Capítulo 24 - Família
Quando senti que o peso de Luke era demais para eu carregar sozinha entrei em pânico e quase comecei a chorar, não porque estava triste. Uma parte minha estava feliz por Luke estar bem agora, mas outra um pouco mais acusadora não sabia o que fazer com ele agora inconsciente e sem ninguém em casa para ajudar.
— Atelina? — Ouvi a voz de Dabria no andar de baixo e suspirei de alívio.
— Deb, preciso de ajuda!
Ela apareceu ao meu lado no minuto seguinte extremamente assustada e ansiosa, eu não pensei que minhas palavras mal pensadas a deixariam dessa forma. Por sorte ela entendeu a situação assim que colocou os olhos em mim e em Luke.
— Ele está bem agora? — Ela perguntou, segurando ele com facilidade.
— Sim, só precisa descansar de verdade agora — Falei, agora livre — E o rosto de Peyton?
— Ele disse que volta amanhã quando estiver cicatrizado. Parece que ele não quer que você o veja com o rosto cheio de marcas — Dabria explicou, deitando Luke sob as cobertas e olhando para os baldes de sangue no chão do quarto — Luke precisa descansar em um lugar limpo, vamos jogar esse sangue fora antes que aconteça mais um acidente.
"Você vai precisar de muito sangue". Lembrei das palavras que o próprio Rei do inferno me disse na cafeteria e neguei com a cabeça, pensado em como poderia reutilizar o sangue de Luke e se o fato de ele estar mesclado com veneno fosse um empecilho.
— Val, podemos usar esse sangue? — Perguntei, acreditando que Valentine poderia saber mais do que eu.
— Não com o veneno. Caso você o utilize dessa forma você pode criar uma lua de sangue que afetará os vampiros, embora também fosse ajudar os anjos. Mas essa Lua seria como uma lua cheia para os lobisomens.
Não era isso que eu queria, então estava fora de cogitação usar esse sangue. Seria um grande desperdício, mas a maior parte dos meus amigos eram vampiros e eu vivera como uma igual entre eles e não queria machucá-los.
— Val, existe um feitiço para eu posso limpar o sangue? — Perguntei, ainda achando muito desperdício jogar fora quatro baldes cheios de sangue. — Eu não quero jogar fora tanto sangue, estava pensando se poderíamos fazer alguma coisa para conseguir usá-lo.
— Não tenho certeza, vou pesquisar um pouco mais. Talvez encontre algo.— Val disse, aumentando minhas expectativas.
Depois disso com a ajuda de Deb transferi todos os baldes que estavam ainda dentro do quarto em que Luke agora descansava, eu concordava com o que Deb disse. Ele precisava de um lugar limpo para melhorar.
Não havia muitos lugares em que eu pudesse colocar todos os baldes sem que incomodasse as meninas e Ally. Então decidi deixá-los ao ar livre, coloquei eles na área dos fundos porque assim o ar levava com ele o cheiro de sangue e diminuía a presença dele.
Embora eu pensasse que o cheiro trouxesse um desconforto para as espécies que vivessem próximas e que precisassem de sangue para sobreviver, pois o cheiro estaria flutuando constantemente até eles, mas eu não tinha opção. A casa era habitada por três vampiras e além disso havia mais um de visita e o fato de ter sangue próximo deles poderia tentá-los, ou nesse caso poderia envenená-los.
Limpei todo o quarto de Luke e finalmente me sentei no sofá onde Peyton me vigiava durante os dias que se seguiram. Eu torcia para que ele não me chamasse essa noite, porque isso significaria que ele estava realmente dormindo sem sonhos ou pesadelos.
Deb foi embora depois de fazer meu jantar, eu disse que não precisava, mas sem Ally ou Peyton para me sondar sobrava para ela fazer isso e apesar de me sentir como uma criança eu aceitava tudo sem reclamar.
Durante a noite ainda olhando fixamente para Luke, vendo o subir e descer de seu peito e sutis movimentos que ele fazia enquanto dormia, acabei caindo no sono sem querer pois se fosse possível eu passaria a noite toda acordada olhando para ele como eu fazia quando ele cabia no meu colo.
