13
Karina's pov:
"Há alguns dias eu andava só. Mas quando você chegou tive a certeza de que isso mudaria."
Eu senti alguma coisa me puxando para ela no momento em que a vi na livraria. Senti uma atração ainda maior quando começamos a nos aproximar. Porém, nada pareceu mais certo do que quando a beijei no parque. O que eu sei que é errado. Seguir por esse caminho é errado.
Agora minha mente está considerando coisas loucas. Minjeong me faz pensar em seguir meu coração, em segurá-la nos braços, e em mergulhar no mundo das artes com ela.
Quando entro no escritório da minha mãe na terça-feira, ela ainda não voltou da sua reunião. Vou até sofá postado ali e me sento, olhando pela grande janela do chão ao teto. O céu está acinzentado e a neve cobre de branco os edifícios de Seul. O inverno chegou ao seu ápice o que significa que em algumas semanas a primavera vai aparecer.
Fico parada ali por um bom tempo, o suficiente para me perder em pensamentos. Tempo suficiente para me sobressaltar quando escuto minha mãe entrando no escritório.
— Você chegou tem muito tempo? — Ela pergunta, caminhando até sua mesa. Parece um pouco intimidante: seus olhos castanhos estão injetados de sangue, e sua boca, sorridente de costume, tornou-se uma linha pálida e sombria.
Não conversamos direito desde a noite de sábado. Sei que ela esteve em casa nos últimos dias, mas anda extremamente ocupada com a exposição que será aberta ao público em alguns dias.
— Como foi a reunião? — Pergunto, aproximando-me.
— Acho que foi o ponto alto do meu dia. — Ela se senta na cadeira oposta a mim e se curva, enterrando a cabeça entre as mãos.
— Você está bem, mãe?
Ela diz o que eu já esperava:
— Não sei o que vou fazer sem o Park. Ele vai viajar assim que finalizar os trabalhos atuais.
O professor Park faz um trabalho impecável no setor de restauração e conservação. Contudo, ele recebeu uma proposta para uma temporada trabalhando em um museu nos EUA, que começa no mês que vem. Depois disso, sua vaga vai estar em aberto, o que resulta a grande pressão nos ombros de Joohyun para encontrar um profissional igualmente qualificado para assumir os projetos futuros da galeria.
— O professor Nakamoto não pode assumir o cargo?
Ela parece considerar a sugestão por um instante, então balança a cabeça.
— Atualmente ele está liderando um programa privado no Museu Nacional de Arte. Alguns outros nomes da minha lista também já foram descartados. Preciso de alguém que não veja isso apenas como trabalho, mas que sinta a arte.
Essa ideia aquece meu sangue e me endireito na cadeira.
— Bom, sobre isso. — Digo, pensativa. — Conheço alguém que talvez se encaixe na sua descrição.
A expressão da minha mãe clareia, compreendendo.
— Ela é mais que qualificada, mas atualmente não leciona na KArts?
— Posso entrar em contato com ela e marcar uma reunião. Sei que eu não sou… — procuro as palavras, enrubescendo. Tentar dizer a Joohyun como fazer o trabalho dela é perigoso; ela pode ser minha mãe, mas é uma renomada curadora de arte há muito mais tempo que isso. — Não sou responsável pelas contratações da galeria — digo, com cuidado —, mas sinto que tê-la chefiando os próximos projetos vai funcionar muito bem.
Ela olha para mim, sem palavras.
— Só me deixe tentar — digo, tonta, com a constatação de que posso estar convencendo minha mãe.
[…]
Tem algo quase cômico no modo como volto a faculdade depois de tanto tempo. Com a finalização do meu curso, não tinha motivos para comparecer ao campus. Depois de conversar com minha mãe, mandei um e-mail para Seulgi e ela disse que poderia me ver no final da tarde.
Vou até sua sala, onde ela já está esperando, e fecho a porta. Seulgi se senta atrás de sua mesa e pigarreia. Está com um blazer feito sob medida e jeans escuros que lhe caem muito bem. Sapatos pretos e um cordão arrematam o visual simples-mas-sexy. Não fico surpresa com o fato de alguns alunos e funcionários se sentirem atraídos por ela.
