Capítulo 14 - A Vidente

   Deb concordou, aproximando-se de mim enquanto eu tirava o colar e passava para ela.

    — Você vai pelo espelho, só salte nele quando Val dizer que pode, ok?

   Dabria assentiu, Peyton atrás dela ajudando a colocar o colar. Ainda sentada no chão respirei bem fundo e soltei todo o ar, antes de começar a recitar as palavras que Val me ensinou. O ar ficou um pouco mais quente que antes e todas as chamas das velas aumentaram de tamanho, o vento aumentou lentamente, subindo em um leve rodopio de folhas que voaram na direção do espelho.

   A figura que o espelho grande que tinha sido comprado hoje, refletia era agora um lugar escuro. Peyton então tirou uma madeira com fogo da fogueira e entregou para Deb, se afastando em seguida.

    — Luke, pegue outro espelho que eu tenho na bolsa — Pedi e ele fez rapidamente — Dabria, carregue esse espelho até a cela da vidente e quando estiverem prontas e o espelho refletir esse lugar atravessem de volta.

   Apesar de já ter dois espelhos dentro da prisão, seria melhor que Deb levasse outro para evitar fazer a vidente ferida se esforçar demais.

    — Dabria, você já pode atravessar — Valentine avisou, baixinho.

   Deb fez como eu disse, atravessando o espelho com outro na mão e uma tocha para iluminar. Então desconectei o espelho da esquerda que ela atravessou e como um circuito elétrico conectei o que ela carregava ao espelho a minha direta.

    — Os dois se preparem, assim que ela atravessar vocês atravessarão o espelho da esquerda, um de vocês precisa levar Val também. Não se assustem por favor.

   Eles concordaram, Luke se colocando ao lado do espelho a esquerda e Peyton ao lado do espelho da direita esperando Dabria voltar. 

   Eu fechei meus olhos novamente me concentrando agora que tudo estava explicado e o resto era com eles. Eu precisava manter a ponte entre os lugares e podia perder facilmente a conexão se estivesse concentrada em outra coisa por muito tempo.

   Dabria não demorou e assim que atravessou o espelho com a respiração ofegante, reabri meus olhos e vi a vidente cansada apoiada no corpo de Deb. Peyton pegou o colar rápido mais com cuidado do pescoço de Dabria e foi até o espelho de Luke que eu havia acabado de conectar novamente com a prisão de Lauren.

    — Obrigada, muito obrigada. — A vidente sussurrou de longe, entre soluços que quase poderia ser confundidos com um choro.

    — Deb, tem um kit de primeiros socorros em uma das minhas mochilas. Cuide dos ferimentos dela e volte aqui depois.

    — Não precisa cuidar de mim agora, por favor se concentre nos meninos — Ela disse, refutando os cuidados medicinais.

    — Eu não consigo ver o que eles estão fazendo...

   Antes que eu terminasse a vidente se aproximou, lentamente e sentou ao meu lado englobando minha cabeça em suas mãos.

    — Feche os olhos.

   Fiz o que pediu e consegui ver Luke e Peyton chegando a sala onde ficava apenas as celas das duas espécies mais numerosas.

   Luke se aproximou da tranca da cela das fênix, conversou com uma delas e puxou uma das barras para o lado fazendo o ferro ir na direção que ele estava puxando, depois com a barra ao lado fez a mesma coisa abrindo um espaço que fosse possível para elas saírem. 

   Peyton que havia sumido por alguns minutos depois de chegar a sala voltou com ambos os espelhos que eu tinha colocado no corredor e o que Deb levou até a cela da vidente. Ele posicionou ambos na parede e apontou para os espelhos, explicando para as fênix já soltas o que deveriam fazer, elas então se aproximaram.

   Preparei minha energia conectada aos espelhos para receber um grande número de travessias e senti quando ambos os espelhos foram atravessados repetidas vezes e isso apenas drenava lentamente a minha magia.

   Com a outra cela também aberta, Luke e Peyton entraram lá dentro para ajudar as mães a carregarem as crianças, ou ajudaram uma pessoa mais de idade esperando com eles a fila diminuir e a vez de eles atravessarem chegar também.

   Mas como uma piscina de plástico com vazamentos, eu senti a magia se esvaindo aos poucos conforme a ponte ainda estava ligada aos quatro espelhos, causando pequenas rachaduras na superfície.

   Levantei um dedo na direção do espelho a esquerda, Dabria apareceu no meu campo de visão confusa.

