Capítulo 1 - Inevitável

   Eu estava a um passo de presenciar uma guerra. Não tinha certeza dos sentimentos que eles estavam sentindo, mas eu tinha certeza que eles poderiam tirar sangue um do outro apenas com os olhos. Peyton não poderia aparecer em hora mais errada do que essa e eu não conseguia pensar no motivo de ele ter aparecido aqui e agora.

   Quando achei que estávamos tempo demais parados, apenas trocando olhares e alguém precisava se mover, Daimen lentamente desviou os olhos amarelos que queimavam intensamente de Peyton e os direcionou para mim antes de se afastar de nós para a varanda da casa.

     — Atelina — Peyton chamou mais uma vez, agora seu olhar preso em mim.

     — O que faz aqui? — Perguntei, um pouco mais dura do que eu queria.

     — Eu queria ver você assim que descobri que tinha acordado, — Ele disse, as palavras magoadas — mas Dabria disse que não poderia me levar quando fosse visitar você e eu vim saber o motivo.

     — Sinto muito, estou hospedada na casa de Daimen — Falei, fazendo seus olhos vagarem momentaneamente na direção de Daimen — Eu voltarei para casa assim que melhorar, então não se preocupe.

   Peyton não conseguiu esconder sua insatisfação ao saber que eu estava com Daimen, isso estava claramente marcado em seus olhos e na carranca. Eu poderia apostar que no fundo ele estava se perguntando se Daimen e eu tínhamos reatado a nossa relação.

   Por isso, eu não sabia se valia a pena dizer a verdade para ele e lhe dar esperanças, ou se era melhor deixá-lo pensando nisso e se manter afastado por enquanto.

     — Você vai manter nosso acordo? — Ele sussurrou, parecia querer evitar que qualquer outra pessoa além de nós ouvisse.

     — Peyton, eu não... — tentei falar, mas as palavras me fugiram.

     — Você disse que dessa vez olharia para mim — Peyton disse, lembrando-me do dia em que conversamos no banheiro do colégio — Você não pode voltar atrás, não agora que ele está aqui e eu posso mostrar para você que sou melhor que ele.

   Ouvimos uma risada abafada vindo do lugar onde Daimen estava e assim que olhei para ele, eu podia afirmar que ele estava rindo de Peyton.

     — Peyton, eu não estou tentando voltar atrás — Falei.

   Eu queria adiar isso e dizer para Peyton em outro momento que Daimen não queria mais nada comigo, mas a risada de Daimen embora tenha sido dirigida para Peyton acendeu uma pequena chama de raiva que não consegui controlar dentro de mim.

     — Eu só acho que não é uma boa hora para falar sobre isso, mas não se desespere — Falei, respirando fundo e olhando rapidamente para Daimen — Daimen não me vê mais dessa forma...

     — O que? — Peyton perguntou, um sorriso crescendo em seu rosto.

     — Mas eu não pretendo dizer minha resposta a você ainda. Se vai ser um sim ou um não, direi só quando tudo acabar — Conclui.

   Eu estava mentindo, sabia que era errado da minha parte e não deveria ser dessa forma. Na verdade, eu ainda continuava com a ideia de que não escolheria nenhum deles e talvez Daimen já soubesse disso. Ele estava sempre na minha cabeça, ouvindo meus pensamentos então sabia da minha decisão e eu achava que era por isso que minha presença já não incomodava ele.

   Olhei para ele, seus olhos fixos em mim com decepção estampado no seu rosto como se pudesse apontar o dedo na minha direção e gritar que eu estava mentindo. Desviei meus olhos dele e olhei para Peyton, o sorriso ainda em seus lábios.

     — Se eu não preciso competir com ele, eu não vou reclamar mais e contente esperarei sua volta! — Peyton exclamou, a voz agora radiante.

     — Vamos embora, Atelina — Daimen falou, rapidamente aparecendo do meu lado — Ficamos tempo demais aqui fora e você precisa descansar.

