Capítulo 15 - Amarelos
Acordei enjoa e com o estômago revirado. Eu estava com fome e minha cabeça doía também. Tentei me levantar, mas eu não conseguia sentir meu corpo, nem movê-lo estava dando certo. Eu não tinha certeza se a coberta estava quente demais ou perfeitamente apropriada. Simplesmente não conseguia sentir nada.
Corri meus olhos pelo quarto, lembrando-me vagamente da noite passada. O beijo, os olhos... minha cabeça protestou de dor, barrando e negando-me passagem para saber o que realmente tinha acontecido.
Ouvi baterem na porta e em seguida Laura colocou a cabeça para dentro.
— Bom dia, vai para escola? Ligaram avisando que teríamos que ir.
— Não... hoje eu não vou — Tentei disfarçar o medo na minha voz, mas acabei me apavorando.
— Tudo bem — Ela sorriu, não notando nada de diferente na minha voz — As irmãs vão comigo, chegaremos tarde, mas a Allyson vai chegar depois da aula.
— Ok! — Exclamei, alto.
Laura fechou a porta e eu esperei ouvir no andar de baixo a porta se fechar para voltar a olhar ao redor e tentar mais uma vez me lembrar do que tinha acontecido. Entretanto, só consegui que minha cabeça latejasse um pouco mais, protestando.
Forcei os meus membros a se mexerem, mas não davam sinais de que estavam ligados a um corpo físico. Então, cheguei à conclusão de que deveria ter pedido ajuda antes de todas terem saído de casa, foi burrice pensar que poderia resolver isso sozinha.
Passei os minutos seguintes lutando contra meu corpo e minha cabeça, esperando que pelo menos um deles cedessem e dessem o que eu queria. Eu não sabia o que havia me deixado nessa situação, mas estava louca para sair dela era angustiante não poder mover mesmo tentando.
Por fim, as memórias apareceram rapidamente e logo sumiram da mesma forma como havia aparecido. Mesmo assim deu para lembrar o que aconteceu. Havia um homem no meu quarto, seus olhos eram amarelos e depois de um momento brincando ele me beijou. Desmaiei depois do beijo, o que era muito estranho, porque fazia parecer que eu não tinha gostado. O que ele devia estar pensando de mim agora?
A porta da frente foi aberta. Eu estava sozinha em casa e não podia me mexer, a situação ficava ainda melhor e eu poderia morrer a qualquer momento, assim que o intruso descobrisse onde eu estava.
Esperei o invasor subir a escada. Ele estava próximo demais e em tão pouco tempo, como se conhecesse os cômodos da casa.
Nunca pensei que ficaria tão feliz em ver aqueles olhos amarelos e cabelos castanhos. Daimen estava com a cabeça na fresta da porta, ele olhou para o corredor antes de entrar no quarto e pregar os olhos no meu corpo estirado como um morto em um caixão. Senti meu rosto queimar ao me lembrar da noite passada.
— O que você quer? Voltou para mais uma conversa? — Perguntei, pois gostava da forma como sorria quando entendia meu sarcasmo.
Ele sorriu, o que significava que ele realmente tinha entendido. Então sem me responder, abriu completamente a porta arrastando para o quarto uma cadeira de rodas que brilhava sob a luz do sol que entrava pela janela. Parecia ser nova, não tinha um arranhão e o estofado dela era preto com ar de ser pouco confortável.
Encarei curiosa o rosto de Daimen que permanecia com um sorriso nos lábios. Meus olhos encontraram a garrafa com líquido vermelho e gosmento em suas mãos relaxadas.
— Vamos dar uma volta — Ele virou na minha direção com ar de diversão.
— Eu não consigo me mexer.
— Por isso a cadeira — Ele apontou as duas mãos para a cadeira, depois jogou ao meu lado a garrafa na cama — Acho que isso pode ajudar.
— Daimen, quando eu disse que não podia me mexer eu quis dizer que não podia me mexer! — Falei, agressiva. Apontando com os olhos a garrafa e minhas mãos.
Ele entendeu o que eu queria dizer e se aproximou de mim. Segurou firme na minha cintura e me puxou para cima endireitando minha postura. Depois esticou-se sobre meu corpo para alcançar a garrafa e desrosqueou a tampa.
— Abre. — Pediu, nenhum pouco gentil — Não se preocupe isso aqui faz parte da sua mistura estranha — Ele sorriu, irônico.
