Capítulo 28 - Distância

   Eu queria chorar e gritar. E exatamente como o céu sobre nossas cabeças e a terra sob nossos pés, eu também estava desmoronando. Tanto que eu sentia tudo dentro de mim ir por esse caminho.

     — Atelina! — Scott chamou minha atenção, sua voz desesperada como quando eu cai da escada — Foca no feitiço, tudo vai ficar bem. Só se concentre no que estamos fazendo.

   Tentei ouvir aquelas palavras e absorver o significado delas. Mas minhas mãos suavam e tremiam, ainda conectadas com as de Rebekah que parecia tão petrificada quanto eu. Isso e ela ainda não sabia que não tínhamos o último item.

     — O que diz o feitiço? Tem alguma coisa que você não sabe? — Ele perguntou.

   Olhei para o papel, minhas lágrimas ofuscando minha visão de um modo que eu não pude responder Scott de primeira.

     — Atelina, respira fundo — disse Scott, sua voz suave dessa vez — Respira fundo e me diz o que falta.

     — Desculpa, eu estou bem... aqui diz que eu preciso de algo que tenha conexão com o outro lado.

   Scott desviou seus olhos de mim, olhava para frente rapidamente, mas eu tinha notado seu olhar pensativo. Ele estava procurando uma forma de contornar nossa situação, antes que uma bola de fogo nos atingisse, agora que o domo não existia mais.

   E assim como eu havia pensado um raio caiu a dez passos de distância de onde Scott estava. Isso fez um formigamento percorrer meu corpo, quase entrando em um transe novamente.

     — Ei, você — Scott chamou, olhando para Peyton — Segure o espelho.

     — Scott...

   Ele não deixou que eu formulasse uma pergunta, Scott simplesmente trocou de lugar com Peyton e caminhou até o meu lado. Ele esticou seu braço como se oferecesse a si mesmo.

     — Me use — Ele falou — Se me usar saberá exatamente onde vai abrir um portão, minha essência vai guiá-la até os anjos.

   Olhei de Scott para Rebekah, ainda sem reação, e depois decidi aceitar, porque apesar de o mundo estar desmoronando eu iria me agarrar a essa pequena esperança que Scott estava oferecendo. Era minha única escolha.

   Eu podia estar sendo guiada por um motivo egoísta de querer ver Daimen mais uma vez e conseguir concluir minha missão, mas nesse momento caso eu falhasse... não haveria um mundo onde eles pudessem voltar em um outro momento.

   Peguei a mão de Scott, puxei a de Rebekah para que ela acordasse e comecei a ler as palavras em latim sozinha. Rebekah estava tão apavorada que não reagia a nada.

     — Segure bem esse espelho, sr. sanguessuga — Scott avisou.

   Quando conjurei as palavras do livro senti como se eu estivesse sendo sugada, eu não sabia para onde, mas eu estava sendo puxada para algum lugar.

     — Feche os olhos e vá atrás dos anjos — Scott murmurou.

   Fiz como ele pediu, deixando-me ser sugada e seguindo a essência de Scott.

   O lugar era exatamente como a terra estava nesse momento, havia chamas e um longo rio de lava quente que borbulhava e os gritos de agonia podiam ser ouvidos a distância. Por sorte eu não estava em minha forma material lá dentro, então pude flutuar e percorrer os céus alaranjados.

   Conforme caminhava, eu me afastava mais das chamas e me inseria em um ambiente mais gelado e sombrio. Era igual a um buraco profundo na terra feita para animais pequenos, mas diferente dos buracos conhecidos aquele habitava os anjos, afastados o suficiente para acreditar que eles estavam na beirada de um abismo no inferno.

   Olhei em volta pelo lugar e tentei encontrar Daimen, entretanto, havia tantos Anjos ali amontoados em grupos que a tarefa só me faria perder tempo. Sendo assim, concentrei minha magia em um único ponto como se pudesse segurar a porta por onde eles passariam na mão e estendê-la até que ficassem maior e fosse notada por eles.

