Capítulo 11 - O que tem no porão?

   Enquanto subia as escadas o mesmo barulho que eu ouvi ficou mais baixo e eu não ouvia mais nada além dos rangidos estridentes que os degraus soavam a cada passo meu. Observei o corredor quando cheguei ao topo, estava escuro e completamente vazio. Apertei meus olhos, tentando ver na escuridão e deixando o ouvido atendo a qualquer ruído que pudesse me informar para onde ir.

   Aguardei uns instantes e voltei a andar sentindo na sola dos meus pés a poeira grudando nele. No meio do corredor ouvi outro som estridente e dessa vez eu me virei a tempo de ver a porta ao meu lado ser aberta sem que ninguém a tivesse empurrado. Olhei em volta e depois para o quarto, sentindo outro formigamento no meu corpo. Estava mais frio ali e o motivo estava evidente agora. A janela daquele quarto estava aberta e o vento frio causado pela tempestade levantava a poeira do chão e me deixava com frio.

   Também havia algumas folhas de papel sobre a escrivaninha sob a janela que estavam prestes a voar, se eu não tivesse entrado e a fechado.

   Ter fechado a janela fez com que todo o ar do quarto rapidamente fechasse a porta em um estrondo que me assustou, mas não virei para atrás. Observei a chuva que continuava a cair furiosa, provocando trovões longos e barulhentos que me deixava ansiosa. Como algo tão belo e perigoso poderia estar no céu sobre minha cabeça?

   Algo bateu na porta e dessa vez eu me virei. Meus olhos caíram sobre a figura de uma pessoa. Ele estava apoiado na porta com uma perna dobrada e tinha no rosto um sorriso maravilhoso. Era o Daimen.

     — Tem medo de trovões? — Ele perguntou, esboçando um sorriso malicioso no rosto — Pensei que não viria.

     — Você não me deu escolhas. Me deixou sozinha... e na chuva. — Expressei, com minha raiva aparente.

     — Desculpa. — Disse, seu tom de desinteresse me dizia que ele não fazia questão de dizer aquilo realmente. Daimen se desencostou da porta e deu um passo na minha direção.

   Eu estremeci com sua aproximação. E ele parou.

     — Hum... o que você quer de mim? — Questionei novamente, cruzando os braços sobre meus seios.

     — Eu quero ajudar você. — Daimen respondeu, sorrindo como se tudo fosse óbvio — Mas antes eu preciso da sua ajuda.

     — Quer que eu ajude no que?

   Ele se aproximou de mim mais uma vez ainda esboçando um sorriso muito bonito, embora fosse belo não consegui evitar e me afastar involuntariamente. Ele não deixava de ser um desconhecido.

     — Você nem sabe o que pode acontecer com você, né? — Perguntou, incrédulo e eu neguei. — Atelina, Atelina... você tem um nome bonito. — Ele cantarolou, rindo — Sente-se.

   Tinha uma cadeira junto a escrivaninha, na qual ele havia apontado para que eu me sentasse. E foi o que eu fiz.

   Daimen se afastou um pouco e pegou outra cadeira, essa estava ao lado da cama de dossel e eu não tinha percebido. Colocou ela a uma distância consideravelmente de mim, mas ainda assim eu podia sentir seu cheiro de onde eu estava já que era a única coisa naquele cômodo que tinha um aroma agradável. Nem de mim eu podia disser o mesmo.

     — Já ouviu falar nos portões do inferno que existem na terra? — Ele começou, olhando nos meus olhos.

   Balancei a cabeça, negando.

     — Existe um em cada continente. Cada um deles tem um guardião, as vezes um demônio que precisa de um castigo. Ou um anjo caído que andou com as pessoas erradas, mas sempre há um guardião. — Sua voz permanecia calma, enquanto falava — Esses portões começaram a ser uma passagem muito fácil para os demônios ou qualquer pessoa que quisesse entrar. Isso deixou Lúcifer enfurecido, porque atrapalhava os negócios. Então fez um acordo com as bruxas, elas selaram os portões, mas de acordo com o que ele tinha pedido existia um meio para abri-lo. Não é difícil. — Ele fez uma pausa prolongada.

     — E? — Insisti que continuasse, provocando um sorriso nele.