Eu sabia o que ele queria dizer com "mistura estranha", porque era exatamente o que eu bebia. Uma mistura de sangue animal com sangue humano. Evitava tomar o sangue humano puro por causa da época em que o tomava desenfreadamente.
— Obrigada — Agradeci, quando se afastou.
— Consegue se mexer agora?
Tentei novamente mexer meu corpo, mas agora apenas os braços davam sinais. Daimen se afastou da cama, largando a garrafa no criado mudo.
— Menos as pernas.
— Então, eu pego a sua roupa. — Ele anunciou, já na direção do meu armário.
— Não precisa! — Protestei, corando de vergonha.
— Eu vou pegar sua roupa, porque você não consegue se mexer. Depois você vai se troca e nós iremos — Ele ditou, como se estivesse lendo uma lista em um tom mandão que fez eu me sentir impotente.
— Tudo bem.
Enquanto ele mexia e remexia nas minhas gavetas no armário eu esperei, tentando forçar minha mente novamente a me deixar ver o que faltava do que tinha acontecido e encontrar o motivo de estar assim, mas continuava a doer.
Ele continuou sua busca por uma roupa, abriu minha gaveta de roupas intimas e percebi que se demorou um pouco mais nela. Chamei sua atenção, pigarreando para avisar que eu via o que ele estava fazendo. Então ele riu antes de se virar com as roupas na mão e caminhar até mim. O vestido que segurava era curto e preto. Ele também ficava justo nas curvas do corpo. Eu não me lembrava de ter colocado ele na mala para vir a Falls Stay, minhas roupas eram mais simples e mais comportadas.
— Não vou usar isso! — Reclamei, antes dele chegar a me mostrar o vestido.
Daimen parou na metade do caminho.
— Por que? — Ele perguntou, como se não entendesse o motivo.
— Porque não é o meu estilo, com certeza é de uma das meninas — Expliquei e Daimen revirou os olhos.
— Então, por que está aqui?
Eu não fazia ideia de como responder.
— Não sei.
— Vai fazer eu mexer nas suas coisas de novo? — Ele levantou as sobrancelhas marcadas em dúvida, desafiando-me.
— Tudo bem.
Lançou a roupa sobre minhas pernas e cruzou os braços sobre o peito sem tirar os olhos de mim. Eu com certeza não iria me trocar na frente dele. Só nos beijamos uma vez. E ele continuava a me tratar como se nada tivesse acontecido, eu acreditava que como foi ele quem me beijou, ele quem deveria falar primeiro.
Olhei para ele e Daimen segurava um riso com a mão sobre a boca.
— Espera lá fora, por favor — Pedi, como uma suplica.
Ele riu de novo, sem a mão cobrindo os lábios, riu como se meu pedido fosse hilário.
— Atelina, ontem eu coloquei sua blusa depois que caiu nos meus braços, apenas de sutiã — Ele fez uma cena teatral com a voz emocionada.
— Ok, então eu não saio daqui.
Ele bateu os pés no chão e fechou a cara. Sua expressão consternada mostrava que ele não gostava quando seus planos mudavam de rumo.
— Tudo bem, eu saio — Ele abriu a porta, detendo-se antes de sair — Você tem cinco minutos. Então, eu entro.
Concordei, enquanto ele saia pela porta e a fechava. Olhei ao redor e comecei desesperadamente a colocar o vestido antes que ele entrasse, mas por ser justo demorou um pouco mais do que o necessário.
Em exatos cinco minutos, quando eu já estava dentro do vestido e ajustando ele para calçar os tênis, Daimen entrou no quarto e esperou eu colocá-los para se aproximar.
— Posso? — Ele estendeu as mãos na minha direção e eu entendi como uma permissão para me pegar no colo.
— Pode — Sorri, nervosa.
Passei minha mão esquerda por seu pescoço firme e Daimen colocou uma das mãos nas minhas costas, a outra nas minhas pernas dando impulso para me colocar em seu colo. E sem esforço me levantou como se eu fosse a pessoa mais leve do mundo e me colocou na cadeira.
Assim que saímos pela porta da frente senti a brisa fria da manhã atacar meus cabelos que eu percebera agora que não tinha amarrado ou arrumado. Esperei ele fechar a porta da frente e prestei atenção no grande carro estacionado no acostamento, era um Toyota SW4 branco.
