Capítulo 23 - Coração em Pedaços

   E como eu lembrava. Era impossível esquecer. Ele tinha as mesmas características de Dabria, menos os olhos. Os dela eram verde jade escuros e os dele claros como se fosse uma mistura aquosa.

     — Claro. É Nathan, não?

     — Sim, acertou — Ele sorriu, constrangido.

   Dake colocou mais carne na churrasqueira e os seus vizinhos se aproximaram mais para pegar e começar a fila para o almoço, mesmo que tão tarde. Encarei Nathan. Ele era bonito e sua aparência gentil, mesmo assim estava longe de ser o meu irmão Nathan. Seus traços eram completamente o oposto. Nathan Piierce era mais alto, os olhos escuros e o cabelo quase negro.

   Nathan olhava fixo na direção das mesas. Segui seus olhos e notei que estava olhando para a irmã. Quando cheguei na cidade e Deb nos levou até lá para sua casa percebi como a casa parecia vazia. Nathan com certeza morava com irmã, mas por algum motivo não estava com ela e além disso estava aqui. Visitando talvez um amigo?

     — Você não mora com a sua irmã? — Perguntei.

   Ele virou para mim, surpreso.

     — Eu fui morar com ela depois que nossos pais morreram, mas nós discutimos quando fiz uma pergunta para ela. Eu com certeza tinha o direito de saber e não seria o fim do mundo me responder — Nathan falou, magoado e ainda olhando para ela — Ela não quis me responder e meus pais não podiam, então me mudei.

     — Que pergunta?

     — Queria saber qual era a história do meu nome. Anjos Terrestres sempre tem algum motivo para escolher o nome de seus filhos e eu queria saber o motivo do meu nome, minha mãe uma vez me disse que Deb quem escolheu.

   Prendi a respiração ao ouvir aquelas palavras. Eu sabia essa história e o motivo de Deb ter escolhido esse nome. Era simples, o nome vinha do meu irmão e Dabria pediu para dar esse nome para o menino que nasceu no mesmo dia em que meu irmão morreu. Ela pediu como uma forma de se redimir. Allyson culpou ela pela morte de Nathan e ela ficou com a consciência pesada, disse a mãe que Nathan foi forte e lutou até o último segundo contra a mordida de demônio que o matou e por isso a mãe aceitou o nome.

   Prendi a respiração sentindo um bolo se formar na minha garganta, segurei a vontade de chorar e abafei um soluço. Olhei para o garoto ao meu lado que ficou em silêncio notando a mudança na minha reação.

     — Desculpa, Nathan — Falei, ele sorriu — Eu também acho que você merece saber, tente mais algumas vezes, mas lembre-se que só ela pode escolher o momento que estiver pronta para contar.

   Ele não entendeu nada, estava confuso porque não entendia a minha mudança repentina, mas estava feliz pela dica.

   Levantei com pressa, estava mais uma vezes me afundando na parte mais sombria do meu subconsciente, o lugar onde eu guardava todas as minhas dores, e outra vez estava começando a desabar. O que realmente desabava não eram as dores, mas a felicidade fingida que eu mantinha sempre como uma mascara. Sempre que me lembrava de Nathan e as coisas que aconteceram depois, essa felicidade fingida não conseguia ser mantido na minha cara.

   Encontrei Ryan na cozinha e percebi que o pagamento não poderia demorar mais, eu precisava de ajuda, uma que por algum motivo eu só encontraria em uma garrafa de whisky. Luke não estava aqui. Nem Ally ou Daimen. Eles não podiam aliviar à distância a dor que crescia no meu peito, causada por anos de omissão.

     — Ryan, seu pagamento não deve esperar — Anunciei, encontrando Sarabi na porta da sala — Sari me desculpa, mas isso é urgente, preciso ir.

   Ryan continuava calado, deixando-se ser puxado enquanto me encarava incrédulo. Eu tentei colocar um sorriso no rosto, mas só consegui um meio sorriso amarelo. Minhas esperanças  e otimismos que eu usava para me manter na luz estavam desaparecendo em meio a escuridão que crescia dentro da minha cabeça. As perdas que tive estavam ficando cada vez mais nítidas e o sentimento que senti em cada uma delas se afloravam em mim novamente como se estivessem subindo a superfície.

   Deixei que Ryan dirigisse, enquanto meu rosto expressava minhas dores. Ele sabia que era estranho meu comportamento e por me conhecer pelo menos um pouco mais do que alguns dos meus amigos, não tocou no assunto.

   Decidi ligar para Laura no caminho quando percebi que não havia sentido fazer isso sozinha. Ela adorava fazer isso comigo quando trabalhávamos juntas e dessa vez com certeza também aceitaria, lógico que antes nunca com a intensão de amortecer a dor. Nós sempre nos divertíamos juntas e por isso se ela aparecesse iria tentar se divertir e me ajudar a fazer o mesmo, sem saber o que realmente acontecia na minha cabeça.

