Capítulo 9 - Acampamento

   Não havia ninguém perto da janela do meu quarto, mas eu tinha certeza do que tinha visto. Alguém estava no meu quarto e isso me assustava. Não era a primeira vez que algo estranho estava acontecendo comigo desde que cheguei em Falls Stay e isso era realmente estranho.

   Tranquei a janela, fechei a cortina e me deitei para dormir no escuro do meu quarto enquanto inventava algum pensamento que fosse evitar que eu sonhasse com Peyton novamente.

   Na manhã seguinte, levantei da cama cedo, o sol ainda não tinha nascido e a brisa gelada que entrava pela porta do meu quarto me instigava a voltar para cama, mas eu não tinha pegado minhas roupas para o acampamento e o ônibus sairia às 8h do estacionamento do colégio. E Allyson quem nos levaria para que o carro não ficasse no estacionamento até a nossa volta.

   Desci para tomar café e Ally estava na cozinha. Ela sorriu para mim com um olhar de consolo.

     — Você está bem? — Ela perguntou.

     — Sim. E obrigada.

   Seus olhos cor de âmbar se arregalaram, confusos.

     — Por ontem — Expliquei e ela assentiu.

   Quando Ally se aproximou com o carro do colégio avistei o ônibus de longe perto da rotatória e uma fila de pessoas se estendia dele. O professor White estava de frente para a porta controlando as duplas que entravam.

     — Sentem com seus parceiros e guardem bem esse mapa que estou entregando caso alguma coisa aconteça com vocês. Boa viagem.

   A fila começou a se mexer e aos poucos todos estavam no ônibus, eu ao lado de Spencer com meu mapa em mãos e os outros espalhados tentando guardar suas mochilas de viagem. Entreguei a minha para Ren e ele humildemente a guardou para mim no bagageiro, tentando impressionar Rebekah dessa vez que era sua companheira.

   Olhei ao redor assim que me sentei e o silêncio começava a reinar, só se ouvia a risada chata de Harley que ria alto no fundo do ônibus. Agradeci mentalmente por Spencer ter escolhido os bancos mais à frente.

   Não tinha muito o que falar com ela já que a conhecia fazia algumas semanas e não éramos nada além de colegas e nesse momento companheiras de viagem. Ela era muito reservada.

     — O que você trouxe para passar o tempo na viagem? — Ela perguntou, repentinamente me pegando desprevenida.

     — Só música — Respondi, indicando o celular e os fones que estavam plugados — E você?

     — Eu também, mas preciso ler alguns documentos do meu trabalho.

     — No que você trabalha? — Perguntei, curiosa.

     — Trabalho no conselho de vampiros.

   Minha curiosidade só aumentou, mas tentei fazer perguntas insignificantes que me fizessem conhecê-la melhor e que não ultrapassassem um limite pessoal. Descobri poucas coisas, eu não me interessava muito pelo conselho de vampiros, mas ela também parecia curiosa ao meu respeito.

   O conselho de vampiros mantinha um grande número de registros a respeito dos vampiros centenário e não me era estranho ela querer saber mais sobre mim e ter dito tão facilmente que trabalhava lá. Ainda mais com Ally tendo sido presa. Acabou que não vimos o tempo passar e o ônibus começou a diminuir a velocidade.

   Dei uma olhadela rápida pela janela e vi o grande lago atrás do estacionamento. Fui interrompida pelo prof. White, que passou do meu lado e esparrou no meu braço, desculpando-se em seguida com um sorriso constrangido, lembrando-me que eu odiava sentar no corredor.

   Observei os alunos bocejarem e se espreguiçarem de cansaço e agradeci por não estar do mesmo jeito ou não conseguiria aproveitar o lugar, agora essa era a intenção para ocupar minha mente. Preparei-me para sair, mas antes o sr. White parou em pé no início do corredor, bateu palmas para chamar a atenção. E então ele tinha todos os olhares concentrados nele.

     — Chegamos, sejam bem-vindos a pousada e aproveitem bastante o que puderem. — Ele se virou, segurando uma mala de mão — Façam uma fila organizada para descerem. Encontro vocês no refeitório para o café da manhã — E assim ele saiu do ônibus.

   Levantei, esperando que Ren pegasse minha mala novamente, porque eu não alcançava o bagageiro graças aos meus um e setenta e três metros. Sai do ônibus, sendo recebida por uma lufada de ar fresco e úmido daqueles que as pousadas próximas a água tinham e dei uma boa olhada ao redor. Era pequeno. Mas não era nada mau. A construção era rústica, tipo um chalé feito de madeira de um tom de marrom alaranjado forte que sobrevivera a muita tempestade, mas ainda era belo. O teto era alto e as janelas grandes.

