Capítulo 30 - Visitante indesejável

   Embora eu ainda debatesse dentro de mim sobre a noite passada, minha presença para Daimen tinha deixado de ser como um incomodo e ele até mesmo me acompanhou no café da manhã na manhã seguinte.

   Eu não dormira ontem, eu estava cansada, mas o fato de estar não foi um impedimento para vários pensamentos que surgiram na minha cabeça. Eu tinha finalmente aceitado a decisão que tomei. Nada de romance. Eu não escolheria ninguém e simplesmente me concentraria na missão que agora só incluía acabar com a cadeia do mundo da Ilusão e mandar Cassandra de volta para o véu.

   Seria fácil, essa era minha intenção quando voltei, então só precisaria correr de Peyton por um tempo. Graças as palavras de Daimen que diziam claramente que "não voltaríamos", eu poderia me contentar em agir normalmente do seu lado.

     — A senhorita deve estar cansada de comer sopa, certo? — Isobel perguntou, olhando para minha colher ainda do lado do prato.

     — Não, não. Eu gosto de sopa — Falei e não estava mentindo, só estava ruminando demais.

     — Bom dia, Isobel... Piierce — Daimen falou, entrando na sala de jantar.

   Eu respondi seu bom dia apenas com um aceno, minha boca estava cheia de sopa e eu queria evitar por enquanto conversar com ele. Era errado. Eu sabia, mas não era nada fácil fingir que não estávamos em um relacionamento antes de tudo ficar estranho.

     — Eu liguei para Dabria ontem, avisando que você tinha acordado e poderia receber algumas "visitas" — Ele avisou, pegando o pão da mesa e amassando antes de comê-lo.

     — Não, eu não quero incomodar. Então, não precisa deixar que eles venham até mim — Falei, rapidamente atropelando as palavras — Eu irei até eles.

   Daimen e Isobel me encararam ao mesmo tempo, seus olhos tinham a mesma pergunta expressada: "você tem razão?", lógico que a tonalidade da pergunta era diferente. Daimen perguntou como se eu tivesse contado uma piada e Isobel, cuidadosa como sempre.

     — Com ambas as pernas enfaixadas, com certeza você pode ir — Ele disse, sarcástico — Atelina, você nem chegou até à mesa sem a ajuda de Isobel e acha que pode ir para a cidade?

   Para a cidade? Quer dizer que não estávamos na cidade?

     — Não, não estamos na cidade. Essa casa é um pouco mais afastada que a sua casa, o caminho também é bem estreito por isso poucos carros passam por aqui. — Daimen explicou, cruzando as mãos sobre a mesa.

   Se eu não o conhecesse, suspeitaria que esse fosse um covil perfeito para um Serial Killer. Ele poderia me matar sem que alguém encontrasse meu corpo.

     — É, você realmente tem uma mente fértil. — Daimen falou, um sorriso brotando em seu rosto.

   Eu tinha que tomar cuidado com o que pensava agora, com certeza isso poderia ser um inconveniente agora que estava hospedada na casa dele.

     — Desculpa, só estava pensando — Falei, desculpando-me — Mas isso é chato.

     — O que?

     — O fato de ler tudo o que penso, isso é invasão de privacidade — Reclamei.

     — Não é invasão quando você a deixa aberta como está — Ele disse, levantando levemente uma sobrancelha — Desculpa, tentarei não ler mais.

   Eu sorri de volta, agradecida. Entretanto ainda tomaria cuidado com o que estava pensando quando ele estivesse por perto.

   Assim que Isobel colocou uma xícara de chá do lado do meu prato, ouvimos a campainha tocar. Daimen olhou para cima com os olhos arregalados e um leve toque de preocupação estava presente. Isobel rapidamente foi atender.

     — Eu falo sério em não querer incomodar, então não precisa trazer todos até aqui. Quando eu estiver... andando sozinha, eu volto para casa — Falei, olhando para a sopa e evitando seus olhos.

