Capítulo 16 - Um Anjo
Quando percebi que não ia dar tempo para me levantar e correr, fechei meus olhos e esperei desejando que alguma coisa pudesse me salvar, ou até mesmo torcendo para que isso fosse apenas um sonho. Então como uma resposta ao meu pedido senti meu braço esquerdo sendo puxado com uma força tremenda que me levantou do chão e me prendeu contra algo firme e forte. Minha respiração ofegante e o medo fazendo meu corpo tremer.
— Maluca! — O motorista do carro gritou.
Ainda respirando ofegante permaneci onde estava, até perceber que estava entre os braços de alguém. Os braços dessa pessoa estavam ao redor de mim e ele me segurava firmemente pelo braço como se assim fosse evitar que eu corresse. E era exatamente o que eu queria fazer.
Lentamente coloquei minhas mãos espalmadas contra o peito do homem que notei ser pelo cheiro, emburrando ele para trás sem ser muito grossa.
— Obrigada.
Assim que disse, olhei para cima. Ele tinha a altura de Peyton e exatamente como fazia com Peyton tive que olhar para cima para encontrar o rosto do meu salvador. Olhos esmeraldas olhavam para mim fixamente.
Eu conhecia aqueles olhos, vi essa pessoa antes e não fazia muito tempo. Era o duende que encontrei na prisão de Lauren, o mesmo que me perguntou sobre os anjos e que me ajudou a saber qual era a espécie mais numerosa dentro da prisão. Ele não parecia confuso com a minha aparição e muito menos queria me soltar.
— Oi, nos encontramos de novo — Falei, puxando mais uma vez meu braço — Eu já agradeci por me salvar, então poderia me soltar?
Ele não me respondeu, seus olhos ainda fixos em mim como se quisesse dizer algo, mas não pudesse e apenas estivesse olhando. E ele não me soltou.
— Atelina Piierce — Ele disse, sua voz lenta e calma como se fosse uma pessoa que tivesse preguiça até mesmo de falar.
— Como sabe o meu nome?
— Você também sabe meu nome — Ele disse, um sorriso bonito se abrindo em seu rosto que logo se desmanchou — Mas não se lembra... isso dói, sabia?
— Sabe o que mais dói? Esse aperto no meu braço. — Falei, apontando para sua mão ainda em meu braço. Não doía na verdade, mas me sentia desconfortável com o aperto.
— Ah, sinto muito. Você me magoou então não estava pensando direito.
Ele finalmente soltou sua mão do meu braço e deu as costas para mim se afastando. Olhei em volta e percebi que estávamos em uma encruzilhada, uma bem-deserta e sem nada a quilômetros de distância sobrando apenas as árvores ao redor.
— Onde estamos? E por que estou aqui?
— Se não notou ainda você é um pouco lerda, não? — Ele disse, ainda de costas e indo se sentar em uma rocha na curva da encruzilhada.
O homem era um duende, e como todos aqueles da mesma espécie eles sobreviviam de pactos. E esperavam por suas vítimas em encruzilhadas. Então eu seria a próxima vítima dele?
— Eu sei que é um duende e que me trouxe para fazer um pacto, mas eu não tenho intenção de fazer isso. — Falei, deixando claro meus pensamentos.
— Como eu disse antes, só há um da minha espécie na cela daquela fada. — Ele disse, apontando para o próprio peito — E estar aqui é como estou pagando pela minha prisão.
— O que você fez para a Lauren? — Perguntei, aproximando-me.
— Eu? Não fiz nada. Aqueles sanguessugas me usaram como fonte por anos. Mas hoje não precisam de mim já que usaram a ida dos anjos para o inferno no meu lugar.
— Você... eu sinto muito.
Ele levantou uma perna e apoiou o calcanhar sobre o joelho da outra, passando a mão pelo cabelo, tão negro quanto a escuridão do céu.
— Por que eu estou aqui? — Questionei.