   Por dentro era ainda mais parecido com decorações de casas de pessoas do interior com sofás de couro estampados como verdadeiras vacas. Havia uma lareira e pelos e madeiras para todos os lados com cabeças de animais e plantas pendurados. Os quartos ficavam próximo ao rio, mais especificamente na frente. Antes de chegar à eles, era preciso pegar uma pequena trilha.

   Esperei meus amigos se juntarem na recepção, enquanto o sr. White pegava as chaves com uma atendente que tinha os cabelos negros presos em um rabo de cavalo e sorria o tempo todo. Eu não podia culpá-la. Embora fosse o professor, ele era bonito e jovem.

     — Espero que tenham dividido os quartos. — Ele disse, chamando novamente a atenção para ele — Aqui estão as chaves, peguem e levem suas malas para os seus quartos. Espero vocês em quinze minutos para tomar café.

   Todos os alunos concordaram e alguns seguiram na direção dele para pegar as chaves. Deb foi um deles. E como eu não sabia como haviam dividido os quartos fui até ela.

   Demorei um pouco para alcançá-la já que o saguão estava lotando de jovens adolescentes eufóricos por causa da decoração e talvez pela aventura que teriam naquelas duas semanas longe de casa. Eles não faziam parte da minha turma, faziam parte das outras turmas do professor White e eles estavam se espalhando como formigas em um bolo.

   Assim que todos tinham pegado as chaves o professor se retirou para um corredor mal iluminado e ele esboçava um enorme sorriso no rosto como se tivesse ganhado alguma coisa, totalmente triunfante.

   As meninas da minha turma estavam reunidas perto e eu vi quando Dabria entregou a segunda chave que ela pegou para a Spencer que agradeceu com um aceno de cabeça.

     — Deb? — Chamei. — Em que quarto eu fiquei?

   Ela sorriu para mim e seus olhos brilharam com um ar consolador, que eu não tinha entendido de imediato o motivo, mas percebi que estava com pena. Pena pelo o que tinha acontecido ontem. Tentei afastar a raiva que começou a crescer no peito. Ela não tinha culpa.

     — Você vai ficar no nosso, Ateh — Deb indicou o caminho com a cabeça e eu comecei a segui-la.

   Seu sorriso não sumiu e por mais que negasse ele me fazia querer ceder e contar tudo o que aconteceu para ela. Mas eu tinha contado para Ally. Ou melhor, Ally sabia e me consolou da melhor maneira que pôde.

   Nosso quarto era o 389 e não ficava muito longe de nada. Na verdade, nem precisávamos nos preocupar com os quinze minutos do sr. White, o refeitório ficava no final do corredor virando à esquerda, de acordo com o mapa. O quarto das outras meninas era na frente, o que não me agradou muito porque Harley estava nele.

   Entrei no quarto depois de Deb dando espaço para as outras entrarem logo atrás de mim para verem os três beliches, as cômodas e os puffs espalhados pelo quarto, tornando o lugar menor do que era. Dificultando a presença de todas no cômodo.

     — Quarto bonitinho — Bekah comentou.

     — E tem varanda — Kamila disse, atravessando o quarto para a grande janela.

   Dei uma olhada e a vista era de tirar o fôlego. Havia peônias em um vaso pequeno no centro de uma mesa de madeira bonitinha em um canto e no outro havia uma cadeira de balanço estofada e uma bonita almofada de tricô.

   Depois de largarmos as bolsas nas camas fomos tomar café juntas com as outras meninas. Entramos no refeitório gigante de teto alto e sem forro. Havia mesas redondas de madeira escura espalhadas pelo lugar e quase todas ocupadas com uma quantidade grande de pessoas. E no fundo estava a mesa longa com os vários tipos de comida, frutas e bebidas.

   Peguei o que queria comer e procurei um lugar para me sentar. A turma toda estava sentada perto, mas havia um lugar vazio entre Luke e Ren que eu esperava não ter dono para me sentar com eles. E parecia que eles sempre guardavam ele para mim.