   Como não estava olhando para ele, eu apenas ouvi quando ele respirou fundo. Ele não gostava de ser contrariado e muito menos gostava da ideia de que seus planos já prontos deveriam ser mudados. E eu até que gostava disso nele.

     — Não precisa se apressar para voltar para sua casa, irei ajudar você na missão como eu disse antes e alguns anjos que conheço vão ajudar também — Ele disse, explicando — Eles virão amanhã, Dabria também.

     — Ok... só ela? — Perguntei, quase me arrependendo.

     — Não, Luke também quer ver você. — Daimen respondeu, sua voz levemente rouca controlando um sentimento que ele queria esconder — Mas Atelina, quero que saiba por mim antes de ficar se perguntando... Peyton não pisará nessa casa, enquanto eu puder evitar.

   Olhei para cima a tempo de ver pequenas fagulhas crepitando em seus olhos, tornando o amarelo de seus olhos em um dourado perigoso.

     — Se você quiser ver ele, eu mesmo posso levar você. — Ele disse, agora indiferente.

     — Por que? — Perguntei, sem deixar de olhar para ele.

   Daimen desviou seus olhos de mim, olhando para outra direção, mas ainda concentrado na nossa conversa.

   Eu não queria parecer que estava do lado de Peyton, mas estava curiosa para saber o motivo de a presença dele fazer os olhos bondosos de Daimen crepitarem dessa forma.

     — Eu conheço você e sei que as vezes é impossível evitar que você se envolva em algo perigoso, mas sempre que ele está perto de você, ele a machuca ou contribui para que isso aconteça. Então quero evitar ter que fazer ele pagar pela dor que fez você sentir. — Daimen disse, a voz ainda rouca por causa da raiva contida.

   Agora que eu parava para pensar, Daimen e Peyton nunca se encontraram pessoalmente e embora estivesse ligeiramente curiosa para saber o que aconteceria, sabia que desse encontro não sairia nada bom. Alguém sairia machucado, então por mim, tudo bem Peyton não aparecer aqui e assim prorrogaríamos o encontro desses dois.

     — Tudo bem...

     — Sr. Kennedy, visita para o senhor — Isobel avisou, interrompendo nossa conversa tensa — É o Sr. Ethan, ele disse que precisa ver você urgente.

     — Ethan? — Daimen perguntou, seus olhos voltando a se arregalar como quando a campainha tocou.

   Isobel assentiu, fazendo Daimen levantar da mesa bufando de raiva. Se não soubesse o nome da visita eu poderia afirmar com toda certeza que ele estava prestes a ver Peyton na casa dele, o que ele não queria. Mas não era Peyton, e Daimen parecia não gostar dessa pessoa também.

   Fiquei na cozinha mais um pouco, até terminar de comer e depois com a ajuda de Isobel pegamos o caminho para o quarto onde eu estava ficando, mas o caminho passava pela sala de estar, então eu poderia ver como era a aparência de uma pessoa que Daimen não gostava.

   Daimen tinha uma personalidade bem parecida com a de Dabria no quesito bondade, por isso quando algo que faziam que contradissesse essa bondade deles, eu sempre achava que era um acontecimento do século e gostava de ir afundo para saber detalhes.

     — Não deveria ter vindo até aqui — Ouvi Daimen dizer.

     — Ah não faz isso, eu senti a sua falta durante o tempo em que esteve no inferno — A outra pessoa tinha uma voz familiar, embora eu não me lembrasse de conhecer algum Ethan — Eu esperei pacientemente que você saísse para me agradecer por ter nos tirado daquele castigo.

     — Por que eu agradeceria você? — Daimen perguntou, sarcástico.

     — Ah D, agora você pode ver a sua garota todo dia e quando quiser — Ethan disse — Eu mereço ou não mereço pelo menos um obrigado?

   Isobel e eu atravessamos o batente da porta, os olhos de Daimen vieram rapidamente na nossa direção, mas a pessoa com quem conversava permanecia de costas para nós sem saber da nossa presença. Ele tinha os cabelos bem escuros e as roupas eram roupas formais masculinas.