Seulgi é uma exímia pintora e professora da KArts a pelo menos quatro anos. Mas ela não é esnobe e conversa atentamente com cada pessoa que transita pela faculdade. Lembro que ela foi uma das professoras mais acolhedoras quando comecei a estudar lá. Apesar de estar quase sempre ocupada com seu trabalho, ela sempre encontrava um tempo para debater comigo sobre arte e minhas telas.
— Obrigada por falar comigo. — Digo, puxando uma cadeira para me sentar.
— Você sabe que eu sempre consigo uma brecha pra conversar com minha aluna preferida. — Ela diz, abrindo um sorriso. — Então, a que devo a sua visita?
— Bem, como você sabe… — me inclino para a frente, cruzando as mãos sobre a mesa. — Além das exposições, a Bae's Gallery também é reconhecida pelo trabalho impecável que faz na restauração de obras de arte.
— Sim, eu sei — ela sussurra.
Sorrio.
— Sendo assim temos projetos em andamento até o final do ano. Em alguns dias nosso chefe de departamento, o professor Park vai encerrar contrato e se ausentar do país por tempo indeterminado. Minha mãe está fazendo uma pré-seleção de candidatos, mas até esse momento não temos um nome de peso disponível.
As palavras se repetem na minha cabeça. Elas arrepiam minha pele, me atropelando com a noção de que estou mesmo fazendo isso: Discutindo ofertas de emprego com minha antiga professora.
Seulgi assente lentamente, entendendo aonde quero chegar com essa conversa.
— Eu lembrei de uma de nossas conversas, quando você me falou de sua especialização e atuação antes de começar a lecionar. Então estava pensando… você não teria interesse de discutir sobre o assunto com Joohyun? Quero deixar claro que você não tem obrigação nenhuma. Só que seria vantajoso para ambas as partes se você aceitasse a proposta.
Ela se recosta na cadeira e cruza os braços. Parece relaxada. Muito mais relaxada do que alguém ficaria se recebesse uma proposta desse nível. Mas não estou surpresa, Seulgi sempre foi assim.
— Você realmente gosta de um desafio. — Ela revira os olhos, mas um sorriso é perceptível em seus lábios. — Devo ter uma reunião com a reitoria sobre a renovação do meu contrato na próxima semana. Mas confesso que essa proposta é um tanto tentadora.
Coloco as mãos na borda mesa, tentando não criar muita expectativa sobre isso.
— Marque uma reunião com Joohyun, porque conhecendo bem sua mãe sei que ela não cogitou meu nome logo de início. E não prometo nada a você, mas quero me inteirar melhor sobre esse assunto.
Minha garganta seca e uma ardência atinge meus olhos. Pisco várias vezes, querendo gritar: “Óbvio! Posso marcar quantas reuniões forem necessárias!”
— Claro, vou organizar tudo e entro em contato com você.
Ela não diz nada, apenas fica olhando para mim e dá um sorriso divertido.
— O que foi?
— Nada. Só não consigo acreditar que você está mesmo aqui.
Sorrio, entendendo o que está implícito em suas palavras.
Conversamos por mais um tempo até Seulgi anunciar que precisa voltar ao trabalho. Quando saio de sua sala, vejo Minjeong parada no corredor, conversando com um garoto. Nossos olhos se encontram por um ou dois segundos. É só uma questão de instantes em que olhamos uma para a outra, mas vejo sua surpresa se transformar em questionamento.
Acompanho com o olhar enquanto ela se despede do seu amigo e se aproxima. Por um momento, penso que vá apenas me cumprimentar. Mas ela para na minha frente e fica me encarando.
Seus olhos me estudam atentamente antes dela perguntar em voz baixa:
— Aconteceu alguma coisa?
Eu pensava que a intensidade do que sinto diminuiria depois que eu a beijasse. Mas não. Meus sentimentos só crescem cada vez que a vejo. E é por isso que não suporto a ideia de fazê-la sofrer por minha causa.
— Lembra que eu comentei com você sobre a saída do professor Park? — Digo, ao que ela assente, continuo: — Vim conversar com uma antiga professora minha, talvez ela possa suprir a vaga que vai ficar em aberto.