   Após o café da manhã podíamos fazer o que nos era permitido, teríamos hora para dormir e quem estivesse fora depois desse horário ganharia uma punição e além dessas regras que White passou no café da manhã ele pediu que deixássemos os aparelhos eletrônicos em um caixa quando saíssemos do refeitório. Ele nos queria de corpo e alma naquele lugar e longe do mundo exterior. Só eram permitidos os cadernos e os livros que podíamos pegar em uma saleta separada para leitura e também podíamos fazer o que a pousada estava oferecendo.

§ § § § §

   Foi uma tarde barulhenta. Ninguém estava acostumado a estar sem seus preciosos aparelhos telefônicos e eletrônicos, mas eu me senti estranhamente bem por estar longe do mundo. Nunca tirava férias e esse era o mais próximo que eu estava de ter alguma e não podia ser tão chato quanto os outros estavam dizendo.

   Turma por turma foi tirada do refeitório para fazer um passeio de reconhecimento do lugar por um guia e a visita durou a tarde inteira já que havia alunos interessados a fazerem bagunça e usarem tudo o que era mostrado. Deitamos para dormir depois do jantar, mas eu não consegui dormir. Estava inquieta. E só se ouvia a respiração de todas as meninas enquanto a noite se arrastava.

   Olhei para o quarto iluminado pela luz da lua e desci do beliche que eu dividia com Duda Collins, a menina da porta, no momento em que uma pedrinha caiu na minha frente. Em seguida, outras começaram a cair até que eu olhasse pela varanda. Encontrei Dhiren, Luke e Ren com mais munições em mãos, prontos para jogar, mas se detiveram quando me viram.

     — Estamos indo para o lago, uma turma teve a ideia de acender uma fogueira. Chama as meninas. — Dhiren explicou.

     — Ok, estamos indo.

   Eles assentiram e seguiram a trilha que levava para o outro lado do lago. Dei meia volta e comecei a acordar as meninas, em seguida saindo para explicar para as outras do quarto da frente. Voltei para o meu quarto para tirar o pijama e coloquei o primeiro vestido que peguei na mala e sai logo depois tomando cuidado para não me perder.

   Não fui a última a chegar, mas a roda estava lotada ao redor de uma fogueira grande, onde o fogo queimava com vigor. Havia outras rodas menores atrás, mas a do meio parecia o centro de tudo com um menino loiro que tocava violão enquanto outras pessoas cantarolavam acompanhando.

   Sentei do outro lado. Mirei o céu acima de nossas cabeças, tinha estrelas espalhadas e elas brilhavam muito mais aqui, era tão bonito. Não me lembrava de ter presenciado uma noite assim desde que fui morar na cidade. Era uma noite agradável, silenciosa e fresca.

     — Ateh, se importa se eu me sentar com você? — Luke perguntou, se aproximando.

     — A vontade — Falei, apontando para o espaço que ainda tinha do meu lado e agradecida por ser ele a preencher.

   Luke, como sempre, começou a me fazer pergunta sobre minha vida depois que nos separamos e seguimos com nos vidas. Eu não tinha falado ainda porque estava mais interessada em saber sobre ele.

   Quando ele tinha dezessete anos eu o tirei de sua mãe biológica que era uma bêbada agressiva e ele veio morar comigo, mas depois de três anos mais ou menos ele sumiu. Foi quando eu enlouqueci e passei a me alimentar exageradamente e matava sem piedade.

   Mas após o fracasso do meu relacionamento com Peyton que durou alguns meses eu finalmente consegui encontrar Luke machucado e completamente desnutrido, e meu coração de mãe falou mais alto que qualquer razão que existia. Transformei ele em vampiro esquecendo que o certo deveria ele ter iniciado os ensinos em uma escola de anjos falsos para ativar seus genes verdadeiros. Ele não descordou da ideia e eu me senti mais segura em deixá-lo viver sua vida depois sem mim por causa da transformação.

   Ele contou que tentou me procurar anos depois, mas não conseguiu e por esse motivo encontrou Ren e Peyton. Eles também me procuravam. Mas eu aprendi a viver em constante movimento, por isso estava sempre me mudando. Como nômades. Que saiam de um lugar para outro para viver. E fui acumulando tudo que podia para sobreviver no mundo.

     — Atelina?

   Levantei meus olhos e encontrei Peyton na minha frente seus olhos estavam cheios de raiva. E eu não sabia o porquê.

     — Cadê a Harley? — Ele perguntou, fazendo-me estremecer e segurar uma gargalhada amarga.

     — Não sei.

     — Você só chamou as meninas do seu quarto? — Ele disse e seu tom era acusatório.