     — Isobel, poderia ter me chamado — Daimen disse, esquecendo a visita e se afastando para ajudar.

   Ethan nada feliz com o desvio da atenção de Daimen, virou finalmente para ver o que chamava mais a atenção do que ele. Seus olhos se arregalaram levemente, exatamente como os meus e eu até mesmo deixei que a muleta na minha mão esquerda caísse no chão. Daimen assustado com minha reação, apressou o passo se colocando entre nós.

     — Tudo bem? — Ele perguntou.

     — Você não parece nada bem, srta. Piierce — Ethan falou, um sorriso se abrindo em seu rosto.

   Enquanto eu gostava quando apenas Daimen me chamava pelo meu sobrenome, eu realmente odiava quando essa pessoa o falava. Parecia que estava sempre debochando de mim quando o dizia e dessa vez parecia que fazia exatamente com essa intenção.

     — Professor White — Falei, cumprimentando.

     — O que eu disse, D. Agora você pode vê-la sempre que quiser — O Sr. White disse, apontando para mim.

     — Como você conhece ele, Atelina? — Daimen perguntou, sendo meu apoio no lugar de Isobel.

     — Ele é professor de história no colégio, o mesmo professor que nos levou para Williamsburg para acamparmos e foi onde eu conheci você — Contei, minha cabeça se enchendo de perguntas que seriam dirigidas para os dois. — E vocês dois se conhecem?

     — Ah, nós somos companheiros de longa data — Ethan falou, seu olhar e sorriso sinuosos.

     — Lembra do segundo guardião dos portões que dividia o serviço comigo? — Daimen perguntou, olhando para mim — Esse guardião era Ethan.

   Minha reação era de surpresa. Eu sabia que White era algum ser sobrenatural como quase todos os alunos da sua turma de história, mas não poderia suspeitar que fosse algo dessa gravidade. Ele era um caído como Daimen?

     — Então, sua intensão naquele acampamento sempre foi nos usar? — Perguntei, meus olhos fixos em White com o mesmo sentimento do acontecimento.

     — Ah, bom. Mais ou menos isso — Ethan disse, um sorriso amarelo crescendo em seus lábios — Eu na verdade só precisava de um de vocês...

   Assim que falou, os acontecimentos daquele dia apareceram mais uma vez na minha mente e lembrei rapidamente de quem tudo parecia girar ao redor. Não havia mais ninguém. White estava atrás dela desde o momento em que entrou no corpo docente do colégio.

     — Por que precisou levar todos até lá se só precisava de um?

     — Você parece bem curiosa para saber todos os detalhes, então que tal sentarmos...? — Ele sugeriu, apontando para o sofá como se a casa fosse sua.

     — Eu estou decidindo entre se poupo você ou lanço essa muleta na sua direção, dependendo das suas respostas — Falei, esticando minha mão na direção da muleta nas mãos de Daimen.

   Daimen afastou a muleta do meu alcance e Ethan deu alguns passos para trás, o medo estampado em seu rosto. Isso não era nada parecido com o rosto que ele manteve firme e imutável na minha frente quando eu o enfrente para poder ir embora daquele acampamento. Talvez fosse o fato de Daimen estar ao meu lado... o que me fez pensar no que eles estavam conversando antes de eu os interromper.

   Ethan White  sabia da minha relação com Daimen? Eles eram tão próximos a ponto de conversarem sobre esses assuntos?

   "Agora você pode vê-la sempre que quiser", foi o que ele disse, mas Daimen não parecia ser alguém que manteve contato com ele por causa das expressões e palavras direcionadas para Ethan desde que soube que ele era a visita. Então para Daimen, Ethan era uma visita indesejável.

     — Qual é a relação de vocês dois? — Perguntei, dessa vez minha pergunta fora direcionada para Daimen.

     — Muito mais profunda do que você pode imaginar... — Ethan disse, seus olhos mirando Daimen com nítido carinho.

