Capítulo 24 - Revelações
https://youtu.be/4U2NtnitLx8
Quando o carro estacionou tentei de todas as formas abrir meus olhos, queria saber para onde ele tinha me levado. Podia apostar, e torcia, que fosse no seu apartamento, mas estava muito quieto para ser o prédio e a brisa era diferente. O lugar era aberto, o cheiro de natureza e grama inundou o meu nariz e eu soube que estávamos próximo do mato.
Daimen me pegou novamente no colo, depois de tirar o cinto. Ouvi seus passos caminhando e subindo algumas escadas e até mesmo quando a campainha foi tocada.
Ouvi a porta ser aberta e um grito ser abafado. A luz que bateu nas minhas pálpebras machucava meus olhos mesmo eles ainda estando fechados.
— O que ela tem? — A voz era de Kamila, então significava que eu estava em casa.
— Eu acho melhor ela mesma explicar para você, depois — Ele entrou na casa, sabia porque as luzes ganharam um novo ângulo sobre meus olhos — Vou levar ela para o quarto.
— Ah sim, claro! — Ela se atrapalhou nas palavras — O quarto dela é o primeiro a esquerda.
A bebida não tinha me afetado muito, pois ri quando Kamila falou onde ficava meu quarto, pois Daimen já sabia qual deles era. Ele aparecia com frequência por aqui de acordo com o que tinha me falado.
Daimen entrou no quarto com dificuldade por ainda estar me carregando, mas devagar e com cuidado pelo mesmo motivo, deitou-me cuidadosamente na cama. Ele me deixou sozinha e após mais uma tentativa de abrir meus olhos consegui ver ele entrar no banheiro, voltando em seguida para me carregar novamente para dentro dele.
Demorei demais para raciocinar o que ia fazer e rapidamente sem aviso prévio ele me colocou debaixo da ducha fria ligada. Minha cabeça recebendo aquele jato de água congelante, enquanto eu quase me afogava.
— Daimen... desculpa — Eu queria dizer que eu estava envergonhada por ele me encontrar nesse estado deplorável, mas conseguia apenas dizer frases curtas e entrecortadas.
Depois de dar voltas no banheiro com os dedos das mãos transpassando pelo cabelo de nervosismo pensei que fosse embora e me largaria ali, mas Daimen pegou um banquinho escondido do lado da pia e sentou na minha frente fora do box do chuveiro. Ele examinou meu rosto, o seu com uma expressão de pena, deixando-me com mais raiva e vergonha. Ele então esticou a mão esquerda e acariciou meu cabelo molhado.
— Por que faz isso? — Sua pergunta era precisa, mas não consegui responder — Eu não consigo ver você assim e saber que alguém tão... você é perfeita.
— Eu não sou perfeita! — Refutei seu elogio e tirei sua mão do meu cabelo. Podia ser um elogio, mas me deixava no fundo do poço por mais fofo que fosse.
— Para mim você é! — Ele rebateu, indignado — Atelina, você pode estar correndo perigo e fica se colocando em situações desnecessárias.
— Eu sei disso, mas não consigo raciocinar direito quem pode estar me enganando. E isso não tem importância agora — Eu disse, percebendo que ele não sabia de nada sobre meus pais. Ninguém sabia — Você acredita que na noite em que eu li o livro encontrei meu pai? E para completar, ele me disse que minha mãe, não... não, a mulher que me deu à luz estava me enganando.
Eu ri da situação mesmo que não tivesse graça. Eu estava triste e sentia muita dor. Graças a isso agora eu entendia o tamanho do egoísmo que tinha dentro de mim. Eu corria perigo e poderia colocar outras pessoas na mesma situação, como fiz com Ryan hoje.
Daimen respirou fundo, consternado. Ele sabia o que eu estava pensado e sabia que eram pensamentos que só uma pessoa com problemas teria. Era o meu caso. E além disso eu notei que ele parecia querer controlar os batimentos do coração, porque ele ainda estava com raiva. Eu podia sentir.
— Por que se destrói tanto? — Sua voz era como uma canção de ninar.
— Você não sabe? Pensei que soubesse minha história — Ri, sarcástica — Daimen, você está se metendo com uma garota completamente em pedaços. Se você não sabe, eu vou contar — Arrastei meu corpo até a borda do box, aproximando-me dele — Depois de ler o diário do meu pai eu descobri que quando eu era apenas um feto na barriga da minha mãe, apenas um ser indefeso, ela não me desejava. Meu pai teve que fazer sua cabeça para que ela me desse à luz. Depois cresci sem mãe e sem pai porque ambos se mataram. Fui criada por um irmão que só era 4 anos mais velho que eu e uma tia que não tinha nem para ela viver, mas que teve que criar três crianças que não eram suas.