   Embora quisesse dizer que queria ficar um pouco mais para poder contradizer suas palavras, eu não podia evitar que estava realmente cansada de ficar em pé e meus machucados latejavam mais uma vez. Não queria mais segurar as muletas e muito menos queria ficar em pé.

   Então obediente segui Daimen até o carro mais uma vez, ele quase não me tocou e apenas se aproximou quando abriu a porta para mim e passou meu cinto de segurança. Eu sabia que ele queria evitar, mas eu notava claramente que Daimen estava com raiva.

   No caminho de volta parecia não ter demorado tanto quanto antes e Daimen acelerou um pouco mais, eu não queria dizer nada e não pretendia tocar no assunto, entretanto ele tinha outros planos.

   Assim que parou o carro na mesma rotatória de antes, ele travou as portas do carro e esperou, tomando fôlego.

     — Você não acha que ele merecia saber que você não quer ficar com ele? — Daimen perguntou, finalmente.

     — E você não disse que tentaria não ler mais meus pensamentos? — Perguntei de volta — Isso não tem nada a ver com você, Daimen. Desculpa se meus pensamentos são tentadores, mas por favor evite fazer isso.

   Ele olhou na minha direção, seus olhos dourados fixos em mim novamente como se eu fosse uma assassina e ele soubesse.

     — Quanto mais cedo você dizer, mais cedo ele pode tentar superar você.

     — Você não acha que eu posso mudar de ideia? — Falei, sendo rude e olhando no fundo de seus olhos — Eu posso mudar de ideia e no final disso tudo, se eu ainda sentir algo por ele eu irei escolher estar com ele.

   Eu não sabia o que eu estava sentindo, mas o ar presente no carro estava carregado de um calor emanado da raiva de ambos e isso fazia com que minha a indignação por ele ter desistido de nós tão rápido aparecesse e aflorasse. Se Daimen não sentia mais nada por mim isso não valeria nada, as minhas palavras não lhe causariam nada, mas assim que eu as dissesse, elas seriam para mim como jogar fora o que tínhamos vivido.

     — Você, Atelina, desistiu tão rápido quando eu falei que não voltaríamos e agora eu sou o culpado?

     — Para de ler meus pensamentos!

     — Por que? — Ele agora tinha todo o corpo virado na minha direção — Não quer que eu saiba o que você está dizendo para você mesma? Você desistiu de nós quando abriu mão da sua vida! Eu só quis evitar!

     — Evitar o que? — Gritei de volta.

     — Que você soubesse que eu amei você mais do que qualquer coisa. Para você eu não passei de um substituto para ele, enquanto que para mim você foi...

   Daimen parou de falar antes de concluir sua frase.

   Eu não queria admitir, mas ele podia ter razão. No início Daimen era sim, mais uma pessoa por quem eu tinha uma forte atração e poderia substituir os meus sentimentos por Peyton, mas depois eu me via cada vez mais próxima dela. Ele me fazia sorrir, me desafiava, me consolava, evitava que eu sofresse, cuidava de mim e eu quis retribuir isso. Quis fazer ele sorrir, quis dividir com ele os meus dias e começava a acreditar que poderíamos um dia superar qualquer coisa com os nossos sentimentos.

   Inclusive, superaríamos os meus sentimentos por Peyton.

     — Daimen...

     — Esquece, como você disse: isso não tem nada a ver comigo — Daimen disse, sua voz rouca pela exaltação — Faça o que você quiser com Peyton, ame, odeie. Eu não me importo...

   Sem que eu pudesse evitar minhas mãos agarraram seu braço ainda no freio, sua pele extremamente quente como eu conseguia me lembrar. O desespero de vê-lo partir mais uma vez inundando meu peito.

     — V-você não se importa, ou deseja não se importar?

     — Não faz diferença.

   E mais uma vez Daimen puxou seu braço do meu alcance e saiu do carro, indo na direção oposta da porta de entrada. Eu estava mais uma vez sozinha, não tínhamos resolvido nada e a situação talvez tivesse piorado agora. Contudo, ele podia dizer o que quisesse, mas fazia sim diferença.

