Capítulo 14 - Aprendizes

   Acordei sobressaltada e assustada com um barulho de vidro sendo quebrando na cozinha. Culpei uma das meninas mentalmente e voltei a me deitar, tentando dormir, mas os sons na cozinha se ampliaram e além do vidro sendo quebrado havia sons de talheres batendo em pratos e o tilintar dos copos... então me lembrei das irmãs que estavam na minha casa e que podiam ser perigosas.

   Em seguida, ouvi gritos e não aguentei ficar na cama, a preocupação crescendo. Levantei de pijama mesmo e com passos rápidos desci as escadas até a cozinha.

   Passei pelo batente rapidamente, mas a cena que vi foi engraçada. Ao redor de Ally estavam três das irmãs assistindo o que ela fazia na panela, os olhos delas curiosos. De nós quatro, Ally era a que cozinhava melhor, o básico, mas pelo menos não queimava nada e sobreviveria com o que sabe.

   Aproximei-me da mesa de vidro onde Catlhina estava sentada lendo um jornal que eu tinha certeza que não era de hoje por causa das fotos. Kamila ria bem alto, enquanto observava a bagunça sendo feita.

     — Bom dia! — Falei, alto para que fosse ouvida.

     — Bom dia, Atelina! — Recebi a resposta delas em uníssono.

   Peguei na geladeira em um compartimento escondido uma garrafa onde mantinha meu café da manhã, almoço e jantar. A garrafa era azul marinho, para que ninguém soubesse o que eu carregava dentro. Sentei na mesa de frente para Catlhina concentrada nas notícias. Procurei pela data e realmente não era atual, e além disso eram folhas impressas e não um jornal.

     — Catlhina, por que lê isto? — Falei, apontando para a folhas.

     — Minhas irmãs não se importam com isso, mas eu preciso saber como estão as coisas. Quero ver o que mudou e como mudou.

     — Seria mais fácil com o computador, se quiser depois...

     — Eu já aprendi a usar, Laura me ensinou quando errei o quarto de vocês mais cedo — Ela explicou me interrompendo, então decidiu dobrar as folhas e as deixar na mesa — Só falta aprendermos mais algumas coisas, Katherine está ansiosa para começar.

   Sorri para ela que olhava para as irmãs, o brilho nos seus olhos mostrava o quanto estava contente de estar onde estava, como se tudo de ruim que já tivesse acontecido com elas estivesse distante agora. Segui seu olhar na direção de suas irmãs que estavam concentradas no ovo frito e nos bacons que algumas saboreavam eufóricas.

   Depois do café da manhã levei todas para a sala e pedi que Laura pegasse sapatos altos e maquiagens. Porque no ano em que elas estavam os sapatos não eram tão altos e as maquiagens não eram tão minuciosas. Além disso, pedi uns sapatos mais baixos também se quisessem.

     — Vamos começar! — Falei.

   Todos se sentaram no sofá, menos Laura, Kamila e Ally que ficaram em pé esperando para ajudar. Tirei da bolsa os sapatos e coloquei cada um deles nas mãos delas. Seus olhos se arregalaram como se não imaginassem que um sapato pudesse ser tão alto. Peguei um que sobrou e entreguei para que Laura usasse. Ela os calçou e com facilidade deu uma volta na mesa de centro da sala, mostrando como as irmãs teriam que usá-los.

     — Isso é muito alto! — Exclamou Dália, com olhos arregalados.

     — É o que usamos — Kamila explicou e o rosto de Tessa se contorceu, estampando o medo.

     — Se preferirem podemos deixar os saltos e passamos para outras coisas, não é obrigatório usá-los, vocês podem usar tênis também — Sugeri.

   Katherine era a única com o olhar excitado e por isso não esperou a resposta das outras para subir em um par e desfilar ao redor da sala. Ela calçou um louboutoin preto, que valorizou suas pernas, mas que quase a fez cair se não fosse por Ally estar atenta. As outras depois de verem a atitude dela fizeram o mesmo, mas insistiram para que uma de nós estivéssemos do lado, mas acabou que Dália e Tessa preferiram os sapatos mais baixos.

   Ensinamos em seguida a usarem todos os tipos de maquiagens. Catlhina optara por um salto menor de 12 cm e conseguiu aprender mais rápido que as outras porque seguia ao pé da letra tudo o que dizíamos. O tempo que sobrava ela utilizava para pesquisar mais um pouco, enquanto ainda ficávamos atentas a outras.

   Elas não eram tão velhas. Consegui perceber por causa das perguntas que faziam, o vestido que usavam na casa onde as encontramos também me ajudou e pelos meus cálculos elas viviam na época de 1870, mais ou menos. Contudo, isso não retirava o fato de que poderiam ser mais forte e perigosas que um vampiro comum.