— Ah, isso. Eu já ia me esquecendo, Lauren quer você morta. — Ele disse, como se a sentença não fosse nada — Ela sabe que foi você quem soltou as espécies da prisão e talvez agora ela ataque você diretamente.
— Você me chamou aqui então...?
— Não, ela queria que eu matasse você — Ele falou, eu automaticamente me afastei — Mas isso vai contra meus ensinamentos de anjo, então não posso fazer mal a você.
Parei de me afastar quando ele disse ser um anjo. Ele era um caído ou um falso? Se Lauren estava usando sua energia, ela estava fazendo o mesmo que as pessoas do véu faziam com Mason, mas ao contrário desse cara, Mason aceitava ser usado dessa forma. E ambos eram usados de formas diferentes.
— Você é um caído?
— Ah, você não encontra muitos caídos? — Ele perguntou, sarcástico — Prometo que não sou mal, mas não prometo que sou totalmente bom.
Confusa continuei olhando para ele e o mesmo sorriu, seus lábios largos mostrando dentes bem alinhados.
— Qual é o seu nome? — Perguntei.
— Ah, agora você vem me lembrar disso? Eu ainda estou magoado por não me reconhecer depois de tantos anos. Eu sei que faz um tempo, mas minha beleza é inesquecível, não? — Ele perguntou, inclinando-se para a frente e apoiando os cotovelos nos joelhos.
— Quando nos conhecemos?
— Em 1811? — Ele perguntou de volta — Ah, esquece. Meu coração não vai aguentar se você dizer que não se lembra de novo. Vamos ao mais importante da noite... como está a soltura dos anjos?
— Eu queria salvar os seres do mundo da Ilusão primeiro...
— Não, não isso está errado. Pelo menos eles ainda estão no lugar onde pertencem, mas os anjos não são bem-vindos onde estão. — Ele falou, olhando sério para mim — Vá atrás do feitiço para abrir os portões do inferno e tirá-los de lá, depois com a ajuda deles você pode destruir aquela prisão... Lauren não vai baixar a guardar mais uma vez.
— Mas eu não tenho força o suficiente para um feitiço grande...
— O que fazemos quando não conseguimos fazer sozinhos? — Ele perguntou, com um dedo levantado como se uma placa com a resposta estivesse sobre sua cabeça, mas quando pensei em responder ele continuou: — Sei que é inteligente e vai pensar nisso, então não demore para tirar eles de lá.
Aproximei-me novamente dele, dessa vez sem interrupção.
— E vocês na prisão? Vão ficar bem?
— Eu não pretendo ficar muito tempo por lá, agora que eles não me usam mais eu consegui repor muito da minha força e posso fazer uma saída triunfal. Não sei quando, sou bem imprevisível então se prepare para receber mais alguns fugitivos.
Ele conseguiria mesmo fugir da prisão da Lauren sem ajuda? Há um mês eu só tinha conhecido Daimen de anjo caído e agora o número aumentou para outros quatro, mas eu ainda não sabia o que eles podiam fazer e quais eram seus poderes. Fortes e de boa aparência eu sabia que eram características comuns entre eles.
— Acho que está na sua hora de ir — Ele disse, levantando-se da rocha e caminhando até mim — Ah, como eu queria um cigarro e um scotch...
Antes que eu pudesse perceber após ele dizer o nome da bebida eu me lembrei do seu nome e quem ele era. Scott Lamurg. No funeral de Nathan, eu estava caminhando pelas lápides tentando evitar olhar para todas aquelas pessoas paradas ao redor do caixão quando ele apareceu ao lado de uma estátua de anjo. Eu não fazia ideia que ele fosse realmente um anjo.
Eu continuei caminhando como se ele não estivesse na minha frente, mas por algum motivo eu levantei a cabeça. Ele não sorria, mas seus lábios e olhos pareciam me encarar com um pesar completamente desconhecido como se estivesse ciente da dor que eu sentia.
— Você veio visitar alguém? — Perguntei.
— Meu irmão veio ao enterro de um amigo — Ele respondeu, levantando a mão para me cumprimentar — Sou Scott Lamurg.
