Capítulo 1 - Finalmente Morta
A luz que entrava no ambiente me despertou como um chamado e eu não via luz há tanto tempo que os abri no minuto seguinte para ter certeza de onde estava. Olhei direto para o lugar de onde vinha a luz, fazendo meus olhos desacostumados com a claridade protestarem. Havia uma cortina fina e clara na janela à frente meio coberta, ela voava com o vento que entrava com acompanhado do aroma de campo.
Analisei melhor o lugar, era um quarto infantil com brinquedos antigos e livros espalhados pelo chão de forma organizada, a porta do quarto estava aberta e eu estava sozinha, mas agradeci, pois pelo menos estava longe daquela escuridão assustadoramente gelada, úmida e que me torturava.
O som do lado de fora chamou minha atenção, era possível ouvir pássaros cantando e o vento batendo nas árvores que balançam lentamente, fazendo um barulho suave alcançar meus ouvidos não mais acusados como eram.
Enquanto ouvia os sons do lado de fora meus olhos vagavam pelos itens do quarto com mais atenção. As bonecas, os desenhos, os livros e até mesmo as camas colocadas de frente uma para a outra eram familiares. Contudo, só quando meus olhos encontraram um desenho de uma menina segurando uma boneca com ambos os nomes escritos no alto de suas cabeças que finalmente caiu a ficha. Allyson e Alexia. Era o nome que tanto Ally quanto eu, gostávamos de dar à nossas "filhas" bonecas. Agora eu sabia onde estava.
Eu estava em casa. A mesma onde fui criada, onde minha tia Michaele me ensinou coisas sobre bruxaria. O mesmo lugar que brigava com Allyson por causa do nome que queríamos dar a nossas bonecas; onde eu desabafava com tia Michaele sobre coisas femininas por vergonha de falar com Nathan e era onde conversávamos sobre a maior parte das coisas.
Sentei-me na cama e olhei com nostalgia para a árvore de galhos longos que quase invadiam o quarto batendo no mesmo lugar no vidro. Eu adorava usar esses galhos contra Ally quando ela aprontava e eu dizia que era o monstro da mentira, querendo levá-la embora.
— Você finalmente acordou — Ouvi uma voz vindo da porta, ela era calma, forte e naturalmente autoritária.
Eu nunca poderia me esquecer a quem ela pertencia.
Virei meu rosto na direção da voz, procurando avidamente o dono dela e quando o encontrei minha visão automaticamente embaçou com lágrimas.
— Nathan! — Levantei da cama, correndo de encontro com ele, meu irmão morto.
Seus braços me apertaram na cintura com uma força e um calor acolhedores.
— Eu senti tanto a sua falta, Atelina.
— Eu... também senti sua falta. Todo dia, sempre que me lembrava onde você estava — Falei, entre soluços.
Ele afastou meu corpo do seu, olhando nos meus olhos agora molhados. Lágrimas que não queriam cessar e que ele começou a limpar com seu polegar, as mãos quentes e macias.
— Ah, maninha não chora. Sabe que eu nunca realmente fui embora, né?
Assenti, segurando seus braços enquanto suas mãos apoiavam minha cabeça entre elas.
— Me desculpa, por favor... eu sinto muito ter ficado no seu pé até mesmo no seu último dia de vida. Eu fui egoísta em pedir para você lutar contra a dor, mas eu não estava pronta para deixar que você fosse embora.
— Eu sei, Atelina. Eu sei.
Então me aconchegou entre seus braços e acariciou meus cabelos para que eu finalmente me acalmasse. Nathan era exatamente como eu me lembrava com olhos castanhos escuros mais claros que os meus e seus cabelos eram escuros quase como o preto, mas a sua altura... eu não me lembrava de parecer tão pequena perto dele.
— Nathan? — Chamei, com a voz embargada — Sei que estamos na casa da tia Michaele, mas onde exatamente estamos?
— Estamos no véu, Atelina.
Nathan pegou na minha mão e me guiou para fora do quarto na direção dos fundos da casa. Tia Michaele adorava flores e ervas e havia tantas no jardim que parecia ilusão e havia também uma estufa que não existia na antiga casa. Além das plantas o jardim estava cheio de pessoas que cultivavam e conversavam entre si, rostos completamente desconhecidos para mim.
Quando Nathan parou, eu fiz o mesmo e esperei enquanto ele pegava em uma mesa no início do jardim uma cesta como as que os outros carregavam para depois entregá-la a mim. Então voltamos a andar para o lado mais vazio do jardim.
— Quem são essas pessoas? — Perguntei, quando estávamos afastados o suficiente.
