Capítulo 8 - Sem Perdão

   Eu apareci no dia seguinte no colégio, mas fugia sempre que podia das aulas que compartilhava com Harley ou até mesmo com Peyton. Ele não tinha culpa. Agora eu sabia. Mas não queria conversar com ele dando a entender que eu o tinha perdoado, porque eu não tinha. Mesmo assim, era impossível não pensar nele diferente agora que sabia que ele esteve todo esse tempo atrás de mim. Talvez eu devesse dar uma chance para ele e ouvir sua parte da história. Mas já que eu não sabia quem estava mentindo para mim, eu não podia tomar nenhuma decisão precipitada.

   Claro que a ocasião não facilitava muito. Todos foram convidados para ir na casa de Dabria para dividirmos os quartos das pousadas como o professor havia pedido e o primo dela também planejou uma festa no lago de novo. Haveria muitas pessoas e eu podia me esconder entre elas e evitar duas pessoas facilmente.

§ § § § §

   Peguei carona com Deb para ir a sua casa. Eu esperava ir com ela para chegar antes de todos, mas Carlos, o primo dela, já havia começado tudo e as pessoas estavam aglomeradas ao redor do rio com as caixas de cerveja espelhadas por todos os lados novamente.

   Dabria olhou para mim se desculpando, mas eu sabia que se ela soubesse teria me avisado.

     — Eu vou me misturar — Disse, saltando do carro e arrancando um olhar confuso dela — Eu não quero ficar no mesmo lugar que a Hannigan, então me coloque em qualquer quarto que não seja o dela.

   Não esperei uma resposta e segui na direção de Luke e dos meninos que eu havia avistado de longe. A presença deles naquele momento era a melhor que eu podia ter.

   Parei no meio de Ryan e Luke me sentindo pequena demais em comparação a eles.

     — Oi, meninos! — Cumprimentei.

     — Olá. Quer alguma coisa? — Ryan ofereceu, apontando para uma das caixas térmicas que estavam próximas.

     — Acho melhor não — Eu não gostava muito de cerveja.

   Eles me inseriram na conversa deles muito rápido como se eu fosse apenas mais um dos meninos que estavam ali e eu comecei a rir com as piadas que faziam. Eram as piores que eu tinha ouvido, mas só pela tentativa e a seriedade que havia em seus rostos eu não conseguia segurar.

   Percebi com o canto dos olhos quando um carro chegou. Virei para ver quem faltava e vi quando Harley desceu do carro de Peyton. Não dei atenção e fingindo não ter visto voltei a conversar, mas Peyton se aproximou pegando uma cerveja da caixa mais próxima e se inserindo na roda. E como se sua presença fosse o que faltava a conversa se encaminhou para outro ramo e minha atenção em cada palavra sumiu.

     — Mãe! — Luke chamou, interrompendo meus pensamentos — Você está bem, mãe?

   Assenti e desviei meus olhos dos de Luke e eles se prenderam aos de Peyton. Ele me olhava com um olhar curioso, querendo descobrir o que se passava na minha cabeça e o motivo de esquecer até mesmo onde eu estava. Mas quando seus olhos ganharam um ar desafiador ele avançou na minha direção, segurando meu braço e me arrastando para longe.

     — Preciso falar com você — Ele explicou, quando estávamos sozinhos.

     — Não precisava me puxar desse jeito.

     — Sim precisava, ou você iria se esconder como anda fazendo — Ele disse e encarei seus olhos o desafiando a provar o que disse, mas ele simplesmente sorriu. Um sorriso consolador, daqueles que diz que tudo vai ficar bem, mesmo não ficando — Eu queria explicar tanta coisa para você, sei que antes eu...

     — De novo insistindo nisso, eu pedi para esquecer.

   Ele passou a mão pelo cabelo, exasperado. Suas mãos tremiam e seus olhos agora evitavam sempre que podiam os meus.

     — Deixa eu terminar. Eu analisei algumas coisas que eu fiz no passado e comecei a admitir que apesar de ter passado anos procurando você... você não vai de jeito nenhum me dar outra chance. E a culpa é completamente minha. Porque eu errei em dormir com você quando meu dever era simplesmente pará-la e depois errei em ter sido preso e ter escolhido abrir mão de tudo para persegui-la pelo mundo inteiro...