Senti alguém tocando no meu braço e acordei demorando para assimilar onde estava, era Allyson que me acordava assustada pela falta de Peyton e Dabria na casa.
— Por que você está sozinha com o Luke quando ele pode muito bem surtar e acabar...
— Ah, ele já surtou hoje. Acho que não vai fazer de novo — Falei, esquecendo que Ally podia ficar preocupada por causa das minhas palavras — Está tudo bem, conseguimos resolver tudo.
Os olhos âmbar dela brilharam na luz fraca que vinha do corredor, eles poderiam facilmente saltar para fora das órbitas de tanto que Ally abriu seus olhos.
— O que aconteceu? E mesmo assim deixaram você aqui com ele? — Ela questionou, as lágrimas aparecendo repentinamente — Você sabe o que aconteceria se nós passássemos por tudo aquilo de novo e pior ainda com o Luke como o culpado?...
Ela começou a tagarelar desesperadamente procurando motivos para me fazer entender que ela não queria que eu morresse pelas mãos de Luke, pois seria ainda mais doloroso do que me ver tirando a minha vida. Tentando fazê-la se acalmar e parar de falar porque Luke estava dormindo, puxei seu corpo contra o meu em um abraço.
Eu não consegui controlar como queria, o abraço apenas intensificou seu choro e Ally começou a soluçar alto a fazendo parecer uma criança que caíra pela primeira vez e precisava que um dos pais fosse cuidar dela.
— Ally, não chora. Luke está dormindo e você vai acordá-lo — Falei, acariciando seu volumoso cabelo.
— Não se incomode.
Ouvimos uma voz masculina dizer e nos afastamos.
— Lu-Luke? — Perguntei.
— Mãe, você parece tão surpresa — Ele comentou de volta, a voz levemente rouca, mas o tom descontraído de sempre presente.
— Quando você...?
— Allyson não consegue controlar o tom de voz dela, então eu acordei — Ele continuou descontraidamente falando, como se nada tivesse acontecido — Que dia é hoje?
Levantei rapidamente do sofá, indo na sua direção e abraçando ele o mais forte que me era possível. Ele estava bem, estava consciente depois de quase duas semanas apenas tendo seu sangue drenado e alimentado por uma agulha conectada ao seu corpo.
— O que aconteceu, Mãe? — Ele finalmente perguntou, sério.
— Ah, Luke aconteceu tanta coisa — Agora eu que não conseguia me controlar e chorava como Ally estava fazendo.
Allyson lentamente se aproximou e como um pequeno gato querendo carinho ela entrou entre nós, tentando em vão controlar seu próprio choro que exatamente como Luke tinha mencionado, era alto.
— Meu Deus, o que está acontecendo com essas Piierce? — Ele perguntou para ninguém em especial e parecia confuso.
Eu queria explicar para ele o que tinha acontecido para a situação deixar de ser estranha, mas a sensação de estar agarrada a eles era tão calorosa e gostosa que eu não pude me afastar. Eles eram a minha família de sangue. A única parte viva e que valia a pena chorar por eles.
— Eu não quero ser chato, mas o que está acontecendo com vocês duas? — Luke perguntou mais uma vez, agora mais firme e quase nós emburrado para longe — Eu não me lembro de nada.
Mantendo-me firme e controlando a voz rouca por causa do choro, respirei fundo antes de tomar a decisão se era hora de contar todos os acontecimentos da festa dos anjos mais uma vez e reviver aquela bagunça de anjos pegando fogo e correndo como mosquitos atrás de uma saída.
Mas eu tinha certeza de que não estava pronta para contar, pois teria que tocar no segredo da mãe de Luke e esse assunto era delicado. Todos nós, sem exceção de ninguém, deveríamos pelo menos ter uma noite inteira de sono e quem sabe um banho bem tomado também seria bom. Eu não consegui fazer nada disso direito desde que não podia tirar minha atenção do meu filho que estava de cama.
— Eh, o que você acha de falarmos disso amanhã? — Perguntei, para deixar claro que eu não queria mesmo falar agora — Assim eu posso dormir, e você tomar banho e descansar um pouco mais.
Quando terminei de falar, senti ambos os olhos âmbar sobre mim. Contudo, os olhos de Luke permaneceram por mais tempo, inclusive ele parecia olhar diretamente para o meu rosto e eu não sabia o que ele procurava, mas assentiu no momento em que encontrou algo.