   Depois abri novamente meus olhos, olhando para a luz da lua que refletia no espelho fracionado e conectei minha magia aquela luz.

     — Peyton, posicione o espelho para frente — Pedi.

   Quando ele posicionou o espelho, a luz não mais entrava nele e sim refletia no espaço a nossa frente abrindo um círculo exatamente igual ao que eu tinha aberto quando minha consciência estava lá dentro. O círculo era tão simples e comum, mas eu sentia todas as minhas forças mágicas serem sugadas por aquele feitiço.

   Quem olhasse de fora não entenderia minha reação enquanto a imagem do inferno era projetada no espaço no meio do círculo, a dor dos meus ferimentos estava tão presente, parecia que alguém tinha jogado sal e vinagre neles e eles pulsavam em resposta.

   E apesar de Rebekah estar na minha frente, ela não estava ajudando e eu não poderia canalizar dela sem sua permissão.

   Ah, como doía.

     — Vou até o portão avisar os anjos que é seguro atravessar — Scott avisou, antes de correr na direção do círculo.

   Eu queria segurá-lo por mais alguns minutos ao meu lado, pelo menos durante o tempo em que o feitiço estivesse me drenando, mas não consegui. O feitiço estava no fim. Contudo, quase não me restava nada de magia.

   Fiquei firme por mais alguns minutos enquanto Scott se aproximava do círculo, procurando falar com alguém que estivesse atento ao buraco aberto sobre eles. Entretanto, Scott não falou com ninguém e mesmo assim um anjo atravessou. Talvez estivesse se comunicando com alguém mentalmente, como Daimen fazia comigo...

   Eu estava interessada em observar o voou dos anjos para fora daquele buraco, mas eu não conseguia. Eles saindo ao mesmo tempo que o feitiço não estava concluído fazia o feitiço cobrar mais magia de mim. E doía, pois além dos meus machucados eu estava muito fraca para ter feito um feitiço com uma magnitude como essa.

     — Ateh, você está bem? — Deb perguntou, após me analisar.

   Antes que eu pudesse responder, Rebekah piscou os olhos na minha frente e moveu a mão levemente.

     — Desculpa, Rebekah — Falei.

   Pelo menos eu tinha me desculpado.

   Então sem deixar tempo para ela perguntar ou negar, suguei sua magia entregando tudo o que eu recebia para o feitiço ser concluído, não ficando com nada para mim.

     — O que você...? — Ela perguntou, puxando sua mão e tentando afastá-la de mim.

   Não precisava de muito, como eu pensei, o feitiço estava no fim só faltava ser concluído e com o resto roubado de Rebekah o círculo por onde os anjos saiam agora em abundância não estava mais conectado a mim e eu poderia respirar sem dificuldade.

   Por causa do puxão de Rebekah para se afastar de mim, eu a soltei e quase caí no chão. Por sorte Deb estava atenta e me segurou antes que eu chegasse ao chão.

     — Atelina? — Peyton perguntou, soltando o espelho que já não refletia nada.

     — Eu estou bem — Afirmei, sem credibilidade alguma — Vá com Deb ver se os anjos terrestres precisam de ajuda, alguma coisa deve ter acontecido para a cúpula ter sido desfeita.

   Deb assentiu ao meu lado, mas Peyton hesitou. Ele não queria se afastar depois de ver meu estado e eu entendia um pouco da sua preocupação, pois eu ainda precisaria fechar aquele círculo e não me restava magia alguma.

     — Você me disse que protegeria Luke dessa vez — Falei, olhando em seus olhos.

   Peyton hesitou mais uma vez, só que agora sua hesitação tinha a ver com o fato de que ele realmente tinha dito que protegeria Luke melhor depois do que aconteceu. Ele precisava ir, eu não poderia sair daqui e proteger Luke. No entanto, ele podia.

