AQUELE SORRISO - 1ª Parte
— Se continuar com isso vou fazer você se arrepender. – disse uma voz severa.
Ane suspirou e revirou os olhos.
Ela realmente gostou do Dezembro do ano passado, quando fez quinze anos e teve uma festa de verdade.
Hoje, um ano depois e véspera de seu aniversário, estava com seu pai ao volante ouvindo músicas de um século atrás, sua mãe conversando qualquer banalidade para mantê-lo acordado durante a monotonia da estrada e Caíque brincando em um jogo qualquer no celular da mãe, com uma irritante musiquinha bem alta.
"Saco. Por que dar o telefone para um menino de seis anos?", pensava Ane.
Ela tentava ouvir músicas para dormir, mas começou a enjoar quando o carro subiu a serra. Em duas horas estariam na fazenda da avó e trocariam a monotonia da estrada pela monotonia da vida rural.
Lamentando, Ane escolheu um rock pesado, apertou os fones de ouvido e aumentou o volume. Sem perceber, começou a se mover e encostar o joelho no banco da frente, incomodando sua mãe.
Daí a ameaça.
Quando estavam no alto da serra, Ane desafivelou o cinto. Gostava de olhar o mar lá embaixo, quando as ondas estavam revoltadas era meio poético. Pela primeira vez na viagem ela sorriu, ao ver as ondas furiosas fazendo desenhos abstratos e lindos.
— Eliane Sena, coloque esse cinto de segurança agora. – diz sua mãe, severa.
— Mas mãe... – choramingou Ane – Assim eu não consigo ver o mar. Pai? – chamou ela.
— Obedeça sua mãe. – rebateu o homem, voltando sua cabeça para o banco de trás por um ou dois segundos.
Foi o suficiente.
Descendo a Serra em alta velocidade, uma motocicleta fez a curva fechada na contramão. Por instinto para não acertar o motociclista, o pai de Ane pisou no freio e jogou para o acostamento ao pé da montanha.
Quando fez isso, chegou perto demais da montanha e bateu a lateral do carro, derrapando, perdendo o controle e capotando duas vezes até parar de ponta cabeça, batendo na parede de pedra, abrindo mala e duas portas do carro e acionando airbags.
Havia ferimentos e sangue, mas todos gemiam de dor. Machucados, mas vivos. Os ferimentos não foram fatais e logo conseguiriam se recuperar, juntando suas versões da história.
A família dentro do carro diria que estavam em quatro, não em três.
E o motoqueiro diria que viu claramente quando uma pessoa foi arremessada do carro e lançada no mar abaixo.
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