— Atelina Piierce.
Depois seus olhos esmeraldas se encheram de uma calidez confortável.
Scott se aproximou de mim e segurou minha cabeça entre suas mãos quentes, ele abaixou a cabeça e inclinou a minha para trás, como se estivesse nos preparando para um beijo. Eu estava tão imersa na lembrança que não tinha percebi suas ações, mas assim que notei tentei me afastar.
— Calma, não vou fazer nada com você. Você já tem problemas demais com homens e eu não quero me envolver nisso. — Ele disse, olhando-me nos olhos — Vou mandar você de volta.
— Scott, por que sumiu tão de repente depois que nos conhecemos?
— Ah, então você se lembrou? — Ele esboçou um sorriso torto — Não foi minha culpa, talvez se o Kennedy tive feito bem seu serviço eu não precisasse abrir mão de você mais uma vez...
Franzi o cenho confusa e sem saber o sentido de suas palavras.
Kennedy não era o sobrenome de Daimen? Então eles se conheciam? Mas como assim Scott teve que abrir mão de mim?
Olhando mais uma vez para ele para perguntar, vi seu rosto se contraindo em uma carranca brava. Ele realmente não queria lembrar disso e ainda sussurrava outras coisas baixo para que eu não pudesse ouvir.
— Ah, isso não é justo! Eu estava destinado antes de você... — Ele falou mais alto consternado e só depois voltou a atenção para mim — Boa sorte, Atelina. Não se esqueça os anjos não são bem-vindos onde eles estão.
Concordei e antes que eu pudesse perguntar sobre sua frustração eu fechei os olhos automaticamente como se tivesse sendo empurrada contra o ar e jogada de volta para o chão onde a barraca estava. Deb estava do meu novamente e embora parecesse que não tivesse passado nem meia hora, já era de manhã e o sol estava nascendo.
Levantei do chão, caminhando até o lugar da fogueira. Peyton estava sentado acordado, sem parecer estará cansado como sempre, mas Luke parecia prestes a cair no sono, seus olhos piscavam rapidamente e as vezes permaneciam fechados por um longo tempo.
— Luke, pode ir dormir. — Falei, surpreendendo ambos.
— Ok, mais tarde pode me acordar para ir com a Deb ao mercado? — Ele perguntou, levantando e quase correndo até a barraca para dormir.
— Tudo bem, agora vai — Falei, acenando enquanto se afastava.
Sentei ao lado da fogueira quase apagada, o silêncio dominando o espaço ao redor de nós. Meu próximo passo era, de acordo com Scott, salvar os anjos. Eu não sabia qual feitiço usar, talvez Val soubesse. Mas a questão que mais me preocupava era como eu faria o feitiço quando eu não tinha forças suficiente.
Eu poderia desmaiar durante o feitiço e ele seria interrompido, tudo que fosse usado para a preparação seria usado em vão e desperdiçado...
"Sei que é inteligente e vai pensar nisso."
Mas como? Eu não conhecia nenhuma outra bruxa em Falls Stay que poderia...
Rebekah.
Na verdade, eu conhecia uma outra bruxa, só não me lembrava dela. Eu não a via desde antes de morrer e mesmo que eu tendo voltado há uma semana ainda não tinha visto ela. Ela ainda não sabia sobre eu ter voltado? Ou não acreditou quando alguém contou para ela?
Ela era uma amiga querida, e me ajudaria se eu pedisse como fez da outra vez quando fui até sua casa atrás de livros de bruxaria com Daimen.
— Você não costumava ficar tão imersa nos seus pensamentos. — Peyton comentou, chamando minha atenção.
— Antes eu não tinha a vida de tantas espécies sobre minhas mãos — Falei precipitadamente, me arrependendo em seguida — Desculpa, eu falei sem pensar. Eu só acho que não posso me dar ao luxo.
— Tudo bem, eu sei — Ele respondeu sem jeito.
