Capítulo 05
EVELYN
POUCO TEMPO DEPOIS...
— Eve, você é luz para os meus olhos. Esse lugar não é o mesmo sem você.
— Menos Téo, você tem ótimos profissionais aqui e eu não faço a menor falta. E aí, alguma novidade? — pergunto enquanto passo o olhar pelo salão analisando o movimento que já começava a aumentar.
— Sim, duas. — Voltei minha total atenção às suas palavras.
— É? Então me conte logo quais são, oras.
— Primeira: Não entrei naquele escritório essa semana, portanto, há bastante trabalho acumulado lá para você.
— E desde quando isso é novidade, Teodoro? — falei rindo com as duas mãos na cintura.
— Desembucha, o que mais tem para mim?
— Seu cliente misterioso, que para mim não é mais um mistério, voltou. — Meu sorriso foi morrendo aos poucos, e minhas palavras sumiram.
— O que foi, o gato comeu a sua língua?
— Não sei do que você tá falando, não tem mistério algum. São todos clientes, do clube, não meus.
— Hum, mais tarde te conto o que ele aprontou aqui durante a semana. Agora, se veio trabalhar, vá logo porque a casa tá enchendo. — Ainda olhando estática para a cara do Téo, me obrigo a caminhar na direção do salão.
YURI
Uma semana, cinco malditos dias indo e voltando em todos os malditos lugares onde poderia encontrar a Evelyn e nada, nenhum sinal dela. Devo um pedido de desculpas para o Teodoro, dono do clube onde ela trabalha. Na quinta-feira, sei que passei dos limites e dei muito trabalho a ele e aos meus amigos. Sim, Rafael e Henrique fizeram a gentileza de me acompanhar até lá, mesmo eu estando com um humor do cão. Bom, os verdadeiros amigos nunca nos abandonam, mesmo quando não se tem a menor ideia do que estamos fazendo.
NOITE DE QUINTA-FEIRA...
— Onde ela está? Exijo saber onde você a escondeu.
— Senhor, por favor, peço que se acalme e me diga quem está procurando.
— Ela é uma ingrata, sabia? Me usou e depois foi embora. De fininho, sem deixar uma mensagem sequer. Acredita nisso? Eu, delegado Yuri, usado por uma mulher, e sabe o que é pior? É que eu sequer a conhecia até aquela noite. Agora não consigo mais pensar em outra coisa. Só naquela diaba. — Minha voz embolada misturou-se com muitas gargalhadas que eu dei, zombando de mim mesmo. — Não acha que ela me deve uma explicação por essa afronta?
— O.K. Delegado Yuri, não é? O senhor está bêbado e um tanto alterado, com isso, está começando a assustar os meus clientes.
— Claro que não, estou ótimo, não vê? Consigo até fazer um quatro sem que o meu corpo vá ao chão, olhe. — De uma forma muito ridícula, cruzei uma de minhas pernas imitando um quatro, tendo meu corpo escorado no balcão á minha frente.
— Venha comigo até o escritório, vamos conversar.
Olhei na direção da mesa onde há pouco eu bebia com os rapazes, ambos assistiam eufóricos ao show de uma das meninas. Pensei por um momento em quão linda minha estranha ficaria dançando ali. Só para mim, é claro. Jamais deixaria que aqueles marmanjos ficassem ali babando por ela. Ri sem humor e segui atrás do Teodoro por um corredor que nos levou ao seu escritório, depois de subir com muita dificuldade por uma escada.
— Sente-se, e me explique os detalhes de toda essa confusão, se conseguir falar. Acho que o melhor a fazer seria você ir para a sua casa e curar esse porre, a conversa pode esperar.
— Não, não pode. Não preciso de muita coisa, só que me diga onde ela está. — disse sério tentando ao máximo controlar a minha voz.
— Acho que você só pode estar falando da Eve, estou certo? Ou melhor, Evelyn.
— Hum, eu sabia. Não pode escondê-la de mim para sempre.