— Seguidores. — Ele respondeu, vago — Existe grupos de bruxas, vampiros, lobos e outras espécies que estão aqui no véu, mas que não aceitam a morte, então eles formam grupos e tentando encontrar uma maneira de sair daqui... — Ele dizia, enquanto cortava uma rosa e notava meu olhar questionador — Nós fazemos parte do grupo que evita que isso aconteça.
— Alguém já conseguiu sair?
— Acho que Michaele vai preferir contar para você sobre isso. Vocês sempre estiveram juntas quando ela mexia com bruxaria, não vou tirar isso dela.
Era verdade, e eu me lembrava que Nathan odiava isso. Nossa aproximação e minha adoração pela minha tia, porque ele nunca chegou a considerar ela uma mãe para nós. Ele tinha sete anos quando nossos pais morreram, então lembrava mais que Ally e eu deles, não me admirava ele não querer outra pessoa ocupando o lugar deles.
— Vai gostar de saber que Michaele e eu nos damos bem agora... graças ao Mason. — Ele acrescentou, com os olhos bem fixos em mim para ter certeza da minha reação.
Nem passou pela minha cabeça encontrar Mason aqui. O pai que nunca conheci.
— Oi, Nathan! — Uma voz feminina cumprimentou ele, atrás de mim.
Olhei para trás, a mulher era simplesmente linda e seus cabelos longos, lisos e negros brilhavam a luz do sol. Ela sorria e junto com seus lábios, os cantos de seus olhos azuis claros se repuxavam.
— Oi, Val — Nathan devolveu o cumprimento, levantando para me apresentar — Essa é minha irmã, Atelina. E Atelina, essa é a Valentine.
— Oi — Cumprimentei.
— Olá! — Ela disse, seus lábios se esticando mais ainda — Nathan, vamos iniciar mais uma reunião e Mason quer você presente.
— Não posso deixar ela sozinha...
— Mason também quer ela lá.
Nathan se assuntou, seus olhos crescendo com a surpresa.
— Como ele sabe que ela acordou?
Valentine deu de ombros como se não soubesse e não ligasse para isso, Nathan então fez o mesmo e eu conclui que Mason era uma pessoa bem informada das coisas e conseguia saber de tudo que acontecia. Exatamente como Daimen fazia...
— Vamos lá, maninha. Você tem que conhecer nosso pai.
Eu segui Nathan para a estufa no final do jardim e Valentine ia na frente toda sorrisos e gentileza com as pessoas ali que a conheciam.
Não parei para pensar que eu conheceria meu pai em poucos minutos, na verdade, eu pensei que nunca o conheceria na minha vida e agora não sabia como reagir quando o encontrasse. Eu não queria que ele me abraçasse, nem me beijasse ou tentasse dizer o quanto estava feliz em me ver, não culpava ele por ter "tirado" sua vida. Ele tinha escolhido Cassandra aos filhos.
E mesmo assim eu não ressentia ele por tudo que tínhamos passado, mas eu não o conhecia e preferia ser tratada como uma pessoa desconhecida na qual ele quisesse conhecer e não uma que ele abandonou e agora quisesse recuperar o tempo perdido.
A estufa por dentro era um labirinto de vasos de flores e plantas, algumas cresciam tanto que se prendiam as paredes de vidro e se retorciam como trepadeiras. E no meio de tudo isso, eu acreditava que era no meio, tinha uma mesa extensa com lugar para dez pessoas. Ao redor da mesa formando um quadrado perfeito no centro da estufa tinha mesas e vidros científicos como se fosse um laboratório.
Já tinham pessoas sentadas nos seus lugares à mesa. E entre elas eu reconheci Mason. Meu pai. Ele tinha as mesmas características de Nathan, os olhos embora fossem mais claros tinham o mesmo formato e intensidade que os do filho e os cabelos em um corte parecido e da mesma cor davam uma aparência jovem a ele, mas Mason tinha barba. Uma barba rala e escura aparada perfeitamente no seu rosto bem marcado.
Seus olhos encontraram os meus e meu coração gelou. Era agora que ele ia correr para me abraçar? Pensei, mas eu estava errada, ele apenas piscou para mim e sorriu, assentindo lentamente como se estivesse me cumprimentando.
— Estranho — Nathan comentou — Eu jurava que ele estava louco para conhecer você.
— Mason sabe o que faz, Nathan — Respondeu Valentine, sorrindo.