     — Ok — Ele concordou — Ei! É melhor você cuidar bem dela.

   Ele dirigiu essas palavras para Scott, correndo junto com Dabria para o lugar onde todos os anjos falsos e vampiros estavam, ao redor da escola.

   Agora que não precisava me preocupar com o feitiço por enquanto, olhei para o círculo onde um exame de anjos pulavam para fora, alguns pendurados em outros como uma fila, outros simplesmente voavam para o céu avermelhado. Eu tentei, em vão, procurar mais uma vez por Daimen entre todos eles, mas eles eram tão rápidos para os meus sentidos fracos de humana.

   Os anjos caídos, provavelmente eram aqueles que em sua maioria não tinham suas asas. Miles, o amigo de Daimen, disse-me uma vez que quando os anjos caiam o castigo deles era ganhar os sentimentos humanos e perder suas asas. Eu não sabia muito sobre eles, nunca pensei que fosse importante conhecer uma espécie que eu não estava familiarizada. Embora não estivesse familiarizada, ela caiu na minha vida como uma chuva repentina de verão.

   Todos os anjos caídos que eu conheci, foi de uma forma nada esperada.

   Observei por um bom tempo todos voarem para fora, mas eu estava tão cansada que não suportei permanecer em pé, então eu me sentei no chão. Rebekah ainda próxima, entretanto também estava com medo.

     — Antes de fugirem, tratem de fazer alguma coisa útil! — Scott gritou para aqueles que estava do lado de fora.

   Eles concordaram, em seguida alguns voaram e outros correram em direções opostas.

   O peso no meu peito estava diminuindo conforme via os anjos em ação. Eles eram extremamente rápidos e agis, a essência deles exalava paz e esperança apenas por estarem ali perto. Eu não entendia como, mas eu me sentia muito bem estando perto deles. Talvez fosse por causa de Mason e o fato de ser um caído também. Ou também poderia ser... Daimen.

   O número de anjos no estádio aumentava rapidamente e com ele o ambiente ao redor se tornavam mais respirável. A temperatura que antes estava abafada e quente, diminuía e estabilizava.

   Tudo estava indo muito bem, até mesmo Cérbero tinha atravessado o círculo indo contra a maré de anjos e sumiu no vermelho lava dentro do inferno.

   Quando o tempo foi estendido o suficiente e o número de anjos diminuiu bastante, Scott correu na minha direção, desesperado. Eu observei enquanto ele corria e chovia ainda mais relâmpagos na sua direção, como se estivessem seguindo seus passos e não deixavam ele se aproximar.

   Então ele parou, olhando para mim e os relâmpagos que caiam ainda mais agora.

     — Atelina! Feche os portões! — Scott gritou, distante.

     — O que? — Perguntei, não porque não tinha ouvido.

     — Feche os portões, agora! — Ele gritou de novo.

     — Não posso! E-eu... eu estou esperando alguém! — Gritei de volta, desviando meus olhos para círculo de onde não saiam mais anjos.

     — Não podemos manter ele aberto, os demônios inferiores vão descobrir essa passagem e irão atravessar! — Scott explicou, um raio caindo a alguns passos dele — Precisamos impedi-los de sair enquanto a terra está nesse estado!

   Olhei para Scott, depois meus olhos se fixaram na passagem não utilizada mais. Daimen já tinha saído e eu não o vi? Ele estava tão bravo que saiu sem que eu percebesse e foi embora? Ou ele ainda estava lá dentro?

     — E-eu... eu não tenho mais magia! — Contei, sentindo minhas lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

     — Ei, você! — Scott chamou a atenção de Rebekah — Você não veio ajudar?

   Os olhos de Rebekah se arregalaram com a grosseria de Scott, ele realmente deixava transparecer seu desgosto em relação a ela.

