Capítulo 11 - Um pequeno presente

    No momento em que ouvi essas palavras me endireitei na cama me preparando, eu já não sentia nenhuma das dores do dia anterior, tanta as feitas na mata quanto as que senti internamente. Mas não fazia diferença, eu estava esperando essa resposta para poder continuar meus planos e assim que ela dissesse qualquer que fosse sua resposta eu poderia me mover novamente. 

    — Então? — Perguntei, instigando. 

    — Eu ajudarei você e quero que você faça tudo aquilo que disse para me manter segura. 

   Isso significava que ela queria ir embora do estado. 

    — Ok, vou preparar as coisas — Lembrei do feitiço que eu estava pesquisando para tirar as espécies do porão de Lauren — Sophie, não quero apressar as coisas, mas me escute com atenção e faça isso o mais rápido possível sem erros e com muito cuidado — Falei, e ela grunhiu em resposta — Pegue um espelho, não muito pequeno, mas que dê para esconder. Leve lá embaixo nas celas e deixe ele na cela da vidente ruiva, fale para que ela o esconda. 

    — E depois, quando eu saio daqui? 

    — Não se preocupe, precisarei de dois dias para preparar tudo e assim que você estiver fora daí eu concluo o feitiço com o espelho. Não farei nada até tirar você daí, mas não deixe muito óbvio que você está fazendo alguma coisa, por favor tome cuidado. 

    — Ok, tudo bem. Então vou esperar. 

   Desliguei o celular e levantei da cama. Eu estava feliz! Poderia avançar para o próximo passo. Primeiro eu iria visitar a vidente para ter as informações que precisava, depois tiraria Sophie de lá e então poderia agir. 

    — Uma missão concluída. — Ouvi uma voz afeminada dizer e olhei para o colar ao lado da cama. 

    — Val? — Perguntei, olhando fixamente para não perder nada. 

    — Oi, Atelina. 

   O colar brilhava enquanto sua voz soava de cima da cômoda. 

    — Por que não me avisou que esse era o feitiço que estava preparando? 

   Ela grunhiu como se estivesse respirando fundo. 

    — Eu não queria que vocês se preocupassem com esse feitiço e você precisava se concentrar em tudo que Michaele estava ensinando. — Ela falou e mais uma luz fraca brilhou — Não se preocupe, eu estou bem aqui dentro e posso ajudar você, contanto que me leve junto. 

    — Eu agradeço, mas Val... — Chamei e ela grunhiu novamente — por que decidiu contar para Deb tudo sobre o véu? 

    — Eu pensei que isso incluiria ela nas pessoas que poderiam ajudar você, principalmente porque ela sempre é a primeira que você chama quando tem um problema. 

   Valentine tinha razão, Dabria era a primeira que eu sempre chamava, mas mesmo assim eu não queria envolvê-la nisso diretamente. Quando voltei ao colégio e ela teve que ficar comigo o dia inteiro para a minha proteção, eu me senti sendo uma intrusa porque ela não pôde estar com Brian, seu namorado. 

   Dabria nunca reclamaria, mas eu tinha certeza que no fundo Brian não gostava disso. 

    — Tudo bem, então. Mais tarde iremos atravessar o espelho até a cadeia de Lauren para escolher a espécie mais numerosa lá dentro. — Avisei, indo na direção do banheiro. 

    — Atelina, eu dei o feitiço a você, mas acho que deveria usar outro se for apenas dar uma olhada. Deixe esse para quando for passar matéria. 

   Matéria? Val quer que eu passe apenas minha alma agora, não seria arriscado? 

    — Por que, Val? 

    — Ao passar matéria você precisa usar muita energia e eu aconselho você a se abastecer bastante para passar as espécies depois. Então enquanto isso utilize esse outro feitiço simples que não precisa de tanta energia. — Ela fez uma pausa breve e logo continuou — Você vai atravessar apenas sua alma. 

   Quando se utilizava muita energia era indicado se fazer um círculo com velas para canalizar mais do ambiente, pelo menos foi o que li em um livro no véu e o lugar precisava ser aberto. Quanto mais ao redor, melhor para o feitiço dar certo pois a canalização era essencial. 

    — Ok, então quando formos transportar as espécies do espelho para o lugar que determinei eu vou ter que estar no lugar para fazer um círculo mágico? 

    — Sim, claro. 

    — Ok, mas ainda iremos hoje a tarde para a cadeia da Lauren. 