Talvez fosse minha aparência cansada que o fez mudar de ideia e por isso não consegui evitar dar uma arrumada no meu visual apesar de não saber como eu realmente estava.
— Peyton trouxe algumas roupas para você, estão naquela mala. Você pode tomar banho quando quiser e — Minha frase ficou suspensa enquanto eu passava os olhos mais uma vez por Luke — fico extremamente feliz de ver você bem.
Com isso deixei o quarto acompanhada de Ally que ficou no meio do corredor, observando eu caminhar até o meu quarto e trancar a porta por segurança e por insistência de todos que não aceitavam que eu era uma humana sobre o mesmo teto que 4 vampiros.
Demorei debaixo do chuveiro e dessa vez estava realmente preparada para dormir, mas no fundo eu estava com medo de fechar meus olhos e ver mais uma vez os mesmos olhos amarelos magoados que eu vi da última vez. Entretanto, eu me lembrei que ele provavelmente não queria mais me ver.
Eu me perguntei como seria quando Daimen saísse do inferno? Seríamos dois estranhos que apenas precisaram da ajuda um do outro, mas que depois seguiriam com suas vidas em direções diferentes?
Eu não sabia se gostava dessa ideia.
§ § § § §
Na manhã seguinte depois de tomar banho, peguei uma das bolsas de sangue do estoque de Allyson e entrei no quarto de Luke para deixar ao lado da cama para que ele tomasse assim que acordasse, mas eu não precisei esperar como estava pensando.
Luke dormia demais apesar de não precisar tanto, parecia que o hábito estava gravado nos seus ossos, mas nesse momento ele estava acordado sobre os lençóis da cama arrumada e o cheiro de sabonete com aroma e perfume masculino inundava o quarto. Ele vestia as roupas que Peyton trouxe e digitava rapidamente no celular.
— Bom dia, Luke — Falei, após chamar sua atenção com uma tosse falsa — Eu trouxe seu café da manhã.
Seus olhos âmbar brilharam ao ver o que estava na minha mão e eu podia sentir que ele estava louco para tomar. Aproximei-me dele e entreguei em suas mãos, ficando um pouco afastada quando ele pegou o canudo resistente e firme que estava na minha mão e furou a bolsa.
Desde o dia em que eu tinha voltado não tinha chegado perto de sangue, porque eu sabia que não seria a mesma coisa de antes, mas não seria tão ruim, eu apenas não sentiria desejo pelo cheiro de ferrugem que estava habituada. Contudo, eu tinha presenciado a festa de anjos falsos e me lembrava nitidamente do aroma de ferrugem que estava próximo de mim quando eu cortei minha própria pele. E como a dor vinha junto.
Eu entendia que foi necessário ter feito aquilo, então não era tão ruim, entretanto esse acontecimento tinha antecedido os dias em que eu estive presa em uma quarto com esse mesmo cheiro. E eu não gostava de me lembrar disso.
— Você ainda tem algum machucado? — Perguntei, lembrando-me vagamente de como seu corpo tinha chegado.
— Não, e eu me sinto muito bem — Ele falou, sorrindo com o canudo entre os dentes — Eu estou bem, mãe.
Quando disse aquelas palavras sem que eu perguntasse, eu quase entrei em mais uma crise de choro na sua frente, mas eu me segurei e respirei fundo desviando minha atenção para o celular que tinha apitado.
Deb, Ren e Peyton queriam saber o estado de Luke e se realmente estava tudo bem. Eles até mesmo queriam fazer uma visita.
— Eu quero conversar com você e com a Ally, antes de você ir embora. É sobre a sua mãe — Eu disse, olhando no seu rosto quando sua expressão mudou — Você vai poder voltar para a casa dos meninos quando quiser depois que eu tiver falado tudo...
— Eu não ligo para isso, mas por que quer falar sobre a Nádia tão de repente e depois de muitos anos? — Ele perguntou, franzindo o cenho.
Não era tão de repente quanto ele dizia, e eu queria mesmo apenas colocar tudo para fora, mas era complicado. Era um segredo que nenhum de nós três sabíamos que existia. E se modificaria nossa relação? Provavelmente não. Nós já éramos uma família sem nós importamos com o sangue um do outro.