   Pensei na ausência de Peyton e em como sua presença fazia efeito nela, por isso quando ela deu um passo atrás, eu entendi o que ela estava prestes a fazer.

     — Rebekah... — Chamei, mas seus passos continuavam se afastando — Rebekah, não faça isso! Peyton não...

     — Ele pediu que eu ajudasse você. Foi o que eu fiz — Rebekah falou, um sorriso crescendo em seus lábios — Eu não devo mais nada a você.

   Em seguida, ela correu em direção ao prédio do colégio com os cabelos loiros ao vento e quase sendo atingida por uma das bolas de fogo. Ela realmente não era de confiança, pelo menos eu não esperava muito dela.

     — Atelina! — Scott chamou.

   Aproximei-me do livro de feitiço engatinhando, pois eu não tinha forças para me levantar e lembrei de um tipo de canalização rápida e eficaz, mas... era perigosa. Antes Val tinha sugerido que eu canalizasse de alguém, alguém forte o bastante como Deb ou Scott, entretanto, nenhum deles conseguia chegar até mim e Scott estava desesperado para que eu fechasse os portões.

   Decerto, o fato de ser perigoso poderia colocar minha vida em perigo e me levaria a uma quase morta na melhor das hipóteses, na pior delas eu realmente morreria.

   Alcancei o fecho do colar de Val no meu pescoço e o tirei, deixando-o sobre o livro. Val não precisaria correr perigo também.

   Com um grande esforço me levantei do chão, respirei fundo e me posicionei.

     — Atelina, não faça isso! — Valentine gritou do colar no chão.

     — O que vai fazer? — Dessa vez era Scott.

   Olhei para o céu procurando por um dos relâmpagos que logo cairiam e esperei ele descer do céu em direção ao chão, antes que tocasse o solo eu o puxei para mim. Ele veio tão rápido quanto uma estrela cadente, espalhando sua energia por todo o meu corpo enquanto eu tentava separar aquilo que eu poderia canalizar e o que apenas me machucaria.

   Essa canalização era perigosa, simplesmente porque assim que pegasse o primeiro raio os outros viriam exatamente para o mesmo lugar em uma velocidade ainda maior que a anterior, não permitindo que fosse possível separar adequadamente o tipo de energias dentro deles. Então a pessoa seria constantemente atingida por raios até que não sobrasse mais nada.

   Aquele ditado sobre um raio que não caia mais de uma vez no mesmo lugar, não poderia estar mais errado nesse caso, porque é exatamente no mesmo lugar que todos eles caem.

     — Atelina! — Ouvi meu nome ser gritado em uníssono.

   Todas as vozes formaram uma só ao serem ditas ao mesmo tempo formando um som cacofônico indistinguível, mas eu consegui distinguir uma entre as outras. A voz dele.

   Eu queria procurar por ele entre os outros, sabia que ele estava ali. Contudo, minha situação não era favorável e eu não tinha tempo para procurá-lo enquanto eu estava recebendo raios atrás de raios apenas para conseguir magia o suficiente para fechar os portões.

   Sendo assim, meus olhos prenderam-se nos papéis do livro e eu li o feitiço inverso para poder fechar o círculo que era o caminho para o inferno.

   Não sabia se era uma coisa boa, mas eu não sentia mais minhas pernas e muito menos a dor da queda nas escadas. Eu também sentia que esse poderia ser meu último momento, embora eu não quisesse encarar isso assim. Era uma possibilidade. Eu morreria mais uma vez.

     — Atelina — Ouvi mais uma vez meu nome ser chamado, agora mais suave e suplicante.

     — Daimen?

   Quando o círculo era apenas um pontinho de luz, eu desviei os raios que vinham na minha direção para o chão com minhas mãos e apesar de ter sido idiota, era minha única opção, mas isso fez com que o chão sob meus pés explodisse e meu corpo fosse lançado no ar para um lugar distante.

