Capítulo 12 - Brincando com fogo
O medo pulsava no meu corpo, minha pele estava suando e eu não tinha para onde correr. Meus olhos permaneceram fixos no aglomerado de fumaça. Até que uma mão a atravessou na minha frente. Era a mão de Daimen e ele queria me ajudar.
— Vem! — Ele chamou.
Segurei sua mão sem pensar duas vezes e senti meu corpo ser puxado do chão e colidir contra o seu rapidamente e sem dor. Ele apressou o passo na direção da sala sem afastar meu corpo do seu. Com certeza tentando evitar que eu me soltasse e fizesse merda.
Seus passos apressados foram difíceis de acompanhar, mas permaneci grudada ao seu corpo até chegar a sala onde me soltou e se afastou sem tirar os olhos do corredor. Todos os meus colegas de turma estavam aninhados, tentando ter proteção e suas expressões de medo me deixavam mais assustada. Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse com eles, estavam aqui por minha causa.
— Falei para ficar aqui! — Daimen advertiu, sem olhar para mim.
— Desculpa! — Falei de volta, contendo o susto que ele me dera.
Ele não prestou atenção em mim e correu na direção da escada. Olhei ao redor e vi que todos estavam distraídos, então aproveitei a situação para voltar ao porão. Eu sabia que Daimen estava bravo por não ouvi-lo antes, mas essa situação era urgente eu precisava resolver isso e proteger todos que vieram aqui por minha causa.
A porta do inferno estava aberta ainda e continuava saindo mais e mais aglomerados de fumaça, eles não prestavam atenção em mim por isso consegui ficar próxima o bastante da porta, tentando ver o que acontecia no fundo. Mas não havia nada, eu só me deparei com um buraco sem fim que relampeava.
— Por favor, fecha. — Meus dedos se agarraram no colar no meu pescoço, automaticamente. Se alguém pudesse me ouvir de algum lugar eu ficaria muito feliz, pois precisava muito de ajuda. Havia pessoas no andar de cima que corriam perigo.
— Não vai fechar. — A voz rouca de Daimen chamou minha atenção. Ele entrou no porão totalmente decepcionado — Não temos força para isso, só o Cérbero teria, mas ele não está aqui.
— E onde ele está? — Perguntei, percebendo depois que fora uma pergunta idiota.
— Eu não...
Ele parou de falar quando ouviu uma das sombras chamando seu nome. Sua atenção estava toda na sombra que subia lentamente, atrapalhando outras que tentavam subir. Se tudo estava parado lá embaixo e o fluxo que antes saia foi interrompido, esse era o momento perfeito para empurrar.
Percorri a pequena distância que tinha até a porta e a empurrei. Devagar e aos poucos a porta se mexeu e foi se fechando, fazendo a sombra que chamara Daimen se silenciar e voltar para o lugar de antes. Quando voltou do seu transe percebeu o que eu estava fazendo e me ajudou, facilitando e deixando as portas que pareciam pesar uma tonelada, mais leves. Não sabia o que ele era, mas com certeza era mais forte que um vampiro.
Sem tremores e completamente fechada a porta foi coberta pelo tapete novamente enquanto eu tentava me recompor. Parecia que eu tinha usado todas as forças que eu tinha, meus braços doíam e minhas pernas também. Esqueci das minhas dores assim que me lembrei dos meus amigos que estavam assustados e precisavam de uma explicação.
— É melhor eu sair daqui. — Anunciei.
— Espera, — Daimen me impediu quando alcancei o batente, parecia preocupado — se alguém perguntar sobre mim diz que me encontrou na casa.
— Ok — Concordei, sorrindo para ele relaxar e me virei para sair — Ah, eu acho... — Volto a olhar para trás, mas ele já havia sumido — "Atelina eu preciso ir, tchau foi bom falar com você e me desculpe por colocar a sua vida e a de seus amigos em perigo", poderia pelo menos dizer isso?
Voltei para a sala a passos lento, tentando adiar a conversa que teria. Eu sabia que eles iriam me bombardear com perguntas, mas eu estava dolorida e mal via a hora de ir embora dessa casa e me deitar em uma boa cama.
Deb estava com Brian deitada ainda sobre os sacos de dormir. Todos os outros tinham expressões horrorizadas e a sala estava mais bagunçada do que quando chegamos, havia madeira para todos os lados, cinzas da lareira que foi acesa e o sofá estava fora do lugar, pois fora usado como um escudo para o que poderia aparecer. Harley falava alto com Peyton e era nítido que estava reclamando, enquanto os outros pareciam exaustos demais para fazer algum protesto.
— Tudo bem? — Perguntei, sabendo qual seria a resposta.
Recebi olhares incrédulos sobre mim, como se eu tivesse dito que ficaríamos na casa para o resto de nossas vidas.
