21
Karina's pov:
"Se estivesse ao meu alcance, pegaria seu sofrimento e o colocaria em minha própria alma."
Vamos sair para fazer uma trilha hoje pela manhã. Com a mudança de estação, o clima está bem agradável para uma caminhada. Minjeong ainda está dormindo no quarto. Ela parecia tão adorável com aquele sorrisinho que achei melhor não acordá-la. Desço até a cozinha para preparar o café da manhã, mas descubro que não sou a única que teve essa ideia.
— Caiu da cama, Jimin? — Aeri pergunta, sorrindo.
Observo enquanto ela vai até a cafeteira e começa a preparar o café. Ainda está usando seu pijama e os cabelos estão presos em um coque no alto da cabeça.
— Bom dia para você também, Giselle — digo, indo até a geladeira para pegar alguns ingredientes.
Ela dá uma risadinha.
— Bom dia. Mas sério, pensei que fosse aproveitar esses dias livres para dormir até tarde.
— Poderia dizer o mesmo de você — lanço um sorriso travesso para ela —, mas parece que tivemos a mesma ideia perigosa de mimar nossas namoradas.
— Somos casos perdidos, né? — Ela brinca.
— Completamente.
— Mas falando sério, estou feliz por você e Minjeong. — Ela diz, caminhando até a bancada para pegar alguns pães — Principalmente por ver você se abrindo outra vez para o mundo.
Tanto significado em tão poucas palavras.
— Sei que não facilitei muito as coisas para você — digo, me aproximando e segurando sua mão —, mas quero que saiba que sempre tive orgulho de ser sua prima. Você é uma das melhores pessoas que eu poderia querer na minha vida.
— O que deu em você? — Ela pergunta, desviando o olhar. — Está tentando me fazer chorar?
Sorrio.
— Não mesmo. Só precisava dizer isso. Você tem uma visão única sobre tudo. O que fez por mim… A maioria das pessoas teria desistido há muito tempo.
— Eu sei o que é sofrer. Além disso, não conseguia parar de pensar… E se você tomasse a mesma atitude drástica do meu pai? Como eu iria lidar com isso? Sei que eu me culparia. Se eu nunca mais pudesse abraçá-la, eu me sentiria mais incapaz do que qualquer pessoa no mundo. Então, acho que você precisava de todo o apoio possível. E eu precisava fazer isso.
— Eu jamais faria você passar por isso uma segunda vez, Giselle. — Digo, com firmeza. — Uma pessoa como você não merece sofrer por isso. E eu só tenho a agradecer. Por tudo.
— Sabe de uma coisa? Acho que já podemos mudar o tópico da conversa ou vou realmente começar a chorar aqui.
Dou uma risada.
— Bom, então deixe-me adivinhar o verdadeiro motivo de você também estar acordada tão cedo. — Faço uma pausa, pensativa. — Já sei! A verdade é que você e Ningning nem dormiram.
— Karina! — Ela dá um tapa no meu ombro.
— O que? Não estou mentindo. — Provoco.
— Muito bem — Aeri me encara com um sorriso travesso. — Então, deixe-me opnar sobre o fato de você e Minjeong dormem no mesmo quarto.
— Certo — digo, erguendo as mãos. — O que você acha de ir acordar sua namorada enquanto finalizo tudo por aqui?
— Acho uma ótima ideia. — Ela diz, simpática.
[…]
Os primeiros raios de sol brilham no céu. O clima está ameno, limpo e perfeito.
Caminhamos até chegar à parte em que a trilha se estreita e mergulha nas árvores. É mais reservado e bonito aqui, e parece que as garotas gostam da paisagem, porque elas param e olham para o lago abaixo da pequena colina.
Eu as sigo, e por um momento nos fazemos companhia em silêncio, conforme a natureza a nossa volta nos acolhe.
— Essa é uma das coisas mais lindas que eu já vi na vida! — Exclama Ningning, enquanto ela, Giselle, Minjeong e eu nos acomodamos na área que pode ser usada para acampamento. Nós quatro decidimos que valia a pena ficar mais um tempo ali.
— Eu nunca vi nada parecido em Seul — concorda Aeri, abraçando Ningning. — Meu Deus, Minjeong! Você precisa reproduzir essa paisagem magnifica da próxima vez que conseguirmos vir aqui.
— E definitivamente precisa pensar em fazer uma exposição! — Yizhuo diz, animada e suspirando enquanto sente a brisa fria de início da manhã.