    — O que foi? — Ela perguntou.

    — O espelho, faça eles... pararem de atravessar... aquele espelho — Tentei disser, minha voz falhando por excesso de esforço — Vai explodir!

   Dabria se assustou com minhas palavras e correu até o espelho fazendo sinais para eles se afastarem e se apressarem em atravessar o outro espelho que estava em condições melhores.

    — Mais rápidos, atravessem! — As fênix já desse lado, disseram.

    — Dabria!

   Assim que eu disse o último "a" do seu nome o espelho realmente explodiu, seus estilhaços voando na direção das outras pessoas que foram protegidas pelas asas negras de Dabria. Ela as abriu como um reflexo natural de seu corpo contra o perigo, mas isso não a impedia de se machucar.

    — Deb? — Chamei.

    — Eu estou bem, falta pouco. Preste a atenção no outro espelho.

   Concordei, mas não estava relaxada eu conseguia sentir o cheiro de sangue no ar que a brisa da noite trazia até mim. Entretanto, Peyton que atravessou há um tempo com uma pequena família e estava fazendo todos se afastarem por segurança, foi correndo ajudar Dabria e só assim consegui relaxar.

   Luke ainda estava do outro lado e uma pequena fila ainda estava na sua frente, eu precisava aguentar por todos naquela fila. Mesmo com a minha força de vontade, meu corpo estava implorando por descanso, eu sentia meu sangue começar a circular bem mais devagar como se dessa forma ele fosse parar a qualquer momento.

   "Aguente, Atelina!! Não pode parar agora. As fadas logo descerão para ver essas celas e você tem que terminar. " Ouvi uma voz dizendo na minha cabeça e fiquei momentaneamente confusa. 

   Daimen era o único que tinha esse poder, como ele conseguiu me dar apoio se estava no inferno? Ou talvez não fosse ele, mas então quem seria?

    — Luke, anda logo!!! — Peyton gritou, assustando-me.

   Quando olhei para cima, apenas Luke precisava passar. Aliviada, soltei o ar que tinha prendido sem perceber esperando Luke atravessar, mas ele se afastou do espelho sumindo repentinamente.

    — Lu... Luke! — Gritei, mas minha voz quase não saiu.

    — Atelina, não desvie a atenção do feitiço.

    — Não dá... Luke!

    Então como um aviso do quanto de energia me faltava o espelho trincou, meu coração saltou no meu peito e eu estava prestes a desmaiar com a visão borrada e o cansaço sobre meus ombros. Luke era meu filho e eu não podia deixá-lo do outro lado.

   Eu tinha colocado ele nessa e graças a mim sua vida estava em perigo. Senti algo escorrer pelo meu rosto e logo o gosto de ferrugem apareceu na minha língua. Isso significava, não...

   O último espelho explodiu completamente e os estilhaços voaram, mas dessa vez não consegui ver quem acertou e eu não tinha certeza se Luke tinha atravessado para esse lado. Eu não pude segurar e manter o feitiço por mais tempo. Meus olhos fecharam sem que eu pudesse evitar, meu nariz sangrava e eu não conseguia me mexer sentido como se meu corpo fosse o objeto mais pesado do mundo.

§ § § § §

   O canto dos pássaros por mais baixo e suave que fosse me acordou na manhã seguinte, mas além deles eu ouvia risadas e vozes ao redor de mim. 

   Abri os olhos e tentei me sentar dentro da barraca que Deb e os meninos tinham montado. Senti dores por todas as partes do meu corpo, então permaneci sentada por um momento.

   Os sons se tornando mais altos e nítidos.

    — Deb está chamando para comer! — Era a voz de Peyton — Ela vai acordar logo, a vidente disse que ela só se sobrecarregou.

    — Foi minha culpa, então vou esperar ela acordar.

   Luke? 

   Sem me importar com a dor que sentia no meu corpo joguei meu corpo pela abertura da barraca, procurando encontrar eles ainda próximos a barraca conversando, a vontade de ver se realmente Luke tinha conseguido sair do espelho transbordando.

   Apareci entre eles, Peyton se assustou e arregalou os olhos.

    — Com pressa para ir a algum lugar, Piierce? — Ele esboçou um sorriso torto.

   Olhei para o outro lado e antes que eu encontrasse o rosto de Luke, ele já tinha me englobado em um braço aconchegante e quente.