— É logico que não! — Harley gritou, com sua voz aguda.
— Eu sei — O silêncio reino e do lado de fora eu conseguia ouvir os pássaros cantando — Parou de chover. Então podemos ir embora.
Peguei minhas coisas e caminhei até a porta atrás dos outros. Duda Collins segurou a maçaneta e a girou, mas ela não se abriu. Então trocou de lugar com Jeremy só para que o resultado fosse o mesmo.
— Que droga, eu quero ir embora. — Harley disse.
— Não quer abrir! — Jeremy explicou.
— Não pode ser. Não podemos ficar aqui. O que vamos comer? — Harley perguntou, assustada se agarrando ao braço de Peyton que era o mais próximo.
— Vamos procurar na casa. Talvez tenha algo. — Brian sugeriu.
— Essa casa parece ter cem anos, duvido muito que tenha algo. — Laura observou.
Isso não seria o pior. O pior seria se encontrássemos algo que nos matasse. A maioria ali pertencia a uma espécie diferente, mas essas espécies não eram invencíveis e como observado, Daimen era mais forte que eu, imagina se encontrássemos alguém com a força dele?
E pensando nisso poucas pessoas se voluntariaram a procurar na casa por comida e elas foram divididas por lugares menos perigosos. O que deixava o andar de cima como o mais perigoso já que ninguém esteve lá além de mim. Alguns de nós não duraríamos mais de um dia sem água ou comida, então precisávamos encontrar algo.
— Eu fico com o segundo andar — Anunciei, indo na direção da escada.
— Eu vou com você, Atelina — Peyton se voluntariou.
Subimos as escadas em silêncio e dessa vez ao chegar no corredor pude ver uma janela no final dele que o iluminava um pouco e como as outras aberturas da casa estava firmemente fechada. Seguida por Peyton entramos em cada um dos quartos, incluindo um banheiro fétido e outros dois que tinham armários sujos e destruídos.
Faltava apenas um quarto e o dia lá fora corria enquanto procurávamos algo para comer, pelo menos para os anjos comerem. O resto que estava lá eram vampiros, eu conseguia sentir. Entramos no último quarto, eu cruzava os dedos para conseguir encontrar alguma coisa, mas Peyton parecia abatido e eu não sabia o que dizer para melhorar o seu humor. Não o via há alguns dias, desde o dia em que conversáramos no rio.
Esse quarto era maior que os outros, tinha uma cama de casal de dossel no centro dele. Os lençóis eram vermelho vinho com desenhos pretos; as cortinas que um dia foram brancas estavam amarela cor de batata; tinha um sofá em uma das paredes e uma porta na parede oposta.
Comecei a procurar de um lado do quarto enquanto ele procurava no outro com o mesmo ar de decepção. Não fiquei preocupada. Eu não tinha nada a ver com a vida dele, então fiquei na minha continuando a procurar, até porque era melhor assim.
Coloquei na minha cabeça que precisava encontrar alguma coisa, havia três anjos falsos no andar de baixo que precisavam comer. Então procurei em cada canto minuciosamente e em cada espaço que tinha dentro das gavetas. Sem notar, eu estava me aproximando de onde Peyton estava.
Olhei para cima no momento exato em que ele se afastou de mim, como se eu tivesse uma doença contagiosa e ele não pudesse contrair isso de jeito nenhum. Mas eu não tinha uma doença. Então, pensando que isso era muito estranho e sem saber o motivo disso, tentei puxar assunto:
— Peyton, não vamos encontrar nada. — Falei, tentando fazer ele conversar comigo.
— Continua procurando — Ele falou, ríspido e sem olhar para mim.
Sua grosseria foi o bastante para despertar meu lado brincalhão e ousado. Eu não tinha feito nada para fazê-lo agir dessa forma comigo, desde aquele dia eu nem mesmo o encontrei por acaso na pousada.
Sorri como uma criança e me aproximei dele, tocando seu braço suavemente. E com uma falsa admiração fingi olhar para seus braços grandes e músculos que davam dois dos meus fácil, fácil.
Ele esboçou um sorriso torto e bonito, o que significava que tinha caído na minha jogada. Afastei uma de suas mãos da escrivaninha na qual procurava abrindo espaço para que eu entrasse entre ele e ela. Sorri de volta, trocando olhares com ele que olhava para mim como se soubesse os meus próximos passos.
— Por que não quer conversar comigo? — Questionei, dengosa.
Peyton destruiu a pequena distância que havia entre nós esticando os braços ao meu lado. Seu sorriso era malicioso agora. E o brilho nos seus olhos me dizia que estávamos jogando.
— Porque sim. — Ele respondeu, ronronando.
— "Porque sim" não é uma resposta.
