A condição de Mason não era muita coisa, ele apenas concordou com a ideia de Tia Michaele em me fazer aprender mais sobre bruxaria enquanto a lua não chegava. Eles precisavam da lua, era praticamente uma fonte para as bruxas, mas além disso para não usar demais a essência de Anjo de Mason que eles vinham usando.

   Tia Michaele se sentiu muito feliz em poder me ensinar bruxaria, parecia até que estava ensinando sua própria filha o que de certo modo, eu era. Ela e Val revezavam, mas não havia professor melhor do que Mason. Ele falava Latim fluentemente e era perfeito.

    — Mais uma vez, Anjinha — Tia Michaele pediu, revirando os olhos para mais um feitiço fracassado.

   Estávamos dentro da casa na sala de estar. Agora ela era apenas mais um dos lugares onde eles colocavam as plantas e ervas, incluindo livros que eu nem fazia ideia que podiam existir no véu, mas existiam e eu estava sendo obrigada a ler a maioria deles. Isso também fazia parte da condição de Mason.

   Eu estava sentada no meio do pentagrama desenhado de giz branco no chão, em cada uma das pontas havia uma vela apagada. Apagadas porque eu não conseguia acendê-las com o poder da minha mente e minha Tia parecia prestes a explodir do lado externo do círculo.

   O feitiço não era difícil, nem precisava usar palavras para realizá-lo, mas minha cabeça não estava muito bem hoje. A lua cheia se aproximava e meus dias aqui desse lado estavam acabando. Eu estava imaginando que sentiria falta de Nathan e de Tia Michaele, porque eu teria que dar adeus a eles mais uma vez.

    — Será que estaremos seguros colocando nossas vidas nas mãos dela? — Ouvi uma voz atrás de mim dizer, brincalhona.

   Olhei para trás para ver quem era e Nathan sorria com um dedo sobre os lábios, contendo uma risada. Eu sabia que estava brincando, mas estava com medo agora.

    — Desse jeito vai deixá-la preocupada, Nathan! — Michaele advertiu.

    — Eu estou brincando, tia! — Ele exclamou.

    — Acredito que por hoje ela pode descansar — Mason apareceu ao lado de Nathan, silencioso como sempre — Atelina parece estar sobrecarregada, deixemos que vá passear um pouco.

   Ele realmente parecia saber o que acontecia comigo melhor que qualquer um ali e as vezes agradecia por isso, outras achava muito estranho.

    — Tudo bem, pode ir — Michaele disse, derrotada — Mas amanhã quero estas velas acesas!

    — Sim, senhora — Falei, levantando a palma fechada até a testa em uma continência — Obrigada.

   Agradeci todos pela folga e sai da casa, estava procurando Val. Ela estava sempre ocupada fazendo alguma coisa, incluindo me ensinar.

   Caminhei pelo quintal e entrei na floresta, eu sabia que tinha um lago por aquela trilha e queria muito vê-lo e se Val estivesse ali seria como acertar dois coelhos com uma cajadada só. E realmente foi mesmo, Val estava ajoelhada no chão próxima a um amontoado de plantas.

   O lugar não era só um lago, era uma nascente e era maravilhoso. As flores tinham cores vibrantes e a grama era de um verde brilhante. Havia um banco de madeira retorcido que se parecia mais com um tronco de árvore em formato de banco, porque até mesmo tinha folhas que pendiam de suas extremidades.

    — O que faz aqui, pequena bruxa? — Val perguntou, com um sorrisinho em seus lábios.

    — Eu consegui o dia de folga! — Respondi, empolgada. — E você?

    — Preparando o feitiço que me fará ir com você para o outro lado — Ela falou e pela primeira vez eu via seu rosto sério.

    — Você vai mesmo? — Perguntei, ansiosa — Isso não vai fazer mal a você?

   Lendo os livros de bruxaria eu descobri que todo feitiço tem um preço e toda magia vem com um porcentual do quanto você tem que dar a ela. Como se você precisasse dar sua energia vital para que o feitiço funcionasse. E como Mason e muito menos Tia Michaele sabiam como Val iria comigo, eu achava que esse feitiço cobraria muito dela.

    — Não quer que eu vá com você? — Ela perguntou, o rosto triste e levemente inclinado.

    — Não é isso! Eu só estou preocupada.

    — Não precisa, eu já estou morta querida. E precisamos salvar os Anjos, não? — Ela olhou para mim, sorrindo e eu concordei — Ah, não fique assim. Hoje é seu dia de folga e sei que não quer fazer magia, mas posso ensinar a usar o feitiço de reflexo.

    — Ah, eu não acho que seja uma boa ideia. Ainda mais com a minha mente cheia de coisas, não vou conseguir me concentrar.

    — Com esse feitiço podemos deixar essa cabecinha menos preocupada, e ver o que você quiser através de algo que reflete — Ela largou a cesta que eu não tinha percebi antes ao lado do banco e esticou sua mão na minha direção — Vamos tentar?

   Concordei e me deixei ser guiada até o banco onde Val se sentou ao meu lado. Ela se concentrou com ambas as mãos no ar e movimentou os lábios como se estivesse rezando, mas eu sabia que estava conjurando. No minuto seguinte, uma bola de cristal apareceu entre suas mãos.

