Capítulo 18 - Acorda, Atelina. Acorda!

   Abri meus olhos repentinamente com a sensação de medo crescendo no peito. Minha boca gritava por causa de toda a dor que eu tinha sentido e eu me perguntava com medo da resposta o que de tudo aquilo foi verdade. E como isso foi acontecer?

   Eu não sabia nem ao certo a última coisa que era realmente verdade. Talvez o beijo, mas eu não sabia dizer com certeza. Olhei ao redor, eu me encontrava no meu quarto, coberta pelos meus edredons que emanavam um calor que me lembravam do fogo agressivo pelo qual meu corpo foi consumido. Eu o afastei na primeira oportunidade.

     — Calma — Ouvi aquela voz e procurei pelo dono. Daimen estava ao meu lado e se aproximou quando comecei a chorar, ele me abraçou e deixou minha cabeça descansar no seu peito — Calma, você está bem.

     — O-o que... houve? Co-como... isso aconteceu? — Consegui perguntar com a voz trêmula e gaguejando.

     — Eu contarei tudo, mas antes se acalma — Ele olhou para mim com empatia e beijou minha testa com carinho, exatamente como no sonho enquanto acariciava meu cabelo solto com os cachos caiando sobre meus ombros.

   Olhei para o relógio no criado-mudo, eram sete e vinte, mas o céu lá fora ainda estava escuro, não havia vestígios de que o sol estava para nascer. Mesmo assim eu preferia confiar no meu relógio. Afastei-me de Daimen para poder respirar melhor, não que ele me atrapalhasse, porém ele estava lá comigo. Não sabia que lugar era aquele, mas ele estava comigo, eu salvei ele daqueles homens e ainda me deixei ser levada pelo desejo que eu não sabia que tinha por ele.

   Encarei fixamente seu rosto que olhava gentilmente de volta, seus olhos buscavam os meus e eu não me permiti olhar de volta. Eu só queria respostas. Senti seus olhos queimarem meu corpo buscando aquilo que queriam, isso não me alegrava muito, porque a sensação podia ser boa, mas lembrava o fogo que corroeu meu corpo antes de eu abrir meus olhos por completo.

     — Eu preciso levantar — Minha voz estava nervosa.

   Daimen se levantou, caminhando na direção da janela e ficando longe de mim me dando todo o espaço que eu precisava. Tentei esconder meu descontentamento, mas ele não veria do mesmo jeito. Quando me aproximei para ver onde olhava, ele se virou e eu ouvi o barulho de uma porta sendo aberta.

     — Eu não posso ficar, mas eu volto quando suas amigas saírem, então me espera não saia de casa antes que eu explique, tudo bem? — Ele estava desesperado para me explicar.

     — Sim, mas... — Fui interrompida por alguém que tinha batido na porta.

   Allyson entrou no meu quarto com o rosto cheio de esperanças e iluminado quando me virei.

     — Oi, bom dia! — Cumprimentei.

   Não deu muito tempo para perguntar sobre seu olhar, porque ela avançou na minha direção e me abraçou bem apertado como se ela não tivesse me visto há dias. Senti quando lágrimas caíram de seus olhos e molharam meu ombro e ouvi quando seus soluços abafados contra o meu cabelo começaram.

     — O que aconteceu? — Perguntei, preocupada.

     — Você... está há dias... dormindo... parecia em coma — Ela explicou, entre fungadas — Eu fiquei preocupada... e não sabia o que fazer.

   Apertei mais seu corpo contra o meu para que ela parasse de se preocupar e soubesse que eu estava ali com ela. Cantarolei bem baixinho até que Allyson se acalmasse, exatamente como ela fazia comigo. Lembrei-me de como Daimen tentou me acalmar, fiz o mesmo com ela. Afastei nossos corpos, acariciei seu cabelo e beijei sua testa, logo Ally não chorava mais, porém ainda fungava.

     — Quantos dias, Ally? — Perguntei, receosa em fazê-la voltar a chorar.

     — Quase cinco, ficamos tão preocupadas que não contamos para ninguém... só nós sabemos.

