Capítulo 20 - Só mais um favor
https://youtu.be/-Z2vfH85OKc
Oie meus amores, trouxe essa música para vocês ouvirem caso não a conheçam, ela vai tocar no carro de Daimen e é a favorita de Atelina. Ela também é a minha favorita, mas ela só faz parte da trilha sonora do livro 2.
Esperei mais ou menos vinte minutos sentada em uma pedra grande enquanto ele não chegava. E quando estava para perder as esperanças vi um Jeep vindo na minha direção na contramão. O Jeep era cinza, com a aparência de novo e seus pneus pretos e lustrosos havia acabado de ganhar uma camada marrom de terra.
Daimen estacionou o carro o mais próximo possível da moto de forma brusca, fazendo poeira subir ao nosso redor. Ele saiu do carro com o semblante sério e rígido sem olhar para mim. Abriu a lona da mala, pegou a moto com os próprios braços nus sem dificuldade e colocou lá dentro prendendo ela com um elástico preto que a manteve firme.
Ainda sem olhar para mim ele desceu da mala, deu a volta no carro e entrou no banco do motorista. Só então olhou para mim. Parecia soltar fogo pelos olhos. Eu esperei que falasse comigo, estava com medo de subir e levar um sermão daqueles.
— Vai entrar? Ou quer ficar aí? — Ele perguntou, ríspido.
— Vou entrar.
Dei a volta no Jeep, por trás para evitar que nossos olhos se encontrassem. Eu senti sua raiva nas poucas palavras que me proferiu e sabia que ele estava se segurando para não soltar sobre mim tudo o que queria dizer.
Não era justo. Éramos conhecidos de algumas semanas, ele não precisava estar tão preocupado.
— Nem começa, Daimen.
— Nem começa? — Ele perguntou, com um olhar incrédulo e a voz levemente alterada — Nem começa o que exatamente?
— Você vai reclamar da minha atitude de ter saído de casa no meio da noite em meio a um turbilhão de emoções de moto. Vai dizer também que eu poderia ter sofrido um acidente, mesmo que isso não fosse me matar e outras coisas relacionadas a minha segurança e blá, blá blá... não faz isso. Vai parecer que se importa — Finalizei, alegre por ter dito tudo e acreditando que isso faria ele não dizer nada de volta.
Ele, pelo contrário, impedia que a raiva explodisse com a mão sobre a boca e mordendo os lábios com muita força.
— Quer saber? — Ele me olhou, foi o olhar mais carregado que ele me lançou até hoje. A raiva trasbordava de seus olhos — Eu me importo!
Seu grito fez eco na estrada vazia. Mas assim que o silêncio voltou, ele reinou. Não conseguia dizer nada. Eu não conhecia Daimen muito bem para entender os motivos de ele querer me proteger de tudo. Era estranho, era como se ele fosse obrigado. Mas eu nem fazia ideia de quem ele era. Ainda devia minha vida a ele, então tinha que pegar leve e pagar minha dívida.
— Ok, — Murmurei, como um animal ferido — me desculpe.
A forma como me encarou parecia não acreditar nas minhas palavras, mas eu estava sendo sincera. E me sentia egoísta sabendo de todo o esforço que ele fazia por mim.
— Vou te levar para casa — Ele ligou o motor, pronto para sair quando toquei sua mão e olhei em seus olhos com a maior cara de cachorro sem dono que conseguia fazer.
Eu ainda não podia voltar para casa.
— Não! Pode me levar para qualquer lugar. De preferência um onde eu possa tomar banho, mas agora eu realmente não quero voltar para casa.
Daimen não respondeu. Nem sequer olhou para mim novamente. Ele ligou o carro, deu meia volta e dirigiu em direção a cidade, passando pela minha casa. Eu sabia que ficariam preocupados. Mas Ally não chamaria a polícia, mesmo assim talvez ficasse o dia inteiro grudada ao celular.
O silêncio que reinou no carro me incomodava. Então encarei o caminho que ele fazia. Mas me cansei da paisagem facilmente, então olhei para Daimen enquanto ele ainda pressionava o dedo sobre os lábios e mordia o inferior, com certeza contendo sua raiva.