E ainda tinha o segredo do lado da Ally, ela queria que eu envolvesse ela mais ainda nas nossas missões. Entretanto, ela não sabia com quem estávamos mexendo.
— Eu ouvi meu nome, então estou aqui — Allyson anunciou, entrando no quarto — Agora sem choro, eu dou minha palavra.
Eu revirei os olhos achando meio impossível, ela com certeza voltaria a chorar ao saber quem era a pessoa que estava contra nós.
— Vamos sentar — Falei, apontando para a cama.
Tanto Ally quando eu sentamos aos pés da cama e formamos um triângulo com Luke na ponta. Eles estavam ansiosos, eu estava temerosa.
— Vou começar pelo o que aconteceu naquela noite após irmos até a casa onde estavam prendendo Luke.
Então comecei a contar tudo que aconteceu, ocultando mais uma vez que Cassandra era nossa mãe biológica, mas seria por pouco tempo. Segui contando até a parte em que encontrei Nádia e antes de contar o segredo, pausei por um momento e finalmente soltei.
— Nádia me disse que estava tentando ligar para você, Luke, antes de tudo isso acontecer. Ela está pensando em tentar Sepuku e por isso queria dizer um segredo que só ela e provavelmente o Nathan também sabiam — Falei, ambos os pares de olhos estavam sobre mim — Luke, seu pai biológico sempre foi o Nathan. E eu sinto muito.
Allyson parecia mais surpresa do Luke, seus olhos bem arregalados e a boca aberta. Parecia que ela tinha visto uma cena improvável em uma série ou novela da televisão. Mas a reação de Luke era tão mínima quanto alguém ditando uma lista de compras.
Tentei tocar sua mão parada sobre a coxa, mas pensei melhor e decidi não fazer isso. Talvez ele quisesse espaço...
— Isso não muda nada — Ele anunciou, assim que eu pensei que a notícia tinha mexido com ele — Além do fato de termos o mesmo sangue.
Eu não podia dizer que estava triste pelas suas palavras, eu devia ter esperado essa reação. Luke me considerava sua mãe porque quando Nádia não quis fazer esse papel, eu o fiz. Contudo, o papel de pai nunca tinha sido preenchido por ninguém, então saber que ele tinha um pai biológico que não tinha cumprido com os deveres, não mudaria nada.
— Claro que não, ainda somos uma família — Afirmei, sorrindo.
Com isso continuei a contar os outros acontecimentos da noite e das semanas em que Luke estava adormecido. Allyson ouviu tudo, ela estava magoada por não ter sido chamada para ajudar.
— Eu não quis envolver você nisso — Falei, explicando — Não queria envolver nenhum de vocês nisso, mas...
Ouvimos um barulho seco e alto no andar de baixo, tanto Ally quanto Luke olharam rapidamente para a porta, concentrados como se pudessem distinguir quem estava no andar de baixo e era o que estavam fazendo. Eu não duvidava deles, mas mesmo assim um sentimento de medo cresceu no meu peito.
Isso acontecia com mais frequência conforme os dias passavam, principalmente depois de ter me tornado humana e ter uma missão tão pesada sobre minhas mãos.
— Olá! — Uma voz masculina chamou — Eu não queria entrar desse jeito, desculpa.
Eu reconheci aquela voz, embora não pudesse fazer uma rápida assimilação entre ela e uma pessoa física. Por isso me levantei sem me preocupar e fui na direção da porta, sendo parada por Ally que entrou na minha frente e por Luke que segurou meu braço antes mesmo de eu chegar no arco do batente.
CADÊ MINHAS ESTRELAS,CADÊ MINHAS ESTRELAS?? 🌟🌟🌟
Oi amorinhas, como estão? O que acharam do capítulo? Parece que paz é inexistente e não param de acontecer coisas de parar o coração. Pelo menos Luke está bem. Mas que será que veio fazer uma visita? E será que Atelina contará para Ally sobre Cassandra ser a mãe delas ou ela vai enrolar mais um pouquinho??
Não esqueçam de votar e comentar.
❤️❤️❤️
Abraços quentinhos.
- Atelina T. L. Silva.
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