Pensei primeiro que o dono pudesse estar perto, mas quando as luzes do carro brilharam e o porta malas se abriu sozinho decidi ficar quieta, pois Daimen carregava as chaves na mão e elas faziam um som baixo e estridente contra o ferro da cadeira de rodas.
Desviei o olhar ao ouvir a risada dele. Olhei para minhas mãos impotentes sem fazer nada, sentindo-me inútil.
— Eu me sinto inútil, como se minha idade estivesse refletida em mim — Falei, sem perceber o quão bobo parecia.
— Quantos anos você tem?
Bom, eu sabia minha idade, mas não era algo que eu devesse contar. Não que seja muito tempo, eu meio que vivi mais de um século então sabia que mesmo sendo idiota esconder dele, era algo que eu não gostava de lembrar. Porque me lembrava das chamas, dos pesadelos e com quantos anos perdi minha tia e meu irmão.
— Eu parei de contar, depois que meu irmão morreu — Menti, pelo menos era uma meia mentira.
Novamente em seu colo fui colocada no banco do passageiro. Não precisei colocar o cinto, antes que eu o alcançasse Daimen já o havia passado e prendido.
A cadeira foi colocada na mala do carro e eu não consegui esconder meu olhar de admiração quando ele a colocou com movimentos rápido em tão pouco tempo. Terminado o trabalho entrou no carro, passou seu cinto e começou a dirigir em direção ao centro da cidade. Eu não sabia para onde ele estava nos levando, mas seu sorriso não dizia que iria me matar em um beco escuro e depois me desovar em outro lugar. Ou dizia?
Mantive meus olhos nas ruas em que estava sendo levada e não evitei soltar um suspiro de alivio quando ele finalmente parou no estacionamento do parque "Memory's" de Falls Stay.
Era um dos lugares mais bonitos da cidade. Era grande e tinha grama verde e bem cuidada. Havia pequenas estradinhas de cimento que cortavam a praça por toda parte com carrinhos de doces, pipocas, brinquedos e pinturas para vender. Além disso, havia algumas pessoas aqui e ali espalhadas pela grama.
Daimen sentou em um dos bancos próximo a um carrinho de bebidas e raspadinhas.
Olhei ao redor para todas as crianças que brincavam animadas correndo atrás de um pipa que era levado pelo vento. Pensei nas minhas pernas e em como eu queria poder andar agora, nunca pensei em como seria ruim estar sem elas até o momento.
Voltei meus olhos para o lado. Daimen estava de olhos fechados e o rosto direcionado para o céu, sua respiração era calma e profunda. Ele parecia querer encher os pulmões com todo o ar natural que fosse possível.
— Eu não quero ficar aqui — Falei, desviando os olhos dele.
— Então, vamos para outro lugar — Ele disse, ainda calmo.
— Não aqui no parque. Aqui na cadeira.
Apontei para a cadeira e levantei os olhos a tempo de ver os cantos de seus lábios se curvarem em um sorriso diabólico.
— Quer a cura? — Ele inclinou o corpo na minha direção.
— Quero, é logico!
— Olha! — Ele exclamou, apontando para a praça e eu demorei para entender o que ele queria dizer — Todos esses pescoços e o sangue... assim que ele entrar no seu organismo, você... — Ele dizia, persuasivo como uma propaganda.
— Para! Eu não bebo sangue direto de humanos, não mais! — Gritei e ninguém olhou para nós, o que era estranho. O grito foi bem alto.
— Por que? É a sua natureza.
Eu me perguntava o porquê fazia isso. Ás vezes era tão bom e gentil. Outras um idiota babaca. Mas por que me fazia favores e depois me fazia odiá-lo?
Eu não queria dizer nada da minha vida para ele, mas parecia ser a única saída. Ele podia não me entender. Ou talvez me olhar com outros olhos. Isso não fazia diferença para mim. Eu mal o conhecia.
— Foi um tipo de promessa para o meu irmão. — Isso era o máximo que eu conseguia dizer.
— Como ele morreu? — Daimen perguntou, realmente interessado.
Não sabia se ele era inteligente demais, mas parecia que tinha entendido que Nathan estava morto e eu nem tinha colocado em palavras.
Respirei fundo. Estava tocando em um assunto delicado.
— Não quero falar sobre isso.
— Tudo bem. E a sua irmã, o que ela acha sobre isso? — Ele se virou para mim com expectativa nos olhos.