   E o Daimen. Pensei comigo mesma.

     — Meus Deus, fizeram o certo — Dei um último abraço nela — Agora eu estou bem, não posso dizer o que me fez ficar em um coma temporário, mas eu realmente me sinto bem.

   Não foi fácil convencer Allyson de que eu estava bem para ir à escola, nem as meninas que ficaram contentes em saber que eu estava acordada e me sentindo bem. Elas queriam que eu repousasse, tentei argumentar dizendo que cinco dias eram um bom repouso e acabei conseguindo o que queria.

   Tomei um banho quente, passei a prancha costumeira no meu cabelo que estava natural e vesti um jeans com um suéter escuro. Desci para tomar café com as meninas e fiquei sabendo que um dia depois de eu ter desmaiado as irmãs decidiram ir embora, elas ficaram aliviadas pois estavam escondendo meu corpo no meu quarto e acabaram mentindo durante um dia inteiro, inventando desculpas.

   Recebi várias chamadas no meu celular e ligaram em casa para saber onde eu estava. Elas tiveram que inventar uma história e repeti-la diversas vezes e tudo isso por mim. Eu me sentia muito mal por isso e mesmo assim elas só conseguiam ver o lado bom de eu estar acordada.

   Laura me ofereceu uma carona por medo de eu andar sozinha na moto, eu falei que combinei com um amigo e que ele me buscaria hoje. Não falei quem era mesmo com a insistência delas, mas quase me arrependi de ficar esperando. Eu estava sozinha na mesa da cozinha há vinte minutos e nada de Daimen aparecer.

   Eu poderia ver ele depois da escola, mas a forma que ele tinha me pedido para não sair antes que ele me explicasse tudo me deixava retraída em não ouvi-lo.

   Dei voltas na casa e na cozinha, arrumei minha cama duas vezes e voltei a me sentar no balcão da cozinha pronta em desistir pela demora. Olhei para o relógio. Se eu saísse agora chegaria a tempo de assistir a primeira aula.

     — Eu cheguei — Ele apareceu de repente na minha frente do outro lado do balcão.

     — Você está super na hora — Comentei, com uma pontada de ironia na voz, o que fez um sorriso brotar em seus lábios — Agora pode me explicar. Sou toda ouvidos e não me esconda nada!

     — Vamos com calma... você parecia mais relaxada no sonho — Ele sussurrou, tão baixo que quase não ouvi.

     — Só quero que me explique, na noite em que nos... beijamos eu desmaiei e tudo que houve no dia seguinte, aconteceu?

   Ele deu a volta no balcão com ar de quem estava pensando e se sentou ao meu lado virando o banco para que ficássemos cara a cara.

     — Sim e não — Ele ficou ereto no banco, olhando diretamente nos meus olhos.

   Tentei desviar inúmeras vezes para que ele não notasse a pergunta oculta que eu queria fazer.

     — O beijo aconteceu sim e você desmaiou, mas ter dormido comigo no dia seguinte foi apenas um sonho, por isso eu neguei quando perguntou se tínhamos dormido juntos embora lá realmente tenha acontecido e você ter aproveitado.

   Ri de suas palavras, essa era a pergunta oculta. Se nós tínhamos feito alguma coisa. Em vão disfarcei através da risada, fingindo que eu não fazia ideia do que ele queria dizer e que era um enorme absurdo, principalmente ter aproveitado. O que era óbvio durante o sonho.

   Meus olhos percorreram a cozinha inteira procurando algo em que se fixar para evitar seus olhos. Decidi me levantar assim que percebi os pratos sujos na pia. Comecei a lavar sem olhar para atrás afastando qualquer vestígio que ainda tinha na minha mente que tivesse algo a ver com o sonho. Inclusive sobre nós dois. Ou melhor sobre ele e em como ele era...

     — Falando nisso, você parecia alegre demais no sonho quando...

     — Era só um sonho e era você quem estava lá! Eu poderia ter sonhado com meu primeiro amor ou com qualquer outra pessoa — Olhei para ele e odiei o sorriso malicioso que tinha nos lábios — Qualquer garota pode ter um sonho assim.