     — Com um sacrifício e algumas palavras estranhas de bruxas, consegue-se abrir os portões e os demônios estariam livres para bagunçar muita coisa aqui em cima.

   Eu não entendia o porquê de ele estar me contando essa história, mas queria saber qual era a relação comigo. Se eles estavam presos e com guardiões que protegiam o selo, por que ter medo de algo tão bem guardado?

     — Daimen? — Chamei sua atenção. — Por que está me contando isso?

     — Uma bruxa Piierce que teve a família destruída por demônios decidiu fazer algo diferente. Ela acrescentou aos portões um selo hibrido. O sangue que precisava ser derramado sobre o selo era tão raro que é possível que sua existência seja uma lenda. Quem quisesse abrir os portões precisaria do sangue de um anjo metade vampiro. — Ele parou novamente, analisando-me com os olhos e depois continuou: — Uma das minhas fontes me disse que existe um híbrido assim. E eu preciso encontrá-lo antes que descubram. Meu colega precisa falar com você antes de você ir embora.

     — Por que? — Perguntei, confusa.

     — Você ainda não entendeu. Você...

   Daimen interrompeu seu relato no mesmo instante em que ouvimos um grito feminino vindo do andar de baixo. Ele levantou da cadeira e abriu a porta, olhando para ambos os lados.

     — O que foi isso? — Perguntei a ele, seu olhar mais confuso que o meu.

     — Sua amiga — Respondeu e olhei para ele incrédula — Vai!

   Daimen pensava em alguma coisa, parecia furioso com algo, mesmo assim permitiu que eu passasse por ele às pressas. Corri direto para a sala no andar de baixo. Meus olhos percorreram cada saco de dormir e havia dois vazios. Um deles estava do lado do saco de dormir de Brian. Seus olhos encontraram os meus e eles expressavam preocupação e confusão.

   "Vá até o porão! " Uma voz grave gritou dentro da minha cabeça.

   Dei meia volta e passei pelo corredor escuro para entrar na porta que levava realmente até o porão que fedia a morte, enxofre e comida estragada. Eu nem me dei ao trabalho de pensar que havia alguém falando na minha cabeça.

   Minha visão não demorou para se ajustar e consegui ver a cabeleira loira ainda molhada e cacheada de Dabria. Ela estava encostada em um pilar que sustentava o porão, segurando a própria mão sobre a perna e Harley estava em outro pilar, olhando assustada para Deb. Senti o cheiro de sangue quando me aproximei e entendi o motivo de Deb estar segurando sua perna. Ela estava estancando um corte que ainda sangrava, enquanto o sangue escorria e pingava no chão.

     — Deb, o que aconteceu? — Perguntei, preocupada.

     — Eu estava procurando você quando... — Sua voz falhou.

   Olhei para o sangue que escorria do seu corte. Era muito para uma pessoa que cicatrizava facilmente e em instantes. A raiva subiu a minha cabeça.

     — O que você fez, Harley? — A questionei, quase voando na direção dela.

     — Ela não fez nada — Daimen apareceu ao meu lado, repentinamente.

   Ambas as meninas o encararam assustadas pela sua aparição repentina, mas logo esqueceram quando ele se abaixou próximo a um tapete, era para onde o sangue de Dabria ia como uma grande correnteza.

     — Daimen, ela está sangrando! — Anunciei, assustada não sabia o que fazer com todo aquele sangue que não devia estar escorrendo.

     — Mas ela é vampira — Ele falou, desinteressado como se não significasse nada.

   Então me lembrei da história que estava me contando.

     — Meio Anja. — Acrescentei, em um sussurro baixo que torci para que tivesse ouvido.

   Os olhos amarelos de Daimen se arregalaram e ele se esticou para puxar o tapete do chão exibindo portas duplas bonitas e cheias de símbolos estranhos. Elas tremiam e no lugar da fechadura havia um pentagrama dentro de dois círculos, era o único símbolo que eu conhecia. E o sangue de Dabria escorria como se tivesse vida própria até se acoplar no meio dos círculos.

     — Merda, Ethan seu desgraçado! — Daimen xingou, baixinho.

   Encarei assustada a porta e me aproximei dele para que negasse o que eu suspeitava que aquelas portas fossem.