   Depois de decidir com Val qual seria o nosso plano nos próximos dias eu me lembrei que hoje era meu aniversário e que provavelmente algumas pessoas iriam querer me ver hoje. Então desci para o primeiro andar vestida e tomada banho, encontrando na cozinha um prato vazio escrito em melado "FELIZ ANIVERSÁRIO". 

   Mas além disso não havia mais ninguém em casa. Olhei a hora no meu celular e era tarde. Eu dormi muito além da conta. 

     — Ally? — Chamei, esperando por uma resposta que não veio — Oi, tem alguém em casa? 

     — Aqui atrás! — Era a voz de Kamila. 

   Com passos hesitantes fui na direção dos fundos da casa e assim que atravessei o vão da porta vi o aglomerado de pessoas atrás da mesa de piquenique que ficava nos fundos quase sem utilidade. A mesa estava enfeitada e sobre ela as letras penduradas formavam a frase antes desenhada no prato na cozinha. 

    — Feliz aniversário! — Todos disseram em uníssono. 

   Todos aqueles sorrisos encheram meu coração com uma alegria e um carinho reconfortante e eu me senti feliz por estar viva nesse dia. Apesar de estar aqui apenas por uma missão, eu ainda tive a oportunidade de ver todas essas pessoas que eu amava mais uma vez. 

    — Mãe, eu quero um discurso seu! — Luke disse, abraçando-me forte e aproximando-nos da mesa. 

    — Deb que fez o bolo, mas nós que escolhemos o sabor — Allyson explicou, apontando para o próprio peito e para Luke. 

    — Mas a decoração foi toda a mão! — Laura sorriu. 

    — Ah, me sinto lisonjeada. Obrigada. 

    — Os outros chegarão daqui a pouco para cantarmos parabéns, então espera só um pouquinho para comer. — Kamila falou, sorrindo com os olhos brilhante. 

   Laura cotovelou sua barriga, rindo. 

    — Deveríamos estar dizendo isso para você. 

    — Se eu esperei até Atelina acordar, por que não esperaria mais um pouco? 

    Apesar da inocência em suas palavras, todos a olharam como se ela tivesse me xingado e ela desviou o olhar se desculpando. Eu não consegui evitar rir um pouco. 

    — Marcamos mais tarde com os outros porque não sabíamos quando acordaria, mas decidimos marcar para todos virem até aqui para você ter a oportunidade de contar e explicar algumas coisas para todos. — Deb disse. 

    — Ok, tudo bem. 

   Eu não podia adiar mais essa explicação e assim que todos chegaram e cantaram parabéns para mim, sentei-me no meio de todos e contei uma versão enxugada do que disse no dia anterior a Dabria, excluindo que Cassandra era minha mãe e contando a todos sobre o acordo de ajudar os anjos. Não contei coisas sobre não ter certeza do que aconteceria comigo assim que a missão fosse concluída, nem contei que poderia ser perigoso. 

   Era perigoso e isso podia estar bem na cara, mas eu não queria esfregar mais ainda. 

   Com tudo esclarecido, cutuquei Ren para saber mais de como as coisas estavam nas suas tentativas de conquistas. Ren era bonito, tinha o cabelo comprido e uma barba que combinava mais com ele do que com Peyton, então estava sempre flertando. E falando nisso desde o dia em que apareci na escola e vi ele, Peyton parecia mais sereno e mais na dele. 

   Dessa vez não havia barba, não aquela grande de antes, mas uma barba bem rala e quase imperceptível. 

   Tudo estava perfeito e mesmo desejando que outras pessoas também estivessem aqui eu estava feliz por esse pequeno momento de descontração, mas quando a noite caiu eu me despedir e subi para trabalhar, dizendo que ia dormir. 

    — Val, está pronta? — Perguntei quando entrei. 

    — Vamos lá, Atelina. 

   Peguei de dentro do banheiro algumas velas perfumadas nunca usadas e acendi uma em cada cômoda, apagando a luz em seguida. Quando estava pronta para pegar Val na mão ela brilhou. 

    — O que foi? — Perguntei. 

    — Acho melhor eu ficar. Caso alguém entre aqui, você não pode ser interrompida quando sua alma estiver fora do corpo. 

    — Ok, tem razão. 

   Por isso eu devia ter ficado no apartamento de Daimen, além de ninguém saber onde ficava, lá tinha uma ótima visão da lua que eu poderia usar nos feitiços. 

