Capítulo 2 - Eu, uma bruxa?
Era desconfortável dizer o resto com Mason e Nathan ali ao lado, por isso esperei pela resposta de Valentine que assentiu, sorrindo. Parecia que entendia o porquê de eu ter parado de falar.
— Sim, ele era a outra ponta da ligação. — Val concluiu.
— Quer saber mais alguma coisa, anjinha? — Michaele perguntou, pegando na minha mão inquieta no colo.
— Os anjos... eles vão ficar bem? — Perguntei, ainda me lembrava de Daimen e do fato de ser um caído.
— Você está preocupada com alguém? — Mason perguntou e eu me surpreendi com sua voz.
Eu realmente estava preocupada com Daimen, mas não apenas ele. Não era muito fã dos Anjos Falsos e não conhecia muitos Caídos, mesmo assim me preocupava o que aconteceria com eles no inferno.
Lentamente concordei, olhando para todos ali que pareciam tão preocupados quanto eu.
— Vamos encontrar uma bruxa para ser mandada de volta e vamos salvar todos eles — Mason disse e por mais que tivesse me assustado antes agora eu estava aliviada. — Michaele e eu precisamos conversar, então Nathan...
— Pode deixar, explicarei as coisas para ela — Nathan respondeu antes mesmo de Mason terminar o pedido.
— Também quero explicar algumas coisas — Michaele pediu, manhosa — Bruxaria pode deixar comigo, em.
Nathan concordou, mesmo que eu não estivesse entendendo. Por que ela falaria sobre bruxaria comigo aqui?
Acompanhada de Nathan e Val voltamos para o lado de fora da estufa, o céu estava escurecendo e as pessoas estavam se preparando para sair, além disso o jardim estava iluminado por tochas e velas acesas. Era tão bonito.
— O tempo aqui é diferente do outro lado — Nathan disse, notando minha curiosidade — O véu é habitado por seres sobrenaturais que não são de todo imortais, aqui não temos muito o que fazer além de agir como se estivéssemos vivos.
Nathan caminhou na minha frente, olhando apenas para as pessoas e para a plantação de tudo que se podia imaginar.
— Vocês podem ver o outro lado? — Perguntei.
— Sim, diferente do céu e do inferno. Podemos ir do outro lado, mas seremos apenas fantasmas vagando pelo outro lado e ninguém pode nos ver além daqueles que tem habilidades e aqueles próximos da morte.
Parei de acompanhar seus passos. Será que ele viu o que me tornei depois que ele morreu? Eu não queria que Nathan me odiasse e sentisse repulsa de mim como naquele dia em que eu fiz algo que mudou nossas vidas, algo tão antigo que só ele, tia Michaele e eu sabíamos.
— O que foi, Atelina? — Ele perguntou, parado à alguns passos na minha frente. Seu olhar mal iluminado pela luz das velas.
— Eu...
"Correr da dor apenas a trará de volta pior que antes. " Lembrei das palavras de Daimen e ele tinha razão. Sempre estive correndo das minhas dores, nenhuma fora superada completamente porque eu sempre as mantive escondidas. Mas isso foi antes de conhecer Daimen.
— E-eu não consegui superar a sua morte... e fiz coisas horríveis com as pessoas — Comecei a dizer, as lágrimas já escorrendo pelo meu rosto — Eu sinto muito, por não ter sido a irmã que você queria que eu fosse...
Minhas palavras foram abafadas quando ele me abraçou, Nathan me segurou contra seu peito e acariciou minhas costas. Esse era o Nathan que eu senti falta todos os dias depois do dia da sua morte.
— Você sempre foi minha irmã, não importa o jeito que você seja — Ele murmurou sobre minha cabeça — Eu a amo mesmo assim, com falhas e corações partidos. Com dores e sorrisos. Entendeu?
Balancei minha cabeça ainda aninhada no seu peito.
§ § § § §
Os dias eram estranhamente curtos no véu, dois dias aqui eram como um dia do outro lado. Então, enquanto estava ajudando nas plantações e ouvindo Tia Michaele falar sobre bruxaria, as pessoas lá em cima talvez tivessem acabado de decidir o que fazer com o meu corpo.
— Eu vou buscar umas rosas, já volto — Tia Michaele avisou, afastando-se do nosso canteiro.
Olhei para o lado, Nathan estava plantando umas ervas que aprendi o nome recentemente graça a quantidade que eles plantavam. As pessoas no véu podiam ser consideradas bibliotecas ambulantes, eles sabiam o maior número de nomes de plantas e ervas, além de feitiços.
— Por que tia Michaele fica me falando sobre bruxaria? — Perguntei, chamando a atenção de Nathan.
— Você ainda não reparou? — Ele perguntou de volta. Neguei — Atelina, você não tem mais os sentidos aguçados como antes, né?
