𝟬𝟬𝟯. PAIS E FILHOS


OS POSTES QUEIMADOS DA RUA traziam um olhar sombrio sobre o momento. As linhas de comunicação da cidade ainda estavam estáveis e muitos lugares sem energia. Em Yanghwa-ro 23-gil, 4-7, no bairro de Mapo-gu, em Seul, onde ficava a Pousada Pink, não era diferente. Não haviam prédios ou postes com as luzes acesas, apenas as de emergência de cor vermelha em alguns prédios. A chuva haviam voltado na cidade e o céu estava nublado, até mesmo meio alaranjado escuro pela quantidade de nuvens carregadas.

Junho e Junyu haviam acabado de chegar no local após um dia cansativo e cheio de surpresas ─ infelizmente, de maioria ruim. Nesse momento, às uma e doze da madrugada, eles haviam acabado de largar e trocado de turno com seus colegas, já que por causa do risco iminente e uma guerra civil, eles precisavam ficar de plantão. O Hwang, desde a pequena viagem deles do batalhão militar onde a capitã Cho trabalhava e o bairro de Mapo-gu, estava calado. Ele interagia normal com Junyu e respondia todas as suas perguntas, mas com alguns segundos de raciocínio.

Quando o carro parou e os dois desceram com as pistolas em mãos e suas lanternas de bolso, Junho foi até o lado da esposa com o guarda-chuva. Junyu olhou para ele e pouso a mão sob seu rosto, acariciando a bochecha com o dedão da mão direita.

─ Porquê você está tão calado? ─ Ela perguntou, olhando diretamente nos olhos do homem. ─ Foi pelo que aconteceu mais cedo? ─ Perguntou, referindo-se a Ko Taemin. ─ Você está com raiva de mim pelo que falei? Eu quis ser sincera com você.

Mais cedo, após encontrar o ex namorado, Junho e Taemin tiveram uma pequena discussão por motivos de provocação. Depois de revelar ser o marido de Junyu, escutar um desaforo de Taemin do tipo "casado? ela disse que nunca de casaria" e responder "talvez ela só disse isso para você, porque não gostava tanto assim", os dois ficaram se encarando por alguns segundos e começaram a trocar desaforos. Porque sim, Ko Taemin era um provocador nato! Ele simplesmente continuava tratando a relação dele e de Junyu como se fosse próxima ─ mesmo não sendo, e referindo-se a ela tão informalmente e intimamente, que passou a irritar o Hwang.

No final Junyu interveio, despediu-se do ex namorado e arrastou Junho para longe, para que ambos acalmassem os ânimos. Era um péssimo momento para isso, mas ela sabia que um dia reencontraria o ex namorado e bom... ex colega militar. Sim, o assunto que surgiu após Junho, indignado, questionar para is mesmo porque ele achava que era tão íntimo. Foi aí que Junyu contou que, além de ex namorado, eles passaram dois anos sendo do mesmo batalhão militar. Obviamente não aconteceu nada entre Junyu e Taemin, até porque ela já namorava Junho, mas o isso nunca havia sido uma conversa entre eles.

─ Eu não quis te contar porque eu sabia que você ficaria com essa sua cara de quem comeu e não gostou. ─ Ela apontou para ele, que a encarava com um biquinho e os olhos baixos. ─ Porque eu te falaria algo sem relevância? Só pra te fazer ciúmes? Nós nem éramos amigos... só estávamos no mesmo batalhão.

─ Eu sei, você tem razão. ─ Junho suspirou, passando a mão livre na própria nuca. ─ E eu confio em você, só fiquei com raiva porque aquele idiota te tratou como se fosse íntimo! ─ Se tinha uma coisa que ele odiava era esse tipo de tratamento com sua esposa. Diferente do que todos poderiam achar, Junho nunca teve um problema com Jaesang, mesmo antes dele se casar. O Park era sempre respeitoso com a relação deles e mesmo depois de vê-los se abraçando algumas vezes, dava para ver que era amizade. ─ Achei falta de respeito, porque ele escutou que éramos casados e mesmo assim...

─ É, ele foi babaca. ─ Junyu concordou, sabendo que era verdade. Ela conhecia Taemin e ele não costumava ter limites. ─ E talvez eu devesse ter te contado que eu tinha me encontrado ele, mas você não o conhecia, então achei meio desnecessário.

─ Tudo bem, eu sei que foi com uma boa intenção. ─ Junho respondeu, tirando um peso das costas. Ele não estava nem um pouco chateado com ela.─ Eu realmente não me interessaria em saber sobre seu ex namorado... a não ser que eu soubesse que ele é assim... ─ De fato, só de pensar quantas vezes Taemin teve aquele mesmo de atitude com Junyu, lhe deixava irritado. ─ Eu iria lá só pra fazê-lo engolir aquele sorrisinho arrogante!