— É mesmo. Tenho certeza que vai ser um sucesso! — Minha prima concorda. Ela se inclina para a frente. — Conheço uma curadora de arte que vai adorar trabalhar com você. — Brinca.
Nós todas sorrimos.
Minjeong sorri para mim e esbarra o ombro no meu.
— Ela tem conversado bastante comigo sobre isso.
Inclino a cabeça na direção dela:
— Porque um talento como o seu tem que ser reconhecido.
Olhamos para o horizonte e, antes que possamos perceber, estamos nos divertindo e conversando sobre tudo e nada.
Não consigo me lembrar da última vez que eu me senti tão livre assim.
Noto que, de vez em quando, Minjeong olha para o celular. Ela também fez isso durante a trilha. Sempre que afasta o olhar, um brilho de tristeza cruza seu rosto, mas ela rapidamente volta ao normal. Só noto isso porque, para ser sincera, tenho passado os últimos dias focando minha atenção nela.
É impossível não me perguntar o que ela tanto olha nesse telefone.
Aeri e Yizhuo não param de falar a maior parte do tempo. Eu nunca passei muito tempo com Ningning, mas, quanto mais fico perto dela, mais me dou conta de como ela é perfeita para a minha prima. Elas são tão diferentes em alguns aspectos, mas ainda assim expressam todo o amor que sentem uma pela outra sem nenhuma restrição.
— Se vocês querem saber — diz Ningning, suspirando. — Vou sentir falta desse lugar.
— Os dias aqui parecem ter voado — Aeri comenta.
— Já sei! — Exclama Ningning, levantando um dedo para cima. — Deveríamos fazer isso mais vezes ao ano. A casa do lago fica relativamente próxima da cidade, então é perfeita para passar alguns finais de semana.
— Sim, precisamos fazer isso.
A partir da próxima quarta-feira voltaremos para nossa rotina habitual. Sentirei falta das tardes jogando conversa fora. Da sensação de liberdade enquanto assistimos o por do sol. Mas o que eu mais vou sentir falta é de poder observar Minjeong durante seus momentos de criação.
— Você tem visto Yeji e Ryujin? — Pergunta Aeri, tirando-me dos meus pensamentos, que estão começando a ficar reflexivos demais — Mal tenho cruzado com elas pelo hospital e isso que Yeji trabalha no mesmo setor que eu.
— Sério? Bom, provavelmente elas andam ocupadas com o casamento — digo. — Mas vou tentar marcar alguma coisa, afinal ainda sou a madrinha e preciso ser atualizada sobre algumas coisas.
— Como assim? — Minjeong pergunta, confusa. Embora já tenha comentado sobre as garotas com ela, ainda não tinha compartilhado esse detalhe.
— Ah, Yeji me encarregou dessa incrível missão. E embora eu tenha tentado persuadi-la em mais de uma ocasião, você deve imaginar que não tive progresso.
Ela dá uma risadinha.
— Certo, você vai ter que me explicar melhor isso depois. Uma informação como essa não pode ser omitida.
Ela está toda risonha e confortável, e tenho que admitir que é a coisa mais adorável que eu já vi. Fico feliz em ver que essa viagem está lhe fazendo bem.
— Aquelas duas já nem devem mais saber o que é tempo livre — começa Ningning. — Acho que deveríamos…
— Convidá-las da próxima vez — completa Giselle sem nem pensar duas vezes.
Yizhuo ergue a sobrancelha.
— Como você sabia?
— Adivinhei — ela diz, se inclinando para beijar os lábios da namorada.
A manhã segue assim, com mais conversas aleatórias e muitas risadas. Quando Aeri e Ningning anunciam que está na hora de voltarmos, Minjeong se vira para mim e sorri. Ela se aproxima e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha antes de beijar meus lábios de forma suave.
— Será que posso monopolizar sua atenção agora?
Dou uma risada.
— Claro que pode.
— Ótimo — ela diz, segurando minha mão na sua. — Quero te mostrar uma coisa.
[…]
Minjeong me guia até um dos quartos vazios no segundo andar. Assim que entro, percebo que o cômodo foi convertido em uma espécie de estúdio. Há alguns materiais para pintura, uma tela enorme e cestos com balões cheios de água. Olho em volta e não faço ideia do que está acontecendo. Minjeong está em pé com seu adorável sorriso de sempre.