Ela abre um sorriso e vejo que seus olhos também se iluminam.
— Quer dizer que você também se formou na KArts? — Ela faz uma pausa, pesantiva. — Faz sentido. Essa é uma das melhores faculdades da cidade.
Assinto com a cabeça.
— Estou de saída agora… — digo, me perdendo em seus olhos castanhos. — Se você estiver livre, podemos ir à um café.
— Claro. — Ela diz, segurando a alça de sua mochila. — Eu só tinha vindo conversar com meu orientador.
Como de costume, nossas mãos se encontram enquanto caminhamos em silêncio pelas calçadas movimetandas de Gangnam. Esse é um hábito do qual compartilhamos, mas sei que hoje há algo maior por trás do silêncio: o fato de estarmos juntas.
Minjeong é uma ótima pessoa, eu sou uma boa pessoa. Como nossos encontros mostraram, damo-nos muito bem… mas sei que ainda estamos digerindo o fato de que estamos mesmo fazendo isso.
Observo nossas mãos unidas e, em resposta, Minjeong aperta seus dedos nos meus.
— Você está bem? — Pergunto a ela.
Sobressaltada com o som da minha voz, ela volta a atenção para o meu rosto. O nariz dela está avermelhado e adorável. Quanto mais olho para ela, mais percebo o quanto isso parece certo. Mesmo que vá contra tudo o que eu devia estar fazendo.
— Estou, claro… — Ela sorri vagamente. — Estava apenas pensando sobre tudo isto.
— Está arrependida? — Pergunto.
— Não, é mais… — Minjeong faz uma pausa, olhando para mim. — Você está bem? Digo, em fazer isso?
Paro, chamando a atenção dela.
— Eu estou tentando não pensar muito nisso, sabe? A vida não tem o hábito de sorrir para as pessoas, mas quando ela resolve te dar vislumbre disso, a melhor opção é se permitir.
As bochechas de Minjeong ruborizam com meu comentário. Seus lábios se separam, e juro suspirar apenas com essa visão.
— Ontem a noite, pensei no nosso encontro no parque. Pensei no que disse… Eu só não quero ser a garota egoísta que…
— Minjeong — Digo, segurando seu rosto com a mão. — Quero que saiba que eu estou muito ciente do que estamos fazendo. Eu descobri que sou louca o suficiente para me arriscar desse jeito. Mas jamais irei machucar você. Prometo.
Ela dá um passo para trás e olha para mim.
— Obrigada — diz, sorrindo, antes de olhar para o céu. — Obrigada por fazer isso. Por estar dando uma chance para nós.
Atravessamos a rua até o café e Minjeong se apressa para entrar enquanto seguro a porta para ela. Uma rajada de ar morno nos acerta, e o calor é tão fantástico que suspiramos em uníssono.
Conduzo Minjeong até minha mesa habitual e nos sentamos. Fico observando enquanto ela pega o cardápio, olhando as opções com toda a concentração.
— O que você sugere? — Ela pergunta.
— Eles têm uma variedade considerável de bebidas e iguarias aqui. Mas como você não bebe café, vamos ter que limitar um pouco isso.
Isso faz com que ela fique interessada em ver todas as opções no cardápio.
— O que está pensando? — Pergunto.
— Que deveríamos provar algo que ainda não conhecemos. — Ela diz. Esse sorriso adorável deveria ser proibido, porque me faz aceitar o que quer que ela esteja dizendo. — E seu pedido é por minha conta. — Acrescenta, olhando para mim.
— Você não precisa fazer isso.
Ela coloca a mão sobre a mesa, entrelaçando os dedos e se inclina na minha direção.
— Nem adianta discutir. Isso ficou decidido da última vez.
Foi fácil para nós ficarmos à vontade durante todo o tempo — temos uma conexão inexplicável desde que nos conhecemos. E tão logo fazemos nossos pedidos, a conversa flui com facilidade, como sempre acontece quando estamos juntas.
— Antes você me disse que começou a pintar somente na adolescência — comento, bebericando meu café.