Depois o silêncio voltou, até Deb chegar e Peyton se despedir para ir dormir.
Voltei aos meus pensamentos de antes e planejando ligar para Rebekah quando tivesse a chance, mas primeiro eu teria que deixar tanto a vidente quanto as espécies no acampamento cientes da minha decisão e o motivo de ter desviado meu caminho. Mas Scott realmente tinha razão.
Lauren não baixaria a guardar e talvez até mesmo ameaçaria fazer mal a alguém que eu me importava. Todos deveriam ficar atentos. Além disso, pelo menos Sophie não seria inserida nessa guerra sem querer, algo pelo menos eu pude evitar mandando ela para outro estado.
Sentada ainda de frente para a fogueira ouvi os passos arrastados e pesados da vidente. Ela tinha o costume de andar devagar e arrastando os pés para não tropeçar e isso realmente ajudava, Aretusa nunca trombou em ninguém graças a essa ideia. Eu até poderia dizer que ela enxergava melhor que muita gente.
Ela se sentou ao meu lado, levantando as mãos na direção da fogueira querendo se esquentar, mas logo ela virou a cabeça na minha direção.
— Você parece preocupada, sua aura está uma bagunça de cores. Quer conversar? — Aretusa disse, analisando-me.
— Eu precisava mesmo falar com você. — Respondi, me virando na sua direção — Talvez meu plano de tirar todos da prisão tenha que ficar para depois, mas eu não vou fugir do que eu disse. Lauren sabe que eu tirei vocês e aumentou a segurança, então não será tão fácil tirar os outros de lá sozinha.
— Você não está sozinha. — Deb falou, da cozinha improvisada.
— Eu sei que vocês podem me ajudar, mas não quero colocar tudo nas costas de vocês três. É arriscado tentar entrar lá só com a ajuda de vocês, eu conversei com um amigo. Você conhece o anjo que está preso na cela da Lauren? — Perguntei, dirigindo-me a vidente.
Ela concordou apenas com um aceno de cabeça.
— Ele me disse que vai soltar algumas espécies quando for fugir, mas ele me aconselhou a salvar os anjos primeiro. E assim eu teria aliados para destruir a prisão de Lauren. — Expliquei como Scott disse e ela concordou — Mas eu ficarei aqui com os meus amigos até todos vocês estarem bem o suficiente para cuidar de vocês mesmos. Depois que os anjos estiverem soltos, voltaremos.
— Eu sei que vai cumprir com o que está dizendo, então falarei com as fênix e as thunderbirds, mas você tem certeza de que consegue salvar os anjos agora? É um feitiço grande abrir as portas do inferno.
Eu sabia disso, e realmente isso me preocupava. Porque eu teria que envolver mais dos meus amigos nisso, o que significava colocá-los em perigo. Eu não queria isso, mas até conseguir abrir os portões eu precisaria de mais pessoas para me ajudar.
— É mesmo, mas eu estava pensando em pedir ajuda de mais uma bruxa que eu conheço. Talvez a carga do feitiço sobre mim diminua.
A vidente assentiu, dessa vez aceitando a minha resposta. Esse era o único jeito de fazer dar certo. A missão era minha, mas eu não podia forçar sobre mim um poder que eu não tinha, pois, a situação requeria que eu fosse forte agora e eu só podia pedir ajuda para fazer.
— Qual bruxa? — Dabria perguntou, olhando para mim com olhos vigilantes.
— Eu só consigo pensar na Rebekah — Respondi, vendo a expressão no seu rosto se contrair como se ela tivesse chupado limão com a menção do nome dela. — O que foi?
— Eu sei que ela é sua amiga, mas toma cuidado com ela. — Dabria falou, sua voz ríspida. Isto era muito raro de acontecer — Ela não apareceu no seu funeral e nem no hospital quando você desmaiou. Mesmo que soubesse o que aconteceu com você ela simplesmente sumiu e depois apareceu como se você nem mesmo existisse.
— Talvez ela só não quisesse me ver morta e estivesse fingindo.