     — Não. — Olhei para a roda a procura de uma confirmação de que chamei as outras meninas. — Ali está a Laura, e ali a Spencer e elas não são do meu quarto. Se a Harley não veio, é porque não quis.

     — Eu vou procurá-la — Ele falou, cansado.

   Eu senti o ódio que eu tinha dos dois crescer um pouco mais quando ele se afastou realmente começando a procurar sua nova namorada. Suspirei, partindo um galho que não percebi estar segurando.

     — Vocês são estranhos. Se machucam de propósito — Luke comentou.

   Eu não sabia se ele tinha razão, mas não queria pensar em Peyton. Eu tinha decidido que passaria o mais longe possível de relacionamentos ou aventuras que me fizessem ficar mais tempo que o esperado em Falls Stay.

   Levantei meus olhos quando vi que Ryan tinha se juntado a roda.

     — Ryan! — Chamei. — Senta com a gente.

   Ele assentiu e assim, consegui evitar que Luke começasse uma conversa sobre Peyton e eu. A conversa fluiu tão rapidamente que eu esqueci o tempo passando. Mas voltei a perceber quando o fogo começou a diminuir e alguns casais se afastaram da roda, notando então um rosto conhecido sozinho do outro lado. Amanda. Ela estava do lado de casais e eu entendia o quanto aquilo era chato.

   Acenei de longe tentando chamar sua atenção e pedindo que se sentasse com nós.

     — Oi Amanda! — Cumprimentei, quando a mesma se sentou na minha frente.

     — Olá — Sorriu, agradecida.

   Eu conhecia os três muito bem e embora Luke e Ryan tivessem aulas juntos, não se conheciam. E muito menos Amanda. A romântica incurável. O que poderia render uma bela conversa com Ryan que não chegava a ser tão galante quanto Ren, mas era um cavalheiro dos tempos antigos. Literalmente.

     — Amanda, você se lembra do Ryan? — Perguntei e ela afirmou — Bom, ele é britânico e sei como você gosta daquela parte da Europa.

     — Sério? — Ela perguntou, com os olhos brilhando em expectativa.

   E assim a conversa deles começou. Luke voltou a falar comigo e continuamos de onde havíamos parado antes da intromissão de Peyton, mas a conversa começou a dar sono nele e consegui perceber quando no meio de um relato parou para bocejar. E para que não tivesse que voltar deixei que deitasse um pouco para um cochilo, enquanto eu me levantava em direção ao cais vazio.

   Aproximei-me do lago, olhando para as pequenas ondas que se formavam apenas com a força do vento que gelava todos os centímetros descobertos do meu corpo. Abracei o mesmo, sentindo um arrepio crescer.

   Senti uma sensação estranha como se estivesse sendo observada, minhas costas queimavam como se alguém me encarasse obsessivamente. Olhei em volta procurando e vi quando uma sombra se mexeu entre as árvores. Concentrei-me em tentar distinguir quem era, se fosse um aluno diria alguma quando notasse que eu o vira, mas eu não reconheci. Ele parecia ser muito mais alto e forte do que qualquer um dos meus amigos e alunos ali presentes.

   Eu estava tão concentrada que me assustei quando uma mão gelada tocou meu braço. Virei para ver o que era.

     — Desculpa, não quis assustar você — Peyton se desculpou, levantando as mãos em rendição.

     — Tudo bem — Suspirei, aliviada.

     — Eu queria falar com você. Só escuta, por favor — Ele acrescentou, sabendo que eu o censuraria — Voltei com a Harley e falei que tinha um motivo e foi porque ela disse que iria contar tudo para o James. Sobre eu, você, Ren e Luke...

   James era o irmão mais novo de Peyton. Eu nunca conheci ele, mas sabia que existia por causa de uma visita que fiz ao conselho uma vez quando ele tinha pouco menos de dois anos. Sim, sua família ainda era viva e eles moravam com os anjos falsos. E graças a idade que ele teria agora eu entendia o que Harley tinha feito. Ele era uma criança que com certeza idolatrava o irmão mais velho e a única coisa que eu tinha em comum com o Peyton era nossa nova espécie.

   Matávamos para sobreviver e se o pequeno soubesse disso, arruinaria a relação deles que já era um pouco diferente do normal.

     — Minha mãe só me deixa vê-lo em feriados ou durante alguns dias quando ele está de férias — Ele continuou, triste. — Se ele souber o que eu sou de verdade e o que faço para sobreviver... — Sua voz foi sumindo antes de concluir o pensamento — Desculpa, eu só não quero perder o único laço que ainda tenho com a minha família.