    — Recapitulando, você vai conversar com a vidente para saber qual é a espécie mais numerosa na cela. Não escolha espécies problemáticas e difíceis de se adaptarem. Tente não sair sem conseguir algo. 

   Assenti rapidamente, concordando e acreditando que Valentine podia me ver de dentro do colar. Eu estava com medo, queria que ela viesse comigo. 

    — Boa sorte, Atelina. — Ela disse e eu me deitei na cama de braços e pernas abertos — Repita comigo: permitte me tristique mollis pennam quasi in speculo deliberatione. 

   Repeti as palavras, duas vezes seguida antes de sentir meu corpo caindo e em seguida eu ficar mais leve do que uma pena. Além do fato de o meu corpo estar tremeluzindo em um borrão claro, o lugar ao meu redor era outro. 

   Eu estava mais uma vez na prisão de Lauren, mas dessa vez eu estava do outro lado das grades bem no meio da cela da vidente e apesar de não querer me lembrar da situação de todas as espécies eu ainda podia sentir o cheio do lugar e a tristeza e dor de todos eles. 

     — Encontramo-nos mais uma vez, salvadora. 

   Olhei para trás, a vidente em seus panos velhos e corpo cansado estava encostada na parede com o espelho na mão. 

     — Por favor, apenas Atelina está bom. 

     — O que a traz aqui? — A vidente repousou o espelho atrás dela e fixou seu rosto na minha direção. 

    — Estou tentando ajudar vocês. Mas estou aqui para escolher os primeiros a sair comigo em dois dias — Falei, sentindo a expressão da vidente mudar, se ela tivesse uma — Eu tirarei os outros também, mas antes preciso tirar o maior número de uma vez. Então se puder me dizer qual é a espécie em maior número será de grande ajuda. 

    — Eu sinto muito, não posso ajudar — Ela levantou uma mão que sangrava no ar para que eu visse. 

   O olho que antes deveria estar ali não estava mais e as pálpebras fechadas choravam lágrimas de sangue. 

     — Meu poder foi reduzido a metade e realmente sinto por não poder ajudá-la. 

     — Me desculpe por não ter vindo antes. 

     — Não se culpe, agradeço por manter sua palavra e ter voltado. — Ela disse, largando a mão sobre o colo — Eu não posso ajudar, mas tenho certeza que alguma dessas espécies pode, ou você mesma pode olhar por si mesma. 

   Olhei para as grades de ferro e pensei que estava ferrada e que não conseguiria sair da cela, mas lembrei que eu era um tipo de projeção astral com poder para atravessar paredes e ferros. 

   Então andando pelo corredor escuro das celas com apenas o brilho que minha alma projetava contei as espécies em cada cela. Isso poderia levar a noite toda e eu não podia ficar muito tempo longe do meu corpo, por isso apressei meu passo e contei o mais rápido possível, xingando-me por não ter trazido um caderninho. 

     — Aqui só há um — O duende de olhos esmeralda disse quando me aproximei da sua cela. 

     — Mas se eu juntar com os outros são 4. 

     — Estou falando que só há um da minha espécie e isso se parece com uma ajuda, não? — Ele perguntou, sarcástico. 

     — Talvez, se você não estiver atrapalhando senhor espertinho. 

     — Eu ouvi que precisa de ajuda em relação a quantidade, mas se não quer minha ajuda então vou voltar a dormir... 

     — Espera! — Chamei, antes dele se afastar da grade. 

   Eu não sabia que duendes tinham uma audição boa, mas ele não estava mentindo. Eu precisava de ajuda. 

     — Por favor, se você souber qual é a espécie com maior número aqui, me diga. 

     — Já que fez um favor a mim e me respondeu da última vez irei ajudar você — Ele disse, esboçando um belo sorriso — Tem um andar sob esse, lá você encontrará duas celas. A cela das fênix e a das thunderbirds. Elas juntas formam a espécie mais numerosa presa aqui, mas elas precisam de alguém para liderar. 

     — O que quer dizer? 

     — Quero dizer que você precisa de alguém de outra espécie que possa ser uma mediadora entre elas, porque elas não se juntarão facilmente. 

   Olhei bem para o seu rosto, tentando entender o que dizia. Parecia que ele queria ir junto, mas no fundo também não queria. E além de descobrir que ele tinha um rosto bonito, não havia sinais de algo mais. 