     — O que é? — Perguntei, sussurrando.

     — As portas do Inferno — Ele me olhou com um sorriso torto no rosto.

     — Você não disse que eram aqui! — Exclamei, deixando transparecer meu medo.

     — Bom, não deixaram eu terminar minha história — Ele se levantou com um impulso meio trêmulo. — Tire elas daqui. E chame seus amigos.

   Concordei, passando o braço que não estancava o corte de Deb sobre meu pescoço e ajudei ela a andar, enquanto Harley a passos rápidos se retirava do porão na direção da sala. Brian percebeu que não estava sendo fácil carregar Deb e a pegou, sem que eu pedisse. Assim que ela estava deitada sobre os sacos de dormi e segura fiz o que Daimen pediu, falei aos garotos que precisava de ajuda urgente no porão.

   Um tanto receosos eles me seguiram. Quando entrei novamente no porão Daimen passava a mão no cabelo castanho bagunçando-o, isso parecia ser um tic dele quando estava nervoso e além disso andava de um lado para o outro com a mesma expressão de quando me deixou sair do quarto.

     — O anjo pode voltar. — Daimen ordenou, quando todos se colocaram ao meu lado, balançando as mãos no ar como se espantasse moscas.

   Ele se referia ao Jeremy. Ele era um anjo falso. Eu sabia, porque Dabria o conhecia.

     — Por que? — Perguntei, entrando na sua frente assim que parou.

     — Porque... — Daimen aproximou seu rosto do meu o suficiente para eu sentir sua respiração quente — se aquela porta abrir, ele será o prato principal.

     — Jeremy, volta e fica com as meninas... — Falei a mensagem de Daimen, sem ser grossa.

     — Você também. — Daimen acrescentou, interrompendo-me.

     — O que? Não! — Protestei, tornando a encarar seu rosto que permanecia próximo do meu e focando justamente nos olhos que tinham um brilho intenso de preocupação.

     — Vai! — Ele ordenou, com um tom cortante e violento.

   Cruzei os braços sobre os seios, bati o pé no chão e fechei a cara. Torcendo para que minha voz não vacilasse quando voltei a falar:

     — Não vou. E ninguém vai me impedir de ficar aqui.

   Derrotado, Daimen passou mais uma vez a mão pelos cabelos e suspirou.

     — Alguém, por favor, pode tirar ela daqui antes que algo aconteça a ela? — Ele perguntou, controlando a raiva.

   Ele não podia dizer aquilo. Ele pediu minha ajuda na mata!

   Quando estava prestes a me defender mais uma vez e dizer que ele pediu minha ajuda, alguém me pegou e me colocou nos seus ombros. E enquanto nos afastávamos senti o cheiro do perfume inconfundível de Peyton e tive vontade de saltar e bater nele, mas não pude ele me segurava muito forte.

   Consegui ver nos olhos de Daimen, antes de atravessar o batente da porta, que ele não gostou muito da ideia que Peyton teve de me tirar de lá, mas mesmo assim não disse nada.

   Passando pela sala, onde acreditei que fosse o lugar que me deixaria, ele fez uma curva para subir as escadas.

     — Peyton, me coloca no chão! — Gritei, já tonta pela posição que minha cabeça estava. — Me solta!

   Peyton subiu as escadas, rindo. Esperei quieta que me largasse logo, não estava nenhum pouco feliz de saber que era motivo de piada para ele. Assim que parou, olhei para cima e vi que ele estava no mesmo quarto onde eu estava ouvindo Daimen me contar a história. Ele me soltou próxima a cama e correu como um vampiro idiota que era, fechando a porta logo atrás.

   A fechadura era velha então não foi difícil quebrar, mas a porta não abriu. Ele havia quebrado a outra maçaneta e eu conseguia ver pelo buraco dela. Me afastei agarrando uma das cadeiras que estavam ali e a joguei contra a porta. Apenas na segunda tentativa e um belo chute que ela rachou e eu pude sair pelo buraco formado. Machuquei meu pé quando passei e me lembrei que ainda estava descalça.

   Eu queria saber o que estava acontecendo e ter descido as escadas apenas aumentou minha curiosidade, por causa dos sons que vinham do porão.