   Minha visão se tornou totalmente escura, o gosto de ferrugem estava presente em meus lábios e as dores não sentidas antes, voltaram ainda piores acompanhadas de outras dores novas.

     — Atelina?

   Alguém tinha chegado até onde meu corpo caiu, ele tinha mãos fortes e firmes, mas ao mesmo tempo o toque era suave e isso porque meu corpo com certeza estava em um estado lastimável. Qualquer pessoa que poderia tocar em mim me tocaria como se eu fosse o vaso mais caro e frágil do mundo.

   Apesar de tudo, eu estava feliz. Ainda estava acordada e podia ouvir tudo o que acontecia ao meu redor. Entretanto, era difícil supor tudo que acontecia apenas pelo som, eu desejava ouvir e entender tudo pelo menos até o momento em que tudo acabasse. Só então eu me sentiria a vontade para fechar os olhos e realmente descansar. Eu estava tão cansada.

     — Agora você pode — Eu fui respondida.

   Demorou um tempinho para eu perceber que tinha dito em voz alta e a pessoa que me tinha nos braços queria que eu descansasse.

     — Vamos cuidar de tudo, enquanto você dorme — A pessoa acrescentou — Só dê sua palavra que irá acordar depois. Você precisa acordar depois, Piierce.

   Não eram muitas as pessoas que me chamavam pelo sobrenome, mas eu gostava dele apenas quando ele saia daquela boca. Eu poderia aceitar ser chamada por essa pessoa pelo nome que eu menos gostava, contanto que fosse ela.

   Levemente, assenti com um aceno de cabeça.

   Fui pega no colo e depois deixada em um lugar mais confortável e embora quisesse aceitar o que aquela pessoa tinha dito e descansar, eu queria saber o que aconteceria em seguida. O portão do inferno estava fechado, os anjos tinham saído de lá e o único problema agora era afastar as fênix e Thunderbird que ameaçavam os anjos falsos.

     — Scott, vá com alguns anjos para leste do estádio. Eu irei para o oeste, onde fica o estacionamento — Ouvi, enquanto se organizavam — Malia, proteja ela.

   Assim que eles se afastaram, um silêncio confortável reinou no estádio da escola. Em comparação a algumas horas atrás, estava lindamente tranquilo para se dormir e eu ainda lutei dentro de mim para permanecer acordada.

   Minhas dores pareciam estar recebendo um remédio que agia de forma lenta, mas efetiva no meu organismo e por isso eu conseguia me manter por mais tempo acordada. Contudo, não tinha como eu saber o que estava acontecendo. O centro das lutas já não era mais o campo e eu sentia que até mesmo as bolas de fogo e os raios não caiam mais como antes.

   Então, acreditando que os anjos pudessem resolver tudo e que Deb, Luke, Peyton e os outros estariam em boas mãos, eu decidi me entregar ao sono e ao cansaço presente em cada célula do meu corpo. Eu me deixei dormir pelo tempo que fosse necessário para o meu corpo se recuperar totalmente, esquecendo tudo.

   Eu só não pensei que isso levaria mais tempo do que apenas um dia no máximo de sono, mas eu permaneci dormindo por um longo tempo. Até que estivesse quase completamente descansada. 

CADÊ MINHAS ESTRELAS, CADÊ MINHAS ESTRELAS?? 🌟🌟🌟

Olá amorinhas, como estão? Finalmente temos um momento de paz, após o sucesso da missão de tirar os anjos do inferno. Atelina realmente é como Scott disse, uma pessoa suicida, pronta para fazer o que for necessário para salvar e concluir essa missão, com certeza sabemos que com interesses pessoais óbvios. Agora que os anjos saíram do inferno, ela vai conseguir ver Daimen e falar com ele? Como vocês acham que vai ser o primeiro encontro deles?

Não esqueçam de comentar e de votarem.

❤️❤️❤️❤️

Abraços e beijos gigantescos.

- Atelina.

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