   Val a virou na minha direção, sorrindo. Eu estava maravilhada com sua facilidade em fazer feitiços.

    — Como você conseguiu fazer ela aparecer?

    — Ah, sim. Você ainda não aprendeu sobre as coisas materiais. Bom, objetos materiais não são criados pela magia. Quando fazemos algo "aparecer", é como se tivéssemos apenas movendo ele de lugar. — Ela explicou — Então se quiser um dinheiro que você não tem, você não poderá fazer ele simplesmente aparecer. Porque significa que você está tirando ele de outro lugar, ou seja, roubando.

    — Entendi — Falei, realmente fazia sentido.

    — Vamos começar — Val se aproximou mais de mim, levantando a bola de cristal e a colocando diante de mim — Coloque as mãos na bola e pense em algo ou alguém que queira ver. — Ela ditou e eu fiz como pediu — Agora repita comigo...

    — "Da mihi  potestatem ad cor desiderare quod" — Repetimos em uníssono.

   Eu entendia mais ou menos o que a frase significava: "Dê a mim o poder de ver aquilo que meu coração deseja". Realmente era o feitiço perfeito para mim nesse momento.

   Repetimos mais algumas vezes a mesma frase e eu concentrei toda a magia que podia para conseguir fazer o feitiço funcionar. Queria ver todos eles e queria ter certeza de como estavam.

   Aos poucos no centro da bola de cristal apareceu um nevoeiro, tão denso e profundo que pensei ser mais um feitiço fracassado por minha causa, mas como se fosse um filme que demorou a começar a primeira imagem apareceu. Eu consegui reconhecer o lugar. Era o hospital onde morri.

   Eu consegui ver eu mesma, olhando com lágrimas no rosto para a porta e em seguida cair no chão. A porta abriu. Luke entrou no quarto como se fosse um furacão e pegou meu corpo nos seus braços, seu rosto tinha uma expressão que partiu meu coração.

   O lugar mudou e Daimen apareceu rapidamente. Seus olhos amarelos não brilhavam como eu me lembrava, ele parecia realmente com outra pessoa.

    — Atelina? — Val chamou minha atenção — Você está bem?

   Concordei, mas Val não ligou para a minha resposta. Ela largou a bola de cristal de lado e me abraçou, só então percebi que estava chorando. Eu odiava mostrar esse lado meu para as pessoas.

    — Sinto muito, não era a minha intenção — Ela sussurrou, o rosto entre o emaranhado de meus cabelos. — Quem eram esses?

   Eu não sabia como definir minha relação atual com Daimen, ele provavelmente não se considerava mais meu namorado e não era porque eu tinha morrido. Era porque eu tinha dado minha vida por outra pessoa, por um antigo amor o que podia significar que eu não o amava o bastante.

    — São pessoas... muito importantes para mim — Falei, minha voz embargada.

   Val esperou eu me acalmar, cantarolando baixinho no meu ouvido. E por isso eu acabei me lembrando de Allyson, mas não demonstrei. Ela já estava fazendo demais por mim e eu só podia aceitar.

    — Eu queria poder ficar mais com você, mas preciso ir preparar o feitiço. Tudo bem? — Ela perguntou. Concordei — Vai dar tudo certo, vou estar com você, não se preocupe.

   Então ela se afastou com a cesta cheia de ervas e a bola de cristal.

   Olhei para a água clara e límpida. Eu não estava preocupada, estava assustada e sentindo-me completamente culpada pelas expressões arrasadoras que aqueles dois tinham em seus rostos. 

   Ah, Daimen.

   Eu nunca iria me perdoar se ele decidisse nunca mais falar comigo. Eu sentia falta de como ele fazia eu me sentir especial e cuidava de mim.

   Quando eu voltasse, precisaria de ajuda para me acostumar a... ser humana e bruxa. Aqui esse detalhe era diferente porque não precisamos comer e fazer nada que os seres vivos precisam, mas lá do outro lado eu seria A humana. Todos os meus amigos vampiros estranhariam, mas Daimen eu tinha certeza de que ele me aceitaria não importasse a espécie que eu tivesse me tornado.

   Abracei meus joelhos e deitei minha cabeça sobre eles. Na verdade, mais cedo ou mais tarde teria que me despedir deles de qualquer jeito, então não adiantava querer que me amasse e perdoasse, porque eles quem sairiam machucados depois.

§ § § § §

   Nos dias que se seguiram antes da mudança de lua, eu me dediquei a aprender bruxaria, porque tinha que ter em mente que estava voltando por um motivo, uma missão e não para voltar minha vida como era.

   Depois do dia no lago não voltei a ver Valentine, ninguém sabia onde ela estava também. Mas Tia Michaele disse que se ela não aparecesse teriam que me enviar mesmo assim, não podiam perder uma mudança de lua e Mason não podia saber disso ou não me deixaria ir.

    — Você parece diferente — Nathan disse, sentando ao meu lado no chão do quintal.