Eu não gostava do interrogatório. E ele nem parecia se importar com isso.
— Não sei, não somos tão próximas aponto de contar tudo uma para a outra — Falei e ele me encarou como se esperasse por mais — Depois que Nathan morreu nós meio que nos afastamos. Cada uma foi para um lado e superamos nossas dores de formas... diferentes — Murmurei.
— Então, vocês sofriam a mesma dor, a mesma perda e mesmo assim preferiram passar por isso sozinhas? — Ele perguntou, sabendo a resposta — Fugir da dor apenas a trará de volta muito pior que antes. E as duas só estavam fugindo.
As palavras ditas na sua voz tornavam nossa escolha patética e nada funcional, mesmo assim ele estava certo. E esse devia ser um dos motivos para nunca ter conseguido o carinho de irmã dela. Mas, eu tinha uma desculpa. Sempre fomos competidoras e superar a dor juntas era ter que ceder e dar o braço a torcer. Realmente estávamos fugindo, mas não fazia sentido admitir isso para ele.
— Que bom, não preciso contar em detalhes — Comentei, abrindo um sorriso — Você é mais inteligente do que eu pensava — Falei e ri pela expressão de surpresa que apareceu no seu rosto.
— Eu pareço ser burro? — Ele se virou sem esperar minha resposta já que minha risada dizia tudo, o que era mentira. Daimen parecia ser inteligente — Esquece.
— E você, tem irmãos?
— Mais ou menos — Seu olhar ficou triste e distante, como se estivesse lembrando de algo — Uma irmã e três irmãos.
— Você é o mais velho? — Minha voz saiu fraca.
— Sim — Ele desviou o olhar, mas pude ver o brilho de tristeza — Já gostou muito de alguma época em que você viveu?
Estava claro que ele estava desviando do assunto dos irmãos. Mesmo assim eu não insistiria, ele não insistiu em relação ao Nathan e eu faria o mesmo com ele.
— Claro que sim. Eu adoro roupas e quando fizeram os primeiros desfiles de moda no fim do século XIX, eu me apaixonei pela aquela época — Suspirei, lembrando de outra época favorita — Mas de todas, minha época favorita era quando minha Tia ainda estava viva, ela quem me criou. E ela foi uma mãe maravilhosa para mim... — Parei o relato, não queria cair em lágrimas — E a sua?
— Não passei muito tempo fora da casa em que eu estava, mas se eu pudesse escolher, escolheria quando meus irmãos e eu estávamos juntos. Uma vez minha irmã me confessou que não gostava de levar suas amigas em casa porque elas gostavam de ficar mais comigo do que com ela, era meio sufocante até — Ele terminou com um sorriso nos lábios finos.
— Sério? E o que as faziam querer ficar perto de você? — Falei, brincalhona.
— Não sei, me diz você. Também é uma mulher, não? — Seus olhos encontraram os meus e seu sorriso brincalhão me fez corar.
Pensei rápido e disse a primeira coisa que me veio à cabeça:
— Não sei, até agora não me atraiu.
— Nem comecei — ele disse, sorrindo maliciosamente para mim.
Decidi mudar de assunto.
— Seus olhos são naturais?
— Sim — Ele virou na minha direção — Por que?
— Porque ele tem uma cor bem incomum, eu acho que poderia ser isso que as atraiam — Tentei parecer indiferente.
— Então, você sabe como é se sentir atraída?
— Por você? — Gargalhei, não querendo parecer óbvia — Não, mas sei sim como é estar atraída.
Meus olhos estavam longe. Minha mente estava me levando para as lembranças de dias distantes quando senti a aproximação dele. Daimen chegou mais perto e eu me virei para protestar, mas antes que eu fizesse ele segurou meu queixo e acariciou minha bochecha com a outra mão, obrigando-me a olhar para o seu rosto, a encarar seus olhos... amarelos.
— Eu por outro lado nunca me senti, não sei como é a sensação — Ele esboçou um lindo sorriso — Talvez seja como me sinto agora.
Daimen aproximou seu rosto do meu, seus olhos brilhando e ganhando um tom dourado maravilhoso. Eu não conseguia dizer nada e também não queria dizer. Ele ia me beijar, com certeza estava prestes a fazê-lo. Fechei meus olhos, mas os abri quase instantaneamente depois quando senti a vibração do seu celular na minha perna.