     — Ah sim, claro que podem e eu ficarei feliz em ser o protagonista deles.

     — Cala a boca — Resmunguei, terminando a louça e secando minha mão sem olhar para atrás — E por que estava no meu quarto quando acordei?

     — Bom, eu passava de vez em quando para ver se você estava bem. Quando cheguei à cinco dias atrás depois do nosso desafortunado encontro, sua irmã estava no pé da sua cama sem saber o que fazer e implorava para que você acordasse.

     — Espera, vamos voltar para o sonho...

   Deixei a frase no ar para que ele terminasse, mas simplesmente apontou para o banco a sua frente, esperando que eu me sentasse. Eu preferi me sentar à mesa e ficar mais afastada possível dele. O que ele não aceitou, porque ao invés de apenas virar o banco na minha direção e continuar falando ele levantou e se sentou na minha frente, ainda com o sorriso nos lábios.

   Podia parecer estranho, mas agora eu tinha certeza de que ele conseguia escutar meus pensamentos. Sempre sorria quando eu pensava em alguma coisa que eu não falaria em voz alta.

     — Ok, — Ele suspirou, contendo um riso — você desmaiou nos meus braços depois do nosso beijo, o que não foi muito legal da sua parte e nem educado, mas eu aceito se você pedir desculpa — Ele pediu, olhando nos meus olhos e esperando.

     — Eu não sei o porquê de eu ter desmaiado. Tenho certeza de que o beijo não tem nada a ver com isso, então não vou pedir desculpas.

   Ele me desafiou com o olhar, querendo ouvir a desculpa sair da minha boca. Devolvi o mesmo olhar até que ele finalmente desistiu e riu.

     — Tudo bem, eu só estava brincando — Daimen confessou, ainda rindo — Eu fui embora logo depois de colocar sua camiseta e deixar você dormindo. Voltei na manhã seguinte e você não tinha acordado. Esperei e sua irmã apareceu no seu quarto para saber se você estava bem. Ela ficou desesperada sem saber o que fazer porque você não acordava. Sua irmã desistiu de tentar acordá-la e foi para a escola achando que fosse uma brincadeira sua.

     — Ela me deixou sozinha em casa? — Perguntei.

     — Sim, mas eu aproveitei que não tinha ninguém e entrei na sua cabeça. Era como se você estivesse presa no próprio sonho, você podia fazer o que quisesse nele. Como paralisar seu corpo, fazer a chuva cair quando quis e mesmo eu estando lá por vontade própria você me beijou sem eu querer.

   Ah, isso estava errado. Pensei um pouquinho, forçando-me a lembrar como aconteceu e notei que ele estava brincando comigo, mais uma vez. Seus olhos esperavam ansiosos minha reação e seus lábios seguravam outro riso, e eu sabia o porquê. Na verdade, foi ele quem me beijou!

     — Idiota, isso foi ao contrário. Você me beijou! — Revirei os olhos, enquanto ele ria — E por que você podia fazer o que quisesse?

     — Quando entrei na sua cabeça, pude sonhar com você. Como se fossemos um só — Ele disse, sério.

     — Poder de Demônio?

   Ele sorriu pensei que estava concordando, mas parou de sorrir e pegou o celular do bolso, olhou para a tela por instantes e voltou a guardá-lo. Ele estava preocupado com a hora?

   Levantei os olhos do seu olhar e olhei o relógio que ficava na parede acima do fogão, eram nove e dez. Eu perdi a primeira aula. Bom eu faltei ontem também então não tinha problema algum faltar mais um dia, eu precisava saber o motivo de ter desmaiado depois do beijo dele.

     — Não, isso é poder de Anjo — Daimen disse, afastando-me do meu devaneio.

     — Como? — Perguntei, incrédula — Que tipo de anjo?

   Eu não fazia ideia sobre o que ele realmente era. Ele era um dos guardiões dos portões do inferno e eu pensei que ele pudesse ser algo mais maligno. Mesmo assim era um Anjo. Por que? Por que  um Anjo trabalharia para o inferno? Será que tinha desistido de ser um Anjo Falso? Pensando bem, o homem no sonho tinha falado sobre isso.

