilho esverdeado em seus olhos sendo dirigido a mim.
Séph olhou para mim também, depois olhou para Malia do outro lado que também tinha a minha aparência. Não sabendo se valia a pena entregar uma sendo que ele já tinha outra.
— Mas há outra ali, por que ficar com as duas?
— Por que eu daria a você uma de duas quando há a possibilidade de você ir com a certa? — Ele perguntou, seu olhos sedentos — Mas se questiona tanto, quer dizer que vai ficar aqui e se tornar minha escrava como as outras?
Ela estremeceu com a ameaça, levantando a mão direita no ar em um sinal que as fadas que me seguravam entenderam na hora e me soltaram.
Ah, caramba. Ela ia me entregar!
— Em troca, liberte as minhas fadas — Ela pediu, sua voz firme embora ainda trêmula.
— Vão embora! — O duende gritou, fazendo as fadas paralisadas voltarem a se mexer e caírem no chão ao lado dos pés de Séph.
As fadas sumiram em instantes, largando o meu grupo e eu ali diante daquele grupo que parecia assustador diante delas, as fadas que estavam governando e aprisionando seres de outras espécies, fazendo ameaças, torturando. Elas simplesmente fugiram.
— Ah, salvadora — Ele disse isso com um ódio e nojo nítidos — Agora que está no meu mundo o que acha de ser tratada da forma correta?
Apesar de estar na dúvida de qual de nós era a certa, ele olhava apenas para mim e raras vezes dirigia seu olhar para Malia do outro lado.
Eu não sabia o que fazer, isso não estava nos planos. No máximo o que aconteceu comigo e Séph poderia ser contornado, mas ele... eu nem sabia o tipo de ameaça que ele significava. Não desse lado, no seu mundo, em um lugar onde ele tinha a vantagem e meu rosto latejava tanto que até ver ele a alguns metros estava sendo difícil.
As fadas sabiam o que ele era e o temiam. Elas o chamaram de Duende, mas ele com certeza era mais do que apenas um duende.
O duende abriu seu sorriso cruel novamente e se levantou do trono, descendo o nível do trono e vindo na minha direção com passos lentos e demorados, fazendo o pouco de controle que eu tinha sobre o meu coração sumir e ele bater desesperadamente de medo.
Assim que estava na linha de Malia e à alguns passos de mim, ele parou.
— Como devo fazer você me mostrar quem é a verdadeira? — Ele perguntou, olhando para nós duas. — Será que batendo nela daria certo, o que acha, Fehtel?
— Senhor, essa segunda já levou uma surra. Será que não é a verdadeira? — Um homem que ainda permanecia ao lado do trono, apontou para mim.
— Ah, mas assim quer dizer que não posso tentar por mim mesmo? Quero vê-la sendo machucada e engolida para lembrá-la que sua pose de durona naquele dia não passou de mero fingimento. — Ele expôs seu pensamento doentio, olhando apenas para mim. — Os fracos sempre serão fracos.
Ele dizia que queria se certificar qual de nós era verdadeira, mas eu tinha certeza de que ele já sabia que a verdadeira era eu. A machucada e sozinha bem na sua frente. E por isso ele se aproximou do meu lado e não do outro, eu estar machucada também era um sinal como o seu capanga disse.
O duende sabia.
Contudo, queria brincar.
— Você não vai falar nada? — Ele perguntou, olhando de mim para Malia — Naquele dia você parecia muito selvagem, com essa boca grande.
Permaneci calada e sem reação, exatamente como Malia estava do outro lado.
— Será que vou mesmo precisar bater em você... — Sua voz se elevou e sua mão foi erguida no ar tão rápido que só vi o movimento quando estava quase na minha cara.
Eu me encolhi, esperando receber o tapa, mas era pedir demais que Daimen se segurasse nesse momento. Ele tinha avançado na minha direção e me afastado do alcance do duende, além disso a mão do duende pingava sangue quando olhei para ele novamente.
Havia uma pena dourada atravessando seu braço. Ela era dura e afiada.
— Senhor! — Os capangas do duende se exaltaram, querendo desesperadamente correr na sua direção.
Ele simplesmente levantou a mão que não estava machucada, fazendo-os parar no meio do surto deles. O sorriso do duende tinha sumido, ele olhava com interesse e raiva para a pena que parecia com uma faca.