Sentado na cabeceira da mesa, Mason desviou sua atenção de nós e se dirigiu as pessoas que estavam sentadas debatendo alguma coisa que eu não conseguia entender. Elas se calaram quando ele disse algo e olharam para nós. Nathan acenou e se aproximou do seu lugar na mesa.
— Hoje você pode sentar do meu lado. Dino não vai aparecer.
O lugar de Nathan era ao lado da cabeceira, o que significava que eu ficaria perto o bastante de Mason.
— Então quer dizer que ela acordou — A ruiva do outro lado falou, com um sorriso feroz nos lábios. — Agora podemos começar o que realmente interessa.
Olhei para Nathan curiosa para saber do que ela estava falando, quando outras pessoas passaram pelo final do labirinto se juntando a nós.
— Iam começar sem mim?
Levantei minha cabeça procurando pela mulher dona da voz estridente e com um leve sotaque italiano ainda presente na sua fala. Ela ainda era a mesma pessoa, tia Michaele, era bonita exatamente como da última vez em que a vi, apesar de que agora ela não aparentasse estar cansada como sempre estava por ter que arranjar dinheiro para criar três crianças que não eram suas. Seus cabelos escuros e cheio de cachos soltos balançavam enquanto ela andava, ela era muito baixa e magra também.
— Claro que não, sem Michaele a festa nunca começa.
As pessoas a mesa riram e Michaele olhou para o outro lado da mesa encarando o olhar de Mason, quase parecia que estavam brigando.
— Você acordou! Ah, minha menina... — Ela correu até mim e ainda em pé colou minha cabeça na sua barriga — Estou tão feliz em revê-la, pena você ter morrido para isso acontecer.
— Michaele? — A voz que a chamou era grossa e firme, e eu não tinha dúvidas de que Michaele tremeu ao ouvi-la — Vamos começar, tenho certeza de que Atelina quer saber o porquê de a chamarmos aqui logo no seu primeiro dia.
— Ok, entendi. Depois conversaremos, anjinha.
Assim que Michaele se sentou eles começaram a debater sobre alguns temas triviais e desconhecidos para mim, antes de eu entender o motivo de estar ali escutando tudo.
— Todos vocês sabem que uma das almas que residia o véu conseguiu sair e ir para o mundo dos vivos colocando outra alma no seu lugar. — Mason expôs o assunto seguinte — A alma fazia parte de um grupo extremista que tem contato com uma pessoa viva. Suspeitamos que essa pessoa seja poderosa o bastante para ter tantos seguidos que acreditam nela e estejam dispostos a arriscarem suas almas nesse céu feito para as espécies não humanas.
— Vamos direto ao ponto, como anda a situação lá em cima? — Valentine perguntou.
— Cassandra Piierce está mandando tantos os Anjos Caídos quanto os Terrestres para o inferno — Michaele disse da outra cabeceira — O processo consiste em queimar eles e sugar uma parte de suas essências de anjo, o suficiente para que ainda sejam anjos. É doloroso o processo para ambas as espécies e parece que ela escolhe a dedo que vai mandar.
Meu coração acelerava a cada palavra dita. Daimen era um Caído. Será que foi mandado como os outros?
— Akira, dê sua ideia — Mason pediu, olhando para a ruiva.
— Simples Mason, é só ir até lá e acabar com a raça daquela vadia.
O maxilar de Mason ficou tenso e ele pareceu respirar profundamente antes de dar uma resposta.
— Sinto muito, Akira, meus filhos fazem parte da raça dela — ele disse, simplesmente.
— E eu também! — Michaele protestou do outro lado — E a ideia é salvar os Anjos, trazer Cassandra de volta e descobrir quem está por traz de tudo isso.
— Valentine? Tem alguma ideia que não seja parecida com essa?
Valentine estava do outro lado da mesa ao lado da cabeceira de Michaele.
— Tenho, podemos mandar alguém de volta também, uma bruxa. Isso facilitará nosso contato com os vivos, para nos manter informados e ela nos ajudará a tirar os Anjos do inferno e mandar Cassandra de volta para nós.
Todos sorriram para ela ao terminar de contar como seria o plano e todos viam como era perfeito. Eu também achava que era perfeito.
— É uma boa ideia, Valentine. Escolheremos a bruxa, alguém daqui se oferece? — Mason perguntou.
Um silêncio estranho reinou na mesa, ninguém queria viver de novo?
— Eu! — Tia Michaele levantou a mão.
— Não, ela vai perceber que o que você quer. É a irmã dela, ela sabe que você faz parte desse grupo e será difícil para você se adaptar depois de tantos anos morta — Akira disse.