   Se Daimen não se importasse como estava tentando deixar claro, então ele não sentia mais nada por mim. Mas se ele desejava não se importar, significava que ele ainda tinha sentimentos por mim e escondia eles por medo.

   Será que minha morte realmente tinha causado tanto estrago em Daimen?

   "Para você eu não passei de um substituto para ele, enquanto que para mim você foi..." o que eu fui para você Daimen?

   Esperei mais um tempo dentro do carro pensando e repassando os momentos em que estive com Daimen no passado e lembrei momentaneamente da visita de Miles e Brooke no apartamento de Daimen. Miles tinha me contado sobre as origens e os poderes dos anjos e sobre o fato de Daimen ser o anjo "forasteiro".

   Se Daimen realmente tinha sentido alguma coisa por mim, como ele tinha sentido? Daimen era o anjo forasteiro que não tinha sentimentos.

   Quando meus pensamentos de culpa finalmente aquietaram, Isobel apareceu correndo de dentro da casa e veio ser meu apoio. Com a sua ajuda eu caminhei lentamente para dentro da casa e para dentro do quarto, querendo deitar e descansar os meus ferimentos, mas só pude fazer isso após tomar os remédios e comer.

   Contudo, eu queria voltar ao momento do carro e continuar a discussão. Agora que eu tinha mais argumentos e uma dúvida que crescia ainda mais dentro de mim sobre os sentimentos de Daimen. Eu queria saber, queria saber cada detalhe sobre seus sentimentos e se eles realmente existiram. Não queria ter que pensar isso dele, mas não era justo ele dizer que eu desisti de nós sozinha.

   Ele também tinha desistido... entretanto, eu entendia sua retração.

   A incerteza de ser realmente a pessoa que seu parceiro amava de verdade, a pessoa que podia deixar você a qualquer momento, mas se a escolha fosse sua, isso não aconteceria e foi por isso que ele passou.

   "Eu sinto muito, Daimen", pensei. Era isso que eu deveria estar dizendo para ele ao invés de querer culpá-lo por estar se protegendo.

   Qual era o meu problema?

   Automaticamente bati com força na minha testa. Eu estava com raiva de mim, por ter decidido fazer aquilo com Peyton e estar brigando com Daimen constantemente sobre nosso relacionamento. Como já tinha decidido antes... sem romances. Se eles tiverem um motivo para me ajudar deve ser pela causa e proteger as pessoas que o grupo extremista causava mal. Não por mim, nem por quem eu escolheria.

   Eu só queria acabar logo com isso e poder deixar que eles escolhessem por eles mesmos se é melhor ficar em Falls Stay, ou ir embora. Todos. Isso incluía Allyson.

   Sentei na cama, lembrando-me que eu não sabia onde estava o meu celular. Antes eu tinha usado o de Daimen para falar com Dabria, agora queria mandar mensagens para Ally para amenizar sua raiva, mas eu não sabia onde ele estava desde o momento em que eu acordei.

     — Senhorita, gostaria de tomar banho agora? — Isobel perguntou, aparecendo rapidamente.

     — Ah, não. Agora não — Falei, eu ainda estava sentindo dores por causa do longo período em que fiquei em pé e não queria levantar por um tempo — Isobel, você viu meu celular?

     — O Sr. Daimen pediu que esperasse um pouco, o seu não estava em boas condições, então ele pediu que a Srta. Malia comprasse um novo para você.

   Malia? Quem era essa? Tanto Daimen quanto Isobel diziam esse nome tantas vezes que para mim era como se o nome me fosse familiar, mas eu não conhecia ninguém com esse nome. Era uma conhecida? Amiga?

     — Isobel, quem é Malia? — Perguntei, não conseguindo evitar a curiosidade.

     — A senhorita não a conhece? Eu pensei que por estar casada com o senhor Daimen, soubesse quem é a Srta. Malia.

   Casados? Daimen e eu?

     — Como é? — Perguntei, minha sobrancelha arqueando em confusão.

     — Ah, mil desculpas senhorita! — Ela pediu, seus olhos arregalados e as palavras carregadas de constrangimento.