— Antes que pergunte, as garotas me ajudaram a organizar isso. Como você tem repensado sobre sua conexão com a arte, achamos que seria legal se começasse explodindo as cores. Os balões estão cheios de tintas de cores diferentes. É isso que vai tornar a atividade bonita.
— Minjeong, isso é incrível, mas…
Ela dá um passo na minha direção, e os pelos do meu braço se eriçam.
— Qual é a sua verdade?
Olho para ela, confusa.
— Do que você está falando?
— Todo mundo que se encontrou na arte teve que mergulhar fundo. Ela faz com que todo mundo se olhe no espelho todos os dias para chegar ao fundo da alma e encontrar a sua verdade. É muito difícil e assustador fazer isso, mas é necessário.
Engulo em seco.
— Eu não sei se posso fazer isso.
Ela assente, enfiando a mão no bolso da calça de moletom.
— Entendi. Então vamos ter que partir para algo mais prático.
Dou uma risada.
— Hã?
Minjeong vai até e mesa e volta com dois balões em mãos.
— Se você não consegue me responder com palavras, precisa fazer isso através da arte. — Ela me entrega um dos balões e fica ao meu lado. — Pronta?
— Não precisa se preocupar. — Dou uma risada. — Estou bem, de verdade, Winter.
Seus olhos se fixam nos meus. E ela pergunta mais uma vez, em voz baixa:
— Pronta?
Eu me empertigo.
— Pronta.
Nós duas pegamos os balões com tinta e começamos a jogar na tela, fazendo-os estourar com cores vibrantes. Apesar de querer recusar a oferta, a maneira como as tintas explodem na tela me fazem sorrir.
Meu coração começa a acelerar conforme eu arremesso os balões, minhas emoções me engolindo por inteiro, e é só quando permito que isso aconteça que percebo o quanto a arte ainda está em mim.
Todas as cores sangram na tela, espalhando tinta por toda parte. Quando nossa obra-prima chega ao fim, nós duas voltamos a sorrir e estamos nos sentindo realizadas. Minjeong se aproxima de mim, e eu envolvo sua cintura com os braços.
— Sei que você acha que perdeu a sua arte.
depois do incidente. Sei que está perdida, mas olhe à sua volta. — Ela respira fundo e fecha os olhos. Quando os abre, eles estão transbordando de emoção. — Você deu vida àquela tela. Você não perdeu a sua arte, Jimin. Será que não percebe? — Pergunta Minjeong, segurando meu rosto. — Você é a arte.
— Obrigada por me mostrar isso. Eu realmente me sinto… mais leve.
Ela sorri.
— Que bom. Só quero que você saiba que eu estou aqui se precisar conversar.
— Você também pode conversar comigo, Minjeong. — Seguro seu rosto com a mão, evitando que ela desvie o olhar. — E mesmo que tente esconder, eu sei que tem alguma coisa te incomodando.
— São apenas velhos problemas familiares, Jimin. Nada com o que você deva se preocupar.
Nesse momento, testemunho a tempestade atrás dos olhos dela. E fico me perguntando a quanto tempo esse sentimento está crescendo e se formando em seu coração.
Ela sempre diz que está bem, porque isso é mais fácil do que reconhecer o quão magoada sua alma está. Às vezes, é melhor mentir a encarar as verdades mais sombrias.
O coração dela está partido, e eu me odeio por não ter notado isso até esse momento.
— Não precisa me contar se não quiser — digo, sendo sincera. — Mas me desagrada saber que tem algo te machucando e eu não posso fazer nada para ajudar.
Ela balança a cabeça e fala:
— Não, está tudo bem. De verdade. Não é nada de mais. Você vai achar que é bobeira.
— Não vou, não.
Minjeong suspira antes de prender uma mecha do cabelo atrás da orelha.
— Ela não me ligou nem mandou mensagem nem nenhum e-mail.
Arqueio uma sobrancelha.
— Quem?
— Minha mãe — ela sussurra, a voz ficando embargada. — Ela nunca responde às minhas mensagens. Escrevi todos os dias desde que cheguei, mas ela nunca responde.
— Tudo por conta das questões envolvendo sua carreira profissional? — Pergunto.
Minjeong assente, abraçando-me mais forte.