Quando percebeu meu olhar ele se esticou para ligar o rádio. Agora havia uma curvatura em seus lábios que me deixou com dúvidas quanto a intensidade da sua raiva. Não parei para medi-la, a música que tocava era a minha favorita. Here without you. Logo que me concentrei na letra da música me perdi e esqueci de prestar a atenção para onde Daimen nos levava.
O carro parou assim que ela acabou. Daimen havia parado na frente de um prédio grande, que eu sabia qual era apenas pela entrada chique.
Havia um letreiro que indicava o nome, mas pela estrutura e o material refinado que o lugar era feito só podia ser o famoso Premium. Um prédio para ricos onde alguns dos apartamentos comportavam um andar inteiro.
Esperei que me dissesse que não morava ali e que ia pegar alguma encomenda, ou que ele pagaria um quarto para mim. Mas Daimen levantou três notas de cem no ar em frente ao meu rosto e antes que dissesse alguma coisa conclui que isso não pagava um quarto no Premium.
— Ali atrás tem uma loja de roupas. Eu espero você aqui.
— Não precisa — Refutei as notas. Eu podia pagar minhas roupas.
— Pega e vai comprar, pode me pagar depois — Ele insistiu, mas eu não estava confiante em aceitar — Acho que sua irmã pode me pagar agora se eu ligar para ela e dizer onde você está...
— Ok, tudo bem. Estou indo — Interrompi sua ameaça e agarrei as notas.
Desci do carro e segui caminho até onde ele havia apontado. Encontrei uma rua cheia de lojas de roupas de onde saiam e entravam muitas pessoas constantemente. Lembrei-me que era sábado, hoje era o dia de gastar dinheiro na cidade.
Sorri comigo mesma e entrei na primeira loja, onde eu encontrei roupas adequadas. Peguei as notas para pagar duas blusinhas, dois shorts; um de malha largo e outro jeans e por último encontrei lingeries. Comprei tudo do mais simples e barato. Não podia gastar muito do dinheiro de Daimen. Ele estava me fazendo um favor não ligando para ninguém.
Ainda pensando no prédio onde Daimen estacionou, comecei a pensar em como seria o lugar que ele morava.
Imaginei um lugar escuro de janelas fechadas constantemente, com roupas penduradas, toalhas secando em qualquer lugar, comida pela metade, garrafas de bebida espalhadas e com certeza calcinhas espalhadas pelo quarto. Ele era bonito demais para estar solteiro, pelo menos devia estar em um relacionamento casual. A não ser que fosse gay, o que seria interessante e mesmo assim não responderia o porquê de estar solteiro.
Aproximei-me pela janela, mas Daimen me esperava do outro lado do carro. Parei ao seu lado lhe entregando na mão o troco.
— Onde você mora? — Perguntei.
— Aqui — Ele apontou para o prédio e levantou sua cabeça — Vamos?
Meu queixo caiu, segui sua cabeça para cima. Daimen teria todo esse dinheiro? Balancei a cabeça afastando o pensamento. Isso estava mais do que respondido. Ele tinha uma SW4 e um Jeep. Ambos eram bem conservados. Então sim. Daimen tinha dinheiro.
Acompanhei seus passos enquanto ele caminhava para o elevador. O prédio por dentro era ainda mais bonito. O homem na recepção nos encarou quando passamos, mas assim que Daimen acenou ele sorriu alegre. Eu estava atrás morrendo de vergonha pelo estado das minhas roupas e pelo rosto inchado.
Entramos no elevador. Na parede ao lado da porta tinha diversos botões circulares numerados de 1 a 29, alguns tinham letras e acima dos números também tinha um televisor preto, era para colocar a senha dos apartamentos que ficavam mais encima, aqueles que ocupavam um andar inteiro.
Daimen apertou o número 25 e esperou paciente o elevador subir. Não demorou e logo as portas se abriram para um corredor com poucas portas, afastadas umas das outras com outros números gravados nelas.
O corredor tinha um papel de parede marrom e branco, o piso era escuro também, o que dava um ar sombrio e elegante a ele. Continuei seguindo Daimen até que ele parou diante a uma porta com o número 50 pendurado, em dourado.
Daimen deixou que eu entrasse primeiro apontando para dentro. Entrei receosa por causa da visão que minha cabeça tinha montado do apartamento dele, uma visão tão estereotipada que me fez cair do cavalo. Não havia comida estragada em lugar nenhum. Nem calcinhas, nem garrafas de bebida, muito menos roupas espalhadas.