Ele suspirou, seu suspiro mais parecido com um bufo, o que só podia significar que estava frustrado. Ele queria mesmo me beijar?
Atendendo o celular, que tirou nervoso do bolso sem olhar para mim afastou-se do banco em que estávamos indo na direção do carrinho de suco, deixando-me para trás. Eu não o seguia, porque eu nunca tinha usado uma cadeira de rodas sozinha e por isso não sabia por onde começar.
Senti outra vibração na minha perna e me lembrei do meu celular que estava esquecido no meu colo.
Peguei ele e olhei na tela. Estava escrito "Desconhecido".
— Alô, quem é? — Respondi como sempre.
— Srta. Piirce, que bom finalmente encontrá-la. Nesse momento estamos de olho em você e sabemos que está acompanhada de um homem alto... — A voz era rouca e grossa — Preciso que faça uma coisa por mim e se tudo ocorrer como esperado, srta. Piierce você será bem recompensada — Consegui sentir que ele sorria do outro lado e para confirmar que eu estava sozinha olhei ao redor esperando encontrá-lo na praça, mas a maioria dos homens estavam com os celulares encostados na orelha — O homem que está com você lhe entregará algo... aceite como um presente nosso, mas não se esqueça de demonstrar confiança e vá com ele a onde ele quiser levá-la.
— E se eu não quiser? — Perguntei, mas eu sabia a resposta.
— Ele morrerá! — Ele respondeu com firmeza.
Meu coração se contraiu ao pensar na ideia de alguém morrendo por minha causa. Não, eu não podia deixar alguém morrer e eu devia isso ao Daimen, ele tinha salvado minha vida.
— Parece que ele não contou a você muita coisa sobre ele. Ótimo, faça o que eu pedi ou ele morre.
Quando decidi responder, a ligação caiu com um barulho ensurdecedor de metal caindo no chão de azulejo. Guardei o celular no bolso novamente tentando parecer descontraída, mas não consegui esconder o medo estampado no meu rosto e nas minhas mãos que tremiam descontroladamente e suavam. Ter a vida de alguém nas mãos era amedrontador.
Olhei para o carrinho onde Daimen devia estar e seu corpo se materializou. Ele não estava mais ao celular. Estava comprando alguma coisa na mesma barraquinha que tinha passado quando atendeu o celular. Deu meia volta na minha direção depois de pagar o senhor e trouxe de volta ao banco um copo verde que suava.
Assim que se sentou, respirou fundo enquanto olhava para a frente. Meus olhos por outro lado não saiam do copo. "O homem que está com você lhe entregará algo". Essas palavras se repetiam na minha cabeça como um mantra.
— Quem era? — Perguntei, quebrando o gelo e o obrigando a voltar para o presente.
— Um amigo. — Ele respondeu, neutro — É para você. Por ter me esperado — Ele me entregou o copo, sorrindo.
Muita coisa estranha andava acontecendo comigo desde que cheguei a cidade. Havia tantas perguntas na minha cabeça, mas não tinha interesse em fazê-las, não agora. E o homem ao celular disse que Daimen não tinha contado muita coisa sobre ele. Era verdade. Eu só sabia que ele cuidava dos portões do inferno e que noite passada invadiu meu quarto.
Mas ele parecia saber muito mais, do que me deixava acreditar, sobre mim. Talvez a ideia de alguém me ameaçar no celular fosse um plano dele para me fazer confiar mais facilmente nele. Mas, por quê? Se parecia tudo tão simples hoje cedo.
— Daimen, o que você é? — Perguntei, direta. Quase como um sussurro bebendo do copo logo em seguida para não ter que olhar para ele.
— Por que você quer saber? — Ele perguntou de volta, encostando-se no banco. Seus olhos encararam o céu e sua perna direita começou a balançar rapidamente.
— Curiosidade. Se quiser em troca conto o que já fui? — Tentei barganhar.
— Eu já sei — Sua resposta foi uma surpresa para mim.
Não consegui evitar encarar seu rosto passivo, espantada. Eu não sabia o que ele era, e eu tinha dificuldades de adivinhar o que uma pessoa era quando não era um humano. Mas não era uma dificuldade, ninguém que eu conhecia sabia dizer o que a outra era apenas olhando, a não ser que ela fosse da mesma espécie. E eu em nenhum momento contei para ele sobre meu passado.
— Como? — Questionei, bebendo mais um gole.