     — Não, não se preocupe com isso. E me chame de Atelina, por favor — Pedi, abrindo um sorriso gentil para acalmá-la — Se me contar o que sabe posso esclarecer a verdade para você.

     — Mas senhorita... — Ela parou, notando meu olhar de repreensão — Atelina, eu não quero parecer uma fofoquei nessa casa, já que sou a única fonte de renda da minha família, devo preservar esse emprego.

   Eu sorri novamente, tentando ser gentil e tirar a preocupação de seus ombros.

     — E você está certíssima, mas não é melhor corrigir o erro antes que tome um caminho estranho? — Perguntei, não querendo parecer desesperada para saber o que Isobel sabia sobre tudo enquanto eu estava dormindo.

     — Ok, Atelina — Ela disse, relaxando finalmente.

   Apontei rapidamente para a poltrona que tinha mais perto da cama para que ela se sentasse e confortável me deixasse inteirada de tudo.

     — Eu costumava vir a mansão, uma vez por semana para fazer faxina na casa por ordens do Sr. Kennedy, ele sempre estava ausente, eram raras as vezes em que ele aparecia. Mas há três semanas eu recebi uma ligação de que teria que ficar por mais tempo e inclusive no horário da tarde para cuidar de uma hospede acamada, enquanto ele ficaria ausente resolvendo uns assuntos importantes. — Ela disse, segurando as mãos no colo — Eu perguntei quem era para o senhor, mas ele não respondia, apenas olhava com olhos tristes para o corpo na cama e segurava as suas mãos bem forte, como se não pudesse soltar.

     — Quem disse que nós éramos casados? — Perguntei, a pulga na minha orelha saltando.

     — Ninguém. Eu simplesmente achei que fosse, ele a tratava tão bem e com tanto cuidado que eu suspeitei que a relação de vocês fosse mais profunda do ele pudesse descrever e por isso ele se calava quando eu perguntava — Isobel falou, sorrindo — Por isso achei que você conhecesse a Srta. Malia, ela é a irmã do senhor Kennedy.

   Irmã?

   Ah sim, irmã. Daimen tinha uma irmã e ele me falou uma vez no sonho em que compartilhamos. Ela seria como os irmãos anjos, ou apenas irmã de consideração?

     — Quando você acordou e vocês se estranharam eu pensei que fosse só pelo fato de ele ter estado no inferno por um longo tempo, não imaginei que vocês não tivessem uma relação — Ela falou, o tom de voz como se pedisse desculpa — Eu sinto muito por isso.

     — Não tem motivos para você se desculpar, nós dois temos um relação que não acabou muito bem, graças a mim. — Falei, minha voz realmente triste — Eu fiz algo que ele interpretou errado de certa forma.

     — Ah, que triste. Eu espero que vocês se acertem... — Isobel parou de falar quando seu celular tocou no bolso da roupa que vestia — Com licença.

   Ela se levantou e caminhou até a porta, sua voz levemente preocupada. Mas eu não estava prestando a atenção na sua conversa, eu estava pensando na sua última frase. "Eu espero que vocês se acertem". Eu também esperava isso. Com todas as forças ainda meio débil que eu tinha, eu desejava me acertar com Daimen.

     — Senhorita, eu não encontro o senhor Kennedy e preciso sair mais cedo para encontrar minha filha que está passando mal na escola — Isobel disse, aparecendo mais uma vez na minha frente com um olhar extremamente preocupado.

     — Ah, então você deve ir. Eu avisarei que você teve um contratempo e precisou sair — Falei, entendo seu sentimento — Cuide de sua filha.

   Isobel abriu um sorriso agradecido e se retirou as presas. Eu ainda cansada pelo esforço exercido em casa decidi tirar um cochilo já que não sabia onde Daimen estava para poder avisá-lo, talvez ele precisasse de mais um tempo para esfriar a cabeça e por isso Isobel não pode dizer a ele diretamente.

   Deitei minha cabeça no travesseiro, minha cabeça lotada de pensamentos adversos.

§ § § § §

     — Isobel? — Ouvi a voz de Daimen chamando e acordei rapidamente.

