𝟬𝟮𝟬. IRMÃOS
Jogadores, está na hora de dormir. Por favor, retornem ao alojamento imediatamente. Se não não retornarem, vocês serão eliminados do jogo.
A SALA DO LÍDER ERA UM AMBIENTE tão luxuoso quanto a posição que ele se estabelecia nessa sociedade dos jogos que apoiava a hierarquia como o maior ato de equilíbrio social. Líder, patrocinadores, quadrados, triângulos e círculos. Tudo parecia estar sempre em perfeita harmonia em um lugar onde todos sabiam de sua função. Não haviam revolucionários ou espertinhos tentando mudar o mundo. Ninguém reclamava sobre fome, quanto recebiam, os problemas sociais ou se algo desagradava ou não ─ claro, apenas os patrocinadores, porque eles podiam. Mais aquela organização era apenas mais um retrato da sociedade civil pouco civilizada. No qual ricos continuavam ricos e pobres ficavam ainda mais pobres... ou lutavam com os outros pela sua própria sobrevivência e pelo dinheiro.
As linhas e vigas douradas entravam em contraste com as paredes e móveis pretos de mármore. O lustre era fantástico e tomava conta de boa parte do teto. Garrafas das bebidas mais caras espalhadas nas estantes, livros antigos e muito famosos de escritores e pensadores do mundo todo ou uma televisão gigante que transmitia ao vivo todo o jogo. Uma poltrona estava entre os dois sofás de couro e a mesa de mármore no canto da enorme sala tinha alguns pertences. Após fecharem a porta da sala e tranca-la para evitar surpresas, Junyu se aproximou da mesa para investigar. Sem precisar de muito para confirmar o que Junho já havia dito, dois porta retrato estavam um do lado do outro na mesa, com as mesmas fotos nostálgicas presentes no túmulo de Hyojeong. Da família de Hwang In-ho.
Não tinha nada fresco, mas se Inho não estivesse mais envolvido naquele e tivesse mesmo perdido a memória, as coisas dele dificilmente estariam lá, deduziu Cho Jun-yu.
Hwang Junho aproximou-se dos dois porta retratos e segurou as lágrimas. Os sorrisos naquelas fotos havia sido apagados e duas pessoa importantes para eles haviam partido. De todas as coisas que ele poderia imaginar do irmão, a última seria de que ele poderia ser tão cruel a esse ponto. Mesmo com todas as dores e todas as dificuldades que passou, sendo traído e perdendo a mulher e o filho, não lhe dava direito de descontar nas outras pessoas. O que talvez Hwang In-ho nunca entenderia é que seu irmão e sua cunhada sentiam muito por tudo que aconteceu e tentaram o ajudar da melhor forma que podia, mas nunca concordariam com os jogos.
─ Deixa sua frequência na que estamos usando, vou tentar achar a deles com meu rádio. ─ Disse Junyu, sem querer tocar no assunto mais uma vez de que Inho estava sendo um grande idiota. Preferia ficar em achar pistas ou tentar saber o que eles estava falando pelo rádio. ─ Logo vão descobrir que estamos aqui, então precisamos ser rápidos.
─ Certo. ─ Junho balançou a cabeça positivamente, confirmando. Preferia deixar a nostalgia para trás e cuidar do que realmente importava naquele momento. ─ Verifica desse lado, que eu vejo mais para trás.
Junyu e Junho se dividiram no cômodo, com a mulher procurando na sala principal do líder e ele, nos fundos, onde ficava as pastas com as informações dos jogadores de cada ano. Cho Junyu foi até o controle da televisão e a ligou, dando de cara com diversas câmeras ligadas. Haviam algumas opções na tela: arenas de jogos, escadas, corredores da central, sala do líder, área dos guardas e sala de controle. Ela clicou na última opção, conseguindo vizualizar bem toda a sala de controle através das câmeras. O painel no chão com o rosto dos jogadores ainda vivos, os guardas sentados de frente para o computador e havia um homem em pé. Uma calça e um casaco moletom, com uma faixa transpassando a cintura e uma máscara preta com um símbolo de quadrado.
Não era a mesma descrição de Gi-hun e Jun-ho, que haviam visto o verdadeiro líder com outro tipo de máscara.
─ O que você está aprontando, Hwang In-ho. ─ Murmurou, encarando a tela. Junyu conseguiu vizualizar apenas uma porta na sala, de entrada e saida, sem janelas. Na parte de cima, do teto, haviam algumas entradas de ar.
Enquanto deixava as câmeras na tela passando, Junyu foi até a mesa de mármore do líder. Mexeu em alguns papéis burocráticos que estavam no canto esquerdo da bancada, passando os dedos levemente por cima de algumas canetas e achou algo diferente. Ela tirou uma das canetas do pote e dedilhou uma marca que havia bem no meio do objeto. Quando a mesma resolveu puxar a parte de cima, revelou um pequeno punhal disfarçado como caneta. A Cho olhou para a lâmina, vendo duas gotas de sangue na ponta e fechou o punhal, o escondendo por dentro da camiseta, no sutiã.