Ela coloca seu copo sobre a mesa e dá de ombros.
— Não tive nenhuma influência interna como você, acho que apenas foi algo que me fascinou desde sempre. Quer dizer, meus pais tem um escritório de contabilidade, então você deve imaginar que são pessoas do mundo das finanças.
— Mas eles te apoiam? — Pergunto.
— Meu pai nunca se importou muito com isso. Mas minha mãe não quer nem ouvir falar do meu curso.
— Sem querer ofender a sua mãe, mas essa é atitude mais idiota que já vi. Uma pintura pode guardar um universo, pode contar mil histórias. Ela transcende estereótipos. Tenho certeza que se ela visse suas telas mudaria de opinião.
Sou presenteada com o mais modesto lampejo de sorriso e sinto meu coração acelerar. Ela faz isso enquanto mordisca o lábio inferior por um segundo, antes de dizer:
— Obrigada. Adoro a calmaria do meu pequeno estúdio, mas… — Ela faz uma pausa. — Bem, você vai achar previsível, mas também quero preparar uma exposição.
— Não é previsível, Minjeong. Uma grande parcela de artistas não ganha reconhecimento por falta de oportunidades. Assim como alguns precisam batalhar muito para chegar lá.
Ela assente lentamente.
— Raramente admito que tenho essa ambição, porque parece que isso sempre provoca a mesma reação: uma mistura de surpresa com assombro. E não sei se as pessoas respondem desse modo porque gostam da ideia de que eu queira fazer algo criativo e difícil ou porque ninguém nunca olha para mim e pensa: Ela tem capacidade e talento.
Ouvir isso gera uma pontada de dor em meu peito.
— Sei que não sou a melhor pessoa para te dar conselhos, mas uma coisa posso afirmar; você tem talento. — Digo com firmeza. — E querer se desafiar é algo realmente impressionante, Minjeong.
— Só é impressionante quando você consegue — Ela diz.
— Então faça alguma coisa.
— É mais fácil falar do que fazer. — Ela deixa escapar um resmungo. — Quero expor meu trabalho, mas as vezes sinto como se não fosse qualificada para fazer isso.
Em vez de responder à sua insegurança assumida, apenas dou um sorriso singelo. Acho que Minjeong gosta da minha reação, porque sua expressão suaviza.
— Todos somos bons em coisas diferentes, Minjeong. Acredito que em breve você vai entender o que estou querendo dizer.
— Talvez você tenha razão. — Ela diz, passando a mão nos cabelos. — Acho que, em partes, o que me causa essa insegurança é o medo de que não vá ter a recepção que desejo, e então ficarei com um sonho que não vou realizar e sem outras perspectivas.
Fico em silêncio, porque sei perfeitamente o que é ter que desistir de um sonho e viver sem perspectiva. Muito mais do que gostaria de admitir.
— Está tudo bem? — Ela segura minha mão sobre a mesa e me observa com um olhar preocupado. — Você ficou séria do nada.
Procuro afastar qualquer pensamento e focar no agora.
— Estou bem — respondo. — Só não sei o que te dizer quanto a isso. Como disse antes, não sou boa com conselhos.
Ela sorri, entrelaçando meus dedos nos seus.
— Não precisa me dizer nada. Você já está sendo uma ótima ouvinte.
Isso é tão acolhedor. Passar um tempo com ela e esquecer a bagunça que é minha vida.
Quando saímos do Café, pergunto a Minjeong se ela não quer ficar mais um pouco, mas com hesitação, ela responde que precisa chegar em casa até as 20h, já que tem um compromisso com sua tia.
— Você não está de carro, certo? — Pergunto para me assegurar. A ideia dela perambulando pelas ruas de Seul sob esse frio todo não me é agradável.
— Não. Mas você não precisa se preocupar, meu bairro não fica tão longe daqui.
A primeira nevasca da noite começa, e olho para o céu quando alguns flocos caem no meu rosto. Então vejo os flocos de neve atingindo as longas e belas mechas negras dela.
Me aproximo e beijo a ponta do seu nariz.
— Eu faço questão — digo, segurando sua mão. — Vamos, meu carro não está muito longe daqui.
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