     — Quer ir junto para mediar entre elas? 

     — Eu? Nunca. Eu não mediava nem entre meus irmãos, imagina mediar entre duas espécies onde a maioria são mulheres. Não, obrigado. — Ele riu, ele parecia estar falando sério — A sua amiga vidente parece ser seu achado perfeito. 

     — Não quer sair? 

     — Ah, mas é claro que quero. Mas não para fazer isso. 

   O duende era engraçado e sincero, mas eu tinha a impressão que ele não tinha esperança nenhuma e que simplesmente ficaria esperando a morte nessa cela se isso fosse mais fácil. 

     — Obrigada pela ajuda... — Esperei que dissesse seu nome. 

     — Nós nos veremos de novo, Atelina. 

     — É injusto, você saber meu nome e eu não saber o seu. 

     — Você sabe meu nome, só não se lembra. 

   Com isso o duende se afastou da grade lentamente se colocando na escuridão da cela e nem se eu estivesse perto o suficiente eu conseguiria ver ele de novo e como estava fora de questão perder muito tempo, deixei isso de lado e segui pelo corredor indo até o andar de baixo. 

   O último andar parecia como uma sala pequena como um porão, mas exatamente como o duende disse, havia duas celas. E a maioria das pessoas dentro eram em torno de quase 40 mulheres e uns 17 homens. 

   A cela onde só havia mulheres era com certeza a cela das fênix, pois a forma de reprodução de filhotes macho e fêmea era diferente tornando a concepção de um filhote macho mais raro e muito difícil de sobreviver. Então a maioria era mulher e quando morriam queimadas pelas próprias chamas entre suas cinzas deixavam outra em seu lugar. 

   As thunderbirds poderiam ser parecidas com as fênix na transformação, mas não havia mais nada de semelhante entre elas. Elas se reproduziam como os humanos, comiam como eles e até mesmo poderiam morrer como eles. 

   Aproximei-me das celas e deixei que o brilho astral inundasse ambas as celas, alertando todos de minha presença. 

     — Quem é você? — Uma fênix perguntou. 

     — Eu me chamo Atelina e estou aqui para ajudar vocês, mas precisam me ouvir antes. 

   Contei a elas sobre o meu plano de mandar ambas as espécies juntas para fora com a vidente como mediadora entre elas. Lá fora elas teriam que sobreviver até que Lauren fosse derrotada e eles pudessem voltar para o mundo da ilusão. Mas elas teriam que trabalhar juntas e aceitar as outras espécies que fossem soltas aos poucos. 

     — Como saberemos que não está nos enganando? — Um homem perguntou na outra cela. 

     — Não tem como, mas eu estou aqui para ajudar. Eu preciso salvar os anjos que foram mandados para o inferno e talvez eu precise da ajuda de vocês. Então será uma troca. 

   O silêncio inundou o lugar. 

    — Não precisam me responder hoje, voltarei amanhã. — Falei, virando-me para sair — Eu espero que escolham bem. 

   Com isso, voltei a cela da vidente falando que o plano a incluía e que ela sairia junto com ambas as espécies em dois dias. Ela aceitou de primeira.

ESTRELAS, ESTRELINHAS 🌟🌟🌟

Olá meus anjinhos, como vc estão? O que acharam do capítulo novo? Sophie decidiu aceitar ajudar Atelina, mas será que foi uma boa ideia? O que vai acontecer quando Lauren descobrir? E o que vcs acharam das fênix e Thunderbirds? Meio doido essas espécies, né? Principalmente as fênix que são em maioria mulheres, mas eu amei criar essa espécie. Já têm uma ideia de qual será a resposta delas? E Atelina contou a verdade para os seus amigos, alguns não apareceram na sua festinha saberemos os motivos depois.... 😏😏

Então comentem bastante, digam se estão gostando do caminho que estamos tomando e sei que o romance em si deu uma sumidinha, mas esperem que logo alguma coisa vem kkkk

Obrigada por estar lendo a continuação. Amo vocês ❤️❤️❤️

Tenho uma boa notícia, logo consigo resolver a questão do meu note e o tempo de edição será bem mais rápido e posso aumentar os dias de postagem.

Fiquem atentos nas conversas no meu perfil, talvez eu avise lá.

Votem, comentem e vejo vcs na próxima semana.

Beijinhos, Beijinhos.

- Atenas.

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