As janelas a minha frente iam do chão ao teto em mais ou menos 2,5 metros apenas de vidro. A luz do dia batia contra as paredes escuras e o piso de madeira um pouco mais clara estava coberto por um tapete bege na região da sala no meio de três sofás. Eles eram grandes tanto de largura quanto de comprimento de uma cor cinza.
Havia um nivelamento de dois degraus onde era a sala e na parede na frente dos sofás havia uma lareira debaixo de uma teve. Do outro lado era a cozinha. Os armários eram pretos e havia uma mesa de vido na frente da janela. Sobre ela estava um pequeno vaso marrom sem flor.
— Cuidado com a mosca! — Ele exclamou, rindo — Boca fechada não entra mosca, sabia?
— Valeu pelo aviso — Falei, sarcástica.
— Pensou que eu era bagunceiro, né? — Ele me encarou com um sorriso debochado no rosto, e olhos vidrados de alegria.
— Admito que sim — Admiti, sentindo meu rosto queimar.
Daimen riu alto e tirou a jaqueta que usava pendurando em um cabide que ficava próximo à porta e ao lado de uma mesa marrom onde ele deixou as chaves do carro. Ele virou na minha direção rapidamente como se lembrasse no momento em que se virou que eu estava ali.
— Na segunda porta a esquerda tem um quarto com banheiro, onde você pode ficar até decidir ir embora.
— Ok, obrigada — Falei, quase como um sussurro.
Caminhei na direção que ele dera e consegui encontrar o quarto em um corredor de cinco portas. Entrei esperando encontrar mais móveis bonitos. Mas o quarto era simples. Ele morava sozinho. E o quarto não era usado. Sorri com o pensamento.
A cama era grande com colchas bege e cabeceira branca. Havia uma penteadeira com espelho também e a minha direita estava a porta que levava ao banheiro pequeno com uma ducha espaçosa.
Larguei a sacola com as minhas roupas novas e escolhi a mais aceitável para sair do prédio e ir ajudar Sarabi na mudança. Debaixo da ducha tomei um banho tirando toda a poeira e cinzas do meu corpo. Lavei o cabelo e o prendi na toalha para secar mais rápido enquanto pensava em como pediria carona para Daimen. Eu só estava acumulando favores com ele e parecia não conseguir parar de pedir mais.
Quando terminei senti que o cansaço estava aponto de dominar meu corpo, mas eu não queria dormir. Eu tinha medo que as lembranças que os diários afloraram voltassem. E falei que ajudaria Sarabi na mudança.
Olhei para o meu celular e lembrei das mensagens que eu não estava afim de ler. Então larguei ele debaixo do travesseiro e levantei rapidamente me aproximando da sala. Daimen mexia no celular deitado no sofá de frente para a teve que passava o jornal da manhã.
Sentei no outro sofá ao lado encarando seu rosto. Ele levantou seus olhos na minha direção, seu olhar dizia que ele sabia que eu pediria alguma coisa. Ultimamente era só o que eu fazia.
— Tenho algo para pedir — Expliquei, desviando meus olhos para o chão.
Ele franziu o cenho, confuso.
— Não pedindo meu sangue, eu aceito qualquer coisa.
Revirei os olhos, fingindo não entender o duplo sentido.
Daimen sentou no sofá, desistindo completamente do que fazia no celular para prestar atenção no meu pedido.
Sentei ao lado dele, sem olhar para seus olhos. Eu não conseguia fazer isso por muito tempo. Seu tom de amarelo era tão profundo, quase como se fossem me perfurar sempre que me prendia neles.
— Na verdade, só precisa me emprestar algo — Olhei para todos os lugares do seu rosto evitando os olhos — Empresta seu carro?
— Onde você vai? — Ele arqueou uma sobrancelha, encostando suas costas no sofá.
— Uma amiga acabou de se mudar e ela pediu minha ajuda, — Falei, vendo sua expressão mudar — pode me emprestar o carro?
Encarei seus olhos a procura de uma resposta antes que ele mesmo me dissesse. Eu estava confiante de que ele me emprestaria o carro. Porque quem iria querer uma mulher chata como eu dentro de casa enchendo o saco com seus problemas pessoais que incluíam muito choro?
— Eu levo você — Disse, simplesmente.
