Capítulo 4 - Prisioneira
Peguei a estrada que levava ao conselho, eu me lembrava exatamente qual era a direção. Era preciso pegar uma estrada de terra quando chegasse a periferia da cidade e depois seguir até encontrar os grandes prédios, mas assim que senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto tentei me concentrar mais no caminho porque podia facilmente me perder.
Não demorei muito para chegar, mas o lugar estava cheio de pessoas perambulando por todos os lados e isso dificultava a passagem do carro, embora as ruas fossem grandes, não havia quase nenhum carro. As pessoas ocupavam quase todo o espaço.
O lugar se assemelhava muito com as cidades normais, as pessoas entrando e saindo de suas casas, condomínios, em prédios onde trabalhava ou seguindo caminho para pegar o trem que os levavam para outra realidade. A realidade humana.
O prédio que eu procurava era o mais afastado de todos, era a prisão, então sua posição era relativa e sua estrutura parecia intimidante vista de longe. Era muito grande e suas paredes pareciam assustadoras e velhas de tão escurecidas e altas. Estacionei do lado de fora e depois de cumprimentar o homem ao lado do portão de ferro, eu entrei com a bolsa para Allyson na mão.
Dentro o prédio parecia outro lugar comparado com lado de fora, era claro e bem decorado, tinha plantas e flores em todos os lugares possíveis e a sala de espera até que era agradável.
— A senhorita deve ser Atelina Piierce, não? — Uma mulher de sorriso tristonho perguntou detrás do balcão.
— Sim — Eu me aproximei — Me falaram ao telefone que teria que assinar um papel para levar minha irmã comigo.
— Exatamente — Ela deu meia volta, pegou em uma gaveta cheia de papéis uma pasta grossa e tirou dela outro papel — Leia o documento e assine enquanto peço que tragam sua irmã.
— Pode entregar isso a ela? — Empurrei sobre o balcão a bolsa, os olhos da mulher se arregalaram instantaneamente — São só roupas.
Seus olhos se suavizaram e sua mão segurou a alça da bolsa sem voltar a olhar para mim. Suspirei e me concentrei no papel de soltura.
Tudo que estava escrito ali eu sabia, mas eu não concordei com algumas coisas e acabei riscando e marcando ao lado. As ideias que eles tinham a respeito de vampiros centenários eram tão idiotas que eu precisava fazer aquilo.
Li mais alguns detalhes de que ela não podia fazer de jeito nenhum algo semelhante com Dabria ou qualquer Anjo Falso e finalmente coloquei minha assinatura no papel, o que significava que eu não poderia sair de Falls Stay por treze meses.
— Srta. Piierce? — Uma voz rouca me chamou e eu encontrei o dono parado ao lado de Allyson. Ele tinha uma pele negra invejável e o corpo era muito grande posicionado ao lado da minha irmã — Sua irmã entrará em observação e tenho certeza de que a senhorita entende o porquê.
— Sim, claro e eu sinto muito — Falei, sentindo que a vergonha estava estampada no meu rosto.
— Tudo bem — Ele falou e ouvi o tilintar de chaves quando ele se colocou na frente de Allyson — E você mocinha, tome cuidado — Ele voltou seus olhos para mim — Vocês devem ter muito o que conversar.
Ele se retirou com um aceno e o sentimento de raiva cresceu dentro de mim. O primeiro pensamento que passou pela minha cabeça foi socar a cara dela, mas eu respirei fundo e me mantive calma e no lugar enquanto ela dava passos pequenos na minha direção, carregando a minha bolsa na mão.
— Oi, mana — Ela falou com a voz superbaixa.
Olhei para ela e comecei uma inspeção rápida da cabeça aos pés, contendo minha raiva. Seus cabelos que era algo que ela tanto amava estavam sujos e presos em um coque bem apertado, seus olhos estavam inchados e envolta deles havia olheiras profundas e escuras, sua pele parecia ressecada e a camisa que vestia parecia um vestido no seu corpo magro. Eles não a alimentavam direito naquele lugar e por mais que eu estivesse com raiva do que tinha feito, não gostava de vê-la assim.
Eu não conseguia e não queria imaginar o que ela havia passado lá dentro, ela tinha cometido o pior dos erros. Anjos e vampiros eram aliados que se ajudavam mutuamente e ela era um empecilho para essa aliança.
— Pensei que você não apareceria — Sua voz era a reflexão exata da sua aparência.
— Eu não queria, mas me deram outro motivo para estar aqui — Falei, tentando manter minha voz séria e firme.
— O que vai fazer comigo, Atelina? — Seus olhos se ampliaram por curiosidade, mas continuavam cansados.
— Allyson Piierce, você merece o pior castigo por me fazer voltar a Falls Stay! — Elevei um pouco meu tom de voz.
— É só uma cidade — Ela devolveu, revirando os olhos.
— Uma cidade? — Eu perguntei, indignada — Uma cidade, Allyson? Você sabe melhor do que ninguém tudo o que passamos aqui e sabe que essa cidade é um imã para todas as pessoas que saem daqui um dia.