     — Ela já foi embora — Falei, minha voz sonolenta por causa do cochilo.

   Quando comecei a pensar que Daimen não tinha me ouvido e que era preciso falar mais uma vez e mais alto para que entendesse, ele apareceu na porta do quarto. Seu cabelo curto estava molhado e eu senti o aroma do seu corpo após um banho inundar o cômodo.

     — Ela falou o porquê?

     — Aconteceu alguma coisa com a filha dela, ela teve que ir resolver — Expliquei, minha voz um pouco mais baixa do que o normal por causa do constrangimento.

   Tínhamos discutido mais cedo e isso aconteceu a menos de duas horas atrás, por isso ainda era estranho conversar com ele. Além disso, era a segunda briga em dois dias, exatamente a quantidade de dias em que nos vimos.

   Esperei para ver o que ele faria em seguida, mas eu não esperava que ele fosse entrar no quarto e vir na minha direção, os passos firmes e bem decididos.

     — Ela já ajudou você a tomar banho? — Ele perguntou, engasgando.

   E só agora eu estava pensando nisso, antes de começar a conversar com Isobel ela tinha mencionado o banho e eu nem pensei que logo em seguida iria acontecer de ela ir embora... então Daimen teria que me ajudar?

   Neguei, quase não sentindo o movimento da minha cabeça.

     — Prefere que eu leve você ao banheiro, ou quer uma bacia com água?

   Ah, o banho de gato eu com certeza não queria. Não sabia como estavam me dando banho durante esses dias em que eu não estava consciente e era exatamente por esse motivo que eu preferia ir até o chuveiro e eu mesma me lavar, mas estava com medo. Daimen estava bravo comigo. Eu sabia que ele não deixaria nada acontecer, entretanto, eu suspeitava que essas ajudas doessem nele e eu já lhe causei dor demais.

     — Eu posso tomar banho... sozinha — Anunciei, fazendo seus olhos se fixarem nos meus por longos minutos, uma bela crítica incrustadas no dourado dos seus olhos.

   Sem responder ou simplesmente aceitar a minha afirmação e ir embora, Daimen se aproximou rapidamente e me pegou no colo. Embora rápido, suas mãos eram cuidadosas a cada movimento feito.

     — Não é tão difícil dizer que precisa de ajuda — Ele murmurou, baixo para que eu não ouvisse ou era porque eu estava perto o suficiente para ouvir.

   O movimento fora tão repentino que meu rosto foi de encontro com o seu peito firme, mas o susto logo passou, sobrando apenas a opção de tirar proveito da situação. Eu me peguei pensando, da forma mais profunda possível, que fazia muito tempo que eu não chegava tão perto assim de Daimen. Eu não sabia como fazer para esconder meus pensamentos, mas não me importava se caso ele ouvisse já que era por causa das suas ações que meus pensamentos estavam sendo guiados por essa direção.

   E era uma direção perigosa tanto para mim quanto para ele, pois ambos tínhamos concordado com a nossa separação, embora ela ainda causasse muitas brigas e discussões. Contudo, não consegui desviar minha atenção do simples fato de realmente ter sentido saudade do calor que seu corpo emanava contra o meu. Eu estava próxima o suficiente para pensar em todas as vezes em que tínhamos nos perdido na paixão e desejo...

   Quando Daimen balançou meu corpo várias vezes, eu soube que era um tipo de aviso para que eu não seguir por esse caminho e eu suspeitei que tinha sido por isso que ele logo me largou sentada na borda da banheira e se afastou, os passos pesados e firmes.

     — Eu posso... — Comecei a falar, mas desisti.

   Apesar de não estar gostando dos pensamentos que podia estar vendo na minha cabeça, ele continuava a fazer tudo para encher a banheira com água quente e sabonete líquido o suficiente para fazer espuma.

   Eu gostava da sensação que Daimen transmitia, ou melhor, sua presença. Ele era alguém extremamente confiável, reconfortante e seguro. Suspeitava que fosse por ser um Anjo do Céu que eu sentia isso, mas ainda sim havia algo mais, algo que também tornava...