Abri a boca para protestar, mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa ele já colocava a jaqueta e pegava as chaves.
— Vamos?
— Claro! — Respondi, não querendo começar uma discussão.
Voltei para o quarto para pegar minha jaqueta e sem nem pensar duas vezes larguei o celular no mesmo lugar onde deixara.
Logo após apontar para que eu saísse primeiro deixei o apartamento de Daimen. Percebi que quando queria ser um cavalheiro ele conseguia com muita facilidade. Eu gostava desse lado dele.
Entramos no elevador. Daimen voltando a mexer no seu celular e eu, como havia largado o meu no quarto, comecei a observar o reflexo dele nas paredes do elevador. Ele tinha cabelos meio claros e ficavam ainda mais quando a luz batia contra os fios. O formato do seu rosto dizia que ele havia passado por muita dificuldade na vida, como se já fosse velho e experiente, mas ainda mantinha o rosto jovem e bonito.
Quando percebeu que eu o encarava, olhou nos meus olhos através do espelho e sorriu como se soubesse meu maior segredo. Ele fazia isso com frequência. Desviei meus olhos percebendo no ato que não tinha outro lugar para onde olhar. Éramos os únicos no elevador e eu não tinha nada para fazer.
Até poderia começar a fazer uma serie de perguntas para conhecer ele melhor. Eu não sabia de nada. Mas isso seria indelicado da minha parte. Eu não tinha o direito de perguntar nada. Mesmo assim eu gostaria...
— Pode perguntar o que quiser — Ele disse, interrompendo meus pensamentos.
Assustei-me com suas palavras repentinas. Ele me ouviu?
— Como...?
— Você realmente só percebeu agora que eu sei sempre o que você está pensando? — Ele tinha um sorriso convencido nos lábios.
Virei-me para encarar aquele sorriso, mas me senti tão pequena comparada à altura dele que fiquei quieta. Além de parecer ser bem forte debaixo daquelas roupas ele era completamente intimidador, com todo o seu tamanho.
— Olha, eu nunca conheci um Anjo de verdade, ou melhor, do céu, então não me julgue em ser um pouco lerda — Pedi e Daimen assentiu ainda com o sorriso irritantemente convencido nos lábios — Ok, se me deu carta branca para fazer as perguntas vamos ver... qual é sua data de aniversário?
De todas as perguntas que eu poderia fazer aquela foi a mais idiota. Mesmo assim eu queria saber a resposta. Os Anjos Falsos tinham data de nascimento. O rosto de Daimen se contraiu e ele soltou uma risada alta e bem descontraída, fazendo eu me arrepender de ter feito a pergunta.
Não me deixei levar e esperei minha resposta com dignidade.
— Atelina, eu sou um Anjo Caído não tenho data de nascimento. Tenho só a data da queda — Ele disse, pausadamente.
Eu gostava de ouvir meu nome na sua voz, mas deixei passar despercebido e encarei ele para que pudesse entender que isso bastava.
— Tudo bem. 21 de dezembro e o ano não posso dizer.
Eu entendia, um pouco. Até pouco tempo só conhecia minha data de nascimento e não tudo o que ela significava.
— Há quanto tempo está aqui? — Passei para a próxima pergunta.
Ele me encarou levantando as sobrancelhas, não entendendo minha pergunta.
— Aqui em Falls Stay.
— Há muito tempo. Acho até que perdi a conta, mas sabe que eu não tinha muita escolha de onde ficar já que eu era obrigado a cuidar daquela casa.
— Então, como você tem um apartamento? Vai me dizer que conseguiu nessas poucas semanas livre?
— Não, eu tinha esse apartamento antes — Daimen encostou na parede atrás dele — Às vezes era permitido nossa saída durante um período consideravelmente bom para que eu tivesse um lugar para dormir melhor do que lá.
O elevador parou, Daimen se endireitou, mas voltou a me encarar porque o elevador havia parado dois andares antes do térreo onde nós desceríamos.
Uma mulher alta, maior que eu, loira entrou no elevador vestindo um... ela basicamente não estava vestida, seu vestido era tão curto que eu podia ver o que não queria. Eu me sentiria pelada nisso. Ela, por outro lado parecia estar nas nuvens. Ela sorriu jogando seu cabelo para Daimen assim que seus olhos viram ele no fundo do elevador.