Minhas palavras doíam quando eu percebia o que estava dizendo. Daimen me ouvia e me deixava desabafar enquanto sua expressão era imutável, eu podia apostar que ele queria sair correndo e ficar longe de uma maluca como eu que só sabia jogar na cara das pessoas o veneno que havia no próprio coração machucado.
— Na adolescência, eu era uma vadia burra que só fazia coisas erradas, machucando todos ao meu redor. Depois por minha culpa meu irmão foi mordido por um demônio desgraçado que minha melhor amiga não avisou a ele que estava perto, ela sabia! Mas o nascimento do irmão era mais importante do que a vida das outras pessoas e eu... — Minha cabeça começou a latejar e as lágrimas quente se misturavam com a fria que ainda caia na minha cabeça. Respirei fundo para continuar — eu amava um idiota que me abandonou para se casar com outra, só por causa das riquezas que ela tinha... isso apenas me destruiu mais um pouco. Então Daimen, eu sou destruída! Sou cada pedaço destroçado do que nunca pude ser.
Os soluços começaram a subir pela minha garganta e senti que estava livre de tudo. Tudo estava no ar e eu percebi agora o quanto precisava falar isso em voz alta. Sempre guardei e conforme os anos passavam eu enterrava os acontecimentos e cobria com uma vida perfeita que não era de todo perfeita.
Afastei-me dele e voltei a me encostar na parede longe da água, dele, das palavras ditas e me entreguei a dor. Deixei que as lágrimas caíssem em abundância e que tudo enterrado subisse pois era o momento certo para baterem a porta, ela estava escancarada e não iria se fechar tão cedo.
Levantei meus olhos marejados de lágrimas para encarar Daimen que parecia não saber o que fazer. Ou sabia, mas estava com medo de ser um erro. Eu me sentia segura apenas por ele estar na minha frente me encarando, mesmo que estivesse com pena de mim. Eu precisava da sua pena, da sua compaixão e precisava do seu calor...
Ele levantou em um súbito movimento gracioso e ergueu os braços extinguindo a camisa que vestia, os sapatos e as meias e entrou no box do banheiro, sentando ao meu lado. Daimen segurou meu corpo contra o seu, envolvendo-me em um abraço de urso que eu precisava. Ele ouvira meus pensamentos e atendeu ao meu pedido oculto.
— Ei? — Daimen levantou meu rosto para que eu encarasse seus olhos amarelos que brilhavam — Você não é destruída, agora você tem a mim. Eu posso e vou pegar de volta cada pedaço que a vida trincou em você.
— Mas um dia você pode ir embora e ninguém mais vai querer me ouvir, ninguém vai me abraçar debaixo do chuveiro porque eu pedi — Falei e ele riu, o que me fez sorrir — Isso é tão ridículo, uma mulher da minha idade estar sofrendo por....
— Não fala isso, não é ridículo — Ele roçou os dedos dobrados na minha bochecha e colocou a mecha de cabelo molhada que estava grudada no meu rosto atrás da orelha — E eu ainda estou aqui, não? — ele perguntou e eu concordei — Então faz uma tentativa para mim, levanta amanhã e sem remoer suas atitudes passadas e o que aconteceu quando você nem pensava por si mesma e seja uma vampira sem correntes.
— E se eu voltar a ser a maluca que todos tinham medo? Eu tentei quando meu irmão morreu e matei muita gente por não remoer minhas atitudes.
— Mas você não me tinha antigamente — Ele sorriu e tocou a ponta do meu nariz — Tente ser assim, mas mude algo. Tenha sentimentos e lembre-se que mudar é como uma porta que nunca mais se abre.
Ele tinha razão, na época em que eu me deixei levar eu não queria sentir nada, nem arrependimento, nem mesmo compaixão que poderia ter evitado que eu matasse tantas pessoas. E além disso eu não tinha ele, Daimen Kennedy, o Anjo que conheci por acaso.
Deitei minha cabeça no seu peito nu e me aconcheguei, sentindo em seguida seus lábios tocarem o topo da minha cabeça, seu abraço ficar mais apertado e o silêncio mais confortável reinar no banheiro, além do som suave das gotas de água do chuveiro ainda soar. Mas logo o sono chegou e minhas pálpebras e cabelo molhados pediam para que eu saísse do banheiro.
Mesmo que a posição em que estávamos fosse boa e eu não quisesse quebrar esse momento não adiantou nada por causa do dom de ele saber sempre o que eu pensava.
— Termina seu banho, eu vou me secar no quarto — E com um selinho casto nos meus lábios ele se afastou de mim, saindo em seguida do banheiro.
Levantei do chão, alcançando o sabonete líquido com aroma de rosas e esfreguei com força minha pele como se com a esponja eu pudesse tirar toda a sujeira da minha alma, um pouco menos danificada que antes. E com o álcool saindo da minha cabeça e do meu organismo me senti mais leve ao pisar no chão, alcancei uma toalha e encontrei meu pijama dobrado sobre o vaso sanitário.