   Peguei minhas botas e as calcei sentindo um alivio por não pisar mais diretamente na poeira. Aproveitei e me aproximei de Dabria para saber se ela estava bem. Sua perna estava enrolada em uma toalha que fora branca, mas agora encharcada de sangue, tinha a cor vermelha. As meninas ao redor pareciam angustiadas e o medo estava estampando em seus rostos.

     — Deb, você está bem? — Chamei sua atenção.

   Ela levantou seus olhos na minha direção e pude ver o quanto sua pele ainda estava pálida, como se ela estivesse doente.

     — Sim. Ainda sangra, mas agora parece estar cicatrizando aos poucos — Ela sorriu, tentando me tranquilizar — E quem é o homem no porão com quem você estava conversando?

   Dabria e sua curiosidade. Pelo menos assim eu sabia que ela estava realmente bem.

     — Depois eu conto. Só descanse. — Pedi, desviando sua atenção de mim.

   Ela assentiu. E eu girei nos meus calcanhares para voltar ao porão, mas fui parada no meio do caminho por Amanda e Laura, que entraram na minha frente, ameaçadoras.

     — Eles não nos querem lá embaixo. — Laura falou primeiro com a voz tremula.

     — Vocês ficam. Não precisam ir comigo, mas eu quero ir.

     — Não Atelina, fique aqui. Não queremos que você se machuque também. — Amanda disse, a voz tensa.

   Segurei meu colar com um olhar impetuoso. Eu queria muito saber o que estava acontecendo. Daimen pediu minha ajuda, por isso estava aqui. Não andei quilômetros para ficar sentada como uma covarde até que tudo acabasse.

     — Saiam! — Brandi, nervosa.

   Elas pararam como estátuas na minha frente e não responderam mais, ficaram quietas com expressões vazias como se estivessem paralisadas.

   Aproveitei o momento para continuar na direção do porão.

   Parei próxima a porta quando ouvi um grito. Encolhi-me ao lado do batente para ver o que acontecia e se era seguro eu entrar. Todos os garotos, incluindo Daimen, subiram sobre as portas e com o peso deles as empurraram. Mesmo assim não adiantou, elas tremiam demais e no momento em que dois deles se afastaram ela se abriu, lançando Dhiren e Ryan para paredes opostas. A porta foi ricocheteada contra o chão provocando um som oco.

   Repentinamente começou a ventar exatamente como se um furacão estivesse se formando ali. A poeira subiu e eu vi quando Daimen ajudou Ryan a se levantar e pediu com um gesto para que ele e os meninos saíssem do porão. Eles saíram.

   Meus olhos ficaram gravados sobre a porta dupla aberta que parecia exatamente com um buraco negro. Não tinha saído nada ainda, mas não demorou muito para que eu ouvisse gritos estridentes e assustadores antes de ver aglomerados de fumaça saírem.

   Elas tinham diferentes cores que iam do cinza escuro até o preto e brilhavam como se houvesse relâmpagos dentro delas. Uma parte das fumaças começou a sair pelas janelas, outras atravessaram as paredes e foram embora. E tarde demais percebi que algumas também passariam por onde eu estava. E elas estavam vindo.

   Tentei correr mesmo sendo tarde e não consegui. Por causa da pressa não vi onde estava pisando e cai de joelhos diante da porta, me virei contra a parede. A maioria delas saiu em direção à sala, mas uma com trovões vermelhos brilhantes desacelerou seu voou e parou diante de mim.

CADÊ MINHA ESTRELA, CADÊ MINHA ESTRELA? 🌟🌟🌟

Oie Anjinhos! Como estão? O que acharam do capítulo novo e da história que Daimen contou para Atelina? O que será que ela tem com isso tudo? E esses portões sendo abertos, será que alguma coisa vai acontecer com eles? Daimen xingou uma certa pessoinha e esse nome é conhecido, né? Lembram do Ethan do PRÓLOGO? E essa Atelina que não escuta as outras pessoas. Teimosa, não? 

Espero que estejam gostando, quero muito saber a opinião de vocês então vamos dar o voto precioso e digam alguma coisa! Qualquer coisa, ficarei feliz apenas com um comentário.

Beijinhos quentinhos.

- Atelina.

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