Capítulo 2
Passei o restante do meu plantão no piloto automático. Os meus pacientes tentaram me distrair da melhor forma e eu os amava por isso, mas tudo o que eu queria era ir para minha casa.
Deixei a área dos vestiários com minha bolsa no ombro e ao chegar à recepção, parei abruptamente. Ele vestia uma calça jeans de lavagem clara, um blusão azul e tênis. Um relógio circundava seu pulso, suas mãos grandes com veias saltadas espalmavam o balcão. Via apenas o seu perfil e uma pequena covinha surgiu em sua bochecha. Ele estava sorrindo. Senti toda raiva reprimida vir à tona e andei a passos duros até ele. O ordinário virou o rosto na minha direção e ainda sorria quando acertei um soco no canto de sua boca. Ouvi o arfar da recepcionista, mas estava mais ocupada vendo os olhos dele que se arregalaram e sua mão tocar o local atingido. Uma dor irradiava meu punho, mas eu continuei lhe dando tapas e socos no peito.
— Seu desgraçado! – Suas mãos agarraram as minhas. – Solta minhas mãos, eu ainda não acabei com você.
Seus olhos azuis me analisavam, sua mandíbula se contraiu e ele estava tão ofegante quanto eu.
— Você é maluca?
Tentei me soltar para lhe dar mais uns tapas, mas ele era bem mais forte que eu.
— Ordinário!
Ele apertou os lábios rosados em uma linha fina. Continuei tentando me soltar para acertá-lo, mas minhas forças foram se esgotando conforme as lágrimas enchiam meus olhos. Parei de lutar e entrei em um choro compulsivo. Ele estava assustado e olhou para os lados e eu sabia que estava fazendo uma cena e tanto. Suas mãos me soltaram e eu apenas sequei as lágrimas e deixei a recepção.
Corri por todo jardim, mas prestes a deixar o lugar, senti que as suas mãos me agarraram. Encontrei aqueles olhos mais uma vez, pareciam confusos e irritados.
— O que mais você quer de mim? Não basta tudo o que você fez?
Ele franziu as sobrancelhas, confuso.
— Do que está falando?
— Você bateu a cabeça antes de vir até aqui, ou é alguma brincadeira sádica?
— Eu não sei do que você está falando.
Soltei o meu braço e esfreguei o meu rosto.
— Já que quer brincar assim, eu vou entrar no seu jogo – Ele abriu a boca para falar, mas o impedi com um gesticular de mão. – Você é neto da Nice, tem trinta e cinco anos e até alguns meses atrás era meu namorado. Ligou-me mais cedo e disse um monte de filha da putagem. Está lembrado agora, Eduardo?
Seus olhos estavam arregalados, mas um sorriso abriu aos poucos e logo ele estava gargalhando. Sentia-me irritada, mas agora estava ofendida. Ele era mesmo um ordinário, filho da mãe.
— Então você é a famosa ex-namorada do Eduardo... Eu acho que meu irmãozinho esqueceu-se de comentar que era gêmeo.
Surpreendi-me.
Ele continuou rindo sem parar enquanto a vergonha tomava conta de mim. Deveria estar vermelha da cabeça até a pontinha do dedo do pé e não sabia onde enfiar a cara. Continuei o encarando para ver se não era Eduardo que estava tentando me envergonhar, mas cada vez que ele gargalhava, eu tinha mais certeza de que eu soquei o homem errado.
Pigarreei.
— Pelo visto você é tão idiota quanto ele.
Seu riso encerrou na hora.
— Você nem me conhece direito, docinho – desdenhou. — Chegou me enchendo de socos, agindo que nem uma maluca.
Seu dedo tocou o canto da boca e notei a vermelhidão. Baixei a cabeça e ajeitei minha bolsa.
— Desculpa.
— Não.
Levantei o olhar para ver se não estava brincando comigo, mas sua expressão estava séria. Seus braços se cruzaram e percebi que eles eram bem maiores que os de Eduardo, pareciam até que rasgaria as mangas da blusa a qualquer momento.
— Por que meu irmão não falou nada de mim para você?
— Talvez seja porque você não é tão importante quanto pensa.
Ele contraiu a mandíbula, sabia que estava trincando os dentes. O filho da puta estava irritado e eu tentei expressar todo o meu desprezo.
— Ou talvez você não seja tão importante assim para ele – rebateu. – Que tipo de namorado não conta sobre o próprio irmão?
— Vergonha de um filho da puta que nem você.
Ele deu um passo na minha direção e eu ergui mais o pescoço. Seu dedo estava em riste na direção do meu rosto e sua feição carregada de irritação.
— Você é uma louca e eu farei de tudo para que minha avó não esteja mais em suas mãos. Está na cara que você não tem aptidão alguma para esse emprego.
Dei um tapa no seu dedo.
— Faça isso e você vai ver o inferno que vou fazer na sua vida – ameacei. – Você acha que tem alguma moral para chegar aqui e fazer exigências, mas não passa de um filho da puta. Eu não tenho medo de suas ameaças.