— Vamos pensar em alguém, mas por hoje é só. Podem voltar aos seus afazeres. Nathan, fique mais um pouco — Mason sussurrou para Nathan, o que significava que eu também teria que ficar.
Eles se levantaram e saíram pelo caminho do labirinto, menos Michaele e Valentine, incluindo Mason, Nathan e eu. As duas se aproximaram das nossas cadeiras. Michaele sentou ao meu lado e Valentine do outro lado de Mason.
— Desculpe-nos querida, você com certeza não entendeu muita coisa — Michaele sussurrou, pegando minha mão e a acariciando.
— Mais ou menos.
— Quando avisei você sobre Cassandra, ela estava planejando voltar a vida com a morte do seu amigo. Ela colocou aquelas memórias na sua cabeça apenas para manter você ocupada. — Mason explicou — Se você soubesse que ele estava morrendo você tentaria ajudar e isso atrapalharia os planos dela.
Agora fazia mais sentindo aquelas memórias e a aparição dos meus pais depois de muito tempo após ambas as suas mortes.
— Como exatamente funcionava a ligação? Eu li em um livro que fazia ela parecer um feitiço de troca.
— Sim, e era. Cassandra usou uma bruxa do outro lado para fazer o feitiço em vocês dois, depois vocês começariam a ter a aparência da outra pessoa — Michaele explicava dessa vez — Vocês estavam envelhecendo, porque Cassandra é velha e uma bruxa. Isso deixou seus corpos iguais o bastante para que ela trocasse a vida de vocês, mas ela nunca quis você. Ela queria trocar de lugar com o Peyton desde o início. Ele estava desesperado e era fácil de manipular.
Ela tinha razão, Peyton estava louco. Falava e agia de uma forma muito estranha desde que descobriu que Harley não podia ficar entre nós.
— Mas por que Cassandra?
— Você se lembra da casa pegando fogo de quando éramos crianças? — Nathan perguntou. Eu me lembrava dos pesadelos que tive por causa disso e com certeza Michaele e Nathan também lembravam. Concordei — Ela se matou porque um cara não correspondia seus sentimentos e Mason acredita que ela quis essa oportunidade para encontrar ele.
— Entendi — Falei.
Voltei meus olhos para a figura séria de Mason, eu sabia que ele não queria minha pena, mas eu não conseguia sentir outra coisa. Minha mãe, a mulher por quem ele abriu mão da própria vida também escolhera outra pessoa no seu lugar. E o que ele tinha feito foi em vão.
— Ah, querida eu não queria ver você nesse lugar tão cedo — Michaele sussurrou ao meu lado, enrolando um de meus cachos em seu dedo.
— Você deve se lembrar de quando a ligação começou — Nathan falou, olhando para o meu rosto confuso — Não se lembra de ter desmaiado ou passado mal, algo que não é normal para um vampiro saudável?
Então lembrei-me mais uma vez de Daimen e de quando nos beijamos pela primeira vez no meu quarto. Depois do beijo eu desmaiei e passei cinco dias de cama sem acordar, de acordo com Ally. Não tinha nada a ver com o beijo?
— Ally disse que eu passei cinco dias sem acordar, mas eu me lembro de ter sonhado durante esse tempo — Respondi, fazendo seus olhos brilharem de expectativa — No sonho um homem me deu um liquido e pegou meu sangue.
— Você teve um tipo de projeção astral — Valentine disse na minha frente — Quando acontece você lembra tudo que aconteceu e é possível dividir essa projeção com outra pessoa, mas se pegaram seu sangue possivelmente havia mais do que apenas seu espírito lá. Uma parte do seu corpo estava presente, talvez até que encontrasse a outra ponta da ligação.
Ela parecia entender muito dessas coisas, mas eu apenas ouvia sem entender absolutamente nada. Daimen e eu acreditávamos que a culpa fora o beijo e o sonho acabou quando...
— Com a outra ponta, você quer dizer o Peyton? — Perguntei, olhando nos seus olhos azuis — Porque o sonho acabou quando eu o vi e...
Cadê minhas estrelas, cadê minhas estrelas? 🌟🌟🌟
Oi, meus anjinhos. Estavam com saudades dessa história? O que vocês pensaram que ia acontecer com a Atelina depois do prólogo? E essas descobertas que todos estão explicando para ela, é muita coisa para assimilar? Muitas respostas do livro 1 foram respondidas e ainda tem muitas outras para sabermos.
Espero vocês todas as quartas com capítulos novos, não esqueçam de add o livro na biblioteca e me seguir para saber das novidades.
Amo vocês ❤️❤️❤️
- Atelina T. L. Silva.
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