   E eu entendia o que ele não queria perder. Se Harley estiver falando a verdade, a família de Peyton olhava para ele como um traidor. Um desertor que preferiu o amor por uma mulher a família que tanto quis seu bem. James era o único laço que ainda tinha e eu entendia isso.

     — Ele me odiaria, Atelina. — Peyton anunciou, sem tirar os olhos de mim para ver minha reação — Eu não tive escolha.

   Eu não queria lhe dar esperanças, mas ele tinha escolha. Peyton não era mais um anjo falso, era um vampiro. E Harley uma anja falsa. O que tornava a relação que estavam começando em proibida perante os conselhos e pior ainda, ela o estava manipulando. Manipulando suas escolhas para que fizesse o que ela mandava e isso era semelhante ao que Allyson fez com Dabria. Então ele tinha escolha.

     — Peyton — Sussurrei, sabia que teria que tocar em algo do passado — Nossa relação era proibida. Porque eu era uma vampira e você um anjo falso. E no mês passado Ally manipulou as escolhas de Dabria o que de acordo com a constituição de Anjos e vampiros é errado. Um não pode se meter na vida do outro.

     — Como eu sou burro! — Ele bateu na própria testa, dramático. — Não acredito que cai no plano dela — Ele suspirou, aliviado e deu uma olhada na margem do lago — Precisamos voltar o sol vai nascer e o Professor White vai nos querer no café da manhã. Ah... — Ele se deteve antes de sair — Obrigado.

   Esperei que ele se afastasse para voltar ao lado de Luke e avisar aqueles que estavam próximos que deveríamos ir. Ainda tínhamos algumas horas até a combinada para o café da manhã, então me deitei na cama e caí no sono assim que voltei para o meu quarto.

§ § § § §

   No café da manhã nos sentamos em uma mesa comprida e a turma toda ficou junta, incluindo Harley e Peyton que pareciam intrigados. Ren e Luke me chamaram para fazer depois de comer canoagem, mas eu me neguei e optei por jogar vôlei na areia sem problemas. E me diverti enquanto eles combinavam de me levar a força na tirolesa, o que eu não faria de jeito nenhum, porque gostava muito da sensação de ter algo sólido sobre meus pés.

   Além das risadas pelas brincadeiras deles conseguiram trazer até Dhiren para o meio, eu pude perceber que Ryan e Amanda ainda conversavam desde a noite de passada quando ele a acompanhou até a porta do quarto e a mesma entrou depois com um sorriso que ia de orelha a orelha.

     — Mãe, vamos escalar juntos também, não? — Ele perguntou, sabendo a minha resposta.

   Antes de sairmos do refeitório White anunciou que em poucos dias levaria cada uma das suas turmas para fazer uma trilha com ele pela floresta e que só estava esperando a previsão dos próximos dias para começar. Depois nós nos retiramos e eu acompanhei o time formado em cima da hora no refeitório até uma quadra de vôlei de areia.

   Estava sol demais então troquei de roupa antes de me sujar com a areia com o meu time composto de: Luke, Kamila, Brian e eu. Um time estranho, mas eu sabia que era melhor que o outro onde Harley estava porque ninguém se conhecia mesmo.

   O jogo começou e ambos os times era definitivamente péssimos, mas assim que pegaram o jeito de jogar com pessoas desconhecidas na quadra o jogo ficou mais disputado. Brian era muito bom. E eu não podia negar que era fofo Deb estar vendo ele jogar e ainda torcendo com meninas de outras turmas que pareciam abelhas e apareceram quando os meninos que estavam jogando se livraram de suas camisetas e o suor escorria nos corpos musculosos ou magros deles.

   Mandei uma bola instável para Luke e perdi minha concentração com os gritos altos que vinham da área próxima aos quartos. Era a voz de Dhiren. E ele estava com Rebekah. Ambos os rostos estavam vermelhos, o dela por causa das lágrimas que escorriam em abundância e o dele pela raiva e esforço em manter a voz alta.

     — Eu já disse que não quero a sua ajuda... — Ele gritava, mas outras vozes se sobressaíram e me impediram de ouvir o resto.

     — Ateh, cuidado! — Gritaram em uníssono.

   Antes que eu pudesse entender o que acontecia, meu corpo foi jogado contra a areia e eu rolei junto com outra pessoa. Ela tinha evitado que a bola atingisse minha cabeça. Quando paramos eu estava por cima de Peyton que ria descontroladamente pela situação.