   Concordei com as meninas que daríamos uma quantia de dinheiro para que elas fossem comprar algumas roupas, Laura alugou um apartamento por um site na internet na cidade vizinha para que fossem assim que estivesse prontas. E sinceramente, foi bem mais rápido do que eu imaginava, Catlhina já queria ir embora na noite seguinte, por esse motivo me concentrei em dizer tudo o que podia a ela que aprendia rápido e conseguiria se virar mesmo sem a nossa ajuda. As outras aprenderiam com ela.

   De noite deixei todas na sala assistindo um filme e fazendo compras online, enquanto eu subia para tomar banho. Debaixo do chuveiro percebi que estava muito cansada, era um cansaço sem explicação e eu sentia dores nos ombros e nas costas, como se estivesse o dia inteiro carregando rochas pesadas. Meus olhos também ardiam loucamente. E com certeza ter ensinado as meninas durante o dia não era o motivo.

   Sai da ducha procurando minhas roupas pelo banheiro e lembrei que não tinha pegado, o cansaço me fez esquecê-las. Entrei no meu quarto com a toalha enrolada sobre o peito e sentei na cadeira da penteadeira para pentear meu cabelo.

   Levantei na direção do armário procurando um conjunto de pijama quando meus olhos encontraram o conjunto que eu deixei sobre a cama. Atravessei o quarto na direção dele quando ouvi um assovio. Parei de frente para o espelho e me assustei com o reflexo nele. Virei meu corpo rapidamente, mas com cuidado o suficiente para não cair.

   Era Daimen. O homem de olhos amarelos e cabelos castanho que eu conhecera há alguns dias na mata.

   Soltei um suspiro de frustação. "Bem que ele podia ter aparecido em um outro momento" pensei, realmente consternada com o momento que ele escolhera para aparecer.

   Daimen riu com uma das mãos sobre os lábios.

     — O que faz aqui? — Perguntei, desviando o olhar para as minhas roupas sobre a cama.

     — Vim para conversar, mas eu não fazia ideia que presenciaria uma bela paisagem — Daimen falou, sua voz estava rouca e ele esboçava um sorriso malicioso.

     — E onde está a paisagem que tem para admirar? — Questionei, segurando a toalha mais ainda por segurança.

     — Ah, tenho certeza que você sabe onde está — E novamente ele assoviou, olhando-me de cima a baixo e deixando-me completamente desconfortável.

   Abracei a toalha e olhei para a roupa na cama.

   Voltei os olhos para Daimen que agora olhavam para meu pijama também, seu olhar mudou de malicioso para brincalhão e eu não tive tempo para pensar no porquê pois ambos estávamos indo na direção da roupa.

     — Não! — Adverti, mas ele já estava com as minhas roupas na mão.

     — Vamos conversar? — Ele perguntou, com as sobrancelhas erguidas.

   Tentei alcançar minhas roupas que estavam paradas ao lado do seu corpo na mão, mas antes que tocasse nelas ele as trocou de mão.

     — Sobre o que quer conversar? — Perguntei, arisca — Vai me contar outra história?

     — Ah, não — Daimen desviou mais uma vez de um ataque meu e em seguida as levantou no alto — Eu estava pensando, quem sabe poderíamos nos conhecer...

     — Quando estou conhecendo alguém, eu prefiro estar vestida.

     — Mas você está — Ele me olhou nos olhos e eu vi um brilho irritante e bonito que os deixavam mais dourados — Um pouco inapropriada, mas eu não ligo...

     — Daimen! Eu quero me vestir — Gritei, não muito alto para não chamar a atenção das meninas lá em baixo.

     — Pede com carinho que eu dou suas roupas — Ele pediu, olhando nos meus olhos.

   Pulei para alcançar as roupas, mas ele era muito alto para o meu tamanho. E com muito eu queria dizer muito mesmo.

     — Daimen, pode por favor entregar minhas roupas? — Pedi com uma voz manhosa que eu não usaria por vontade própria com ele nunca mais.

   Daimen sorriu e baixou as roupas ao meu alcance. Peguei elas de volta e me virei para entrar no banheiro.

     — Pode deixar, eu não vou olhar — Ele falou e se virou lentamente.

   Com ele virado comecei a colocar minha roupa e ao mesmo tempo a passar um creme corporal que também tinha esquecido.

     — Esse cheiro é bom... — Ele comentou — São rosas?

   Não respondi, virei para procurar um sutiã no armário.

     — O que veio fazer aqui? — Perguntei.

     — Vim conversar e falar sobre as 7 irmãs — Ele respondeu, sua voz estava baixa.

     — E o que tem elas a ver com você?

     — Uma delas foi minha namorada — Sua voz parecia animada.

     — E o que eu tenho com isso?