     — Por que está dizendo tudo isso? — Perguntei, confusa.

   Ele estava enrolando. Eu tinha certeza. Mas queria saber o porquê da enrolação e pelo início da conversa, não era nada bom. Ele estava tocando nos assuntos mais delicados da nossa relação. E me doía saber que ele pensava que a noite em que nós nos entregamos fosse errada. Pois para mim era certo e ambos queríamos. E era certo porque foi bom. Era certo porque tornou o sentimento que eu sentia por ele algo tão forte que durou por anos. E era certo porque eu não me arrependia.

     — Eu voltei com a Harley e tem um motivo que...

   Eu não estava mais escutando, no fundo eu queria saber, mas não queria que essa fosse a resposta. A primeira coisa que consegui fazer foi prender a respiração e em seguida me perguntar se aquilo realmente estava acontecendo. Sempre tinha um motivo. Um tão grande que superava nossos sentimentos.

   Pensei em uma resposta e quando me senti pronta, falei com a voz embargada:

     — Eu não me importo — A mentira doeu — E a vida é sua, não me deve explicações. Eu... eu só preciso sair daqui.

   Minha voz falhou, mas minhas pernas conseguiram se mexer e eu corri os poucos quilômetros que dividiam minha casa da festa que acontecia. As lágrimas escorriam em abundância e meus pés pareciam chumbo em contato com o chão. Tudo dentro de mim desmoronava com o pouco de confiança que eu começara a reconstruir por ele. Mesmo que antes ele não tivesse me deixado para se casar com ela, agora era como se tivesse.

   Eu era a culpada. Por ter criado um pingo que fosse de esperança por "nós", só porque descobri que ele estava mesmo atrás de mim durante todos esses anos. O "nós" não ia acontecer e eu não podia ter acreditado.

   Alcancei a maçaneta da porta e com pressa subi as escadas para a minha cama. Meu coração doía. Eu podia sentir meus olhos arderem e a vontade apenas continuar a crescer dentro de mim. Era vergonhoso. Eu não acreditava em mim mesma por ter criado esperanças. Queria muito poder dormir e acordar na Califórnia novamente como antes, mas sabia que isso era apenas o começo de treze longos meses. O que mais eu teria que enfrentar?

   Ouvi o som de passos apressados na casa e me sentei na cama, endireitando minha postura. Era o mínimo que eu podia fazer. Mas assim que a cabeleira cacheada de Ally apareceu no batente da porta eu simplesmente explodi em lágrimas na sua frente.

   Ela sentou ao meu lado e encostada na cabeceira da cama me puxou contra seu corpo um pouco menor que o meu e acariciou minha cabeça deixando que toda a água do meu corpo saísse pelos olhos.

     — Eu sinto muito, Ateh — Ela sussurrou, porque imaginava o que eu poderia estar sentindo — Você vai ficar bem... nós sempre ficamos.

     — Sempre ficamos — Repeti, concordando.

   Era verdade. Por mais que doesse nós sempre ficávamos bem. Sempre seguíamos em frente esquecendo o acontecido, mas isso, porque sempre tínhamos uma a outra.

   Eu acabei caindo no sono ouvindo Allyson cantarolar uma das canções de ninar que eu cantava para ela quando a situação era inversa. Tia Michaele sempre contava para nós.

§ § § § §

   " 1814. Falls Stay, Virgínia.

   Eu já estava cansada de andar pelas ruas de Falls Stay procurando algum tipo de satisfação bebendo o sangue de qualquer pessoa que me olhava como se eu fosse um monstro, o que eu até poderia ser, mas não queria saber pelos olhares deles. Eu estava com dor. E precisava saná-la de alguma forma. Os bêbados viviam em bares para consegui a mesma coisa que eu, então porque só eu era vista como um monstro?

   Eu tinha uma maldição. Uma que conseguia afastar qualquer pessoa de mim. Minha tia. A mulher que me criou como filha morreu por minha causa. Em seguida, meu irmão. E agora o menino que eu criara como um filho estava desaparecido em algum lugar longe de mim. Com certeza morto. E minha irmã, estava fugindo de mim para não morrer também.