   Dessa vez Daimen que levantou a muleta em mãos para lançá-la na direção de Ethan, ele em resposta ainda com um sorriso nos lábios se preparou para desviar.

     — Profunda um caramba — Daimen murmurou, a voz rouca por causa da raiva — Éramos obrigados a ficar presos naquela casa como um castigo e não existia um dia em que não brigávamos...

     — Oh, agora que tem uma namorada você quer contar todo o seu passado para ela? — White perguntou, realmente bravo — Não pode contar tudo para ela...

     — Por que? — Questionei Ethan.

     — Se você contar, eu vou contar sobre você! — Ethan ameaçou Daimen, ignorando completamente minha pergunta. — Tenho certeza que você ainda não contou isso para ela.

   Daimen paralisou com as palavras de Ethan, fazendo um sorriso triunfante aparecer no rosto dele. Ethan não estava mentindo que Daimen estava escondendo algo de mim?

   Olhei para cima, procurando ver no amarelo de seus olhos se era verdade. Entretanto, Daimen já estava normal e até mesmo parecia que a paralisia tinha sido algo da minha cabeça, pois o sorriso em seu rosto dizia que Ethan estava mentindo apesar de ter hesitado antes.

     — Você não se importa se ela descobrir? — Ethan perguntou, o rosto carregando uma expressão firme.

     — Não me importo — Falei, tirando a tensão dos olhos dos dois — Quando for a hora ele irá me contar.

   Eu não tinha certeza sobre isso, mas queria acreditar nas minhas palavras com tanta firmeza quanto a que usei ao dizê-las. Ele poderia esconder de mim por tanto tempo que eu esqueceria e talvez fosse algo sem importância.

     — Como você é uma namorada compreensiva — Ethan disse, ironia presente em suas palavras.

     — Não somos... — Falamos em uníssono.

   Ethan abriu um sorriso ao ver que estávamos envergonhados.

     — Ah, sinto muito. Acho melhor eu ir embora, a minha semente já foi plantada. — Ele disse, seu sorriso indo de orelha a orelha.

     — Espera! — Chamei, quando ele começou a dar as costas — Não terminamos de conversar.

     — Terminamos sim, eu respondi que só queria um de vocês quando os levei ao acampamento.

     — Era a Dabria?

   Ele sorriu ainda mais, se era possível. Ethan White usara seu cargo como professor de história para levar seus alunos para a pousada com a intensão de usar o sangue de Dabria para abrir os portões do inferno em que ele tinha o dever de proteger.

     — Por que queria abrir aqueles portões? Se era sua função protegê-lo?

     — É simples. Eu estava cansado de ser tratado como a parte inferior dos Demônios, estar naquele cargo era o mesmo de estar no lugar mais baixo da sociedade humana. E quando um desses portões é aberto, ele se torna inútil para ser usado uma segunda vez.

   Meus olhos rapidamente olharam para Daimen. Eu não poderia usar os portões na cidade de Williamsburg porque eles foram usados por Ethan e eram totalmente inúteis agora, por isso ele me ajudou com o feitiço vermelho. Era uma segunda opção sem me contar o verdadeiro segredo que Ethan não queria que eu soubesse.

   Quando estava prestes a continuar meu questionamento, o celular de Daimen tocou ao meu lado, o som assustando-me por causa da proximidade.

     — Não precisam mais de mim, vou indo — Ethan disse, acelerando o passo em direção a porta — Vejo você outra hora, D.

     — Não volte, não deixarei você entrar uma segunda vez aqui — Daimen falou, pegando o aparelho no bolso da calça. — Isobel, não abra a porta se ele aparecer de novo.

     — Sim, senhor — Isobel concordou, ainda próxima o bastante de nós.

   Daimen tinha me entregado a muleta antes de pegar o celular para que eu tivesse um apoio extra, enquanto ele atendia.

     — Alô? — Ele atendeu — Ela está do meu lado, vou passar para ela.

