5. Should I stay or should I go
Helen
Quando coloquei meus olhos sobre Sebastian Carter pela primeira vez, tive certeza de que eu estava fodida. Ele era problema, estava praticamente escrito em sua testa.
No meu primeiro dia de aula, quando nossos olhos se cruzaram, senti todo o meu interior pegar fogo. Ele tinha aquela pose de durão, de badboy delinquente, mas o fundo sentimental que ele tentava esconder era tão nítido que eu me perdi em seus olhos verdes como se tivesse despencado no meio de um labirinto.
A pior parte de tudo isso é que eu arrumei uma amiga pensando que, dessa forma, conseguiria distrair minha mente, mas a garota era nada mais e nada menos que a irmã caçula daquele desgraçado.
Eu não podia simplesmente falar para ela que estava afim do irmão mais velho dela. Não colava. E pelo que ela já tinha me contado em todas as nossas conversas, ela detestava fazer amigas na escola porque todas elas acabavam se apaixonando por Sebastian, uma delas chegou até a transar com ele, por isso ela não tinha mais amigas, ao menos não enquanto Sebastian não se formasse.
Me sentia culpada por esconder aquele sentimento e, ao mesmo tempo, me sentia uma idiota por cair no encanto de alguém como Sebastian. Era mais que óbvio que aquele olhar que ele me lançara, e todos os olhares que trocamos naquela semana, não passavam dos mesmos olhares que ele lançava para todas as garotas da escola.
Eu não culpava Marianne por ser tão apaixonada por um garoto como ele, ele sabia exatamente o que fazer para que se apaixonassem por ele sem esforço algum.
Quando cheguei em Brookline, prometi para mim mesma que não me envolveria com nenhum garoto até sair da escola. Era a minha chance de recomeçar, de deixar tudo para trás, eu tinha até montado uma personagem fajuta e idiota para passar desapercebida na escola, mas era torturante.
Um lado meu queria ser eu mesma, queria olhar para os garotos e julgar cada detalhe deles, fazer uma lista dos garotos para quem eu daria uma chance e uma lista dos garotos pelos quais eu nem passaria perto, usar minhas roupas favoritas e não aqueles óculos ridículos, mas eu não podia correr o risco de ser taxada como a vadia da escola novamente.
Era por isso que Brookline me trazia tanta esperança, era longe da minha cidade natal, que era pequena e cruel. Lá, todo mundo se conhecia e como não tinham muitos adolescentes e eu transei com, pelo menos, três deles, eu era a nova vadia da escola, por isso coisas ruins aconteciam o tempo inteiro comigo.
Desde sapos mortos no meu armário até assédio. Era um verdadeiro inferno.
Meus pais foram compreensivos em aceitarem desaparecer daquela cidade e recomeçar tudo em outro canto, eles estavam felizes com o que conquistaram e com a nova lanchonete em Brookline, mas eu estava começando a ficar assustada sobre o quanto Sebastian não saía da minha cabeça, simplesmente porque ele não me deixava esquecê-lo.
Ally-Grace parou na frente do espelho do meu quarto com algumas das minhas roupas favoritas contornando seu corpo magro, ela deu algumas voltas e abriu um sorriso.
— Você tem bom gosto! — Disse para mim, se jogando na cama. — Queria ter mais dinheiro para comprar roupas assim!
Eu sabia que eles não tinham as melhores condições financeiras e que era por isso que o irmão mais velho deles estava em uma gangue, mas não sabia muito mais que isso.
— Pode usar se quiser! — Sentei-me ao seu lado.
— Acha que Winston vai gostar? — Perguntou, sentando-se imediatamente.
— Não acha que ele é um pouco velho pra você? — Perguntei de volta, estreitando os olhos.
— Mas ele é tão bonito — Ela esticou-se novamente na cama. Seus olhos brilharam para o teto. — E ele é muito inteligente, posso conversar sobre qualquer coisa com ele. É diferente dos outros garotos da gangue, ele sabe conversar sobre tudo e sempre se interessa pelo que eu falo, até quando falo sobre as líderes de torcida!
— Tudo bem, mas ele ainda tem vinte anos!
— Eu vou fazer dezesseis anos, mês que vem! — Ela virou o rosto em minha direção. — Qual o problema?