— Atelina, você não vai encontrar ele depois de anos só porque voltou para Falls Stay! — Ela quase gritou e eu ri.
— Eu até concordaria com você, mas adivinha só quem eu vi justamente a minutos atrás?
— Isso não é possível — Seus olhos cor âmbar se ampliaram.
— É tão possível que aconteceu — Tirei da sua mão a bolsa — Vamos embora desse lugar antes que eu devolva você para sua cela.
— Não brinca com isso, aquele lugar é horrível.
— Você merece mais do que isso por ter tentando matar a Dabria.
— Ela matou nosso irmão! — Ela gritou, entregando-se a um excesso de cólera repentina, fazendo seus olhos mudarem de cor por uma fração de segundos.
— E o que ganhou com isso? Agora você não pode sair de Falls Stay por treze meses e eu vou ter que ficar aqui com você sujeita a encontrar com o Peyton a qualquer momento! — Eu sentia meus olhos queimarem de raiva e Ally não tinha como rebater isso — Você me deu um castigo e eu darei o seu em breve.
O sorriso que eu esbocei foi diabolicamente perigoso, eu estava brava e ela sabia que me ter como inimiga não seria uma boa escolha.
Entramos no carro assim que o homem no portão se despediu de Allyson, ele disse que nunca se esqueceria do dia que ela chegou, batendo em tudo que ficava próximo demais e seu nariz foi uma das coisas que ela bateu e chegou a quebrar. Era por isso que os vampiros centenários eram taxados como perigosos perante a comunidade de vampiros.
Dirigi devagar com medo de balançar muito o carro, pois Ally dormiu no minuto seguinte em que se sentou no banco do passageiro. De olhos fechados ela até parecia estar em paz.
Assim que estacionei na garagem e o portão se fechou Allyson acordou sozinha. Lembrei que as meninas não estavam em casa então isso me permitia ter um tempo sozinha com Ally para mostrar as coisas. Comecei com os cômodos da casa e qual era seu quarto que descobri assim que destranquei que estava completamente arrumado, as roupas de cama colocadas e as roupas que comprei junto com um computador para ela já estavam guardados.
O seu quarto ficava ao lado do meu e também tinha um banheiro, no qual ela entrou no minuto em que a deixei sozinha pedindo para que descesse para resolvermos a questão do castigo.
Deixei ela tomar o banho que precisava e permiti que demorasse o tempo que precisasse. Eu a estava tratando tão bem, o que ela não merecia, mas ela tinha pagado em partes estando presa e pagaria o resto durante os próximos meses.
Depois de quarenta minutos esperando deitada no sofá da sala, ela desceu as escadas mais lívida do que eu a tinha visto, seus cabelos estavam molhados e dessa vez o cheiro que emanava dela era de flores silvestres. No mínimo ela tinha gastado metade do litro de shampoo e condicionador, pois seu cabelo brilhava a cada passo que dava até a poltrona ao meu lado.
Continuei deitada enquanto contava a ela sobre os motivos que me fizeram ter que ficar na cidade, além dela. Ally me perguntou algumas coisas sobre minha vida na Califórnia, ela sabia como minha vida era porque foi me visitar a alguns anos, a última vez que eu a tinha visto.
— Você ainda não me falou qual será meu castigo — Ela me lembrou.
— Verdade — Eu me sentei — Eu decidi graças as meninas que moram comigo que... você irá para a escola. — Falei, batendo palmas.
— O que? — Ela exclamou, indignada — Você não vai me obrigar a ir.
— Não só vou, como já fiz sua matricula.
— Atelina isso não é justo...
Eu me levantei rapidamente para não ver seu olhar de cachorrinho sem dono que tinha como objetivo me fazer voltar atrás.
— Não me venha com "não é justo" — Eu devolvi— Não é justo eu perder minha liberdade por algo que você fez!
— Ok, eu errei, mas estudar? Você poderia me castigar com qualquer coisa, mas me fingir de humana sem graça é demais até para você!
Eu gargalhei na sua frente, enquanto ela levantava. Era exatamente essa razão que eu queria dela e me sentia muito feliz por conseguir.
— Allyson, eu vou tirar a sua liberdade como você tirou a minha, então basicamente estamos quites — Falei, gesticulando com as mãos no ar exatamente como eu tinha costume de fazer quando queria explicar alguma coisa.
— Eu não vou! — Ela gritou comigo.
— Ok, então assim que a polícia bater à porta para saber o motivo de você não estar comparecendo no colégio você irá responder a eles que não quer e você será encaminhada para outro lugar, mas espera... você não pode sair de Falls Stay!
Sua expressão ficou confusa, eu tinha pensado em tudo e pesquisado outras coisas que não impediriam ela de sair do mundo adolescente assim que entrasse.
— Allyson, está decidido — Conclui, firme. Ela deixou seu corpo cair na poltrona como um saco pesado — Só não vá fazer merda de novo ou irá ferrar com as nossas vidas. Tudo que acontece com você, eu quem pago.