   No sonho ele não tinha confirmado isso para mim, mas qual tipo de Anjo ele seria um falso ou um verdadeiro dos céus?

   Olhei nos seus olhos dessa vez, esperando minha resposta. Ele podia não me contar que eu entenderia, contudo, eu queria muito saber.

     — Sou um Anjo do primeiro escalão. Do tipo Anjo de verdade, daqueles que todos imaginam com asinhas brancas e fofas com aureolas sobre os cabelos loiros encaracolados e que usam mantas brancas. Aqueles que vivem no céu — Ele inclinou seu corpo sobre a mesa na minha direção com um ar desafiador.

   Eu estava sem palavras. Nunca tinha conhecido um Anjo do céu.

     — E como... — Comecei e ele me interrompeu.

     — Fui parar no Inferno? — Ele completou e eu assenti, engolindo em seco — Eu fui um menino mal no Céu, Piierce.

   Daimen podia não estar levando a sério, mas eu estava pasma com a revelação da sua origem. Enquanto sorria com a minha reação, eu tentava pensar em quantas perguntas tinha para fazer.

     — Então mandaram você para o Inferno e depois se tornou Guardião dos portões?

     — Você entende rápido, — Ele sorria ainda — aconteceram outras coisas nesse meio tempo, não foi tão rápido, mas resumindo tudo, foi isso mesmo.

   Isso era incrível. Nathan ficaria muito feliz se estivesse aqui, apesar de Daimen não ser tão legal assim. Ele deixava muito mistério nas coisas que me contava e se não me concentrasse sairíamos do tema principal da conversa.

     — Eh, mas... por que eu desmaiei? — Perguntei, antes que fizesse outra pergunta sobre anjos.

   Ele se levantou em um sobre salto que me assustou e caminhou até a janela, sua expressão fechada e completamente séria.

     — Eu também não sei, pensei que você soubesse.

   Levantei-me também, indo na direção oposta à dele e pegando minhas chaves sobre o balcão. O pensamento não me fugiu nenhum momento, não havia motivo para desmaiar com o beijo dele. Eu me senti tão bem ao senti seus lábios nos meus e suas mãos me segurando. 

   Levei um susto quando senti algo tocar meu braço e instantaneamente os pelos da minha nuca se arrepiaram. Sabendo o que tinha me tocado me virei devagar, fechando os olhos momentaneamente e aproveitando a sensação de formigamento que começava a percorrer pelo meu corpo a partir do lugar onde a mão dele estava tocando.

     — O que vai fazer? — Daimen perguntou, afastando sua mão da minha pele.

     — Eu já perdi a hora e quero saber tanto quanto você o que aconteceu e porque eu desmaiei com o seu beijo — Respondi, soltando um suspiro e olhando nos seus olhos — Vou fazer uma pesquisa.

     — Onde?

     — Em livros, onde mais? — Perguntei sarcástica para esconder minha reação ao seu toque.

     — De quem? — Ele ficou muito sério do nada.

     — De uma amiga.

   Apertei as chaves contra a minha mão, mas não havia nada para apertar, eu não as segurava mais. Olhei para o balcão desviando meu olhar do olhar carregado de Daimen.

   Ouvi sua risada. Ele estava rindo por causa das chaves. Dei meia volta para pegar as chaves da moto sobre a mesinha que ficava na sala. E elas não estavam lá também.

     — Cadê? — Perguntei para ninguém em especial.

     — Isso que está procurando? — Daimen perguntou.

   Virei e ambas as chaves estavam na sua mão. Aproximei-me, tentando pegá-la. Ele, como um grande ladrão que era as levantou no ar. Não estava muito alto, porém para alguém que tinha quase dois metros só era preciso um pouco para deixar algo alto o bastante para alguém com a mesma altura que a minha não conseguisse pegar.

   Tentei alcançar pulando.

     — Nada disso, só devolvo se deixar eu ir com você.