     — Oi! Não faça perguntas, preciso de ajuda me encontre no bar Stay Stop.

     — Estou indo — Ela avisou, desligando.

   O carro foi estacionado no estacionamento atrás do bar. Ryan trancou as portas antes que eu saltasse e virou na minha direção, esperando uma resposta, a pergunta estampada no seu rosto.

     — O que aconteceu? — Ele perguntou, percebendo que eu não diria nada se a pergunta não fosse colocada em palavras.

     — Nada — Respondi, abrindo meu sorriso amarelo.

     — Fala, Atelina. Sabe que pode me dizer — Ele insistiu — Nunca julguei você e não varei isso agora.

     — Ok, eu estava conversando com o irmão da Dabria e ele me fez lembrar do meu irmão — Isso era o máximo que eu podia dizer. Ninguém sabia sobre meus pais ou de toda a merda que eu escondia para mim mesma — ele nasceu, quando o Nathan morreu.

   Minha visão ficou embaçada, as lágrimas começaram a cair descontroladamente sobre minhas mãos fechadas sobre minhas pernas e minha garganta fechada com o bolo ainda maior.

     — Não chora, Atelina.

     — Não tem como! Eu me sinto tão mal em saber que ele não sabe de onde veio o próprio nome, meu irmão não foi uma pessoa má. E eu sei que eu sou a culpada pela morte dele, se eu pelo menos tivesse...

   Ryan segurou minha mão e a apertou.

     — Nada disso, eu posso não ter te conhecido na época, mas tenho certeza de que você não varia isso com o seu irmão. Se tivesse oportunidade de você salvar ele, você o faria. Então não faça isso com você mesma, não se torture mais — Ele disse e eu assenti — Vamos entrar?

   Limpei minhas lágrimas. Em partes concordava, mas não deixava de pensar que meu irmão sofreu a cada minuto na cama de um hospital enquanto eu implorava para que vivesse por causa de um pensamento egoísta meu. Respirei fundo e saindo do carro coloquei um meio sorriso no meu rosto. Não podia parecer fraca agora, mesmo que todo o meu ser fosse exatamente composto de pura fraqueza.

   Um BMW estacionou à duas vagas de distância. Eu sabia que era Laura e a maneira que o freio foi puxado a entregou de primeira. Todos ainda estavam preocupados comigo e o simples fato de ter ligado pedindo a ajuda dela era a brecha que eles precisavam para me encontrar.

     — Oi, tudo bem com você? — Ela disse ainda no carro — Por que me chamou?

     — Queria convidar você para beber com o Ryan e comigo, topa? — Apontei sutilmente para Ryan que esperava próximo a porta do bar.

     — Faz tanto tempo que você não me pede isso, claro que eu aceito.

   Ela saltou do carro, segurou meu braço com força puxando meu corpo para o bar como se eu fosse mudar de ideia na metade do caminho. Entramos e eu parei para pensar no que estava fazendo..., mas eu não podia pensar, isso faria eu mudar de ideia e estava determinada a fazer a bebida me ajudar por bem ou por mau.

   Deixei Ryan e Laura em uma mesa no centro do bar e fui para o balcão pedir as bebidas. Meus olhos refletiram o brilho das luzes nas garrafas de bebidas. Elas eram de diversas cores atrás do balcão e eu admitia que as usaria apenas para anestesiar a dor e não porque realmente amava beber loucamente.

     — Uma garrafa de whisky e 3 copos — Pedi ao barman.

     — 4 Copos, por favor.

   Um garoto que eu não tinha notado estava parado a dois bancos de distância de mim. O cabelo em um tom escuro e um pouco maior que a maioria dos homens costumavam usar. Seus olhos eram verdes contra a luz do bar que pareciam terem ficado um pouco mais sombria após a sua chegada, como se tivesse estipulado o momento perfeito para fazer uma aparição.

   Ele sorriu para mim e eu devolvi o sorriso continuando a analisar sua aparência peculiar. Ele tinha duas tatuagens nos braços, uma era um peixe se contorcendo e a outra era um belo relógio de bolso.

   Eu me lembrava de ter visto essas tatuagens em outra pessoa, um amigo bem pouco conhecido da época em que ainda viajava muito, seu nome era Lorenzo Moretti. Ele tinha um temperamento difícil, mas não me lembrava de ele ter dito algo sobre conhecer Falls Stay.

     — Enzo Moretti? — Perguntei, receosa.

   Ele sorriu, um sorriso como se já esperasse por isso.

     — Oi, Atelina.

   Ele olhou para baixo, percebendo que os bancos que nos separavam eram muitos, então se aproximou.

     — Como você está? — Perguntei.

     — Estou muito bem, e você?

     — Estou viva, não?

   Enzo abriu um largo sorriso e seus olhos brilharam.