    — Mãe, me desculpa por ontem!

   Eu não culpava ele, mas estava muito aliviada e feliz de ele estar bem e que tinha conseguido passar para esse lado antes de todo o feitiço ir por água a baixo, literalmente.

    — Tudo bem, o que importa é que você está aqui.

   Assim que nos afastamos as dores voltaram ainda piores que antes e eu acabei, segurando um xingamento que quase escapou pelos meus lábios.

    — Você só precisa descansar — Ouvi a voz de Val, vindo do meu pescoço.

   O colar estava no lugar de sempre.

    — Obrigada, Val! — Como de costume passei a mão pelo colar, lembrando do outro que eu tinha e que agora eu não sabia onde estava.

   Aquele colar apesar de me trazer paz por ter sido entregue a mim por Nathan, fora criado por Cassandra e talvez nem tenha sido feito verdadeiramente para mim. Ele também ajudou ela a voltar a esse mundo. Em comparação, o colar de Val era muito mais confiável.

    — Você deve estar com fome — Peyton comentou, afastando-me de meus pensamentos — Dabria fez o café.

   Deb! Ela tinha se machucado na noite anterior e provavelmente ficou o tempo todo ajudando as fênix e thunderbirds enquanto estive dormindo.

   Engoli a dor e levantei do chão, seguindo Peyton até o lugar onde estava montada a fogueira. Passamos por vários grupos de pessoas que conversavam alegremente, eles acenavam com a cabeça e sorriam quando nos aproximávamos.

   Eu estava feliz por ter realmente conseguido concluir uma missão desde o dia em que voltei a vida. Isso parecia ser um bom começo, mas ainda tinha muito o que fazer, descansar até minhas forças voltarem era um atraso estressante, mas necessário. Uma vitória, pelo menos era melhor do que nada.

   Quando chegamos ao lugar onde Dabria estava, eu vi que era o lugar onde mais tinham pessoas. Algumas mulheres mexiam a panela sobre o fogo, enquanto conversavam, outro grupo estava ao redor de uma fogueira maior e Deb fazia os curativos naqueles que precisavam.

   Luke passou ao meu lado e a primeira coisa que fiz foi acertar um tapa em seu braço. Ele se assustou e cobriu a área, confuso.

    — Você não precisava estar na frente da minha barraca, deveria estar ajudando a Dabria! — Adverti, furiosa.

   Deb estava machucada e mesmo assim não parou.

    — Não tem problema, ele ajudou no início — Dabria falou, defendendo Luke.

    — Mesmo assim! Você pelo menos descansou? — Perguntei.

    — Eu? — Ela perguntou de volta — Eu estou bem, mas você devia descansar um pouco mais.

   Encarei aqueles olhos verdes esmeraldas dela por um tempo, mas Deb não cedeu ao meu olhar como também não tinha cedido ao cansaço.

    — Atelina?

   Com o meu nome sendo chamado, desviei minha atenção de Deb e olhei para a vidente sentada próxima a fogueira. Sua mão machucada agora estava enfaixada em ataduras limpas e suas roupas não eram mais um trapo sujo.

    — Eu me sinto mal por não saber seu nome ainda — Falei, aproximando-me do seu assento.

    — Ah, me chame de Aretusa.

    — É um prazer finalmente poder me apresentar a você — Eu disse, sorrindo.

    — Igualmente, garota das 12 chaves.

   Mais uma vez ela estava comentando sobre as 12 chaves, mas eu realmente não fazia ideia do que eram e o que eu poderia fazer com elas.

    — O que são as 12 chaves? — Peyton perguntou, entregando uma tigela de sopa para mim e apontando para que eu me sentasse ao lado de Aretusa.

    — É um amuleto, dividido em 12 partes — Ela disse, percebendo que ninguém sabia sobre esse amuleto — Há muito tempo um Anjo no céu conhecido por ser O Anjo Criador, criou esse amuleto. Ele fazia testes escondidos do céu e procurava encontra a espécie perfeita, pois todas as espécies na terra tinham seus pontos fracos. Então estudando as espécies ele decidiu escolher as que mais combinavam e apesar de anularem umas as outras em alguns aspectos ele viu que isso talvez fosse bom. Um vampiro, pode ser morto pelo veneno de um lobisomem e um lobisomem não tem uma vida muito longa.

   Olhando ao redor, percebi que todos que antes faziam outra coisa agora tinham sua atenção fixada na história da vidente.