   Por quais motivos ele queria ir comigo? Eu sabia que ele não podia ser o culpado pelo meu desmaio e assim que eu confirmasse e soubesse o motivo ligaria para ele e contaria tudo. Até podia acusá-lo se o visse de novo. Mas era óbvio que não nos veríamos de novo porque depois seria vida que segue. Eu não precisaria ver ele nunca mais na minha vida. Só que, eu não sabia se realmente queria isso.

   Daimen sorria com toda a paciência do mundo, enquanto balançava as chaves no ar fazendo elas se chocarem e soando um tilintar agudo.

     — Ok — Respondi, como se não tivesse escolha — Mas não na minha moto! — Acrescentei, tentando tirar o sorriso convencido do seu rosto.

   Daimen sorriu ainda mais como se soubesse de algo que ninguém mais sabia e convencido caminhou até a porta. Ele a abriu, apontando para que eu saísse primeiro. Saí como sugerido e como se tivesse levado um soco no estômago me calei.

   Na frente da casa estacionado no acostamento estava a SW4 branca. O monstro que ele chamava de carro. Eu me esqueci completamente que ele tinha um carro, um bem grande na verdade. Parei na varanda no mesmo lugar sem ter coragem de dizer nada e ele passou do meu lado rindo. Sua risada era irritantemente gostosa de se ouvir.

   Ele parou no último degrau da escada e me encarou, erguendo uma sobrancelha.

     — Tem certeza de que quer ir de moto? — Ele perguntou, inocente.

   Para disfarçar que eu não tinha caído nesta de inocente, olhei para o céu, caminhando até me aproximar dele e abanei com as mãos meu rosto. Completei depois também inocente:

     — Está calor hoje, né? Acho que não estou afim de tomar muito sol, então eu vou com você. Se não for incomodo.

   Ele segurava o riso, mas manteve a pose de sério.

     — Claro que não, sua companhia super me agrada, Piierce — Ele rodou as chaves no dedo, sorrindo irônico e apesar disso tentei encontrar sinceridade nas suas palavras.

   Guardei minhas chaves no bolso da calça e entrei no carro dele. Eu sabia como era o carro, mesmo assim não consegui esconder o olhar de deslumbramento quando notei que o couro de cor clara estava impecavelmente limpo e que o carro continha um aroma de perfume masculino não enjoativo, nem doce ou forte. Era o cheiro dele.

   Quando vi que ele me encarava, sorri envergonhada e desviando meus olhos. Então me toquei que era para saber o caminho. Dei o nome da rua, sentindo minhas bochechas queimarem de vergonha.

   A casa ficava em um bairro na periferia da cidade, o que não deixava de ser um bairro bonito. As casas tinham jardins bem cuidados e decorações fofas com gnomos ou flamingos bonitinhos no meio de flores de cores vibrantes em canteiros espalhados e enfeitados com pedras parecidas com as de aquário.

   Rebekah morava em uma casinha amarela de um andar. As persianas estavam abertas, o que significava que ela estava em casa, além de que o carro estava estacionado na garagem e isso significava que Dhiren também estaria. Seria constrangedor e estranho levar Daimen comigo.

   Daimen estacionou e antes de sair esperei um pouco, tentando pensar em como fazê-lo ficar no carro, enquanto fixava meus olhos na decoração. Além de flores nos canteiros, tinha também ervas que eu identifiquei de longe pois eram parecidas com as que minha tia utilizava e cultivava, também havia árvores. Olhei para o lado e ele esperava eu sair para sair também.

     — Fica aqui no carro — Eu pedi, com minha melhor voz.

     — Por que? — Ele perguntou, confuso. Com certeza pensando que eu não o queria por perto.

     — Porque o dono da casa afirma me amar e se ele ver você vai fazer dezenas de perguntas.

     — Não sabia que era tão disputada assim — Ele disse, sorrindo. Encarei seus olhos, esperando por uma resposta e implorando para ser sim — Tudo bem.