Seu sorriso cresceu e ele aproximou sua boca da minha orelha. Antes de falar algo respirou fundo e soltou seu hálito quente contra meu pescoço fazendo meus pelos da nuca se arrepiarem. Por fim senti quando sua boca se moveu.
— Mas é a minha resposta. — Sussurrou, a voz sedutora.
Mesmo depois de falar ele não se afastou nem um centímetro sequer de mim e eu sentia o calor do seu corpo emanando com intensidade. Levantei um pouco a cabeça e alcancei com os dentes a ponta da sua orelha. Eu podia jogar a mesma carta que ele.
— Não é a que eu quero. — Sussurrei, também de maneira sedutora.
— E qual você quer, Piierce? — Dessa vez se afastou o suficiente para que nos olhássemos nos olhos, esboçando um sorriso sexy.
Eu estava cansada de brincar, ele jogava muito bem e não iriamos chegar a lugar nenhum com isso. Na verdade, eu estava com medo de onde poderíamos chegar. Empurrei ele para longe de mim devagar e sem muita força.
— Não é a que você está pensando. — Respondi, tentando respirar.
— E qual é a que eu estou pensando? — Ele perguntou, debochando da minha cara.
Peyton sabia que seus olhos não mentiam para mim. E a luxúria que eu identifiquei tornava a nossa brincadeira perigosa e o fim dela era mais do necessária. Fiquei na ponta dos meus pés para dizer baixinho o que não podia ser dito alto e alguém ouvir, mas dessa vez falei de forma normal e desinteressada, querendo terminar com a brincadeira.
— Você pensa em fazer sexo, isso está estampado nos seus olhos. E acho que não importa muito com quem seja — Falei, enquanto me afastava.
— Não acertou totalmente. — Peyton disse, contradizendo-me.
— Então, acertei a parte do sexo?
— Vamos disser que sim.
Continuei afastando-me dele. Precisava de uma distância segura.
— Você tem alguém em exceção? — Perguntei, o distraindo.
— Tenho — Ele sorriu. Os olhos mostrando que ele ainda estava jogando.
Eu não sabia o que fazer. Tinha começado isso e precisava parar, mas ele parecia querer continuar até o fim.
— Peyton, acho melhor paramos por aqui — Avisei, não tinha mais lugar para onde correr.
Levantei meus olhos para ter certeza que a distância entre nós que eu estava tentando manter era grande o bastante, mas não precisei de muito tempo para notar que estava diante de mim o mais perto possível. O calor emanava do seu corpo e atravessava o tecido da roupa que eu vestia. Em resposta meu corpo ficou tenso, fazendo meu coração bater rapidamente, desenfreado. Não podia ficar tão perto dele. Eu não confiava no que eu poderia deixar que ele fizesse e no que eu poderia fazer.
Quando não me mexi e nem o repreendi por causa da sua aproximação ele decidiu agir, subindo suas mãos delicadamente pelo meu braço exposto e alcançando meu rosto com suas mãos frias de vampiro. Olhei nos seus olhos escuros cheio de desejo. E depois de tantos anos eu sabia como ele se sentia. Com medo, desejo e ânsia. Peyton acariciou minha bochecha com o polegar sem adiantar o que sua mente claramente queria fazer comigo. Ele estava esperando.
O que? Minha permissão?
Minhas mãos estavam paradas sem reação ao lado do meu corpo. Eu não podia aceitar. Mas queria muito. Não me lembrava do gosto da sua boca desde... anos. E sentia falta. Falta do formigamento que brotava na minha barriga. Eu não podia. Mesmo assim o desejava...
Inclinando sua cabeça rapidamente Peyton cobriu minha boca com a sua devagar, esperando que eu me acostumasse e devolvesse o beijo. E foi o que fiz, sem pensar, avançando várias etapas lentas para algo intenso e completamente impaciente. Eu sabia que se pensasse ia correr para longe, mas eu queria aquilo. Embora fosse errado.
Suas mãos estavam na minha cintura e eu permiti que me segurasse no colo passando os braços ao redor do seu pescoço. Peyton me levantou, seus braços estremeceram com o peso do meu corpo, deixando-o sem alternativa para o apoiar sobrando apenas a parede de madeira atrás de mim. Entretanto, no momento em que recebeu nossos corpos ela respondeu com o som de rachadura, nos assustando.
Afastei-me de Peyton, concentrando minha atenção na rachadura. A parede era oca e velha, por isso não aguentou.
O buraco atrás da rachadura era fundo e parecia levar a uma sala. Apertei os olhos, mas não enxerguei nada na escuridão daquele pequeno espaço. Apalpei meus bolsos procurando meu celular e lembrei assim que não o encontrei que estava na pousada com o professor White.