Balancei a cabeça, ela não me convenceria de que estava tudo bem. Pelo que me contava de Winston, ele era um cara gentil e atencioso, mas nunca a enxergava como algo além de uma irmã caçula, provavelmente por ele ser melhor amigo do seu irmão mais velho.
A primeira vez que transei foi com um cara que tinha a mesma diferença de idade que Ally-Grace e Winston, ele me disse que eu era madura demais para a minha idade, que eu era diferente das outras, mas no fim das contas, ele só me dizia aquelas coisas porque nenhuma garota da idade dele o suportava. Não as julgo.
Eu só não queria que Ally-Grace passasse pelo mesmo que eu, então preferia mantê-la longe de problemas, mas ela sempre fora terminantemente apaixonada por Winston, segundo ela mesma.
A primeira vez que ela tinha o visto, ele tinha quinze anos e acabara de ingressar na Death Angels com Mark, o irmão dela. Ela tinha dez anos na época.
Ally-Grace não queria ir à inauguração, mas eu queria sair de casa pela primeira vez desde que chegara em Brookline, então consegui convencê-la de ir comigo com a desculpa de que, pelo menos, ela poderia ver Winston por lá.
Ela topou, para a minha alegria, e meu pai nos deixou por lá com a desculpa de que eu teria carona para voltar — mesmo que eu ainda tivesse que arrumar a carona, na verdade.
— Helen, ele tá bem ali! — Disse, me virando na direção de Winston.
Admito que ele era bem bonito, Ally-Grace tinha um bom gosto para garotos. Winston estava contando dinheiro com Mark, que passava os bolos de dinheiro para o amigo contabilizar, era como se ele fosse uma calculadora humana, eu conseguia entender o motivo de Ally-Grace o considerar tão atraente, principalmente quando estava envolvido com números.
Ele franzia o cenho para as notas, estreitava os olhos e espremia os lábios de um jeito estranhamente sexy.
— Vai falar com ele — Incentivei-a.
— Não se importa de eu te deixar aqui para falar com ele? — Perguntou, confusa.
— Eu vou ir atrás de uma carona pra nós duas, mais tarde a gente se encontra do lado da pipoca! — Apontei para o velho que estourava pipocas num trailer.
Ela confirmou com a cabeça e eu virei-me para as filas de pessoas que se empenhavam em conseguir refrigerantes e baldes de pipocas que fossem grandes o suficiente para durarem o filme inteiro.
A ideia inicial era realmente conseguir uma carona para voltar para casa mais tarde, sei que se eu contasse para qualquer cara da gangue do irmão de Ally-Grace, eles nos levariam para casa sem problema algum, mas se eu conseguisse encontrar alguém da escola que fosse mais confiável que um gângster seria bem melhor.
Meus olhos infelizmente me pregaram uma peça novamente. Eu o encontrei ali no meio. Pensei que seria impossível o encontrar por ali.
Mas seus cabelos escuros, a argola pequena em sua orelha esquerda, seus olhos verdes e seu sorriso petulante sempre parecia surgir na frente dos meus olhos quando eu menos esperava.
De frente para ele, Marianne Fletcher parecia estar extremamente irritada, e não resisti ao impulso de aproximar-me cautelosamente para entender o que estava acontecendo.
— Entender o quê? — Ela passou as mãos pelo rosto, irritada. — Que você é um egocêntrico maluco que acha poder fazer o que quiser!?
Bom, era basicamente isso que garotos como ele pensavam, sim.
— Não, porra! — Ele engoliu em seco. — Eu não podia te deixar escapar, gata. Eu queria que você viesse comigo, queria poder... Você sabe...
Eles já tinham transado uma vez, pelo visto, e ele queria uma parte dois. Que canalha! Ele não gostava dela, não da forma como Marianne pensava que ele gostava.
Ela o puxou pela gola da jaqueta jeans, o fazendo pender para frete, os lábios dela domaram os dele ferozmente, passou as mãos por onde ela queria passar, empurrou-o para longe e espalmou um tapa ardido em sua cara.
— Você é um babaca — Disse ela, limpando o batom do canto da boca.
Eu ri sozinha. Sim, ele é um babaca!
Ela o largou sozinho com seu maço de cigarros. Ele respirou fundo, conformado, sabia merecer o tapa e não estava exatamente abalado por aquilo.
Ele vasculhou os bolsos atrás do próprio isqueiro, mas percebeu estar nas mãos de Marianne, que o arremessou no chão, fazendo-o espatifar-se.