   O Barman voltou com a garrafa e os quatro copos que foram pedidos, paguei pela garrafa e coloquei no copo de Enzo o tanto que queria.

     — Foi bom rever você.

   Ele estava dando meia volta quando surgiu uma ideia na minha cabeça.

     — Espera, quer se juntar a mim e meus amigos? — Apontei para a mesa onde Ryan e Laura estavam — Você deve ter tanto para contar.

   Enzo parecia ponderar as opções quando olhou para atrás, na direção em que meu dedo havia apontado.

     — Tudo bem — Aceitou, finalmente.

   Voltei a mesa, interrompendo a conversa de Laura e Ryan que olharam de soslaio para Enzo, depositei a garrafa na mesa antes de apresentar meu velho conhecido.

     — Gente esse é Enzo Moretti, um conhecido aventureiro.

§ § § § §

   Enzo realmente tinha muito o que contar e tudo que contava era uma história mais peculiar que a outra e eu nunca as ouvira antes. Todas muito bem contadas e enormes como se nunca tivessem um fim. Depois de quase uma hora percebi que Ryan e eu tínhamos nos tornado velas, pois Enzo não tirava os olhos de Laura e suas histórias se tornaram cantadas bem diretas.

   Ryan e eu estávamos apenas conversando quando deixamos Laura tomar a decisão de ir com Enzo para outro lugar. Eu pensei em dizer alguma coisa, mas não conseguia ficar de pé sozinha sem que tudo a minha volta começasse a rodar, tudo balançava vertiginosamente.

   Eu não sentia mais a tristeza e nem os sentimentos que me fizeram chegar até aqui. A bebida conseguiu anestesiar todos os meus sentimentos e pensamentos, o único problema era que junto com a minha atitude egoísta e precipitada Ryan estava no meio. Mais bêbado do que eu, ao meu lado com um copo vazio e a cara grudada na mesa. Sua expressão era de quem queria muito deitar em uma cama. E eu estava sem opções e eu não sabia o que fazer e nem para quem ligar. Todos iriam querem me matar depois disso.

   Segurei-me na mesa, tentando manter meu corpo em pé e o arrastei com dificuldade para o lado de fora esparrando nas coisas a minha volta por todo o caminho. Abri a porta do bar sendo recebida por uma rachada de ar fresco, ele entrou nos meus pulmões e fez uma bagunça no meu estômago. Estava enjoada e bêbada na rua. Olhei para os lados procurando uma resposta, não a encontrei em lugar nenhum.

   Meu corpo então começou a pesar sobre meus pés e na metade do caminho para um banco de concreto que se mostrava bem mais confortável, meu estômago revirou com uma assustadora força que me puxou para o chão. Encostei minha cabeça na parede do bar e deixei minhas pálpebras pesadas se fecharem.

   Quando me assustei com o contado de uma pele quente contra a minha já fria, o tempo não fazia mais sentido. Eu podia estar jogada ao lado do bar há horas. Fui puxada com cuidado e carregado no colo. Não sabia quem era, mas agarrei minhas mãos no peito dele. Estava confortável. Colei meu rosto no pescoço e inalei o perfume familiar de Daimen.

   Senti meu rosto pegar fogo com o rubor da vergonha. Eu queria agradecer, mas não deixaria ele sentir o cheiro do meu pecado na minha boca, mesmo que por causa do suor eu estivesse fedendo a álcool a um tempo.

     — Realmente, você está cheirando a álcool — Ele respondeu baixinho no meu ouvido, seu hálito quente acariciando minha pele fria.

     — Como... você... me encontrou? — Perguntei, com a voz embargada.

   Meu corpo foi transferido para um banco. Tentei abrir meus olhos e vi o interior da SW4 dele e um pouco dos seus cabelos castanhos enquanto ele passava o cinto sobre meu peito. Ele estava cheiroso, algo cítrico. No mínimo tinha acabado de tomar banho enquanto eu estava cheirando a álcool. Voltei a fechar meus olhos e senti os lábios dele beijarem minha bochecha.

     — Não fala nada — Seu tom era suave.

   Continuei acordada, mas ainda de olhos fechados, porque quando tentava abri-los sentia como se estivessem secos e pesados. Eu queria muito ter certeza de como a expressão de Daimen estava, mas os batimentos acelerados do seu coração e sua respiração desenfreada me respondiam que estava no mínimo nervoso.

E essa estrela já fez ela brilhar? 🌟🌟🌟

Oi anjinhos, como estão? O que acharam do capítulo novo? Atelina parece só fazer merda né? Mas fazer o que, isso que dá fugir de tudo e esconder os seus sentimentos. Será que Daimen vai ficar bravo com ela? E como será que ele a encontrou? 

Espero vocês no próximo capítulo. Não se esqueçam de votar e comentar!

Abraços quentinhos.

- Atelina.

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