Junyu riu, dando um abraço do marido. Ela alisou suas costas lentamente, dando algumas pequenas batidinhas para dizer que estava tudo bem. Entendia o sentimento de Junho, porque se fosse ao contrário, ela também ficaria irritada com esse tipo de pessoa. Tudo que a Cho fez nesses dois anos que passou ao lado de Taemin foi tratá-lo normal, mudar de assunto todas às vezes que ele falava algo assim ou lembrá-lo que tinha namorado. O Ko não deixou de dizer o quanto ainda gostava dele naquele tempo, mas respeitava os limites de se aproximar.

─ Então você está realmente bem, não é? ─ Junyu perguntou, só para confirmar. Dava para notar quando Junho estava mentindo. ─ Eu também ficaria com raiva se alguma ex sua resolvesse flertar com você, sabendo que estamos casados. ─ Porque óbvio, era falta de respeito. ─ Mas... estou feliz que falamos sobre isso. É muito bom não ter segredos com você.

─ Só entre nós? ─ Junho falou, referindo-se ao fato que qualquer segredo ficava apenas entre eles.

─ Exatamente, entre nós. ─ Afirmou a militar. ─ Então... que tal encontrarmos o Seong Gihun, depois irmos para casa e relaxar um pouquinho? ─ Junyu sorriu de ladino, deixando um pequeno selinho nos lábios do marido. ─ Algo de manhã ficou inacabado, não foi?

─ Me parece uma ótima ideia. ─ Concordou, também sorrindo e parecendo muito menos irritadiço.

Um tiro ecoou pelo prédio, surpreendendo o casal. Os dois adentraram rapidamente o prédio ao ver que a porta da frente estava aberta e deram de cara com a entrada da pousada. O local estava completamente abandonado e sujo, com as portas riscadas, a recepção abandonada e as luzes vermelhas de emergência ligadas. De repente a luz voltou e o letreiro do local ligou. O elevador na porta de entrada clicou sozinho e o número da tela que apareceu foi o 4, do quarto andar.

Os dois subiram correndo pelas escadas de emergência, sendo esta a única posta que eles tinham de onde poderiam ser o local que procuravam. Quando chegaram no quarto andar deram de cara com um corredor sujo de luzes baixas, havia poeira e manchas por todos os lados, indicando que aquele lugar fechou há muito tempo. Eles se dividiram em procurar algo pelos lados, Junyu procurou nos quartos do lado esquerdo e Junho do lado direito. Apesar do inicial silêncio insuportável e a falta de pistas, um murmúrio de alguém sem poder se comunicar direito pode ser escutado no quarto de número 400.

Ao chegarem na frente do quarto eles tentaram abrir, mas nada aconteceu pois estava trancado. Junho deu um tiro na fechadura da porta e com a ajuda de Junyu, chutaram com tudo a porta, conseguindo abri-la. Um homem de estatura média de contorcia em uma cama suja, quase nu, com um pano tampando sua visão, amordaçado pela boca e preso por diversas cordas. Tinha sangue em seu rosto... um sangue que aparentemente não era dele. O Hwang tirou a faixa dos olhos e a mordaça na boca, e apontou a arma na direção da aparente vítima.

─ Quem é você? ─ Junyu perguntou, gritando.

─ Por favor não me mata! Eu peço desculpas! ─ Implorou, morrendo de medo. ─ Eu tenho família, não me mata!

─ Cadê o Gihun Seong? ─ Questionou o policial de trânsito.

─ Tá no 410!

Deixando o homem ainda preso pelas cordas, a dupla correu até o final do corredor e deu de cara com a porta aberta. Já entrando com as armas na altura dos olhos, eles encontraram dois homens. Seong Gihun estava em pé com um cartão na mão, o mesmo dos jogos que eles já haviam visto, enquanto um homem de terno preto encontrava-se ensanguentado e jogado em uma poltrona branca, agora, também manchada de sangue.

─ Polícia, levanta às mãos agora! ─ Junho gritou, sem medo de ameaça-lo.

O homem segurou as mãos de Gihun e o jogou com facilidade contra a parede. As mãos do possível assassino estava levantadas e ele parecia cooperar. Uma arma foi encontrada dentro do casaco dele e retirada pelo Hwang. Seong foi curado bruscamente para frente novamente e deu de cara com Cho Junyu, que reconheceu imediatamente.

─ Seong Gihun, você está preso por suspeita de assassinato!

─ Junyu, é você? ─ Gihun falou calmamente, encarando a mulher sem piscar. Seus olhos arregalaram-se imediatamente, sentindo um pesar só de lembrar. ─ Você me encontrou... não deveria ter me procurado.

─ Porque você está falando com a minha mulher? ─ Junho gritou com Gihun, o empurrando com a mão livre e o segurando abruptamente pela gola da camiseta. ─ Por acaso a conhece? Fale logo!