— Nós nos aproximamos quando fiquei doente. Eu já estava quase desistindo, mas minha mãe dizia que eu só tinha que me esforçar um pouco mais. E foi isso que eu fiz. Ela esteve ao meu lado durante o momento mais sombrio da minha vida. Eu só não imaginava que nosso relacionamento ia mudar depois que eu me recuperasse.
— Porque ela fez uma coisa dessas?
— Porque eu a decepcionei. — Ela estremece ao soltar o ar. Eu a aconchego melhor em meus braços, passando a mão em suas costas. — Segundo ela, eu não deveria desperdiçar a segunda chance que a vida me deu com algo sem futuro. Eu tentei explicar que era exatamente por isso que deveria correr atrás dos meus sonhos, mas, mesmo assim, minha mãe acha que eu estou tomando uma péssima decisão.
Minjeong começa a chorar baixinho. Ela apoia a cabeça em meu ombro e começa a puxar minha camisa. Minhas mãos ainda estão em suas costas. Enquanto ela chora, tudo que eu quero é confortá-la. Quero pegar seu sofrimento e colocá-lo em minha própria alma.
Eu não consigo imaginar tudo pelo que ela já passou… lidar com a decepção da mãe, ouvir que está desperdiçando uma segunda chance de vida, como se não a merecesse.
Minha mãe teria dado a própria vida para evitar o que aconteceu comigo.
— Minjeong… isso é…
— Não é nada demais. Conheço pessoas que passam por coisas bem piores.
Afasto-me um pouco e seguro seu rosto entre as mãos, enxugando suas lágrimas com delicadeza.
— Escute aqui. O fato de outras pessoas sofrerem mais do que você não diminui a sua dor. Você tem o direito de se sentir machucada e sozinha. Tem o direito de querer encontrar uma saída.
Ela pressiona o corpo contra o meu e implora em silêncio para que finja que não vi o que se esconde por detrás dos seus olhos, só que eu vi. Eu a vi, e isso partiu a porcaria do meu coração.
— Às vezes me pergunto se você é mesmo real — ela sussurra. — Porque não entendo como pode continuar a agir assim comigo mesmo depois do que descobriu.
Sinto um aperto no peito.
— Você ainda pensa nisso?
— De vez em quando penso. Não duvido de seus sentimentos, mas as vezes acho que ficar perto de mim deve ser difícil para você, porque eu sou um lembrete da pior época da sua vida. Mas eu entendo. De verdade.
Meu coração se parte ainda mais ao ouvir isso.
Por que ela pensaria uma coisa dessas? Por que ela ainda sente culpa por estar com o coração de Somi?
Olho para ela e sorrio, tentando ser a mulher mais corajosa que conseguir.
— Por favor, pare de se culpar por algo que o destino decidiu — digo, tirando alguns fios de cabelo do seu rosto. — Você não é uma lembrança da pior época da minha vida, Minjeong. Pelo contrário, você faz com que eu me lembre da melhor época da minha vida, e eu achava que não merecia você — confesso. — Durante muito tempo, achei que não merecia nada de bom.
— Mas você merece, Jimin. Mais do que qualquer coisa, merece ser feliz.
— É isso que estou querendo dizer a você, Minjeong… Estive morta por um ano e, agora que você está aqui, faz com que eu veja como é bom me sentir viva. Será que não percebe como você é importante? Você é a arte que pinta de cores meu mundo sombrio, e o meu coração bate só porque você está aqui.
Os olhos de Minjeong se enchem de lágrimas, mas um pequeno sorriso é visível em seus lábios.
— Me diga o que você quer, Minjeong. Estou aqui. Me diga o que precisa que eu faça.
— Você pode me abraçar? — ela sussurra
— Sim.
— Pode me amar? — Ela implora.
Sempre.
Meus braços envolvem o corpo dela, e eu a puxo para mim, abraçando-a pelo que parece uma eternidade, mas, mesmo assim, não é tempo o suficiente.
Nesse momento eu poderia dizer tantas palavras, mas sei que há apenas uma que se destaca. Uma palavra que significa início e fim, luz e sombras, o lado bom e o lado ruim das coisas. É a única palavra que faz sentido quando tudo ao redor está confuso, perdido e implacável.
Sorrindo, seguro seu queixo com a ponta dos dedos e digo:
— Eu te amo.
Talvez não seja certo sentirmos isso uma pela outra, mas são os nossos sentimentos, a nossa maneira. Meu coração aquece quando seus lábios encostam nos meus, e eu a escuto sussurrar:
— Eu também te amo.
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