— Não estou fazendo isso, nem poderia. Evelyn é dona do próprio nariz e não é fixa aqui no clube. Trabalha como Freelance, e quando precisa se ausentar, apenas me comunica que não virá por alguns dias e eu contrato alguém para cobrir os dias em que ela fica fora.
— E ela disse onde estaria? Preciso encontrá-la, Teodoro, ou ficarei louco tentando. — falei para o homem de um metro e oitenta que permanecia de pé a minha frente com os braços cruzados sobre o peito.
— Não, ela não disse. E mesmo que eu soubesse, jamais diria a você sem a permissão dela. Tudo o que vai conseguir de mim é que ela estará de volta no próximo fim de semana. Se me contar exatamente o que está havendo entre vocês, talvez eu possa pegar o seu contato e achar conveniente, avisá-lo sobre sua chegada. É tudo o que posso fazer.
— Já é alguma coisa...- falei desanimado e vencido pelo cansado.
— Mas...tem que me promoter que não vai mais fazer cena lá embaixo. Prezo muito pela reputação que construí ao longo dos anos que tenho isso aqui, e não vou admitir mais escândalos, estamos entendidos?
— Sabia que eu sou delegado? Acho que você me deve um pouco mais de respeito.
— Aqui, no meu clube, você é só mais um cliente, que aliás está muito bêbado. Vamos, seus amigos o levarão para casa.
Depois de muito discutir com Teodoro, e insistir que minha profissão me concedia privilégios como permanecer no clube, anotei o meu contato em um pedaço de papel e dei o fora de lá, sendo guiado pelo Henrique até chegar a casa.
Na manhã seguinte, praguejei irritado ao sentir a pontada dolorosa em minha cabeça que vinha acompanhada pelo barulho estridente do toque do meu celular. Cobri a cabeça com um travesseiro na tentativa de ignorá-lo, mas alguém tinha muita urgência em falar comigo, pois, continuava insistindo. Vendo que não seria possível evitar, estendi o braço pegando o aparelho de cima do criado-mudo e atendi.
— O que foi? — atendi mal-humorado.
— Nossa! Quanta educação ao atender uma ligação. — Perla falou alto demais do outro lado da linha e meu sangue ferveu na hora.
— Seja lá o que for que esteja querendo, Perla, não deve falar comigo e sim com o meu advogado. Não tenho nada para conversar com você.
— Yuri, seu idiota rancoroso. Não precisava trocar o segredo das portas. Ainda moro nesta casa, esqueceu?
— Não, não mora. Ficou claro na última audiência que eu ficaria na minha casa. Você não tem direito algum de entrar aqui, até que o juiz leia a sentença e bata o martelo.
— Mas você foi para um hotel e depois voltou para casa, pensei que...
— Pensou errado, querida. Achou mesmo que eu estava abrindo mão de vê-la fora daqui? Não mesmo. Vá para a casa do seu amante, ou para o diabo que a carregue. Tanto faz.
— Você é muito rancoroso, sabia? A culpa por eu tê-lo traído é toda sua. Posso dizer o número exato de vezes que dormi sozinha nessa casa enorme, enquanto você estava vivendo um casamento com o seu trabalho, porque eu contei. Sou jovem demais para ser apenas um enfeite ou parte da mobília.
— Essa conversa não vai acontecer, Perla. Quer alguma coisa que ainda está aqui? Tudo bem, meu advogado poderá acompanhá-la para que pegue, mas não hoje, não agora. Não me ligue, eu te aviso quando. Não quero mais ouvir a sua voz. Passar bem.
Desliguei sem dar a ela a chance de argumentar mais. Por algum motivo, Perla acreditava na possibilidade de eu voltar atrás em minha decisão e perdoá-la. Sempre fui louco por ela, e esse é um dos motivos pelo qual prefiro não me arriscar em encontros desnecessários. Joguei o celular sobre a cama, e ainda me sentindo um pouco tonto pela bruta ressaca, entrei no banheiro e me joguei sob a ducha fria.
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