─ Acho que seu pai não falou de mim para você, mas... ele me pediu que cuidasse de você, Junyu. ─ O mais velho tentou solta-se de Junho para se aproximar da garota, mas não conseguiu. ─ O Cho Sangwoo... nós éramos amigos de infância.

Os olhos de Cho Junyu entraram em êxtase ao escutar o nome do pai sair tão perfeitamente dos lábios de Seong Gihun. Suas mãos começaram a tremer e ela fraquejou por um minuto, baixando a arma e parando de apontar para o indivíduo. Não acreditava que finalmente havia achado alguém que poderia saber onde seu país estava... e não só isso, alguém que o conhecia desde que ele era novo. O nome de Gihun nunca havia saído da boca do pai, mas uma lembrança bem fixada na memória de Junyu voltou para a mente quando ela lembrou da fotografia antiga de dois garotos abraçados em um parque. Um era o seu pai e o outro, um garoto de quase mesma idade. Na ponta da foto tinha as siglas CSW + SGH, provavelmente, agora, sendo as iniciais dos nomes deles.

─ Do que você está falando? ─ Gritou Hwang Junho. ─ Como conhece o senhor Cho? ─ O corpo de Gihun bateu contra a parede novamente ao ser empurrado pelo mais jovem. ─ Está tentando desconversar só para não me fazer...

─ Não foi eu, estou dizendo. ─ Gihun apontou para o homem de olhos abertos estirado na poltrona. ─ Ele era o cara que recrutava as pessoas para participar do jogo... mas não foi eu que matei ele! Ele acabou perdendo em um jogo, roleta russa.

Junyu foi até o corpo e analisou, percebendo que havia uma perfuração na goela que passava por ela, fez um furo no topo da cabeça e foi parar no teto. Dando a entender que o próprio homem havia atirado. Pelo local onde morrer, o sangue estirado na parede e teto, não tinha como outra pessoa ter matado.

─ Ele está falando a verdade sobre o corpo, não foi ele. ─ A Cho respondeu, com a voz um pouco rouca. Ela ainda parecia nervosa.

─ Então você ainda tá participando do jogo? ─ Indagou o guarda.

─ Eu tô tentando fazer esse jogo parar! Esses desgraçados... ─ Gihun resmungou, muito bravo. Até chegou a apertar o próprio punho de tanta raiva. ─ O seu pai... o Sangwoo morreu. ─ A voz embargada do homem revelava seus sentimentos pelo acontecido. ─ Só sobramos nós dois no final e ele... ele se matou para que eu sobrevivesse. ─ Gihun até poderia ter tido uma chance de vencer o jogo, mas o jogo realmente acabou quando Sangwoo desistiu, cansado e se matou. ─ Ele teve a chance de me matar... mas não fez. A única coisa que me pediu foi para que eu cuidasse de você.

Talvez fosse melhor não comentar as ações ruins que Cho Sangwoo havia tomado, principalmente diante sua filha que via o pai como um exemplo. Quando se encontraram no jogo novamente, os antigos amigos de infância conversaram em um certo momento sobre suas vidas, então Gihun sabia da criança de Junyu. De tudo que Sangwoo fez por ela e o quanto ele amava aquela garotinha. Do quanto ele queria ter uma vida melhor para pagar as dívidas que adquiriu, mas também ser um futuro bom exemplo para Junyu. Portanto, a última coisa que ele queria fazer era acabar com a imagem de bom pai que Junnie tinha dele.

Os dois únicos homens vivos olharam diretamente para Cho Junyu e esperaram que ela começasse a chorar. Mas... nada. Nem sequer uma lágrima rolou diante seus olhos e o que poderia-se notar é que os olhos dela estavam vermelhos ─ provavelmente, segurando todas as lágrimas. Ela apertou o punho esquerdo, que não estava armado, até suas unhas chegarem a fincar o suficiente na pele e perfurar. Quando Junnie finalmente parou de apertar o próprio punho, Junho notou o sangue presente nas unhas sem esmalte.

E ele sabia que não chorar era pior do que se ela tivesse caído de joelhos triste... porque isso significava que Junyu estava morrendo de odio e mataria o primeiro desgraçado dos jogos que deixou isso acontecer.

Ou seja, sabendo que o irmão dele era atualmente o líder, ela nem pensaria duas vezes antes de estourar a cabeça dele com as próprias mãos.

─ Junnie... ─ Junho a chamou baixo, se aproximando da mulher. Ela sequer olhou para ele naquele momento.

─ Se você está atrás deles então precisa de ajuda, não é? ─ Foi a primeira coisa que ela falou após receber a notícia. ─ Nós vamos te ajudar a acabar com esse desgraçado, senhor Seong Gihun. ─ Junyu olhou para o mais velho, dando um pequeno sorriso irônico. ─ Qual o plano?

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