— Ela foi ver o Peyton no hospital depois que você morreu e desde o dia em que ele descobriu sobre você ela instigava nele uma vontade que ele não tinha como uma garota apaixonada. — Deb explicou, seu rosto super sério.
Dabria podia estar falando a verdade, mas eu não estava aqui para ver então só poderia concluir alguma coisa com meus próprios olhos. Eu nunca tive motivos para duvidar de Rebekah e eu iria pessoalmente pedir sua ajuda, então se ela esteve mentindo para mim todo esse tempo, eu saberia.
— Mesmo assim eu só conheço ela de bruxa e não vou envolver uma pessoa que eu não conheço. Vou tomar cuidado com ela. — Falei, aceitando que talvez ela tivesse razão.
Depois de concordar com o que Deb disse ela sorriu e voltou a mexer com as comidas na área feita para cozinhar, mas como Luke tinha avisado antes estávamos quase sem comida e Dabria precisava ir ao mercado. Eu não queria acordar Luke ele parecia muito cansado e Peyton tinha acabado de ir se deitar, sobrando apenas eu para ir com ela.
Contudo, esperamos um pouco mais antes de sair, aguardando a maioria das fênix e thunderbirds acordarem para que alguém ficasse de vigia e deixamos avisado que se um dos dois acordasse poderia tomar seus lugares na vigia, mas uma boa parte das fênix sabia se defender e havia alguns homens guerreiros do lado das thunderbirds.
Entramos no Jeep e fomos até o maior mercado que tinha na cidade, eu decidi carregar o carrinho enquanto Dabria pegava as coisas que precisávamos já que era ela que estava cuidando das coisas e as usava mais do que nós.
— Ah, eu acho que os medicamentos ficam para o outro lado — Ela sugeriu, apontando na direção que disse — Fique aqui, eu vou passar na parte da farmácia. Pegue algo desse lado se você quiser.
E assim ela se afastou, apressada.
— Não tenha pressa, vá com calma — Gritei para que me ouvisse enquanto ela diminuía o passo.
Andei mais uma vez pelos corredores na área alimentícia do mercado e encontrei uns amendoins coloridos que eu sabia que eram os favoritos de Luke, peguei dois sacos e joguei no carrinho. Voltei a andar, mas sem prestar atenção se tinha alguém na curva do corredor quase bati no carrinho de outra pessoa.
Procurei o dono do carrinho com os olhos.
— Desculpa, eu...
Travei na metade da frase. A mulher na minha frente olhou para mim com os olhos gentis e sorriso acolhedor, mas apesar de estar sendo legal comigo eu não conseguia ter outra reação. Ela tinha os cabelos longos que chegavam na altura dos seios e eles eram escuros, bem ondulados e volumosos. Os olhos eram tão negros quanto o carvão e a boca levemente cheia.
Era exatamente como...
Embora fosse falta de educação eu simplesmente abaixei minha cabeça e voltei para trás querendo fugir pelo corredor no qual eu tinha acabado de passar para me afastar.
— Ah, Atelina... — Ela chamou, a voz ainda mais gentil que seu rosto — Eu não consegui me encontrar com você, eu a estava procurando. Desde quando você voltou?
— Eu tenho certeza que você sabe quando foi. — Respondi, minha voz quase falhando.
— Tem razão, eu sei — Ela riu, tentando aproximar seu carrinho de mim, mas eu me afastei — Mesmo assim eu ainda estivesse procurando você, eu gostaria que viesse até minha casa para que pudéssemos conversar, eu realmente quero...
— Eu não quero conversar com você... — Falei, interrompendo seu convite — E eu não quero que você me procure e muito menos procure a Allyson, Cassandra.
Pela primeira vez o rosto gentil dela oscilou para um nervoso contido e ela respirou fundo, tentando manter a falsa gentileza intacta.
— Mas vocês são minhas filhas...