    — Mas juntos esses pontos fracos não existiriam. Eles seriam anulados. Então ele criou uma chave para essas duas espécies e elas juntas criariam um híbrido imune a seus pontos fracos. Separadas as chaves também eram úteis, elas poderiam mudar a espécie original de um ser.

    — Quer dizer que se eu usasse a chave lobo em um vampiro, eu mudaria a espécie dele para um lobisomem sem problemas? — Luke perguntou, ajudando Dabria a enfaixar uma pequena criança.

    — Exato, mas ele não parou apenas nos vampiros e lobos. Ele também criou uma chave fênix, demônio, anjo, bruxas e thunderbirds. As espécies que ele determinou que combinavam ao seu ver e que poderiam se anular. Mas o fato de esse amuleto ter sido descoberto deixou ele muito apreensivo com a facilidade de qualquer um poder usá-lo como quisesse. Então ele criou outras chaves para dificultar o manuseio do amuleto. Essas chaves eram: mudança, proteção, união, controle e a chave líder. Sendo assim, se quisessem mudar a espécie de alguém não era preciso ter todas as chaves com o nome de espécies, tendo apenas essas 5 chaves mais a espécies que deseja mudar daria certo.

  — Por que disse que a Atelina é a garota das 12 chaves? — Peyton perguntou.

   Essa não era a primeira vez que ela falava, na primeira vez ainda estávamos na cela de Lauren e Aretusa disse que eu tinha os olhos das 7 espécies. Antes não fazia sentido, mas agora ficou mais sem sentido ainda. Eu nunca ouvi falar das 12 chaves e nunca as vi. Mas simpatizei com o que ela tinha dito porque eu tinha duas chaves, ambas tinham os nomes dos meus pais.

    — Você já encontrou uma chave? — Aretusa dirigiu a atenção de seu rosto sem olhos na minha direção como se tivesse olhando para mim.

    — Eu não tenho certeza, mas como seria possível eu encontrar essas chaves?

   Ela então desviou seu rosto de mim e sorriu, olhando para o espaço vazio a sua frente.

    — Você tem que merecer. Quando o Anjo criador foi descoberto ele entregou seu amuleto para uma anja guardiã e ela desceu a terra com as chaves unificadas. Dizem que ela vagou por anos com as chaves e as deixou pelo mundo, mas eu acredito que ela as entregou ao mundo espiritual do véu para que assim eles fossem responsáveis por entregar apenas a pessoa que merecesse.

    — Como uma pessoa pode ser merecedora? — Deb perguntou — E quanto de poder um ser que as usou teria?

    — Eu não sei como ser merecedora, mas imagine um ser que teria o poder dessas 7 espécies e sem um único ponto fraco. O quanto de poder você acha que ele teria?

   Não era preciso pensar muito, estava óbvio que era muito poder. Um poder que transformava um ser em algo quase indestrutível.

   Mas se as chaves só aparecem quando se era merecedor, as chaves que eu tinha com o nome dos meus pais não faziam parte das 12 chaves? E se elas fizessem, porque eu as encontrei tão facilmente?

    — É algo inimaginável, né? — A vidente perguntou, tirando todos de seus pensamentos.

    — Você tem razão, é inimaginável — Falei o que todos estavam pensando.

   Depois disso achei que valia a pena pesquisar mais sobre as 12 chaves, eu não tinha a intenção de usá-las de forma inapropriada e nem por satisfação própria, mas para que dessa forma eu conseguisse o poder que eu precisava para conseguir salvar os anjos.

   Eu confiava na minha capacidade de fazer as coisas, mas não confiava na quantidade de magia que tinha em mim para isso. Eu podia meditar todos os dias daqui para frente para canalizar da natureza, mas o fato de ter me tornado bruxa há apenas alguns dias não me dava o suporte necessário. Ontem apenas por manter um feitiço por mais tempo eu quase entrei em colapso.

   E eu tinha certeza que o feitiço para salvar os anjos era parecido com esse, pois eles atravessariam uma passagem que eu precisava criar. O que eu iria fazer se apenas alguns conseguissem passar? Isso apenas confirmaria o que pessoas como Keilan pensavam sobre mim e meus poderes.

   Talvez com o poder das 12 chaves eu pudesse não só salvar os anjos, como também poderia mandar Cassandra sem problema para o véu e acabar com a facção extremistas de bruxas.

    — Para você.