— Sim, achei estranho no começo, mas pensei que era porque estávamos no véu — Falei, encolhendo os ombros.
— Não, nós meio que voltamos a ser o que deveríamos...
— Como assim? — Aproximei-me dele e de Val que estava no canteiro ao lado, confusa.
— Ele quer dizer que você voltou a ser uma bruxa. Originalmente você e sua irmã seriam bruxas, mas vocês misturaram tanto o sangue de vocês que talvez tenham esquecido. Primeiro Anja Terrestre, depois vampira, até eu esqueceria o que realmente sou — Val respondeu, explicando.
Eu não estava acreditando! Eu, uma bruxa?
— Se bem que de acordo com Mason, você tem mais sangue de Anjo que sua irmã. Talvez se fizesse feitiços encontraria mais dificuldade do que uma bruxa comum.
— Tudo bem, maninha? — Nathan perguntou.
— Não acredito que sou uma bruxa! — Contive meu grito.
Os dois riram da minha reação, mas eu realmente não acreditava. Ser vampira e viver livremente era legal, mas ter voltado as minhas origens...
"Vamos encontrar uma bruxa para ser mandada de volta e vamos salvar todos eles..." essas foram as palavras de Mason. Mas eu queria ver o que estava acontecendo lá em cima sem mim. Seria egoísta da minha parte almejar ver mais uma vez o rosto e os olhos amarelos de Daimen, ou minha irmã, Luke e até mesmo Deb? Eu devia um pedido de desculpas pessoalmente para Daimen e cada um deles.
Eu precisava saber antes se tinha a capacidade de fazer o que essas pessoas do véu queriam também. Entretanto, eu faria qualquer coisa para ver todos mais uma vez e me despedir da forma correta. Será que Mason permitiria que eu fosse?
Desde que cheguei eu não o encontrei muitas vezes, parecia que ele passava muito tempo dentro daquela estufa.
— Vou levar algumas dessas ervas para Mason — Val avisou, segurando uma cesta pendida no seu antebraço
Eu não sabia muito bem o que Mason fazia lá dentro, mas todos levavam as ervas para ele ou até mesmo para Tia Michaele. Os dois trabalhavam com elas e eu não sabia o que faziam.
— Val, deixe que eu levo — Pedi, olhando nos seus olhos e implorando para que deixasse. Essa era a minha chance — Eu ainda não tive tempo de falar com... Mason.
Valentine me olhou de cima à baixo, seus olhos me inspecionando. No fim, ela sorriu gentilmente como sempre e me entregou a cesta.
— Boa sorte!
— Tem certeza? — Nathan perguntou.
A perguntou foi mais para saber se eu estaria bem em ir vê-lo, mas eu precisava porque eu tinha certeza do que queria pedir a ele.
Então após concordar, caminhei sem pressa, mas nem muito lenta até a estufa e vaguei pelo labirinto de plantas que cresciam com um enorme medo de me perder.
— Não tem como se perder aqui, Atelina — Ouvi sua voz atrás de mim e como antes me assustei com o quão forte era — Tudo bem?
Olhei para trás e vi sua figura encurvada em uma curva do labirinto como se tivesse voltado para trás por minha causa.
— Eu trouxe as ervas no lugar da Val.
— Eu sei, venha por aqui — Ele apontou para o caminho à sua frente — Esse caminho é mais rápido, mas todos levam ao centro.
Caminhamos em silêncio até chegarmos na mesa longa em que sentamos no outro dia. Ele se afastou na direção das outras mesas e notei quando pegou algumas ervas de um saco branco.
— Pode deixá-las aí mesmo — Mason pediu, sem olhar para mim.
Larguei a cesta na mesa e congelei no lugar. Eu estava com medo de pedir. Mas eu precisava e não sabia como abordar esse assunto.
— Vai me dizer o que se passa na sua cabeça? — Ele perguntou, pegando-me de surpresa.
— Eu... — Não podia simplesmente jogar minha ideia sobre ele, não agora — Eu queria saber mais sobre os Anjos Caídos.
Mason finalmente se virou para me olhar e caminhou até a cesta, eu sabia que ele não estava acreditando que era realmente isso que eu queria, era como estar com Daimen. Não dava para mentir para eles, mas ele não disse nada.
— Por que eles caem? E como vão parar no inferno?
— Há uma escala lá em cima, se formos contra a ordem que nos é atribuída ou quando cometemos erros que não há como concertar, nós caímos. — Ele disse, olhando nos meus olhos procurando algo que eu não sabia ter neles — Alguns Caídos são facilmente atraídos para o lado do inferno quando estão na terra... quando caímos perdemos nossas asas e o contato com nossos irmãos como um castigo divino, apenas os Anjos da guarda que ainda tem suas asas enquanto vivem na terra.