Voltei a encarar seu rosto e dessa vez a paz tinha ido embora dando lugar a um olhar preocupado. Ele percebeu que tinha dito demais. Então correndo da minha pergunta ele olhou para a tela do celular.
— Como você sabe, Daimen? Eu não contei. — Perguntei novamente. E seu rosto dizia que ele não tinha vontade alguma de responder a minha pergunta.
— Acho melhor eu levar você para casa — Ele disse, neutro novamente.
Daimen levantou tão rápido que quase não pude ver seu movimento, porém por reflexo consegui segurar sua mão esquerda antes que ele se afastasse. Ele poderia puxar sua mão e se soltar da minha, só precisava de força. Mesmo assim não o fez.
— Não quero ir para casa — Sussurrei — Quero que me responda, como você sabe o que eu fui no passado? E quem é você?
Uma nuvem cinza passou na frente do sol, escurecendo a praça. O céu estava se fechando e uma tempestade estava próxima. Desviei minha atenção para o céu, mas ainda era possível sentir a mão quente que eu segurava e sua circulação muito acelerada. Ele amenizou o aperto e eu também. Quando decidiu se mover eu quase não tocava mais sua mão e ele se afastou pelo meio do parque.
Percebi, olhando seus passos se distanciarem que não havia mais ninguém ali por causa do tempo de chuva. Em seguida, começou a ventar muito forte e meu rosto foi bombardeado pela poeira que subiu.
Eu entrei em desespero por não saber andar na cadeira sem ajuda e a minha ajuda estava dando as costas para mim. O vento castigava meu rosto e meu corpo exposto também, as árvores ao redor se inclinavam como se estivessem prestes a se partirem ao meio. Então momentaneamente minhas pernas deram sinal de que estavam prontas para entrarem em ação.
Movi elas para fora do apoio da cadeira. Sem querer derramei um pouco do liquido do suco, que ainda tinha nas minhas pernas e consegui sentir o liquido gelado escorrendo. Isso concluiu que elas estavam boas de novo.
Não demorei admirando o poder de cura das minhas pernas. Levantei-me as presas na direção que Daimen havia tomado. Senti, na metade do caminho as primeiras gotas da chuva cair contra meu corpo e mesmo sendo as primeiras gotas eram fortes e pesadas indicando a tempestade que estava para cair.
Seus passos diminuíram e ele virou sua cabeça para o lado, como se soubesse que eu o estava seguindo e parou. Quando me aproximei puxei seu braço com mais força do que eu realmente queria para olhar nos seus olhos. Ele devolveu o olhar. Seus olhos eram tão lindos que não consegui notar a vulnerabilidade que eles refletiam, pelo menos não antes de saber que tinha algo errado.
Daimen me puxou para si e me beijou. Fiquei surpresa por ter sido repentino. Depois deixei que me beijasse, pois, a forma protetora como me segurava fazia eu me sentir segura.
Durante o beijo eu me senti sendo sugada para outro lugar. Até começar a perceber que a chuva estava mais forte e eu sentia frio, mas eu não queria parar o beijo, a sensação era boa e completamente desconhecida para mim.
Ele quem parou o beijo minutos depois, encostando sua testa molhada na minha. Seus olhos próximos dos meus e sua boca que eu acabara de tocar. A íris amarela me analisando procurando encontrar uma resposta que só ele sabia a perguntar. Eu estava começando a suspeitar que ele fosse capaz de ouvir meus pensamentos e por isso sabia o que eu estava pensando.
CADÊ MINHAS ESTRELAS? CADÊ MINHAS ESTRELAS? 🌟🌟🌟
Olá meus amores, como estão? Sei que hoje não é dia de publicação, mas eu preciso por em ordem as atrasadas então vou publicar vários capítulos seguidos. Espero que estejam gostando dos meus novos personagens e dessa trama toda, por favor me digam se algo estiver errado.
Bom, o que acharam desse capítulo? Daimen já beijou ela duas vezes, onde será que isso vai dar? E essa paralisia após o que aconteceu no dia anterior, o que está acontecendo com a Atelina? Será que tem algo a mais acontecendo que ainda não descobrimos? Por que Daimen não quis dizer a Atelina o que ele é?
Não se esqueçam da estrelinhas e comentem pelo menos uma vez no capítulo, quero saber se vocês estão ai do outro lado lendo tudinho!!
Beijos e abraços.
- Atelina.
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