— Ótimo — Riu, nervoso.
Ele afastou-se e eu puxei meu cigarro de dentro do bolso de minha jaqueta, acendi-o rapidamente e caminhei pouco atrás dele, o suficiente até que ele notasse a fumaça de meu cigarro e se virasse para mim, encontrando-me encostada num poste de iluminação.
Ele não esperava me encontrar ali, e mal sabia que eu tinha praticamente armado toda aquela situação só para que ele fosse falar comigo. Sebastian abriu um sorriso petulante e surpreso e aproximou-se.
Ele provavelmente nunca tinha me visto com as minhas roupas.
Ele definitivamente não esperava me encontrar sem óculos redondos e sem saias xadrez. Eu estava dentro de uma calça jeans tão apertada que poderia ser considerado quase um milagre eu conseguir me movimentar com elas, o meu sutiã de renda, preto e brilhante, escondia meus seios redondos, mas mostravam minha barriga. E, como de costume, meus braços escapavam para fora de uma jaqueta de couro muito parecida com as jaquetas de couro que os membros de gangue utilizavam.
Ele me olhava dos pés a cabeça, talvez nunca tenha se sentido tão atraído por alguém quanto naquele momento, porque eu quase podia ver a saliva escorrer pelo canto de sua boca.
— Se importa de acender o meu cigarro? — Perguntou, chegando mais perto.
— Eu deveria? — Sorri, desconfiada. — Sua irmã diz que você é um canalha, que não deveria te dar ouvidos.
— Ela também diz que não é apaixonada por um cara cinco anos mais velho que ela, mesmo assim, ela fica da cor de um tomate e gagueja toda vez que ele aparece — Deu de ombros. — Não precisa acreditar em tudo que te falam, gata!
Revirei os olhos, despojada.
— Você é um canalha e sabe disso — Estreitei os olhos em sua direção.
— Certo. Mas eu sou um canalha com um cigarro apagado, se não se importa... — Estendeu o cigarro para mim.
Ri, petulante, e saquei o isqueiro de dentro do bolso da jaqueta. Ele pegou-o e colocou a mão na frente da chama para que o vento não a apagasse. Com uma tragada profunda, acendeu o cigarro e me devolveu o isqueiro.
— Não veio com a vadia laranja da minha turma? — Perguntei.
Ele hesitou por um instante.
— O quê? — Ri. — Assustado porque eu sou uma garota que sabe xingar?
— Não... — Ele estreitou os olhos. — Eu só não esperava por isso, não estou acostumado a te ver sem os óculos redondos e a cara de sonsa!
Dei de ombros, eu não o julgava, consegui construir uma casca realmente convincente para a maior parte das pessoas. Mas eu ainda queria poder ser eu mesma longe da escola.
— Sabe que ela é até legal. Só não gosto do fato de ela sempre se passar por santa para agradar à irmã chata — Dei de ombros. — Ela é uma vadia, gosto de vadias!
Ele piscou algumas vezes, confuso.
— Ela tá aprendendo a ter atitude, gosto disso, nela. — Bati o dedo no cigarro, derrubando as cinzas. — Eu amo vadias porque eu sou a maior delas.
— Você não...
— "Você não parece uma vadia na escola"? — Ri, caminhando ao redor dele, observando-o dos pés à cabeça. — É assim que eu me protejo, na verdade. Que nem você e essa pose de moleque problemático!
Ele riu.
— Não uso isso para me proteger!
— Como quiser — Dei de ombros, eu não estava convencida, seus olhos ainda escondiam muita coisa, muito sentimentalismo, muito do que ele detestava que os outros soubessem, como suas maiores vulnerabilidades. — Adolescentes podem ser bastante cruéis com vadias, mesmo que a maioria dos garotos goste de transar com garotas como eu, nos muros da escola é outra história!
Ele confirmou com a cabeça, ele sabia ser a mais pura verdade.
Garotos amam transar com vadias, mas nenhum gosta de conviver com vadias porque elas têm as mesmas atitudes que eles. Garotos gostam de garotas que sabem transar, mas que não rebatem e não questionem o que eles dizem, por isso Marianne era tão requisitada, ela se fazia de vadia quando algum garoto se aproximava, mas também sabia se sair bem como a santa sonsa.