     — Atelina, você está bem? — Dabria perguntou, preocupada e vindo na minha direção.

     — Sim, estou — Voltei-me para baixo — Você está bem? — Ele ainda ria, mas assentiu — Obrigada... eu preciso ir.

   Ele me olhou confuso. E mesmo assim sai de cima dele.

     — Deb, entra no meu lugar? — Pedi, sem dar tempo para ela responder.

   Ajudei Peyton a se levantar e sem esperar que dissesse mais alguma coisa corri na direção da discussão dos gêmeos. Cheguei a tempo de ver Dhiren se afastar, largando a irmã em uma situação lastimável. Ela fungava tentando esconder o rosto vermelho entre as mãos.

     — Bekah, você está bem? — Indaguei, preocupada.

   Rebekah negou e as lágrimas voltaram a cair. Por instinto aproximei seu rosto do meu pescoço a abraçando, agradecendo por ela ser pequena e a levei para o nosso quarto. Deitei ela no beliche com cuidado para não bater a cabeça e peguei um lenço para ela.

   Sentei no chão na sua frente e esperei ela se acalmar para lhe perguntar:

     — O que ele disse para deixar você assim? — Perguntei, acariciando seu cabelo loiro.

     — Ele ainda me culpa, pelo o que aconteceu aos nossos pais... — Sua voz falhou.

   Peguei uma garrafa de água no frigobar ao lado da penteadeira e entreguei para Rebekah. Ela se endireitou, assoou o nariz e bebeu da garrafa em grandes goles, pausadamente. Perguntei-me o que tinha feito Dhiren gritar daquele jeito, ele sempre foi tão alegre e nunca ergueu a voz para ninguém que eu tivesse visto.

   Quando terminou, me entregou a garrafa pela metade e eu não consegui evitar um olhar curioso.

     — Nós tínhamos um chalé no alto de uma montanha. Íamos só nós quatro todos os anos para lá... era o momento família. — Ela riu com a lembrança — No último ano em que fomos Dhiren quis levar sua nova namorada perfeita, mas ela não era tão perfeita quanto parecia. Era uma vampira que o manipulava descaradamente. E assim que soube onde era nosso chalé, ela o invadiu junto com seu grupo de vampiros. Eles mataram nossos pais. Dhiren foi transformado e eu fui a culpada por ser uma bruxa e não ter feito nada. — Ela ainda sentia a dor, estava estampado no seu rosto — Eu não me importava muito em aprender bruxaria. Nunca precisei, mas se eu soubesse naquela época...

     — Você não teve culpa e ele sabe disso. Tenho certeza que sabe — Tranquilizei ela.

     — Não, ele não sabe. Eu tento ajudar, mas ele nunca quer minha ajuda. E quando ofereço algo ele diz que se esperasse algo de mim, já estaria morto. Como nossos pais.

   Eu não podia falar nada. Eles se entenderiam algum dia.

     — Descansa Bekah, vai ficar tudo bem.

   Ela voltou a se deitar caindo no sono minutos depois, estava exausta. Eu também estaria. Quando Nathan era vivo, ele era tudo para mim. Pai, irmão mais velho, amigo e confidente. Eu me odiava sempre que ele se decepcionava comigo e se ele visse todas as merdas que eu fiz desde o dia em que morreu, orgulho seria o último sentimento que ele sentiria por mim.

   Mas eu sabia que se o visse novamente pediria desculpas. Por ter pedido que lutasse contra a dor quando não tinha mais chance. Por não ter dito que ele era importante para mim. E também diria que sentia muito a sua falta.

     — Ateh? — Deb chamou, aproximando-se — O que aconteceu?

     — Nada. Bekah teve uma briga com o Dhiren. E eu não consigo evitar pensar no Nathan — Acrescentei por fim, não dava para esconder dela.

   Deb se abaixou na minha frente e limpou a lágrima furtiva que eu não percebi estar rolando no meu rosto. Ela me abraçou.

     — Eu sinto falta dele, Deb. — Admiti com o rosto na curva do seu pescoço.

BRILHA, BRILHA ESTRELINHA!!! 🌟🌟🌟

Oie anijinhos, como estão? O que acharam do capítulo novo? Atelina acabou ajudando Peyton a se livrar da Harley, será que isso fará com que ele volte a tentar ficar com ela? E essa sombra que ainda persegue Atelina, será um stalker? O que mais podemos esperar dessa viagem?

Não se esqueçam de votar, comentem também que interagir com vocês!

Beijinhos deliciosos.

- Atelina. 

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