     — Daimen? — Chamei sua atenção.

   Ele parecia ter saído de um transe quando grunhiu em resposta.

     — Eu conheci um dos seus amigos, quando você estava no inferno — Falei, não sabia se era o melhor momento para perguntar isso ou pelo menos deixá-lo saber que eu sabia — O nome dele é Miles e ele me contou um pouco sobre você, coisas que eu não sabia. Você me disse antes de viajar que me traria uma lista para que eu conhecesse você melhor... — Eu disse, quase me batendo por tocar nesse assunto.

   Daimen soltou uma risada abafada, enquanto pegava uma toalha no armário debaixo da pia.

     — Isso foi antes de eu voltar e você não estar mais aqui — Ele disse, suas palavras amargas.

   Olhei para a água quase na altura suficiente para eu entrar e comecei a me despir sem me importar com sua presença no banheiro.

   Eu não pretendia iniciar outra discussão e nem mesmo tocar no assunto sobre eu ter dúvidas de seus verdadeiros sentimentos por mim, mas ele me acertava com farpas o tempo todo e mencionava a minha morte que ele ainda acreditava ter sido por eu ter amado demais Peyton e dado minha vida por ele.

     — Ou você não queria alimentar os sentimentos de alguém por quem você não sentia nada... — Eu disse, minhas palavras morrendo aos poucos.

   Embora quisesse atingi-lo, eu sentia e só conseguia ouvir o meu próprio coração sendo partido em pedaços pela simples possibilidade de que poderia realmente nunca ter existido algum sentimento na nossa relação, mas no momento em que minhas palavras saíram da minha boca, seus passos pararam momentaneamente no meio do banheiro.

   Seus olhos mais uma vez no mesmo dia criaram as mesmas chamas que havia criado mais cedo quando tocou no nome de Peyton no café da manhã, mas dessa vez havia algo mais. Uma magoa profunda e sombria.

   Se realmente Daimen podia ter sentimentos, eu o estava machucando com total intenção. E eu estava me machucando ao mesmo tempo, pois usava uma faca de dois gumes.

     — Um anjo forasteiro dos céus... — Acrescentei, quase engasgando com aquelas palavras.

     — Não... não fala mais nada, por favor — Ele pediu, a voz saindo suplicante.

   Eu nunca vira Daimen me olhando daquela forma, nunca vira ele olhando assim para ninguém e mesmo se alguém viesse me dizer que aquele homem não tinha sentimentos, eu olharia de volta para perguntar o que era aquilo então em seus olhos e expressão. E mais uma vez eu o machuquei. Dessa vez, para sanar a minha dúvida.

   Parei de falar assim como pediu, pronta para ser deixada no banheiro sozinha e ter que me virar para entrar na banheira e tomar banho. Mas ele não saiu do banheiro.

   Daimen permaneceu ali do meu lado, me colocou na banheira, evitando que minhas ataduras fossem molhadas e esperou que eu terminasse para me ajudar a sair e em seguida, trocar de roupa. Cada movimento seu, fazia mais um trincado se abrir no meu peito, não evitei que minhas lágrimas caíssem mesmo na sua frente, deixando que elas fossem vistas.

   E assim que ele saiu, depois de eu recusar o jantar, eu desmoronei sobre os lençóis da cama.

BRILHA, BRILHA ESTRELINHA 🌟🌟🌟

Olá amorinhas, como estão?? Eu estou acabada depois desse capítulo, Atelina mentiu para Peyton para fazer Daimen ficar com raiva, o que acharam disso? Ela foi meio infantil, né? Mas ela continua a alfinetar Daimen e ele faz o mesmo com ela, ambos estão se machucando. O que vocês esperam para os próximos capítulos? Mais brigas? Conversas? E em relação a missão dela? Quando ela vai descobrir que o véu não está bem?

Espero vocês nos próximos capítulos.

Obrigada de coração por terem me acompanhado até aqui ❤❤❤

BEIJINHOS E BEIJÕES!!!

💖💖💖

- Atelina.

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