— Vou entrar — Avisei, colocando os braços para dentro.
— Não vai, não! — Ele advertiu, segurando meus ombros no último minuto.
— Peyton, precisamos encontrar alguma coisa — Falei, olhando para trás — E você não caberia aqui.
Então ele concordou, só pelo fato de ele ser muito maior que eu em seus um e oitenta e cinco de altura e outros quilos de músculos, o que dificultaria sua passagem pela rachadura.
Atravessei o pequeno corredor estreito às cegas e sai em uma sala um pouco mais clara por causa de uma claraboia antiga no teto coberto de teia de aranha. Consegui distinguir nas sombras um objeto branco encostado em uma das paredes. Era uma maca com manchas nítidas de sangue já seco e bem antigo, ao lado de uma cadeira e uma geladeira.
Dentro da geladeira havia latas de comida conservada que ultrapassavam a data de validade quase em quatro décadas e havia também tubos de sangue sem marcações. Olhei em volta mais uma vez e percebi que estava em um laboratório clandestino. Pessoas eram levadas para casas assim para que o médico fizesse nelas experimentos ilegais.
Eu já estive em um, mas apenas de passagem. Era uma casa que recebia toda semana damas da sociedade acompanhadas de pelo menos três outras jovens com um pequeno poder aquisitivo, essas por sua vez sumiam facilmente.
A luz no teto começou a piscar, permitindo-me ter uma visão iluminada da sala por frações de segundos. Peguei algumas latas quando a luz permaneceu acesa escolhendo as melhores opções. Virei para sair dando de cara com uma garota. Ela tinha os olhos voltados para o chão e sua cabeça estava inclinada, deixando-a assustadora. Ela usava um vestido azul turquesa muito antigo.
— Oi — Chamei sua atenção — Quem é você?
— Me ajuda — Ela murmurou com a voz baixa, quase como um sussurro.
Dei um passo na sua direção.
— Como eu posso ajudá-la? — Perguntei.
— Eu preciso... — Seus olhos encontraram os meus e no minuto seguinte eles estavam completamente negros.
Ela avançou na minha direção com as mãos na direção do meu pescoço. Tentei me afastar. Mesmo assim ela me alcançou e com uma expressão faminta mostrou suas presas que se pareciam muito com as de um tubarão, finas e bem pontiagudas. Fechei meus olhos enquanto o ar dos meus pulmões se esvaia do meu corpo, tentando pensar em como afastá-la de mim.
Então contra-ataquei, socando com a força que me restava a boca do seu estômago.
A garota se afastou cambaleado e tentando manter o equilíbrio. Seus olhos queimavam de raiva por ter apanhado e eu conclui que estava ferrada. Ela se preparou, mas antes que pudesse voltar a me atacar outra mulher apareceu na minha frente, ficando entre mim e a outra garota.
— Vih, eu falei que não! — A garota nova gritou, furiosa.
— Você é chata! — Vih, a garota do vestido turquesa exclamou — A Kate pelo menos vai matar a minha fome. Tchau, maninha — E com um sorriso sínico e um aceno ela sumiu.
Ficando apenas com a irmã boazinha, respirei fundo e toquei meu pescoço. Estava dolorido e o ar ainda não tinha voltado totalmente para meus pulmões, forçando-me a respirar de forma curta e controlada.
A garota na minha frente se virou, percebendo novamente minha presença.
— Eu sinto muito pela minha irmã — Ela se desculpou, sincera.
— Quem são vocês? — Por mais estranha que fosse a situação essa era a única coisa que eu queria saber.
Ela abriu a boca para responder, mas se deteve assim que ouvimos gritos no andar de baixo. O medo de os portões terem se aberto mais uma vez percorreu minha espinha.
— Posso me apresentar depois? Acho que minhas irmãs estão realmente com fome — Ela disse e o plural no "irmãs" me alarmou.
Ela segurou meu braço rapidamente sem que eu pudesse dizer algo ou me afastar. Senti meu corpo ser sugado e então o chão sob meus pés sumiu por segundos. Em seguida, eu estava na sala olhando para os meus amigos rodeados por garotas pálidas e loiras.
CADÊ ESSA MARAVILHOSA ESTRELA BRILHANDO? 🌟🌟🌟
Oi Anjinhos! E esse capítulo novo com pegação, o que acharam? Vocês imaginavam que isso fosse acontecer? E essas meninas que apareceram do nada na casa após os portões serem abertos? Por que Daimen não quer que os outros saibam sobre ele e essa força que ele tem? Algum palpite sobre o que Daimen pode ser? Adoraria saber as suas teorias sobre tudo!!!
Não esqueçam de votar e comentar, pode ser apenas uma palavras de motivação que eu aceito amores.
Abraços deliciosos!
- Atelina.
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