   A voz do outro lado estava extremamente nervosa e falava com urgência.

     — É a Dabria. — Daimen avisou, entregando-me o seu celular — Ela disse que é urgente.

   Sem pensar uma segunda vez, peguei o celular de sua mão e atendi, sentindo quando Daimen deixou de ser meu apoio e deixou Isobel ao meu lado enquanto se afastava.

     — Deb?

     — Atelina, você precisa ver a Ally nesse exato momento. Ela descobriu sobre a Cassandra e está muito brava com você por não ter contado — Dabria explicou, suas palavras realmente urgentes — Eu não sei como ela descobriu, mas eu decidi vir e avisar que você tinha acordado e encontrei ela furiosa, parecia querer matar alguém.

   Merda! Eu tinha me esquecido que ela não sabia sobre isso. Ninguém além de Dabria sabia que Cassandra era nossa mãe e no dia em que contei sobre Nathan eu pretendia contar, mas decidi adiar esse momento para resolver a questão dos baldes de sangue e o feitiço vermelho. Não era fácil guardar isso e era a hora dela saber a verdade.

     — Daimen? — Chamei, procurando por ele.

   Daimen estava de volta com as chaves do carro na mão, pronto para me levar.

     — Dabria, estarei ai em um momento. — Falei, desligando o celular.

   Daimen voltou a ser meu apoio enquanto ditava algumas instruções para Isobel e nos levava para fora da casa. A SW4 estava estacionada em uma rotatória, sua cor branca como as nuvens do céu exatamente igual ao que eu me lembrava.

   Com paciência Daimen me colocou no banco do passageiro, passou meu cinto e deu a volta, dirigindo por um caminho desconhecido para mim. Embora tivesse dito que estaria em casa em um momento demorou em torno de quarenta minutos com Daimen dirigindo em velocidade média, mas durante o caminho eu tive tempo de pensar no que diria a Allyson.

   Eu queria ter uma desculpa boa o suficiente para dizer, mas não havia uma e ela não merecia ouvir uma mentira em relação a mulher que tinha nos dado à luz, principalmente quando eu não sabia o que ela sentia por Cassandra. Simplesmente diria a verdade sobre tudo e esperaria para ser perdoada.

   Assim que chegamos, Daimen estacionou sobre a grama saindo do acostamento e da estrada, entrando quase totalmente no território da casa. Ele desceu do carro e deu a volta, mas eu estava com pressa e não esperei que estivesse do meu lado para descer também. Mesmo com dor em ambas as pernas eu desci do carro alto e caminhei a passos rápidos tanto quanto me era permitido graças as pernas enfaixadas.

   Daimen tentou me alcançar para ajudar, mas eu não queria ir devagar. Queria chegar até minha irmã que estava provavelmente soltando fogo pelo nariz.

     — Atelina, vai com calma! — Daimen pediu, a voz levemente preocupada — Allyson vai ouvir você de qualquer jeito, assim você só vai se machucar!

   Ele tinha razão e eu só tinha parado porque não conseguia mesmo subir as escadas da varanda sem ajuda. Ele era meu apoio e eu precisava dele.

   Quando entramos em casa Dabria estava esperando na sala, eu conseguia ouvir sua voz calma e as respostas nervosas de Allyson. Nos aproximamos do batente da sala e os olhos de cor âmbar dela se fixaram em mim como se fosse possível para ela me esfaquear apenas com os olhos.

     — Ah, então você se lembra que tem uma irmã? — Ela perguntou, os olhos queimando em fúria.

     — Atelina? — Dabria disse, levantando e vindo na minha direção para ver meu estado. — Não sabia que estava nesse estado...

     — Isso é o que você merece por ter mentido para mim! — Allyson protestou — Na língua das bruxas não é isso que vocês chamam de Carma?

     — Eu ia contar para você, só não deu tempo...

     — Não deu tempo? — Ela sorriu, sem graça — Se eu não tivesse descoberto sozinha, estaria aqui agora me contando?