Ele soltou uma risada sarcástica.
— Isso é o que veremos, docinho.
Ele colocou as mãos dentro dos bolsos da calça jeans e retornou para o pequeno prédio. Fiquei parada, observando seu caminhar seguro e calmo. Eu sabia que ele poderia argumentar qualquer coisa, que tinha testemunhas do meu surto e que Leila não pensaria duas vezes antes de me jogar no olho da rua. Mas eu tinha esperança de que meus três anos na casa fazendo sempre um bom trabalho me ajudariam.
[...]
Cheguei em casa sendo bem recebida por Chewie, meu beagle tricolor. Eduardo me presenteou com ele quando completamos cinco meses de namoro e foi uma das melhores coisas daquele relacionamento. Peguei-o no colo, ganhando lambidas no rosto. Ao chegar na sala, vi Breno e Mila se ajeitando no sofá. Ainda bem que não estavam pelados, seria coisa demais para um dia.
— Vocês bem que podiam ir para o quarto — sugeri. — Vão acabar traumatizando meu bebê.
Mila corou e meu irmão me encarou com censura. Continuei sentindo as lambidas em meu queixo e coloquei Chewie no chão. Ele saiu correndo e latindo pela casa.
Joguei minha bolsa no sofá e me enfiei no meio dos dois. Dei um abraço em meu irmão e quis ficar nele para sempre. Breno acariciou meu cabelo e derramei algumas lágrimas.
— O que aconteceu, meu amor?
— Eduardo deu sua cartada final, conheci o irmão gêmeo dele de uma maneira inusitada e provavelmente estarei no olho da rua amanhã.
Ele me afastou e seus olhos castanhos encontraram os meus. Breno estava confuso e podia ver um fundo de irritação em seu olhar.
— Eduardo é um babaca – disse Mila.
Suspirei.
—Ele me ligou avisando que estava saindo com alguém e ainda exigiu que eu parasse de persegui-lo. Depois disse que estava me rondando só para poder me comer.
Encarei meu irmão e dizer que ele estava irritado seria um eufemismo.
— Eu ainda acho que eu deveria quebrar ele – disse Breno.
— Bem que eu queria, mas isso não vai mudar o fato de ele ser um pau no cu – rebati. — Eu fiquei tão cega de raiva, que quando vi sua cópia fiel na recepção do meu trabalho não pensei duas vezes e soquei sua cara.
Ele arregalou os olhos.
— Você bateu no cara?
Concordei com um aceno e mostrei minha mão inchada e dolorida para ele. Meu irmão a avaliou e soltei um gemido de dor.
— Eu pensei que fosse Eduardo, nem me atentei ao fato de que ele tinha me dito que estava em uma viagem. Não sabia que ele tinha um irmão gêmeo. O filho da mãe ainda me ameaçou, acredita?
— Desculpa, irmãzinha, mas eu teria feito o mesmo.
Abri a boca, perplexa.
— Você é meu irmão, deveria estar do meu lado.
— Eu estou do seu lado sempre, mas aqui são fatos – justificou. – Tudo bem que você não sabia do cara, que eu sempre digo que vou quebrar a cara de Eduardo, mas lá é seu ambiente de trabalho.
Analisei sua fala e meu irmão tinha razão. Eu poderia ser processada e até ser presa por tal atitude. Baixei a cabeça.
— Eu fiz merda – murmurei.
— Você precisa pensar um pouco mais antes de agir.
— Eu sei, sou impulsiva.
Breno me puxou para mais um abraço e me garantiu que tudo ficaria bem. Eu queria acreditar, mas sabia que estava longe daquilo acontecer. Separamo-nos daquele abraço gostoso e os deixei na sala. Chewie me seguiu até o quarto e choramingou. Era incrível como ele sabia quando eu estava para baixo. Peguei-o novamente no colo e recebi mais lambidas.
— Hoje foi um péssimo dia para a mamãe, Chewie — Ele latiu e deu um pequeno rosnado. Soprei uma risada. — Ainda bem que eu tenho você para me defender, mas você me dá os piores conselhos.
Ele me encarou como se eu fosse louca. Talvez eu fosse mesmo, estava esperando conselhos de um bebê. Eu precisava conversar com alguém, distrair a mente. Abri um sorriso, pensando na pessoa perfeita. Olhei para Chewie.
— Que tal passar a noite na casa do tio? Gosta dessa ideia? — Chewie começou a latir, agitado, dando pulinhos. — É, eu acho que você gosta, sim.
Coloquei-o no chão, recebendo pulinhos nas minhas pernas enquanto andava pelo quarto, arrumando nossas coisas.
.....
Notas da autora:
Amores meus, como vão? Espero que bem! Então, o que acharam do capítulo? Eu sou suspeita, preciso que vocês me digam. Quero seus comentários e seu votinho, não esqueçam! Como era para eu ter postado na sexta, vou publicar mais um capítulo a seguir.
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