   Olhei para cima procurando pela a dona da voz, uma menina pequena de uns 6 anos mais ou menos tinha nas mãos um buquê de flores silvestres estendido na minha direção. Ela sorria constrangida e com um pouco de medo.

    — Obrigada — Agradeci, pegando o buquê.

   Assim que peguei o buquê a menina saiu correndo até a mãe e se escondeu atrás das pernas dela, apenas com os olhinhos a amostra.

    — Ela quis agradecer por ter nos salvado. Na verdade, todos nós queremos — A mãe falou, acariciando o topo da cabeça da filha ainda escondida.

    — Temos uma dívida com você, Atelina — Aretusa acrescentou.

    — Não, que isso. Só espero que vocês fiquem bem. — Falei, segurando o buquê bem firme na minha mão — Amanhã farei um feitiço de proteção, então tomem cuidado e não vão muito longe.

   Todos concordaram, balançando suas cabeças. Eu estava orgulhosa deles, eu pensei que seria difícil lidar com essas duas espécies aqui fora, mas elas estavam me ouvindo bem mais do que parecia ser possível quando eu fui até a cela fazer o acordo com elas.

   Entretanto eu também precisava ajudar, depois de comer o almoço eu fui ajudar Dabria e os meninos. Eles tinham montado uma barraca para fazer atendimento médico em todos que precisavam e também juntaram uns galhos das árvores para criar uma área de tratamentos graves.

   Pelo o que acabamos ouvindo Lauren havia prendido eles por último, ambas as espécies sabiam se proteger então lutaram bravamente até que Lauren apelou para a ajuda que ela tinha do grupo de bruxas e conseguiu encurralar as fênix. Logo depois foi a vez das thunderbirds que caíram na mesma armadilha que as fênix.

   Alguns grupos conseguiram escapar, pois assim que descobriram que estavam sendo caçados eles se dividiram. Por isso a quantidade, apesar de serem as espécies com maior número de seres na prisão de Lauren, ainda era pequena para classificar uma espécie inteira. Esse também era o motivo de ter mais mulheres e crianças do que homens nas thunderbirds.

   No caso das fênix isso não fazia diferença, porque a espécie era composta na maioria de mulheres e elas eram todas lutadoras e guerreiras.

   Ajudei a dar banho nas crianças, depois busquei com Peyton um pouco mais de água para os tratamentos que Dabria estava fazendo, usando o kit de primeiros socorros que eu trouxe. 

   Mas quando anoiteceu e a maior parte das coisas estavam organizadas peguei meu livro de feitiços e as anotações e me sentei ao redor da fogueira com Valentine. Ela sabia muitos feitiços de cor e as vezes era melhor do que um livro.

    — Val, você já tem ideia do feitiço que vamos fazer de proteção? — Perguntei.

    — Vamos precisar de algumas ervas para fazer o incenso de proteção, depois vamos usar as árvores para ligá-las e criar um domo de proteção.

    — Quais ervas? Eu trouxe algumas, mas talvez não sejam as que precisamos.

   Valentine falou todo o feitiço e as ervas que eu precisava e como supôs não havia todas no saquinho que eu trouxe comigo. Então Luke se ofereceu para ir até a cidade e comprá-las enquanto forçávamos Dabria a ir descansar, ela havia ficado quase todo o dia em pé trabalhando e a noite anterior inteira, então era óbvio que ela precisava descansar.

   Ficando apenas Peyton e eu acordados, eu ainda ao lado da fogueira em posição de lótus canalizando a energia que podia para repor o mais rápido possível para usar na manhã seguinte. Lauren com certeza estava planejando fazer alguma coisa com as espécies desaparecidas e eu podia apenas colocar um dia de folga entre nós até que ela viesse atrás de todos.

   Peyton segurava um graveto na mão e mexia no fogo de tempos em tempos e embora eu mantivesse meus olhos fechados eu conseguia ver as chamas dançando por causa da luz sobre minhas pálpebras.

    — Quando estava no véu, você viu o Nathan? — Peyton perguntou, a pergunta foi tão repentina que respondi apenas com um aceno de cabeça — Ele com certeza estava bem, Nathan sempre se adaptou muito bem a qualquer situação.

    — Eu tenho que concordar com você dessa vez.

   Quando nos tornamos anjos falsos, Nathan se tornou um tutor enquanto Ally e eu apenas estudávamos. Peyton foi seu aluno por muitos anos antes de Nathan morrer e foi dessa forma que conheci Peyton, mas para mim ele era apenas um moleque que vinha de uma família rica sem dificuldade.