Percebi depois de me virar e ficar ao lado de Daimen que ele não tinha voltado a olhar para mim. Ele olhava admirado para o corpo magricelo a nossa frente, e por mais incrível que parecesse a mulher estava gostando, pois continuava sorrindo e desviando o olhar para baixo fingindo não perceber que ele a olhava.
Pensei: "E se eu fosse a namorada dele? ", o que ela poderia pensar que fossemos. Assim pelo menos, ambos, não se comeriam na minha frente com os olhos.
— Acho que vou vomitar — Sussurrei, revirando os olhos enojada.
Daimen ouviu. E desviou os olhos da loira pornográfica e finalmente seus olhos se viraram na minha direção. Seus lábios sorriam.
— Seja educada, Atelina — Ele falou, lentamente.
— Isso é quase pornô. Um no qual eu não assistiria — Sussurrei de volta, evitando olhar para a loira que ficou triste por não ter mais a atenção dos olhos amarelos dele.
Ele riu baixinho para não chamar a atenção dela. Não percebi se ela ainda olhava, pois ouvia aquela risada com o maior prazer. Era tão gostosa.
O barulho das portas do elevador se abrindo chamou minha atenção e me fez voltar ao mundo real. A loira pegou seu caminho sem olhar para trás, com certeza de coração partido por ter perdido para uma pessoa como eu que não estava nos seus melhores dias.
Entrei no carro com a cara amarrada. Eu não tinha o direito. Mesmo assim me sentia muito mal com o que aconteceu no elevador.
— Não quer continuar suas perguntas? — Daimen perguntou quando entrou no carro.
— Não, perdi a vontade de te conhecer.
— Deixei de ser interessante, por causa da mulher no elevador? — Ele perguntou. Percebi que dito em voz alta minha atitude parecia infantil, mas concordei — Ah deixe disso, Piierce.
— Pensei que mulheres assim não fizessem seu tipo — Murmurei, o ciúme fervilhando na minha voz.
— E você tem razão, não fazem — Ele ligou o carro.
— Então qual é o seu tipo, se estava quase comendo ela com os olhos? Alguma coisa ela tinha que interessava você.
— Vamos dizer que meu tipo é mais simples, coloque um pouco dela e um pouco de você e pronto! Encontrou o meu tipo de mulher.
Eu não consegui responder, não conseguia misturar um pouco de mim com um pouco dela na mesma pessoa. Será que poderia existir alguém com nossas personalidades misturadas?
— Qual o endereço?
— Hyde Ray, número 512 — Respondi, sem realmente prestar atenção.
Quando ele aproximou o carro de uma rua com caminhões grandes de mudança, eu já tinha desistido de me imaginar loira, vestindo aquelas roupas. Ou imaginar aquela mulher morena usando minhas roupas, o que me fez rir um pouco e receber um olhar assustado de Daimen.
Ele estacionou próximo a casa marrom para não atrapalhar os caminhões de mudança. Descemos e caminhamos um ao lado do outro na direção da dona da casa que eu reconheci de longe.
Minha amiga estava mexendo nas caixas enquanto discutia algo com um homem loiro e bronzeado, que era alguns centímetros mais alto que ela. Seu cabelo preto liso voava junto com o vento suave da manhã. Ela se virou para apontar uma outra caixa distante e me viu caminhando na sua direção.
Sarabi abriu um sorriso junto com os braços esperando que eu a abraçasse. Sentia tanto a falta dela que nem pensei em desviar para brincar um pouco. Seus braços me apertaram tão forte que acreditei nos pensamentos que minha mente criou dos meus ossos se quebrando. Sarabi Take com certeza usava sua força de anjo terrestre melhor que ninguém.
— Senti sua falta — Ela sussurrou, contente.
— Eu também — Falei, quase perdendo a voz — Sari, acho que está... me apertando demais!
Sari me soltou rindo da forma desajeitada que ela costumava abraçar sem nem se importar se estava forte demais.
Seus olhos perderam a graça quando se voltaram para algo além de mim. Sim, eu não me esqueci que tinha companhia, mas ela parecia desconfortável. Estava pensando o mesmo que Rebekah quando cheguei com Daimen na sua casa: "como assim você tem um novo namorado e não contou nada? ".
Ela disfarçou o olhar questionador que deu a mim e estendeu a mão para apertar a de Daimen.
