17
Karina's pov:
"Suas palavras me fazem perguntar… Isso está mesmo acontecendo? Tudo isso é mesmo real?"
Março começa com uma pequena mudança no clima. Minjeong e eu não trocamos mais que poucas palavras pela galeria desde o nosso último encontro no Yongsan Park. Faz dias que ela vem se mantendo distante e não saber o porquê disso está me incomodando.
Hoje à noite, Aeri deve organizar algumas coisas para nossa viajem no sábado, e eu não estou nem um pouco a fim de ir sem resolver minha situação com Minjeong. Mas eu vou por Ningning, que não para de falar nisso há semanas. Além disso, eu realmente preciso de uma mudança de ares, embora ache que uma viagem não vai resolver tudo.
E também há meu grande problema, que não parece tão grande comparado a todo o resto, mas que no meu coração é.
Estou preocupada com Minjeong. Odeio que ela não se sinta confortável para se abrir comigo, mas é um fato. Às vezes me pergunto se fiz alguma coisa de errado para ela estar agindo assim. Porque é isso que eu sempre faço, magoou as pessoas. Sei que ela já me disse várias vezes que está tudo bem, mas ficar sem respostas está sendo sufocante.
Antes de ir para casa começar a organizar as coisas para a viagem que vai acontecer em dois dias, passo na livraria Takashimaya para compras alguns livros.
Enquanto procuro minha próxima leitura, escuto alguém chamar meu nome.
— Jimin?
Ergo o olhar e vejo um rosto familiar que faz meu coração se apertar ainda mais, porque está ligado a Somi.
— Oi, Jungkook. Tudo bem?
— Estou bem. — Ele diz, erguendo um livro. — Só fazendo algumas aquisições pessoais. Não tenho visto você ultimamente. Aconteceu alguma coisa?
Não. É mais uma coisa do tipo “estou com problemas, mas não quero compartilhar”.
— Não. Só tenho andando meio ocupada com as coisas na galeria.
Jungkook parece surpreso.
— O quê? Então você está realmente levando o seu trabalho a sério.
Meu coração se aperta no meu peito.
Cometi muitos erros na vida, mas ter mantido laços com Jungkook certamente não foi um deles. Por várias noites depois do incidente ele foi até a minha casa, sentou no sofá na sala de estar com seu violão e tocou para mim.
Jungkook tem 28 anos e nasceu para a música. É impossível que alguém aprenda a tocar como ele — as pessoas já chegam ao mundo com a música embutida na alma e no coração. Ele se dedica ao que faz e parece ser aclamado na faculdade onde trabalha como professor.
— É, acho que sim… — Dou um sorriso tenso. Eu gostaria de falar com ele sobre tudo o que tem acontecido na minha vida ultimamente.
Jungkook cruza os braços e se aproxima.
— Não me olhe assim, garota — ele diz, abrindo um sorriso. — Você sabe que sou uma das pessoas mais interessadas que você retome sua vida, mas sem pressão da minha parte. Tenho certeza de que está seguindo pelo caminho certo.
Desvio o olhar. Como Jungkook pode ter tanta certeza disso?
— Eu não sei exatamente o que pensar sobre tudo isso…
Ele estreita os olhos e franze os lábios.
— Jimin, você está bem?
Respiro fundo, passando as mãos nos cabelos.
— Estou bem.
Ele aponta o polegar em direção à saída da livraria.
— Posso levar você para casa se precisar.
— Não precisa, estou com meu carro. — Olho ao redor, sentindo uma ansiedade extrema. Dou outro sorriso forçado. — Eu tenho que ir agora.
— Tudo bem — Ele diz, segurando seus livros. — Eu também. Tenho uma apresentação hoje à noite. Você deveria aparecer qualquer dia desses.
Apenas assinto com a cabeça.
[…]
Quando chego no meu apartamento, vou direto para a varanda. O céu já está escurecendo, e eu me recosto no batente da porta, absorvendo o clima. Quando fecho os olhos, sinto meus pelos se arrepiarem. Sinto a brisa fria com cada fibra do meu ser e, quando ela para, tudo o que eu quero é que continue.
Pego meu celular no bolso da calça. Penso em mandar uma mensagem para Minjeong, mas não tenho nada a dizer. Então levanto meu olhar e inspiro, sentindo a calmaria da noite presente ali.