   Ele aceitou mais rápido do que eu pensei. Estava quase acreditando que teria que dar exemplos de como Dhiren ficava quando estava com ciúmes. Lógico que ele não quebrava tudo ao redor, ele nem ficava tão assustador assim, mas eu com certeza colocaria mais lenha no fogo. Eu realmente não queria que Dhiren visse Daimen e ficasse no meu pé por eu estar na companhia de outro cara.

   Abri a porta do carro, caminhei sem olhar para atrás até a porta branca com seis quadradinhos de vidros que permitiam ver o interior da casa de Rebekah. Toquei a campainha torcendo para que Dhiren não estivesse em casa e assim que vi pelo vidro Rebekah se aproximando da porta sorrindo ao me ver, soltei o ar que estava prendendo.

     — Oi, Atelina! — Ela cumprimentou alegremente, seu sorriso de orelha a orelha se desfez quando seus olhos se ergueram para algo além de mim — Oi! Eu sou a Rebekah.

   Virei-me e saí da frente de Daimen que sorria, diabolicamente debochando de mim. Ele não tinha me ouvido e aqui estava ele. Respirei fundo, tentando não descontar minha raiva dele nesse exato momento. Rebekah não entenderia e não era muito ético fazer isso na porta da casa de outra pessoa. Contudo, lancei o olhar mais ameaçador que pude para ele.

     — Eu sou o Daimen — Ele estendeu a mão e Bekah a pegou sorrindo enquanto suas bochechas coravam.

   Esse era o efeito dele sobre as mulheres.

     — Atelina nunca falou de você, ou talvez eu que não esteja me recordando do seu nome — Bekah disse como se estivesse me advertindo. Olhei para ela e sorri constrangida — É algum parente?

   Se a pergunta fosse dirigida a mim, eu não saberia o que responder por isso olhei com olhos atentos para ele, estava curiosa para saber o que ele diria. No fundo eu estava desejando que não fosse uma besteira que depois me deixasse em maus lençóis.

   Ele sorriu ainda mais com seu ego inflamado e disse as palavras que me acertaram como uma grande pedra:

     — Futuro namorado — Ele disse, relaxado e confiante.

   Quase engasguei com minha própria saliva. Ele me deixou em maus lençóis por ter dito isso. Nos próximos dias todos que me conheciam estariam sabendo da sua existência e não tinha como eu desmentir sem parecer suspeito demais, então apenas sorri sem olhar para Rebekah que perceberia em meus olhos o pequeno ódio apaixonante que agora eu nutria por ele.

   Respirei fundo e desviei o olhar, Rebekah sorria mais alegre do que a suposta namorada de Daimen. Eu não sabia o que fazer com ele, mesmo que tivéssemos vivenciado um sonho muito íntimo, eu não tinha questão de realmente conhecê-lo. Só o que ele fazia era me estressar, o que sabia fazer com muita facilidade. No sonho ele era um amor, carinhoso e brincalhão no momento certo, já aqui completamente o oposto.

   Quando me lembrei do que realmente estava fazendo na casa da Rebekah, esqueci Daimen por um momento.

     — Ok, Bekah você ainda tem os grimórios? Eu preciso de algo que tem neles — Falei, explicando o máximo que podia.

     — Tenho, entrem — Ela disse se afastando da porta e nos dando passagem.

   Entrei, mas antes olhei para Daimen que não tinha mais um sorriso brincalhão no rosto. Seu semblante estava rígido e triste e lentamente cabisbaixo ele entrou atrás de mim.

     — Eu ainda vou para a escola. Precisei entrar na segunda aula, por causa de Dhiren — Bekah nos levou até a sala — E você não vai hoje de novo?

     — Hoje não, amanhã talvez — Cortei o assunto antes que ela ficasse sabendo do verdadeiro motivo de eu não ter ido nos dias anteriores.

     — Então eu posso ficar para ajudar. O que vão querer Feitiços ou Histórias?

   Sua casa tinha o tamanho perfeito para duas pessoas. Era simples com paredes brancas e um corredor que levava aos quartos.