   Eu consegui colocar o short do pijama e o sutiã, mas a blusa ainda estava na cama. Antes ele só tinha pegado o short e eu não tinha reparado.

     — Perdeu algo, Piierce? — Ele perguntou e eu me odiei por ter gostado do som do meu sobrenome na sua voz.

     — Não! — Exclamei rápido demais e me aproximei lentamente.

     — Então, vou me virar.

     — Não! — Gritei alto demais.

   Em um movimento rápido Daimen desligou a luz do quarto e apenas o abajur ficou ligado quando ele me pegou pelo braço com precisão sem me machucar e me encostou contra a parede ao lado da porta. Fez um sinal com o dedo sobre os lábios finos para que eu fizesse silêncio e depois apontou para a porta.

   Eu vi sombras passarem do outro lado, mas logo se afastaram na direção da escada. Elas provavelmente estavam pensando que eu tive mais um pesadelo. Bom, eu estava vivendo um. Daimen olhou nos meus olhos novamente e um sorriso brotou nos seus lábios. O idiota estava gostando da situação constrangedora que tinha me colocado.

   Encarei de volta e nossos olhos pareciam como um ferro sendo atraído pelo imã, não era possível olhar para outra direção, aquilo era tão intenso. E no escuro do quarto eu não via diferença entre os olhos que eu sonhara quando criança. Eram completamente iguais, com o mesmo brilho, o mesmo medo. Um medo tão profundo que não seria possível perceber se eu não estivesse olhando para eles por tanto tempo. E por tantos anos.

   Ele continuou sorrindo, sendo o primeiro a desviar os olhos dos meus. Infelizmente, notamos ao mesmo tempo que eu tinha esquecido a blusa sobre a cama. Olhei para baixo e tentei subir minhas mãos para cobrir meus peitos. Não deu certo, estávamos próximos o bastante para eu sentir a respiração dele sobre minha pele.

   Seus olhos encontraram os meus novamente e eu senti o calor que emanava deles. O calor fazia eu sentir uma pequena carga percorrer o meu corpo e arrepiar cada pelo nele, seus olhos penetraram nos meus e isso ruborizava minha pele de tão estranho e intimo que era aquele olhar. Seu sorriso malicioso sumira e dessa vez um sorriso despreocupado e sedutor ocupava seus lábios. 

   Sua mão tocou meu queixo e o levantou lentamente, tornando ainda mais difícil que eu desviasse meus olhos, então aquele sorriso que me enfrentavam à um minuto atrás tocou a minha boca e devagar ele percorreu com a língua cada perímetro da minha boca. Era quente e molhado, e fez o meu coração bater descontroladamente.

   Senti-me viva e minha pele gelada de vampiro nunca estivera tão quente antes, era como se tudo de ruim tivesse sumido por completa bruxaria. As 5 irmãs que estavam no andar debaixo haviam sumido, Peyton, Allyson, os meses que eu teria que ficar aqui contra a minha vontade, tudo, tudo havia sumido só o que havia era ele, eu e esse momento.

   A mão que segurava meu queixo segurou minha nuca firmemente, entrelaçando-se aos fios do meu cabelo, enquanto a outra agarrou minha cintura, aproximando meu corpo do dele. 

   Eu queria devolver o beijo e as caricias, e tirar proveito do momento que estava diante de mim, mas não conseguia me mexer, a dor de antes havia aparecido novamente. Eu estava confusa e não sabia o que fazer.

   Quando Daimen se afastou de mim sem fôlego, olhou nos meus olhos por um momento antes de eu me sentir zonza. Tudo ao redor começou a ficar turvo e se tornar pontos pretos borrados. Daimen estava sumindo diante dos meus olhos e eu não queria que ele sumisse, nem seus  preciosos olhos amarelos. Agarrei-me a ele e tentei avisar com a voz fraca:

     — Vou desmaiar.

   Antes de cair no chão Daimen me segurou em seus braços fortes e me carregando em seu colo deitou meu corpo na cama. Tudo estava sumindo aos poucos, nem falar eu conseguia, só via borrões. Mas consegui segurar sua mão como instinto, mantendo ele próximo de mim. A última coisa que se apagou lentamente diante de mim foi a cor dos seus olhos. Amarelos.

BRILHA, BRILHA ESTRELINHA 🌟🌟🌟

Oie Anjinhos! Como estão, faz um tempo não? O que acharam desse capítulo? Daimen apareceu e se divertiu brincando com Atelina, mas ela desmaio depois do beijo. O que aconteceu? O que vai acontecer? Será que Daimen vai ficar magoado pelo desmaio? E ela, será que gostou? As irmãs não ficarão por muito tempo na casa de Atelina, será que isso é bom?

Não deixem de votar e comentar!!!

Abraços gigantescos.

- Atelina.

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