Ally abriu a boca para me responder quando a porta abriu a interrompendo e eu agradeci mentalmente as meninas, senão passaria a tarde discutindo com ela.
— Quem é você? — Laura perguntou, encarando Allyson da cabeça aos pés — Pensando bem, vocês são bem parecidas.
— Meninas, essa é minha irmã casula Allyson — Apontei para ela que voltou a se levantar, sorrindo de forma tímida — Ally, essas são Kamila e Laura.
— Oi — Allyson disse sem jeito.
Elas se sentaram juntas na sala para conversar, Laura e Kamila adoravam ouvir histórias alheias, principalmente quando não conheciam a pessoa em questão. Allyson tinha várias histórias para contar incluindo todos os lugares nos quais ela esteve. Ela sempre viajava, não parava quieta em lugar nenhum e nunca criou raízes como eu criei na Califórnia, mas isso porque Ally tinha algo que eu não tinha. Ela adorava se arriscar.
Permaneci na sala para ouvir o que ela falava, não podia deixar que contasse demais para as meninas, mas ela não contou sobre a prisão, então deixei de me preocupar no minuto seguinte em que inventou uma desculpa para ter voltado à cidade.
Eu estava cansada foi um dia longo e meu corpo pedia para que eu deitasse, mas eu estava com medo de deitar. Não sabia o que meu subconsciente iria me mostrar assim que fechasse meus olhos, mas suspeitava.
— O que vocês querem comer hoje? — Perguntei, motivada pela vontade de enrolar meu sono.
— Que tal comida japonesa? — Laura sugeriu.
— Credo, peixe cru — Kamila grunhiu.
— O que acha, Ally?
Ela sorriu por ser inserida na conversa.
— Por mim, tudo bem.
Levantei para pegar o telefone e liguei pedindo separado algo que não fosse peixe cru para Kamila comer.
A comida chegou por volta das sete horas e decidimos comer na cozinha enquanto as meninas contavam suas histórias para Ally. Era uma troca justa de acordo com elas, mas eu me retirei assim que elas demonstraram cansaço também e pedi que deixassem Allyson dormir, pois a "viagem" dela fora cansativa.
§ § § § §
Acordei na manhã seguinte antes do despertador e sorri para o teto branco do meu quarto. Era minha terceira noite em Falls Stay e a primeira que eu não sonhava com nada, absolutamente nada.
Tomei banho para me arrumar e ir para o meu primeiro dia no colégio, eu não sabia se estava preparada, os adolescentes sabiam ser muito maus com qualquer pessoa quando queriam e por mais que eu fosse uma vampira indo à escola tinha medo por estar colocando eles em perigo.
Vesti uma camiseta regata de baixo da blusa de manga comprida preta, calças jeans e meus tênis que eu não usava muito. Sentei-me diante da penteadeira e escovei meu cabelo, deixando ele completamente escorrido.
As portas no corredor continuavam fechadas quando eu saí para tomar café, então tomei café sozinha na cozinha e esperei os despertadores tocarem no andar de cima, mas nenhum tocou. Mesmo assim Ally apareceu vestida com uma bolsa nas costas e procurou algo para comer na geladeira.
— Bom dia para você também, maninha — Falei, não escondendo a ironia.
— Eu odeio você, Atelina — Ela falou e senti o seu veneno quando disse meu nome.
Não consegui segurar o riso e eu comecei a rir, não seria nada fácil abrir mão da sua liberdade e graças a isso eu receberia lindas palavras de amor de Allyson Piierce todos os dias, o que era engraçado, mas um pouco doloroso.
As meninas não quiseram comer muita coisa então pegaram ambas uma fruta ou uma barra de cereal e foram comendo no caminho. Entramos todas no carro e eu fui dirigindo.
Quando estacionei o carro Kamila e Laura saíram com pressa. Ally e eu permanecemos parada no mesmo lugar. Ela não queria estar lá e eu não tinha certeza se queria mesmo entrar.
Olhei para ela, seu semblante completamente enfurecido olhava para algum ponto na nossa frente, seu cabelo volumoso de cachos abertos caia em cascatas escuras sobre seus ombros.
— Eu não sei o que fazer com você — Ela falou e sorriu — Boa sorte, maninha.
Eu odiava quando ela jogava algo que eu fazia contra mim, ela conseguia ser insuportável.
Saí do carro, tranquei o mesmo e finalmente caminhei na direção das portas duplas da entrada do colégio respirando vez ou outra de forma profunda.
BRILHA, BRILHA ESTRELINHA!!! 🌟🌟🌟
Oi amoras, como estão? Espero que muito bem!! Então, o que acharam desse reencontro nostálgico das irmãs Piierce? Allyson parece ser bem teimosa e tem cara de quem poderia fazer a vida da Atelina um inferno. E esse castigo, será que vai funcionar ou o feitiço vai virar contra o feiticeiro? Como acham que vai ser o primeiro dia da Atelina?
Amoras não se esqueça de votar e comentem bastante!! Quero saber o que estão achando do livro novo. Logo, logo termino os banners para divulgação.
Até o próximo capítulos.
Abraços quentinhos.
- Atelina.
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