   Eu estava assistindo à preparação para o feitiço que aconteceria em alguns minutos quando a primeira luz lunar iluminasse o grande pentagrama feito no espaço sem plantas do quintal. Ofereci ajuda, mas disseram que devia apenas assistir e aprender, então estava sentada observando.

    — Diferente, como? — Perguntei, olhando as velas sendo colocadas.

    — Parece decidida.

   Virei meu rosto rapidamente na sua direção para ter certeza se ele não estava rindo. Eu, decidida? Eu só não queria que vissem meu pior lado e começassem a duvidar da pessoa que tinha se voluntariado para salvar os Anjos, mas por dentro eu estava um caos.

    — Querida, vamos começar — Tia Michaele chamou, com uma mão no ar — Preciso falar das suas condições.

    — Condições? — Perguntei.

   Aproximei-me do centro do pentagrama onde estava e ela segurou ambas as minhas mãos, carinhosa. Tia Michaele tinha um rosto tão jovem e seu corpo pequeno faria qualquer um pensar que ela tinha apenas dezoito anos.

    — Bom, o feitiço vai ser meio superficial, então você terá sempre uma ligação com o véu. Isso é bom porque assim poderá se conectar conosco com mais facilidade — Ela explicou, sorrindo — Mas por esse motivo seu corpo será instável à temperatura extremas, por favor tome cuidado. Quando fizer muito frio ou o calor for insuportável.

   Ela estava mesmo preocupada, por isso assenti com vigor e repeti tudo mais uma vez na minha cabeça para me lembrar.

    — Não sabemos que dia é lá do outro lado, pode ter passado apenas alguns dias para eles, entendeu? — Ela continuou e eu concordei.

   Segurando uma mão apenas, ela me posicionou no lugar em que eu ficaria durante o feitiço e aos poucos fui me surpreendendo com o número de pessoas que apareceram e se colocaram ao redor do círculo do pentagrama.

    — Mason e eu ficaremos lá atrás, vou canalizar um pouco da sua essência e depois nos juntaremos aos outros — Ela continuava explicando, mas seu rosto ia murchando conforme olhava no meu rosto. Antes que pudesse me preparar, Michaele me pegou em um abraço de urso — Por favor, por favor tome cuidado dessa vez. Mesmo que seja doloroso, cuide de você também, Anjinha.

   Então alcançou o topo da minha cabeça e depositou um beijo, delicado e firme.

    — Faça das palavras dela minhas, ok? — Nathan falou, apertando-me em um abraço mais relaxado — Mande um abraço para Ally e Luke. E se possível proteja eles por mim.

   Eu não pensava que Nathan se importasse tanto com Luke. Allyson eu até entendia, porque moramos os três juntos quando eu o adotei, mas eu pensava que para Nathan ele fosse apenas o filho de uma ex namorada.

    — Pode deixar — Falei, ainda segurando todos os sentimentos que queria extravasar dentro de mim. Todos estavam olhando.

    — Amo você, maninha — Ele beijou minha testa também.

    — Amo vocês também — Respondi, olhando para Michaele do outro lado.

   Quando levantei os olhos para o céu vi a luz lunar alcançar o primeiro ponto do pentagrama e refletir nos outros. Estava na hora.

    — Pronta? — Mason perguntou.

   Concordei e antes de Nathan sair de perto de mim ele fez eu segurar um pedaço de papel amaçado, murmurando sem som "Depois".

    — Repita também, querida — Michaele pediu.

   O círculo ao redor do pentagrama estava completo e todas as pessoas ali davam as mãos em um elo perfeito. Nathan não fazia parte de nenhum dos grupos, ele não tinha poderes, então estava apenas vendo e Michaele segurava a mão de Mason com uma mão. A outra tocava sua têmpora.

    — "Magicae lunae spirituali: amisit animam hanc quidem nobis ad pristinum corpus" — Todos repetiram em um coral perfeito e eu fiz parte dele.

   Ao redor de mim, a linha circular começou a brilhar e meu corpo parecia lívido como se eu fizesse parte do ar ou até mesmo mais leve que ele. Fechei os olhos me concentrando e tentando encontrar alguma conexão com o meu corpo do outro lado.

   Encontrar não foi difícil, mas assim que encontrei comecei a sentir uma dor pulsante no meu coração e havia uma sensação gostosa nos meus pulmões, com certeza era o ar que estava entrando e saindo depois de algum tempo se recebê-lo.

   Meus ossos também doíam, mas a sensação do vento me fez sorrir e esquecer as outras dores que estava sentindo nele porque minha alma estava sendo reconectada ao meu corpo.

ESTRELAS, ESTRELINHAS 🌟🌟🌟

OIÊ MEUS AMORES! Como estão? Espero que muitooooooo bem. Atelina finalmente voltou a vida e tem uma missão muito grande nas suas mãos, será que ela vai conseguir? Quem serão as pessoas que a ajudarão nisso? E agora que ela voltou quem será o primeiro a ver ela? Valentine sumiu do nada será que alguma coisa aconteceu com ela?

Espero vocês na próxima quarta e comentem também vou amar isso.

Amo vocês.

Abraços geladinhos porque está quente ❤️❤️❤️

— Atenas.