   Isso acontecia exatamente por minha causa. Eu era o problema e só conseguia sentir mais e mais dor. Ninguém conseguia me parar. Até mesmos os vampiros, a espécie na qual eu pertencia agora, tinham o mesmo medo que crescia nos olhos de alguém quando eu sugava a vida de seus pobres corpos moribundos. Eu era um monstro. E havia caçadores de todas as espécies tentando me parar.

   Eu estava expondo os vampiros com as minhas atitudes e queria saber qual seria seu próximo ataque, porque não deu certo me encurralar me pegando desprevenida. Eram cinco contra um, mas para mim não era nada além de mais sangue para mim.

     — Atelina, é você? — Eu conhecia aquela voz.

Olhei para trás no beco escuro, distinguindo uma silhueta conhecida.

     — O que quer, Campbell? — Gritei, tentando assustá-lo.

   Ele era aluno do meu irmão. Uma das pessoas que o conhecia e sabiam como ele era uma boa pessoa... e como eu sentia a falta dele.

     — Eu ouvir dizer que pessoas estavam morrendo aqui e quando soube que era você... eu precisei me certificar.

     — Com certeza alguém o mandou para parar o monstro — Lembrei que ele era um anjo falso e entendi o que os vampiros estavam fazendo agora — Você é a nova marionete daquele conselho ridículo — Eu ri, amarga.

     — Não, eu não sou — Ele negou — Eu só queria saber se era você para ter certeza de como estava desonrando o nome de seu irmão.

   Aquilo me acertou em cheio, como um soco forte.

     — Você não sabe nada sobre ele!

     — Eu sei que ele estaria decepcionado em saber que você está matando as pessoas que ele deu a vida tentando proteger.

   Ele tinha razão, mas eu não via outra forma de parar com a dor. Embora soubesse que Nathan não aprovaria, esse era o meu remédio.

     — Não... — Minha voz falhou — Como... como eu paro com a dor?

   Peyton se aproximou, estava perto o suficiente para que eu o matasse, mas algo me impedia de fazer algum mal a ele.

     — Você não para — Ele murmurou — Você só supera. Atelina você precisa sentir a dor.

   Então deixei que as lágrimas que evitei a todo custo caíssem e ele me abraçou. Sem medo. E eu me deixei ser abraçada transferindo minha dor para fora do meu corpo, sentindo toda a dor. Afastei-me, olhando em seus olhos escuros e percebi que eu estava errada esse tempo todo.

   Ele acariciou meu rosto antes de me beijar repentinamente..."

§ § § § §

   Acordei do sonho que tive tentando guardá-lo no fundo da minha mente. Era onde estava antes. A lembrança de como Peyton me convenceu de que eu precisava sentir dor e quando a senti, ele estava lá para me consolar. E eu o amei. Eu ainda o amava, mas precisava esmagar esse sentimento e fazer dele pó, para ser levado de mim, pois não valia mais a pena guardá-lo e sentir dor toda vez que uma esperança o ativava novamente.

   Olhei para o quarto escuro ao meu redor e me arrastei para o banheiro. Tomei banho e coloquei meu pijama decidida em esquecer aquele dia e focar em me manter longe de qualquer "aventura" nos próximos treze meses. Ou qualquer coisa que me fizesse ficar. Eu só precisava existir durante esse tempo e depois ao fim de todos os meses, eu sairia como se nada do que vivenciei aqui tivesse existido.

   Voltei para o quarto, segurando o grito na garganta quando um vulto passou na minha frente me pegando de surpresa e em seguida sumindo pela janela. Corri na direção dela e olhei para baixo, procurando pela coisa que estava no meu quarto ou algum movimento diferente.

CADÊ MINHAS ESTRELAS, CADÊ MINHAS ESTRELAS? 🌟🌟🌟

Oie meus amores, o que acharam do capítulo novo? Descobrimos mais coisas sobre o passado de Atelina e parece que Peyton realmente ajudou ela de certa forma, mas ela não devia ter baixado a guarda, né? E essas irmãs Piierces se consolando é muito fofo, não? Ah, e o que ou quem estava no quarto dela? Um vulto bom ou mau? O que será que acontecerá com Atelina nesses treze meses? E no próximo capítulo estaremos no acampamento não percam!! 

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Beijos e abraços gelados (Porque está muito quente aqui!)

- Atelina.

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