   Na sala tinha um sofá bege que ficava de frente para uma teve e mais atrás a parede era do chão ao teto, repleta de livro. Tinha duas poltronas também beges na frente da estante com uma mesinha de madeira no meio delas. E para facilitar a caça aos livros tinha uma escada que se movia pela parede.

   Sentei-me ao lado de Daimen que tomara seu lugar no sofá e pensei no que estávamos procurando.

     — Acho que um pouco dos dois. Talvez algo sobre ligação, beijo dos sonhos... — Percebi, depois que ouvi a risada contida de Daimen que tinha falado bobagem — Não! Só sonhos, Bekah.

   Não consegui evitar olhar para Daimen. Ele segurava uma risada e sem me conter dei um soco em seu bíceps, arrependendo-me em seguida. Aquilo mais parecia uma pedra contra meus dedos. Contrai o rosto por causa da dor e sua risada aumentou. Se não fosse pela raiva e a dor eu até pensaria em socá-lo novamente.

   Bekah desviou o olhar e começou a procurar nos vários títulos que havia em sua estante. Desde os mais baixos aos mais altos, entregando depois para mim ou para Daimen que engolia cada um daqueles livros. Ele mal os abria por cinco minutos e fechava novamente.

   Eu demorei mais tempo em cada livro e ainda pegava os que ele dizia ter lido por pouco tempo para ter certeza de que ele não deixara passar alguma coisa, mas realmente não havia nada demais.

   A pilha de livros só aumentava enquanto Bekah pegava os últimos com os títulos próximos ao que eu pedi. E isso deixou meu coração mais apertado. O tempo passava e eu não conseguia encontrar nada que pudesse explicar minha reação ao beijo de Daimen.

   Depois de horas procurando livro após livro Daimen havia desistido de procurar e optou por voltar a se sentar no sofá, esperando eu tomar a mesma decisão que a sua. Mas eu não queria ir embora de mãos vazias e estava quase sendo impossível isso acontecer. Não tinha como evitar. Eu tinha saído de casa atoa e não fui a escola. Minha irmã ficaria super preocupada e minhas faltas só aumentariam.

   Levantei-me com uma forte dor no joelho perdendo o equilíbrio antes mesmo de ficar estável e Daimen me segurou a tempo. Mas uma pilha de livros foi ao chão no meu lugar.

   Sem que eu pedisse, ele se abaixou e começou a pegar os livros que se espalharam no chão. Bekah foi a cozinha pegar algo para ela comer. Estávamos atrapalhando sua vida, por nossa causa ela faltou na escola para nos ajudar e foi tudo em vão. Voltei meus olhos para os livros que Daimen colocara em uma nova pilha na mesinha de centro.

   O primeiro tinha uma capa de couro dura e marrom escuro da cor de um tronco de árvore velho. Havia linhas horizontais na lombada. No meio da pilha após quatro livros o nome de um estava meio apagado por causa do tempo. Aproximei-me deles e com cuidado tirei os outros de cima o pegando na mão.

   Naquele momento senti meu coração se apertar de uma maneira estranha e o ar sumindo dos meus pulmões. Na capa do livro havia o relevo de uma árvore sem folhas, ela parecia ser feita do mesmo material que a capa, couro. E sobre a árvore o título que tinha me surpreendido estava lá em letras grandes. "PIIERCE".

   Meu sobrenome estava na capa do livro que eu segurava na mão. O nome da minha mãe. O único nome que eu carregava além do próprio.

CADÊ MINHAS ESTRELAS, CADÊ MINHAS ESTRELAS? 🌟🌟🌟

Oi, amoras!! Como estão? O que acharam do capítulo novo? Atelina e Daimen adoram se alfinetarem, né? E esse segredo de que ele é um anjo e ela não fazia ideia? E por que será que ela desmaiou depois do beijo e foi parar naquele sonho estranho? Será que o beijo é o culpado? Ou tem mais coisa ai? O livro que ela encontrou, será que ela vai descobri mais coisas sobre sua família?

Não se esqueçam de votar e comentar!!!

Beijos dengosos e até o próximo capítulo.

- Atelina.

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