Não há nada tão agradável quanto admirar o luar. Exceto Minjeong. Estar em sua companhia me faz sentir como se finalmente tivesse encontrado paz em meio ao caos.
Pisco rapidamente e balanço a cabeça de um lado para o outro. Não. Nada de pensar em Minjeong agora.
O único problema de não pensar em Minjeong é que minha mente vai para a vida que eu tinha. O que é bem pior.
Meus olhos começam a arder e surpresa! Eu estou chorando.
— Não sei o que estou fazendo aqui — murmuro para mim mesma, para Somi. Minha voz baixa um pouco. — Outro dia, fiquei com raiva de você por ter morrido. Desculpa, mas as vezes isso ainda acontece.
Faço uma pausa, esperando pela resposta que nunca vem.
— Conheci uma garota. É estranho eu dizer isso, mas sei que você ficaria feliz por me ver seguindo em frente. Só parece que… a vida não gosta de facilitar nada para mim — Sorrio e me sinto meio louca por falar sozinha, mas isso sempre me faz sentir um pouquinho melhor.
— O que você faz aí sozinha?
Com um pequeno sobressalto me viro e vejo Aeri me observando. Ela está parada próxima a sala, vestindo suas roupas sociais e ostentando um sorriso confuso no rosto.
— Apenas pensando sobre algumas coisas. — Respondo sem muita firmeza.
Ela prende os longos cabelos no alto da cabeça e me lança um olhar gentil antes de perguntar:
— Sobre o incidente?
— Sempre…
Ela sorri, mas também franze a testa.
— Estou bem… — Digo, ainda que não seja verdade. Não quero deixá-la preocupada, então tento me manter neutra, mas quando ela me olha e inclina a cabeça para o lado, estreitando os olhos, sei que sabe que estou mentindo.
— Não, você não está. — Minha prima sussurra. Ela se aproxima, segurando minha mão e puxando-me para sentar no sofá. — De verdade. Fazia tempo que não via esse olhar perdido no seu rosto.
— E você tem alguma sugestão do que possa resolver isso?
— Você se abrir comigo. — Ela diz isso com tanta naturalidade que acabo sorrindo. — Talvez possamos conversar. Ou se você preferir, apenas ficar em silêncio.
Tanto significado em tão poucas palavras.
Ela continua séria, passando a mão no rosto. Eu estou me esforçando para não comentar nada… mas minha prima está tornando minha escolha por conversar fácil demais.
Aeri respira fundo e se vira para mim.
— Não vou forçar nada com você — Juro que há uma fração de segundo em que seus olhos parecem muito tristes. — Mas você não ficava assim desde que começou a sair com Minjeong… É impossível não imaginar que aconteceu alguma coisa.
— Talvez você não esteja tão errada — murmuro, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Mas não tenho certeza se esse é um bom momento para conversarmos. Você acabou de chegar do trabalho e deve estar cansada.
Seus lábios se abrem em um sorriso, e ela me dá um beijo na bochecha.
— Vamos, estou a disposição para ouvir.
— Você já sabe sobre o que é, ou melhor, sobre quem é. Kim Minjeong. — Vejo o exato momento em que sua expressão se torna séria. — Acredito que não vou conseguir continuar apenas nesse lance com ela.
Suspiro ao me dar conta de que tenho pensado muito nisso. É claro que não vou conseguir continuar assim com ela. Não depois de tudo o que temos compartilhado. Não há uma única parte de mim que queira simplesmente manter as coisas como estão.
— Bom, porque você não me conte o que exatamente está acontecendo — Aeri sugere.
Então conto a ela sobre minha atual situação. Conto sobre o recente afastamento de Minjeong. E o fato de que estou perdida entre respeitar o espaço dela ou tentar descobrir a razão disso estar acontecendo. Tenho certeza de que ela começou a ficar diferente depois da nossa última conversa, mas ainda não consigo entender o que tanto tem a incomodado.
— Você já tentou conversar com Minjeong sobre isso? — Aeri pergunta.
Suspiro, passando a mão nos cabelos.
— Eu mal tenho a visto, Giselle. E mesmo quando nos encontramos, ela não parece nem um pouco aberta ao diálogo.