Eu também sabia dominar a arte de me passar por santa sonsa, eu mal abria a boca na escola, mas do outro lado da rua, eu podia ser exatamente quem eu era.
— Eu sei bem... — Comentou.
— Claro que sabe, você é exatamente o tipo de cara que ama transar com vadias, mas que amacia o ego das santas sonsas — Ergui uma de minhas sobrancelhas.
Ele ergueu uma de suas sobrancelhas também, duvidoso. Eu ri, porque ele realmente pensava que tudo que eu estava falando era sério. Grande parte realmente era, mas ele não precisava levar tudo tão a sério assim.
— Você é um canalha, mas é um canalha divertido, até!
Ele sorriu de canto.
Sem que percebêssemos, caminhávamos lado a lado na direção de seu carro. Conversávamos como se já nos conhecêssemos há milênios, às vezes, me sentia culpada por saber que tínhamos aquela química incrível, mas que eu não poderia simplesmente me apaixonar por ele. Não queria magoar Ally-Grace.
Ele não diferia de qualquer garoto popular das escolas, ele era um atleta muito bom, o nome, os troféus e o rosto dele estampado no domo que protegia os títulos da escola não deixavam ele passar desapercebido em nenhum lugar, mas ele ainda tinha aquele quê misterioso que me fazia perder a cabeça, e eu sabia que ele também estava curioso por saber mais de mim.
Contei para ele o porquê de ter me mudado para Brookline tão repentinamente, e ele riu, porque as pessoas de cidades pequenas pareciam burras demais para ele.
Ele era surpreendentemente divertido, e nem todos os seus assuntos eram sobre garotas gostosas, sexo ou drogas. Ele conseguia facilmente conversar sobre o que desse na telha e praticamente gargalhava de qualquer piada que eu fizesse com o filme de terror que estampava o telão lá na frente.
Apoiei o peso do corpo nos braços e ele fez o mesmo. Estávamos no teto do carro velho do pai dele. Seus olhos verdes tombaram em minha direção, parecia um cãozinho que caiu da mudança, ele não percebeu, mas seus lábios formavam um sorriso discreto que denunciava todos os seus pensamentos.
— Eu queria ter te conhecido antes de ter conhecido Marianne — Disse baixinho, levantando os olhos para os meus.
— Por quê? — Perguntei, curiosa.
— Porque se eu tivesse te conhecido antes, teria evitado todos os caras babacas que passaram pela sua vida ano passado! — Ele desceu os olhos para os meus lábios. — Eu teria feito de tudo pra você se apaixonar por mim e nunca teria deixado que qualquer babaca te chamasse de vadia e colocasse sapos mortos no seu armário!
— Você provavelmente transaria comigo e pararia de falar comigo no dia seguinte — Ri bem na sua cara e ele ergueu as sobrancelhas.
— Ok, isso possivelmente aconteceria — Ele riu também. — Mas acho que eu tô realmente apaixonado...
— Você acabou de me conhecer, seu canalha! — Provoquei.
— Só cala a boca e me beija!
A trilha sonora tenebrosa de Hellraiser estranhamente combinou com todo o clima do nosso primeiro beijo, quente e perigosa. Se Ally-Grace me visse no teto do carro do pai dela beijando Sebastian, ela nunca me perdoaria, mas eu não conseguia me afastar.
Quando me dei conta, não estávamos mais no teto do carro, nos espremíamos para entrar no banco de trás do carro. A porta se fechou com um som abafado, engoli em seco assim que percebi que estarmos mais entregues àquilo do que comumente nos entregávamos.
Ele passava os dedos por meu corpo de forma enlouquecedora, ele sabia exatamente o que estava fazendo, mas estava perdendo o controle de si mesmo.
Com dificuldade, ele travou as portas, nossas jaquetas foram penduradas nas janelas, que tinham os vidros escurecidos, só para ter certeza de que ninguém nos assistiria ali dentro.
Tirei a camiseta dele e joguei longe de mim, escorreguei os dedos por seu peito e senti os músculos se contraírem e seus pelos se eriçarem, nossos dedos dançavam pelo corpo um do outro, estremecíamos cada vez que descobríamos os nossos pontos fracos, e nos entregávamos um ao outro cada vez que piscávamos.
Seus olhos grudaram nos meus, fixos e pedintes, nós tínhamos uma conexão inexplicável, eu não precisava de muito para saber que nunca tivera aquilo com qualquer outro cara e me perguntava se ele também se sentia daquela forma.