   Contudo, ele foi atrás de mim após a morte de Nathan e eu ter enlouquecido. Eu sabia que ele estava atrás de mim por causa dos conselhos de Anjos Falsos e de Vampiros, mesmo assim eu decidi acreditar nele e foi dessa forma que eu me apaixonei por ele.

    — Você sente falta do seu namorado? — Outra pergunta que eu não esperava.

   Não gostava de falar sobre Daimen, não achava certo ficar supondo o que ele falaria para mim quando me visse de novo e supor apenas me deixava ansiosa e preocupada, por isso tentava evitar e fugir dessas perguntas. Porém, eu sabia também o que Peyton estava fazendo.

   Ele estava aproveitando a situação para saber o que eu ainda sentia por Daimen e ter certeza se tinha ainda uma chance. Nesse momento, eu particularmente não sabia se ele tinha uma chance.

   Mas respondendo a pergunta sobre Daimen, eu sentia a falta dele sim. Há um mês eu sentia que podia amá-lo, e minha morte fez com que isso fosse adiado, mas no meu coração algum sentimento eu tinha por ele. Um sentimento que eu não sabia explicar. E embora ele fosse um homem de quase dois metros eu queria protegê-lo e ter ele ao meu lado, mesmo que isso me doesse e eu me machucasse.

    — Então? — Peyton instigou.

    — Não sei, Peyton — Menti, agradecendo por ainda estar de olhos fechados — E não chame ele de meu namorado, ele deve me odiar agora.

    — Mesmo que ele odeie você por causa do que fez pelo James, eu fico agradecido. Não tive a chance de agradecer antes, então muito obrigado — Ele falou, sua voz carregada de sentimento — Apesar de não ter gostado de você ter dado sua vida.

    — Ah, mas você estava tão feio parecia me implorar para salvar você — Falei, tentando descontrair a conversa triste que ele havia iniciado.

    — Sério, eu estava tão ruim assim? — Ele perguntou, sua voz mais suave e brincalhona do que antes.

   Abri os olhos novamente, olhando diretamente na sua direção e apesar da voz seu sorriso ainda tinha traços de tristeza recente.

    — Peyton, nenhuma garota olharia para você naquela situação. Elas passariam longe, então por favor se cuide.

    — A única garota que eu queria chamar a atenção já estava olhando para mim. — Ele rebateu minha piada, deixando o ar entre nós carregado.

   Seus olhos escuros encontraram os meus e eu não consegui fugi fechando meus olhos a tempo, pois antes que eu pudesse pensar em fechá-los seu olhar havia se prendido ao meu. O olhar queimando, não só por causa das chamas que dançavam no seu rosto bonito, mas pelo sentimento presente.

    — Então... que bom para você — Eu disse, tentando acabar com o clima.

    — Que bom nada, não pude fazer muita coisa com minhas mãos ou até mesmo com a boca servia, mas não fiz. — Ele disse, mais uma vez cortando o que eu queria fazer. — Que desafortunado eu sou.

   Peyton foi o primeiro a desviar e quebrar o que havia entre nossos olhos e assim que o fez, voltou a olhar para a fogueira, o vestígio de que havia um sorriso triste em seu rosto sumindo completamente. 

   Eu sorri também, mas disfarçadamente para que ele não visse e voltei a fechar os olhos esperando Luke voltar para que eu fosse dormir.

CADÊ MINHAS ESTRELAS, CADÊ MINHAS ESTRELAS??? 🌟🌟🌟

Olá amorinhas, como estão?? Esse capítulo foi grande e descobrimos o que são as 12 Chaves do título dos livros, mas por que será que a vidente chama Atelina de garota das 12 Chaves? E será que Lauren vai mesmo mandar alguém atrás das espécies que fugiram? Essa conversa de Atelina e Peyton pareceu meio tensa né? Será que esse casal ainda tem uma chance?? Ou assim que Daimen aparecer todos os esforços de Peyton vão por água a baixo?

Não se esqueçam de votar e comentar. Nós vemos semana que vem!

Ah e sobre aumentar o número de postagem. Sinto muito anjinhos. Ainda estou lutando para postar esses em dia, espero que entendam 🙏🏻🥺

Amo vocês ❤️❤️❤️

— Atelina T. L. Silva.

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