Jun-ho voltou da outra parte do cômodo, carregando alguns papéis em uma pistola que acho escondida atrás da porta.
─ Isso é a sala de controle? ─ Perguntou ao encarar a televisão, já que nunca havia ido lá, apenas, ao redor. ─ Eu já disse que amo você, não disse? ─ O homem olhou para a esposa, sempre admirado o quanto ela conseguia achar as coisas tão facilmente. ─ É impressionante, nada passa despercebido com você!
─ Você não sabia? Eu faço parte do jogo. ─ Junyu respondeu ironicamente, zombando. ─ Eu e o In-ho estamos conspirando contra todos vocês... você acreditou direitinho.
─ Sério? ─ Indagou o Hwang, fingindo acreditar. Ele analisava alguns papéis, lendo mentalmente as informações. ─ Não acredito, estou arrasado.
Cho Junyu soltou uma risada.
─ Amor, você sabia que o Ko Taemin e meu irmão moraram no mesmo orfanato? ─ Ele guardou a arma na cintura, por dentro da calça, e caminhou até a Cho, lhe mostrando os papéis. ─ Eles nasceram na mesma cidade e depois foram adotados...
O prontuário de Ko Tae-min trazia exatamente o nome do mesmo lugar em que Hwang In-ho foi levado quando sua mãe morreu e o pai dele o abandonou no orfanato. As épocas eram diferentes, mas eles haviam nascido na mesma cidade. Ao se lembrar do que Taemin havia lhe contado, sobre um irmão desaparecido, Junyu rapidamente agiu, abrindo as gavetas na mesa para ver se achava algo. A última, a única fechada com chave, ela demorou mais, utilizando dois clipes que estavam espalhados e conseguindo abria-la.
Lá havia um envelope lacrado. Junyu rasgou o lacre que havia no exterior do envelope, pegou os papéis e colocou as duas fichas em cima da mesa para que os dois pudessem ver. Seus olhos arregalaram-se no minuto em que conseguiram ler de pouquinho em pouquinho tudo que estava escrito. Com o coração acelerado e a garganta seca, o casal sentiu um aperto no peito devido as fortes emoções. A sensação era indescritível e definitivamente surpreendente, carregando todas as emoções possíveis em duas únicos pedaços de papéis desgastados.
Ko Tae-min e Kim Jun-hee.
Um exame de sangue de Ko Taemin compartilhava a compatibilidade com o mesmo exame realizado por Hwang Inho, geneticamente ligados pelo parentesco do pai. Nascidos na mesma cidade e abandonados pelos pais no mesmo orfanato, mas em épocas diferentes. A diferença de idade entre eles não impedia que os dois tivessem ligação sanguínea. Eles eram irmãos. No outro papel, um exame de sangue de Kim Junhee, realizado utilizando do banco de sangue, os dados da falecida Joo Young-min, mãe biológica de Cho Junyu, confirmando o parentesco de primeiro grau com a garota.
─ Então isso quer dizer que... ─ Junho foi o primeiro a se manifestar, boquiaberto. ─ O Taemin é irmão do In-ho e a Jun-hee é sua irmã? ─ Ninguém alteraria um exame de sangue e o deixaria escondido por tanto tempo, se não quisesse guardar esse segredo. ─ Isso também quer dizer que... que eu e seu ex namorado temos o mesmo irmão.
Apesar de não ser obrigatoriamente incluído na lista de familiares de Hwang Junho, querendo ou não, eles tinham essa ligação. Inho havia sido adotado quando era apenas um bebê e recebeu o sobrenome do pai deles, assim como Taemin foi adotado com dois anos e recebeu o sobrenome o pai adotivo do mesmo. Não tinha só haver apenas sangue ou genética, era algo muito mais complexo.
Junyu não conseguia abrir a boca para falar absolutamente nada, pois era muita informação. Era muita coincidência. Além de tudo, como Hwang In-ho conseguia saber daquelas coisas e sequer continuar com que estava fazendo? Mesmo que fosse por um motivo pessoal, eles eram família. Como ele poderia arriscar a vida da cunhada, dos irmãos e de Jun-hee, sem sequer pensar que todos eles poderiam morrer. Que Inho poderia ser a causa da destruição de mais membros de sua própria família e que seria cúmplice da morte de pessoas que lhe amaram ─ e de outras, que nem tiveram a chance de saber da verdade. Seus sentimentos estavam bagunçados e sua mente não conseguia classificar seus pensamentos... eram tantos.
─ Está tudo bem por aí? ─ Taemin chamou pelo rádio, tirando a atenção deles. ─ Vocês não estão falando nada.
─ Estamos precisando de ajuda por aqui! ─ Gi-hun falou de outro ponto. Tiros ecoaram pelo rádio, chamando atenção dos demais. ─ Estamos encurralados próximo de uma entrada.
─ Nós estamos indo. ─ In-ho respondeu.
─ Não precisa vir, nós vamos até eles. ─ Junho respondeu o irmão, tentando impedir que ele saísse de lá. ─ Inho? Taemin?