— Sarabi Take.
— Daimen Kennedy.
— Prazer em conhecer você. Desculpe, fazia um tempo que não via Atelina, por isso não sabia da sua existência — Ela sorriu se desculpando e eu ria por dentro. Eu estava certa — Ah, e aquele é meu namorado, Dake.
O garoto com quem conversava antes estava ao lado de outros dois homens grandes de uniformes. O emblema era parecido com o que estava estampado na carroceria dos caminhões.
Dake viu que ela apontava na sua direção e veio se juntar a nós. O cabelo dele brilhava mais que o de Daimen ao receber os raios de sol, o tom era mais escuro na sombra, mas na luz era de um dourado muito bonito. Ele se aproximou e os olhos de Sari brilharam de entusiasmo. Os dele também, o que dizia o quanto estavam apaixonados.
— Chamou, amor? — Até o apelido era carinhoso.
— Essa é a amiga que comentei com você — Ela apontou para mim.
Ele sorriu, gentil.
— Eu sou Atelina e viemos ajudar... — Interrompi o que dizia. Eu não sabia ao certo se Daimen ficaria — bom eu vim ajudar, mas não sei se ele vai ficar.
— Claro que vai. Ou vai deixar sua garota ajudar sozinha? — Dake perguntou com um enorme sorriso no rosto.
— Não somos! — Começamos a responder juntos em uníssono, mas paramos ao ouvir a voz um do outro.
Sarabi se sentiu constrangida, suas bochechas ganharam um rubor que a entregaram. Ela também pensou a mesma coisa por isso apenas cutucou de leve o abdômen dele e sorriu.
— Desculpa, não sabíamos.
— Não tem problema — Sorri de volta para ela.
— Então, por onde começamos? — Daimen perguntou, enquanto sorria e esfregava as mãos uma na outra.
Depois das apresentações e pedidos de desculpas na frente da casa, Dake e Daimen aproximaram-se do caminhão onde antes Dake estava.
Eu poderia fazer qualquer outro trabalho, mas fui arrastada para dentro da casa. Sarabi mostrou cada um dos cômodos e as caixas que estavam na sala. A casa era supersimples. Eu pensei que fosse pequena demais para eles, mas esqueci isso quando percebi que ela sorria de felicidade a cada cômodo que mostrava. Era o que ela precisava.
No primeiro andar tinha o banheiro, a sala de estar e a cozinha, no segundo apenas os dois quartos e outro banheiro. O quintal era ainda maior nos fundos.
Sarabi deu uma tarefa para cada um de nós. A minha era mais fácil e prática que a de Daimen e Dake. Eu só precisava tirar das caixas os objetos, e os utensílios e colocar no lugar. Eu também poderia ajudar os meninos com minha força de vampira, mas Sarabi não sabia o que eu era. Então me contentei em ser deixada na sala de estar enquanto ela subia para colocar os lençóis na cama de casal.
Dake comentou que Sari não aguentava mais dormir dentro do carro e que mesmo sem uma cama, dormir debaixo de um teto, era uma grande conquista para eles que antes não tinham nada disso. E foi por isso que ela apareceu tão rápido em Falls Stay depois que contei onde estava.
Enquanto colocava as almofadas e os enfeites nos seus devidos lugares senti meu estômago se retorcer. Pensei na última vez em que comi e eu não me lembrava quando foi. Mas deixei o pensamento de lado. Já consegui ficar dias sem comer, dessa vez não seria diferente.
Ouvi quando os passos de Sarabi se aproximaram, após descerem as escadas degrau por degrau. Ouvia também sem dificuldade o som de um batimento, não sabia se era o meu coração tendo um ataque, mas o som mexia comigo. Quando ela entrou na sala e abriu um sorriso alegre, eu vi no seu pescoço contra sua pele branca e macia sua veia estufada pulsando o sangue que eu tanto precisava.
VAMOS VOTAR, VAMOS VOTAR!!! 🌟🌟🌟
Oi meus anjinhos, como estão? O que acharam do capítulo novo? O que Atelina vai fazer com essa fome dela? E será que foi uma boa ideia ter ido para a casa de Daimen? Eles estão sempre se alfinetando, então o que será que nos espera?
Não se esqueçam de votar e comentar.
Beijos e abraços.
- Atelina.
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