— Bom, eu não sou muito próxima dela, mas Ningning é… — Aeri começa, pensativa. — E tenho percebido que ela também anda preocupada nos últimos dias. O que me leva a deduzir que ela sabe o que está acontecendo, mas não pode compartilhar sem o consentimento de Minjeong.
Ouvir isso, no entanto, não faz com que a dor no meu peito diminua.
— Acho que estou sem muitas opções…
— Escute. Eu poderia te dar vários conselhos, Jimin. Mas você sabe que nesse momento a melhor saída é tentar conversar com ela.
— Acho que é isso que mais me assusta — digo a ela. — Sinto que Minjeong já passou por tantas coisas. Não sei se ela vai estar disposta a lidar com mais essa situação no momento.
— Você não tem como saber disso. Tudo o que pode fazer é continuar acreditando.
Entendo o que Aeri está dizendo. Entendo o aviso que ela está me dando, mas, mesmo assim…
[…]
Eu posso estar louca, mas não me importo. Depois que Aeri subiu para o seu quarto, entrei no meu carro e dirigi até o prédio de Minjeong. Fico sentada no capô do carro por um momento, decidindo o que fazer agora que estou aqui. Por fim pego o celular e mando uma mensagem para ela.
Não demora para que a veja saindo do prédio. Fico de pé para ela poder ver logo onde estou. Ela puxa o casaco contra o corpo e rapidamente avança, correndo ao meu encontro.
— Jimin, o que… o que aconteceu? Você está bem? — Sua voz é baixa, cheia de pânico. Ela segura meu rosto, como para se certificar disso.
— Está tudo bem. — Digo e sinto o medo de Minjeong em seu toque. Ela reage se afastando para olhar nos meus olhos.
— O que faz aqui nesse horário?
— Precisava te ver — digo, lançando-lhe um olhar significativo.
— Do que você está falando? — Ela diz, desviando o olhar. Esses lindos olhos castanhos.
— Que precisamos conversar, Minjeong — Faço uma pausa. — Será que posso subir?
— O quê? — Ela pergunta, confusa com meu pedido súbito.
Eu tenho de admitir que sorrio com sua confusão, até lembrar de tudo o que aconteceu nos últimos dias. Conto a Minjeong o real motivo da minha visita e vejo sua perplexidade se transformar em total apreensão.
— Você não acha que podemos fazer isso depois? — sussurra, olhando para mim. Respiro fundo. — Está um pouco tarde… — Ela pisca, e quando seus olhos fitam os meus, sinto meu coração acelerar.
— Escute, eu não vou exigir absolutamente nada de você, ok? Não tenho esse direito. É só que… Está nítido que aconteceu alguma coisa e o fato de te ver assim está me incomodando.
— Jimin…
— Você pode me dizer, sabe. Se o problema for eu — Sorrio nervosamente. Ela abre a boca para falar, mas não lhe dou chance. — Olha, isso já aconteceu antes, eu não ficaria surpresa nem nada.
Ela balança a cabeça e se aproxima. Passa os dedos pelas mechas do meu cabelo. Arqueio uma sobrancelha, e ela sorri. Cuidadosamente, inclina-se e deposita um beijo em meus lábios.
— O problema não é você. Talvez em breve você sinta que o problema sou eu.
Faço uma careta.
— Não entendo como isso possa ser possível.
Minjeong não responde de imediato. Sua mão segura a minha enquanto busca as palavras certas.
— Venha. Está congelando aqui fora.
Apesar da neve enfim ter cessado, ainda está bem frio. Dou um pequeno suspiro e a acompanho. Entrando no apartamento, não posso deixar de sorrir quando lembro do dia em que apreciamos suas pinturas juntas.
Vamos até a sala de estar. Ela pede para que eu me sente no sofá enquanto prepara um chá na cozinha. Afundo no estofado por um momento. Meu corpo está totalmente dolorido, exausto. Mas sinto que o que está por vir é extremamente sério.
Poucos minutos depois, ergo o olhar e vejo Minjeong entrar de novo na sala. Ela traz duas canecas e deposita uma na mesinha de centro a minha frente. Hoje estou tendo um vislumbre de uma faceta sua que ainda não tinha visto.