Nenhum dos dois respondeu.
─ Nós precisamos ir, rápido. ─ Junyu dobrou os dois papéis que eles acharam na gaveta e guardou no bolso do moletom.
─ Querida, você não... ─ Junho não sabia como se expressar, pois estava tão em choque quanto ela. ─ A Junhee, ela...
─ Vamos falar sobre isso depois... acho que você também gostaria de falar sobre o Taemin, não é? ─ A Cho não sabia o que fazer com aquela informação naquele momento, então preferia guardar para resolver essa situação com mais calma. Eles não podiam se distrair. ─ Agora, a gente precisa impedir que seu irmão faça alguma besteira!
Junho concordou. Assim como sua esposa, ele achava que aquela situação precisava ser resolvida com calma. Se eles perdessem o foco na missão e não conseguissem sair dali, tudo iria por água a baixo e o esforço que tiveram, se arriscando, seria em vão. O Hwang olhou uma última vez para a mesa de Hwang In-ho e viu que naquela mesma gaveta, bem em baixo de alguns papéis havia o nome Cho Sang-woo. Curioso, ele pegou o outro envelope e mostrou a Junyu. Ele colocou a mão dentro do envelope de cor marrom claro e tirou de lá uma carta, com letras grafadas por Sangwoo, seu sogro. Os dois tocaram no papel e viram a data no final, 2022.
─ É uma carta do seu pai. ─ Junho sentiu uma grande angústia e amargura ao segurar o papel. Só de pensar o que havia naquela carta, o deixava ansioso e culpado por não ter conseguido salva-lo. ─ Como ele conseguiu escrever isso?
Hwang Junho encontrou Cho Sangwoo no penúltimo jogo, quando no jogo da ponte só sobraram ele, Gihun e Saebyeok. Sendo sua última aparição como guarda, o policial ainda na época foi o "triângulo", que conduziu os últimos três jogadores para o dormitório. Em um momento oportuno quando não tinha mais ninguém os observando, Junho encontrou o sogro no banheiro e conversou momentaneamente com ele. O abraçou e disse que faria de tudo para tirá-lo de lá... mas acabou não conseguindo. Antes que pudesse tomar uma atitude, o líder o descobriu e começou uma perseguição atrás dele. Sendo assim, a última pessoa tão próxima a vê-lo ainda vivo.
─ O que está acontecendo? Porque vocês não chegaram, In-ho? ─ Gi-hun gritou no rádio.
─ Sinto muito Gi-hun... sinto muito Jun-ho... sinto muito Jun-yu... acabou. ─ A voz de Inho estava fraca, trêmula e rouca, quase inexistente. ─ Eles pegaram a gente.
Seong Gihun o chamou mais algumas vezes, mas ele não respondeu. Junyu automaticamente mudou a linha do rádio, tentando encontrar a frequência que o líder e os demais guardas estava utilizando. Quando finalmente conseguiu escutar um ruído diferente em uma das linhas, deixou na mesma e o que escutou a seguir foi, com certeza, o que ela nunca gostaria de ter escutado: Vamos acabar logo com isso. O tom de voz era claro e conhecido... Hwang In-ho, que jurou por tudo que era mais sagrado não saber o que estava acontecendo.
Uma raiva instantânea instalou-se em Cho Junyu e tudo que ela queria fazer naquele momento era atirar no homem que, um dia, fez parte da sua vida. O homem que um dia cuidou dela e que a amou. O homem que jurou cuidar de todos eles pelo resto de suas vidas. O homem que deixou a própria família esperando e os fez pensar que estava morto.
─ Vocês precisam ir embora, rápido! ─ Taemin gritou na mesma frequência, desejando que Junyu ou qualquer um deles pudesse estar escutando.
Verdade, Ko Taemin tinha saído de seu posto e ido com In-ho atrás dos outros. Junho pôs a mão na cabeça sob pressão, se perguntando o que poderia fazer. Ele queria muito ir embora com sua esposa e seu bebê, mas não conseguia deixar de pensar nos outros ─ principalmente em Taemin e Junhee. Desde o momento em que escutou a voz do seu irmão soar na frequência do rádio e terem certeza que ele não tinha perdido a memória, uma chave na cabeça do Hwang virou. Ele não poderia salvar que não gostaria de ser salvou e não poderia se agarrar na esperança que um dia ele lhe amou. Eles estavam em lados opostos.
Chutes nas portas assustaram o casal. Junho colocou o papel da carta por dentro da camiseta e apontou a submetralhadora na direção da porta. Eles olharam um para o outro, prontos para continuar. Ambos se esconderam atrás das pilastras e esperaram os guardas entrarem, até o momento em que a porta foi aberta e as balas cortaram o ar, batendo contra a parede. ─ Se eles estiverem resistindo, pode matar os dois. Ordenou a voz no rádio.
Jogadores, está na hora de dormir. Por favor, retornem ao alojamento imediatamente. Se não não retornarem com nossos guardas, vocês serão eliminados do jogo.
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