— Não somos suas filhas, você não nos criou para ter o direito de dizer o que somos — Eu podia dizer essas palavras sem demonstrar um pingo de dor, mas minha garganta se fechava toda vez que uma palavra saia da minha boca. — Minha mãe se chama Michaele e ela morreu.
Cassandra parecia estar nervosa, suas mãos presas ao carrinho tinham os nós brancos e avermelhados por causa da força que ela usava nelas.
— Você deveria dar uma chance para eu me explicar.
— E o que você vai dizer que eu não sei? — Perguntei, minha voz embargada — Você não me quis, não gostava de ficar comigo e se matou por causa do amor de um homem que não te amava... ou eu estou errada?
Ela olhou nos meus olhos e eu consegui ver as chamas de raiva florescerem como um jardim de flores durante a primavera.
— Ateh?
Ouvi a voz de Deb me chamando e soltei a respiração, aliviada.
Dei a volta com o carrinho indo na direção de Dabria sem olhar para atrás, mas a expressão furiosa de Cassandra ficou marcada na minha cabeça.
— Você pode ter sido uma mãe melhor do que eu, mas você não sabe como é a dor de ter que abrir mão daquilo que você ama. Talvez a sua dor seja maior que a minha quando isso acontecer com você. Meu neto foi criado a vida inteira por você, e como será que você vai se sentir quando ele se for?
Luke? Ela estava falando de Luke?
Luke não tinha meu sangue, mas eu não deixaria que nada acontecesse com ele.
Rapidamente olhei para trás, ela sorria. Apesar de estar ameaçando Luke ela sorria sem se importar com a dor que estava proporcionando em mim e por esse motivo ela não podia ser considerada minha mãe. Ela não se importava com a dor que sentíamos, não ligava para o amor incondicional que deveria existir, não ligava para nada além do que ela achava ser importante.
Ela queria se explicar, talvez contar toda sua história? Para que? Para que eu sentisse dó dela e assim desistisse daqueles que eu amava e me amavam como ela fez? Além da aparência eu não tinha nada parecido com ela e se fosse possível nem mesmo teria o mesmo sangue que ela.
— Se você encostar nele, eu vou ter o prazer de matar você e mandar de volta para véu. Não se aproxime dele e nem da Ally. Você não tem o direito de fazer isso.
— Aquele menino com o sangue dos anjos falsos, você deveria deserdar ele, como o Nathan fez...
— Não toque no nome do Nathan! — Falei, minha voz aumentando.
Cassandra sorriu mais uma vez, dessa vez com os dentes a amostra como se estivesse feliz com o resultado que suas palavras causavam em mim.
— Ateh... vamos — Deb disse, segurando no meu cotovelo e me puxando.
— Você virá até mim, Atelina. Pode não ser com um convite, ou porque você realmente quer me ver, mas você virá.
Dabria me puxou antes que eu pudesse responder ela e assim que nos afastamos na direção dos banheiros o bolo preso na minha garganta se soltou e eu não pude segurar o choro. Eu chorei alto e como se estivesse desmoronando agachei ao lado do carrinho.
Luke sumiu uma vez depois que eu consegui tirar ele da mãe biológica que o agredia e meu mundo desmoronou. Eu não podia perder ele de novo. Não para aquela mulher que tinha uma idealização de amor totalmente distorcida. Eu não deixaria.
Deb me abraçou e me confortou enquanto eu não parava de chorar, mas não demorou muito. Quando notei que Luke estava no acampamento longe de mim e que não sabia que estava correndo perigo eu limpei minhas lágrimas e decidi voltar o mais rápido possível para o acampamento.
CADÊ MINHAS ESTRELAS, CADÊ MINHAS ESTRELAS?? 🌟🌟🌟
Oi SERUMANINHOS, tudo bem? O que acharam do capítulo novo? E o que acharam do personagem novo chamado Scott? E da Cassandra? Essa mulher parece não ter sentimento algum pelos filhos, mas graças a ela vimos o quanto Atelina preza a sua relação com Luke.
Não esqueça de votar e comentar.
Beijos e abraços ❤️💖❤️
- Atel.
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