AQUELE SORRISO - 3ª Parte



Quando Ane acordou, o Sol estava alto. Mas foi o grito, não o Sol, que lhe despertou.

Levantando a cabeça, viu o barco parado à metros da margem e o bote que era puxado para a areia por dois homens, enquanto três pessoas iam na direção dela, uma caminhando e duas correndo loucamente.

Imediatamente reconheceu os que corriam.

— Pai! Mãe! – chorou Ane, mancando na direção deles.

Quando se chocaram, se abraçaram violentamente e aos prantos. "Como você está?", "Está machucada?", "Achei que tinha lhe perdido", "O que houve com a sua perna", tudo isso perguntaram sem dar chance de Ane responder.

— Não paramos de procurar momento algum. – disse o pai dela – Ainda tem gente pelas margens e matas lhe procurando.

— Ouvimos falar deste lugar e dessa senhora que vem aqui todo ano. – disse a mãe dela, sufocando-a em um abraço – Ela concordou em nos trazer aqui, dizendo que vinha ver o filho.

— Eu conheci o filho dela! É o Ted! – sorriu Ane.

A mulher que vinha caminhando com um buquê de flores parou e ficou olhando para Ane. Era óbvio que era a mãe do Ted, com os cabelos vermelhos, olhos verdes e pele branca. Os pais de Ane se entreolharam confusos.

Ane se voltou para procurar Ted, mas não o viu. Mas viu a prancha dele, fincada na areia. Mesmo de longe, olhando agora, percebeu que a prancha não estava em bom estado, mas bem desgastada pelo tempo.

Olhou os lugares onde Ted se deitou, mas não viu marcas na areia.

A mulher andou até a prancha e depositou o buquê de flores aos pés dela, ajoelhando-se para uma oração. Ane caminhou na direção dela e viu que no buquê havia uma foto.

Jamais confundiria aquele sorriso.

Era Ted.

— Hoje faz oito anos que meu filho foi encontrado nesta praia, seu corpo sem vida entregue pelo mar. – disse a mulher, ainda ajoelhada – Eu nunca tive a chance de dizer o quanto o amo e nunca tive a oportunidade de ouvir a mesma coisa na voz dele.

Ane não percebeu que seus olhos lacrimejavam.

Era estranho porque chorava copiosamente, mas não estava triste. Olhando o rosto de Ted na fotografia sorrindo para ela, sentiu-se em paz.

— Ele nunca lhe disse... – falou Ane, colocando a mão sobre o ombro dela. – Mas ontem ele só falava como estava arrependido de não ter aproveitado os momentos com seus pais.

A mulher se voltou para ela, seus olhos estavam vermelhos.

— Eu só o vi de relance uma vez. Meu marido achou que era impressão minha. – disse a mulher se voltando para ela ainda ajoelhada, olhando para cima.

— Ted disse que sempre lhe vê chegando. – disse Ane chorando, mas sem expressar tristeza – Disse que sempre lhe vê antes de ir embora. E ele disse, disse muitas vezes... – e, colocando as mãos no ombro da mulher, revela - ...disse que lhe ama muito.

A mulher se levantou e, sem nada falar, se atracou em um abraço caloroso com Ane, enquanto chorava copiosamente. Ane retribuiu o abraço.

De onde estava, podia ver os seus pais, abraçados lado a lado e acompanhando tudo de longe, emocionados.


Na fotografia de Ted, figurava aquele sorriso.

Ah, aquele sorriso.

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