— Apenas me escute, ok? — Ela diz, os olhos brilhando como brasas. — Tenho uma história para compartilhar com você.
Então ela me conta tudo. Conta que há cerca de 2 anos ficou doente e como consequência desenvolveu insuficiência cardíaca. Ela me diz que, apesar do esforço dos médicos, a situação era extremamente complicada. Minjeong me conta que a única forma de salvar sua vida seria fazendo um transplante.
Quanto fico sabendo tudo pelo que ela passou, sinto um aperto no peito.
— O problema é que tem muitas outras questões envolvendo essa história. — Ela esfrega as palmas nas pernas.
Mal registro o que diz, porque concentro toda minha atenção na dor estampada em seu rosto. Quero dizer que não precisa contar tudo, mas sei que quer tirar isso do peito. Então respiro fundo e espero que ela se explique.
— Eu nasci com um tipo de sangue raro. Esse detalhe aliado a tantos outros fatores externos me deixaram na fila de espera por um bom tempo.
A luz da sala é fraca, mas posso ver que seus olhos estão marejados.
— Eu sinto muito, de verdade.
— Tudo bem… No fim um doador compatível apareceu.
A princípio, uma sensação de alívio toma conta de mim por saber que ela está aqui agora. Mas, então, ela é substituída por uma sensação desagradável, como se eu soubesse exatamente o que está por vir.
— Eu… não sei como dizer — ela continua —, mas… — Ela cruza as mãos no colo, depois entrelaça os dedos. — Somi morreu no mesmo dia em que recebi um novo coração.
O ar dos meus pulmões praticamente some. Sinto uma pressão aumentar dentro do peito. Tudo se retorce dentro de mim, e luto contra as emoções que começam a me dominar.
Não pode ser verdade. Não é possível.
— Minjeong — sussurro, sem conseguir soltar o ar completamente. — Não me diga que…
Seu rosto está corado e ela está com um brilho de dor nos olhos. Minjeong desvia o olhar, passando a mão no rosto para enxugar algumas lágrimas que insistem em cair. Ela lentamente se vira para mim.
— Eu… sei que eu e ela temos o mesmo tipo sanguíneo. Você comentou quando estávamos voltando do passeio no parque no outro dia. Bem, você disse que ela tinha um sangue raro…
Meus olhos se arregalam de confusão e surpresa. Principalmente surpresa. Uma parte de mim quer se recusar a acreditar que isso seja verdade. Que uma coincidência desse nível seja possível.
— Somi… doou os órgãos dela, certo? — Ela coloca uma mão no peito, sobre o coração. Sobre o coração de Somi.
Seus olhos continuam marejados. A vontade de enxugar aquelas lágrimas faz com que eu feche a mão em punho.
— Você me odeia? – Minjeong pergunta quase num sussurro.
Apesar de entender a situação na qual nos encontramos, meu coração se parte ao ver que esse é o maior medo dela no momento. Mas antes que eu diga alguma coisa, escuto passos na escada e Yongsun entra na sala.
Ela parece surpresa ao me ver ali com Minjeong, mas então sorri.
— Só vim pegar uma garrafa de água. Não precisam se incomodar.
Ela passa por mim e por Minjeong enquanto nós duas continuamos paralisadas no tempo e no espaço. Yongsun vira-se, me dá um sorriso divertido, e acena com a cabeça em minha direção.
— Tudo bem com você, Jimin?
Meus lábios se comprimem quando olho para Minjeong.
— Ela já estava de saída, tia. — Minjeong anuncia.
Não me movo de imediato, mesmo quando o silêncio fica insuportavelmente penoso. Engolindo em seco, passo os dedos pelos cabelos de nervosismo. Olho para ela por um longo momento antes de me levantar para ir embora.
— Não acha que deveríamos continuar a conversar… sobre isso? — Pergunto parada a porta.
Seus olhos se suavizam um pouco e ela inclina a cabeça em direção a cozinha.
Vejo o exato momento que seu rosto fica tenso.
— Eu sei… — Minjeong sussurra, cheia de cuidado em seu tom de voz. Então ergue um olhar preocupado. — Mas não posso fazer isso agora.
Então, simples assim, ela fecha a porta e me deixa ali com o coração apertado e com a mente tentando assimilar tudo o que acabou de acontecer.
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