Nossos corpos colados diziam mais que palavras poderiam expressar, mais que respirações descompassadas e mais que olhares selvagens. Éramos tão inconsequentes e tão incontroláveis que ignorávamos os problemas que transar no banco de trás do carro do pai dele poderia causar.
Em um piscar de olhos, não éramos mais o badboy e a vadia, éramos Sebastian e Helen, e também éramos céu e inferno, desejo e perdição, problema e solução, água e óleo, éramos chama e combustível.
Ele beijou meu pescoço, me sentindo arquear as costas sob seu corpo.
— Você é perfeita, puta merda — Disse, ofegante.
Ele provavelmente dizia aquilo para todas as garotas que transavam com ele.
Mas batidas na janela fez com que, em um pulo, nos afastássemos. Ele saiu de dentro de mim e o clima foi embora imediatamente. As batidas insistiram novamente, mas estávamos correndo contra o tempo para vestirmos nossas roupas o máximo possível. Seus dedos pareciam não o obedecer, ele não conseguia sequer fechar o cinto da calça.
Sebastian desceu o vidro do carro, dando de cara com um policial não muito contente.
— Algum problema? — perguntou, desconcertado.
Me encolhi, constrangida. O policial, cujo nome bordado na farda era Bolton, sabia exatamente o que interrompera, mas também não pareceu se importar.
Os olhos castanhos e estreitos encararam Sebastian firmemente, as sobrancelhas grossas tensionavam seu rosto inteiro, sua pele escura brilhava abaixo da luz do telão, e misturava-se com afinco às luzes das bancas que vendiam comidas.
— Desce do carro, você e a garota, temos que revistar tudo! — Enfiou o braço para dentro do carro, destravando a porta.
Tinha a impressão de que Sebastian não era o maior fã da polícia, mas obedecemos sem protestos. Paramos lado a lado e ele entrelaçou seus dedos aos meus. Aparentemente, alguém denunciara o esquema dos maconheiros e eles, como "bons agentes da justiça", decidiram dar uma checada para prender o maior número de pobres possível.
Tudo isso para dar aos ricos a falsa impressão de dever cumprido e segurança.
— Esses estão limpos — Bolton saiu do carro, se virando para o outro policial atrás de Sebastian. — Moleque, vê se joga fora os pacotes de pirulito no lixo!
Ambos se afastaram do carro. Sebastian apertou os lábios, meio constrangido pelo comentário do policial. Ele me disse costumar limpar o carro nos fins de semana, mas ainda era uma sexta.
Esperei os policiais desaparecerem antes de cair na gargalhada. Abracei meu próprio corpo, tinha sido simplesmente o flagra mais patético do universo.
— Qual a graça? — perguntou.
— Viu a cara que ele fez quando você abriu a janela? — Coloquei o cabelo atrás da orelha. — Foi hilário!
Ele riu também, ainda um tanto constrangido.
Mas eu estagnei por completo de repente, meus olhos se fixaram na figura atrás de Sebastian. Endireitei as costas e o virei para trás pelos ombros.
A mulher que devia estar na casa dos quarenta tinha um cabelo preto com mechas azuis, usava maquiagem forte, batom escuro, tinha rugas de expressão e uma carranca de quem poderia arrancar nossas cabeças a qualquer instante.
— Hellboy, tenho que falar com você — Disse a velha.
— Eu já volto — Ele virou-se para mim, com um sorriso desconfortável.
Consegui ouvir a conversa inteira dos dois. Aparentemente, um cara chamado Frank desaparecera e a última pessoa que falara com o tal de Frank foi Sebastian. Ele disse que Frank havia contado sobre ir para o covil da outra gangue para fechar a porta, mas a mulher disse que ele não chegou no covil, não voltou e não estava em nenhum lugar.
Não podiam chamar a polícia porque o garoto já tinha passagem e estragaria todo o esquema de tráfico de drogas que eles tinham ao redor da escola.
Sebastian voltou pálido como papel, mal conseguia fazer contato visual.
— Vou te levar para casa — Passou as mãos pelo rosto.
— Posso chamar sua irmã? Prometi que arrumaria carona para nós duas!
Ele confirmou com a cabeça e despencou no banco do motorista para esperar por mim, enquanto eu procurava por Ally-Grace.
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