Daimen era um Caído, mas como que ele foi parar nos portões do inferno? Será que ele trabalhava para o inferno e havia trocado de lado? Mas ele não parecia ser mau, e ele ainda tinha suas asas.
— Você se parece com a Cassandra, Atelina — Ele murmurou, desviando os olhos como se não quisesse ter lembrado dela.
— Eu sinto muito — Falei, fazendo sua expressão se contorcer em confusão — Você a amava, eu sei que sim. Sinto muito por você ter jogado sua vida fora por nada.
Ele desviou os olhos castanho de mim e olhou para as plantas na nossa frente, Mason não estava mais ao meu lado, pelo menos sua mente não estava.
Inquieta, voltei a pensar no motivo de eu estar ali conversando com ele. Eu precisava ter coragem e pedir. O momento não parecia perfeito e nem muito menos bom, principalmente depois de eu ter tocado sua ferida, mas eu queria ver novamente todas aquelas pessoas que eu magoei ao ter trocado a morte de Peyton pela minha.
— Mason... — Chamei, minha voz sumindo aos poucos, mas consegui fazer sua atenção voltar para mim — eu quero ser a bruxa que vocês precisam mandar para o outro lado. Por favor, deixe eu voltar e salvar os Anjos.
Não sabia dizer que sentimentos passaram pelo seu rosto, foram tantos que quase pensei que fosse gritar comigo e dizer que eu estava louca, mas seus olhos captaram algo que ouvi minutos depois. Eram passos apressados e não eram de uma pessoa só.
Olhei para trás e vi Tia Michaele, Nathan e Val entrarem no quadrado onde estávamos. Tia Michaele tinha uma expressão parecida com a de Mason. Ela com certeza iria gritar comigo.
— Você tem certeza, anjinho? — Tia Michaele perguntou, sua voz não esboçava o mesmo que seu rosto preocupado.
— Vocês ainda não conseguiram um voluntário e eu perdi minha vida para Cassandra estar do outro lado. — Falei, lentamente buscando na minha cabeça mais motivos para dar a eles — Eu não quero ficar parada sem fazer nada.
Eu ainda olhava para Tia Michaele e os outros dois que vieram com ela, convencê-los não demorou muito, minhas palavras alcançaram eles, pois sorriam como se tivessem entregando os seus deveres nas mãos de outra pessoa, aliviados.
— Não... — Ouvi a voz atrás de mim sussurrar e mesmo assim saltei com o susto — Não, você não vai. Não sabe usar seus poderes e muito menos sabe falar latim! — Sua voz aumentou gradativamente, Mason estava com medo por mim.
— Mason, ninguém se voluntariou e não podemos esperar por muito tempo. A próxima mudança de lua se aproxima, temos que usar a lua porque não podemos sempre canalizar a sua essência de Anjo.
Mason continuou irresoluto, negava com a cabeça enquanto Tia Michaele dizia a ele os prós de me mandar. Eu entendia a sua preocupação, porque se fosse eu no seu lugar e meu filho fosse correr esse perigo eu também negaria. Mas eu estive viva por muitos anos antes de morrer e sabia me cuidar.
— Ela sabe um pouco sobre magia, eu a ensinei quando era criança — Tia Michaele insistia — E podemos ensinar enquanto a lua não chega, ela vai estar pronta até lá e com certeza seus amigos a protegerão dessa vez.
— Eu posso ir com ela! — Val disse, levantando uma mão no ar e sorrindo.
Os dois que brigavam pararam por um momento e a encararam curiosos e confusos. Nathan também.
— Não temos forças para enviar duas pessoas. — Mason disse.
— Eu dou o meu jeito — Ela respondeu, balançando sua mão no ar como se não fosse problema — Mas ela não vai estar sozinha, enquanto eu estiver com ela, eu a ajudarei se tiver problemas com a magia.
— Você tem que deixar, pai — Nathan pediu, olhando para Mason de um jeito carinhoso e compreensivo.
Mason ficou em silêncio e olhou de Nathan para Tia Michaele. Só então olhou para mim, por longos e extensos segundos e pareceu que ele me conhecia mais do que qualquer um que eu conhecera na minha vida.
Olhei para Tia Michaele, ela sorria e parecia triunfante.
— Eu aceito com uma condição.
BRILHA, BRILHA ESTRELINHA 🌟🌟🌟
OLÁ AMORINHAS! Como estão e o que acharam do capítulo novo? Será que tudo vai dar certo e Mason vai mesmo deixar apesar da sua condição? E vocês também sentem falta dos outros personagens? Eu sei que esse "arco" no véu é pequeno e rápido, mas é pq realmente tem muita coisa nesse livro.
Então, vejo vocês na próxima semana. Comentem também, quero a opinião de vocês!
Beijinhos, beijinhos ❣️❣️❣️
- Atelina.
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