Vesti minha calcinha que estava no meio, um top de conjunto e depois o pijama que consistia em um short preto de tecido leve e macio, junto com uma blusa de manga cumprida bege. Calcei os chinelos que também estavam no banheiro e sai.
Daimen estava deitado na minha cama do lado que eu não gostava de dormir com as mãos atrás da cabeça e as pernas cruzadas. Ele estava totalmente seco vestindo uma calça diferente. Caminhei até o armário procurando outra toalha para secar meu cabelo molhado e lembrei que Daimen teve que me procurar para me encontrar no bar.
— Daimen? — Chamei e ele grunhiu sem abrir os olhos — Como me encontrou no bar?
— Eu passei na casa da Sarabi e ela falou que você saiu com um amigo. Sua amiga Dabria falou que vocês estavam marcando de beber alguma coisa então...
Sentei na cama de pernas cruzadas, olhando seu rosto. Ele abriu os olhos e me encarou.
— Na verdade, eu consigo sentir o que acontece com você e percebi que precisava de mim.
Fiquei sem fôlego e me arrastei até seu corpo para deitar novamente em seu peito, eu não sabia o que dizer.
— E eu precisava falar com você — Ele murmurou, acanhado.
— O que era? — Perguntei.
Suas mãos saíram detrás de sua cabeça e me abraçaram se assemelhando a um abraço de consolo. Então comecei a pensar no pior que ele tinha para me dizer. Talvez por causa do show que eu tinha dado ele quisesse ir embora ou ia terminar comigo para ficarmos na amizade. Mas eu nem sabia qual era a nossa relação agora.
— Não exagere, eu ainda nem disse nada — Ele respondeu meus pensamentos.
Olhei nos seus olhos procurando dicas, setas luminosas algo que me dissesse logo o que meus ouvidos esperavam.
— Eu vou precisar viajar.
— O que? — Indaguei, enquanto levantava do seu peito e afastava meu rosto para fixar melhor meus olhos nos dele — Você vai embora por causa do que eu fiz? Mas você disse...
— Calma! — Ele mudou de posição e sentou na minha frente, alcançando minha mão — É só por um mês.
— Um mês? — Minha voz aumentava, revoltada.
Daimen sorriu e me puxou para junto de si novamente. Senti a risada crescer dentro dele e me revoltei mais ainda lhe acertando um soco fraco na sua barriga, que não foi nada, mas que fez com que parasse de rir.
— Não vou abandonar você, se quisesse fazer isso eu iria sem avisar — Sua mão acariciava meu cabelo — Eu vou a trabalho.
— Pensei que seu trabalho fosse nos portões do inferno — Sussurrei contra seu peito.
— Era quando estava fechado, mas fui dispensado e voltei ao meu antigo trabalho — Ele ainda achava graça — Piierce, eu preciso ir e você precisa usar a dica que dei.
Afastei-me do seu abraço para mirar seu rosto, ainda indignada. Ele acabou de dizer que eu tinha ele. E se eu precisasse dele? Eu iria fazer merda sem ele, com certeza.
— Mas e se eu fizer...
Ele me beijou, interrompendo minha frase que tinha como intuito fazer com que ele ficasse. Essa era a minha intenção. Eu não queria ficar um mês inteiro sem ele. Não que eu não conseguisse viver sem ele, mas me sentia melhor sabendo que estava por perto.
— Você pode me ligar, quando quiser — Ele acrescentou, ainda segurando minhas mãos — E vou deixar uma cópia das chaves do meu apartamento com você.
— Você vai voltar mesmo? — Perguntei.
— Sim, eu volto — Sua mão acariciou meu rosto.
Daimen voltou a deitar na cama, levando-me junto. Eu não falaria nada, não havia mais nada para dizer e mesmo que tivesse não convenceria ele a ficar, era trabalho. Não sabia no que ele trabalhava e ainda assim eu deixaria ele ir. Olhei para o teto procurando alguma coisa para dizer, porque ao contrário do silêncio do banheiro após meu desabafo, esse era completamente desconfortável.
— Meu aniversário é mês que vem — Lembrei da data e de como não nos conhecíamos direito, então decidi falar.
— Eu voltarei antes, eu prometo.
CADÊ MINHAS ESTRELAS? CADÊ MINHAS ESTRELAS? 🌟🌟🌟
Olá amores, como estão? O que acharam do capítulo novo e das revelações que Atelina disse ao Daimen? Será que ele sabia disso tudo? Ela não parece ser uma má pessoa, mas sempre arrasta as pessoas para suas confusões. E querendo ou não ela já se apegou a ele, não? E esse trabalho, o que será que Daimen vai fazer um mês longe?
Não se esqueça de votar e comentar!!!
Beijos e abraços enormes.
- Atelina.
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