   Eu não tinha resposta para essa pergunta, talvez eu não tivesse contado tão cedo quanto agora.

     — É, realmente você tem uma agenda ocupada para ter tempo de falar para a sua irmã que a nossa mãe está viva e bem. Ela está morando na mesma cidade que nós esse tempo todo e você sabia disso, certo?

     — Eu sabia, porque Cassandra é o motivo de eu voltar a vida — Falei, sem rodeios — A missão que eu expliquei para todos naquele dia... Cassandra é a bruxa que eu preciso mandar de volta para o véu.

     — O que? — Ela perguntou, lágrimas escorrendo pelo o seu rosto.

   Eu pensei em falar apenas sobre o fato de Cassandra estar viva e não ligá-la com a bruxa da missão, mas eu tinha certeza de que Allyson precisaria de muito tempo para se curar disso então não adiantaria contar uma parte e dividir a raiva dela em dois momentos diferentes. Se ela iria me odiar, que fosse tudo de uma vez.

     — Você vai matar nossa mãe dessa vez? Você é louca? Por que aceitou essa missão? Ela é nossa mãe! — Ela gritou, inconformada.

     — Ally, se você soubesse o que eu sei não estaria ai considerando uma pessoa que nunca se importou com a gente como nossa mãe — Devolvi.

     — Como eu vou saber se você não me conta nada? Inclusive você nunca me inclui nas suas missões, eu sempre descubro o que acontece depois que já aconteceu!

     — Eu estava tentando te proteger!

   Ela parou de falar e engoliu em seco antes de avançar na minha direção e passar por mim e Dabria, indo na direção da porta, onde Daimen tinha ficado após notar que a discussão era entre irmãs. Allyson abriu a porta, depois que Daimen se afastou.

     — Não me siga, Atelina. Eu não quero ver ou falar com você! — Allyson gritou, fechando a porta com um estrondo que ecoou pela casa.

     — Allyson!

   Eu não pretendia ouvi-la e me afastar sem antes contar tudo para ela, só assim ela iria poder parar para assimilar tudo e tirar suas próprias conclusões. Então a segui para o lado de fora, com Daimen a alguns passos de mim para me amparar caso eu caísse.

     — Atelina! — Ouvi meu nome ser chamado do lado oposto ao que Ally tinha tomado.

   Assim que me virei, procurando o dono da voz me encontrei em uma situação na qual eu não queria estar. Eu desejei que esse momento fosse prorrogado exatamente como a verdade que Allyson precisava saber, mas ambos os meus desejos tinham sumido como a neve que derretia ao início da primavera.

   Olhei para as costas de Ally enquanto minha irmã se afastava rapidamente, sem ao menos ir atrás dela, pois o encontro que eu evitei estava acontecendo bem diante dos meus olhos.

   Daimen logo ao meu lado tinha as mãos cerradas em punhos e o crepitar de hoje mais cedo estava mais uma vez presente em seus olhos dourados.

   Os olhos escuros de Peyton também queimavam e todo o seu rosto estava contorcido em uma carranca.

   E eu não sabia que ambos poderiam ter algo que compartilhassem. Ódio mutuo.

BRILHA, BRILHA ESTRELINHA 🌟🌟🌟

Olá meus amores, como estão? Esse é o tão esperado último capítulo e nos encontramos em uma cena um tanto intrigante, não? Daimen e Peyton se encontrando pela primeira vez em dois livros e Allyson descobrindo que Cassandra é sua mãe e está viva. O que vocês acham que vai acontecer no próximo volume?

Espero vocês aqui no livro 3, talvez demore um pouquinho (se não sabem o motivo vão até o meu perfil que deixei tudo explicadinho lá), mas ele vem! 😉🥺😊

É isso, muito obrigada por chegar até aqui. Amo vocês e espero não decepcioná-los!

Beijinhos e Beijinhos!

❤️❤️❤️

Desejo que vocês tenham um ótimo ano.

E não se esqueçam de ler o epílogo!!

- Atel.

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