— Eu esperava que você trouxesse com você o outro anjo — Ele disse, segurando a ponta da pena e puxando-a — Ah, eu queria ver se desse lado ele era tudo aquilo que fazia os outros pensarem que ele era.
O duende se referia a Scott, eu queria defendê-lo, mas se o fizesse ele descobriria que era eu a verdadeira e eu ainda queria ganhar tempo até descobrir o que fazer com a situação.
— Esse eu não conhecia — Ele olhou fixamente para Daimen, a pena na mão segurada como uma faca prestes a ser lançada.
Daimen estava na minha frente, seu corpo cobria quase todo o meu e isso só era possível porque estava na sua forma verdadeira. Luke era maior que eu, mas não tanto quanto Daimen.
— Esse também é um dos seus servos? — Ele riu, e assim que sua risada sumiu no espaço ao nosso redor ele lançou a pena na direção de Daimen como uma navalha.
Antes que a pena invadisse o espaço de Daimen ela sumiu, desintegrada no ar e Daimen nem tinha se mexido um centímetro que fosse.
— Ah, que burrice a minha! — Ele disse, batendo na própria testa. — Parece que preciso usar minhas próprias armas contra você.
Ele tirou da bota que calçava uma adaga, com um corpo extremamente fino e fiado.
— Na verdade, eu não preciso disso...
O duende olhou para mim atrás de Daimen e sorriu, largando a adaga e fazendo-a cair no chão, o som metálico ecoou pela sala enquanto seu próprio corpo crescia e aumentava de tamanho e cumprimento.
O espanto não veio apenas de nós que fazíamos parte de outro mundo, mas até mesmo os seres do Mundo da Ilusão que estavam comigo, olharam espantados para a transformação do duende. Alguns até mesmo olharam horrorizados para ele como se ele fosse o diabo engarnado daquele mundo.
— Senhor, tem certeza que essa é a hora certa para se transformar? — O cara que antes conversava com o duende perguntou.
— Eu vou pisar na salvadora, até que ela se transforme em uma massa sangrenta e se esse anjo ficar na frente, ele vai virar uma massa também!
Agora eu entendia o motivo de Scott ter ficado bravo comigo quando o chamei de duende quando vim a prisão contar as espécies. Aquele duende tinha a pele verde, orelhas pontudas, dentes tortos enormes e amarelos, o rosto era de um triangulo invertido e queixo pontudo. Além disso, ele era enorme. Tinha mais de dois metros de altura e seria fácil, fácil pisar e mim.
Os seres do Mundo da Ilusão se aproximaram de nós rapidamente, Malia, Deb e Brooke vindo junto com eles.
— Não podemos lutar contra ele! — O homem de olhos de obsidiana gritou.
Confusa, mas ainda sendo protegida por Daimen olhei na direção dele. Seus olhos estavam temerosos.
— Por que não? — Perguntei, com certeza ele saberia mais que eu sobre a nossa situação.
Eu acreditava que teríamos uma chance, pois derrotando ele não haveria mais obstáculos para a vitória que almejávamos. O grupo deles tinha afugentado as fadas e elas partiram largando tudo, então apenas ele nos impedia de vencer e tomar o castelo. Lógico, eu não fazia ideia do que ele era e se ele tinha um ponto fraco.
— Ele é a porra de um duende verde! Eles não vivem aqui, eles tem um lugar próprio onde não são a espécie mais forte... mas aqui, salvadora, eles são. Contra nós eles são os mais fortes e por isso as fadas fugiram.
Ah, então estávamos ferrados.
Não imaginei que encontraria algo assim aqui. Esse mundo estava uma confusão. Tudo que deu errado até agora para eles era porque as coisas não estavam em seus devidos lugares.
ESTRELINHAS, ESTRELINHAS. CADÊ MINHAS ESTRELINHAS?? 🌟🌟🌟
Oie Anjinhos, como estão? O que acharam desse capítulo? Mais alguém preparando suas lanças e espadas para caçar essa fada que bateu na Atelina? E esse duende babaca, mais do que merecido o que Daimen fez com ele, mas será que vai dar tudo certo com eles agora que o duende ficou grande e assustadoramente feroz? E os prisioneiros lá embaixo será que todos já foram soltos? As fadas fugiram mesmo do castelo?
Não se esqueçam de VOTAR e COMENTAR!!
Até o próximo capítulo.
💖💖💖
Beijos e beijões.
- Atel.
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