Capítulo 11


Capítulo 11

Otávio

A área de alimentação do Shopping Eldorado não teria sido minha primeira escolha, mas não diria não para uma refeição em outro lugar que não fosse a comida de micro-ondas de casa. Léo e eu estávamos administrando muito bem nosso tempo muito corrido, mas não deixava muito espaço para variação. Fomos criativos algumas vezes, para melhor ou para pior, nós dois fizemos uma careta e comemos o desastre culinário que tentamos fazer. A de ter algo diferente da nossa comida habitual, era mais do que atraente.

Era estranho, no entanto. Escolhemos um dos restaurantes com área privativa e estava meio vazio. Havia uma sensação de silêncio que não estava acostumado. As pessoas murmuravam umas para as outras, mas os assentos estavam espalhados ao acaso, para dar a todos um pouco de privacidade, suponho, já que tinham muito espaço.

Tantos assentos vazios não eram bons, para ser honesto, mas comida era comida.

Eu peguei o cardápio, tentando fingir que o clima entre nós não era, no mínimo, pouco confortável. Eu esqueci como era ir a algum lugar com opções, e a enorme quantidade de escolhas era um pouco esmagadora no começo.

— O que você vai pedir? — Perguntei a Léo, meu nariz ainda no próprio menu.

— Bem, não se preocupe com a conta. Hoje você é meu convidado. — Léo deu de ombros sem entusiasmo. — Sei que sua bolsa foi cortada e seus pais não são apoiadores entusiasmados da sua escolha de carreira.

— Tudo bem, — eu concordei. — Agradeço você por me levar para comer fora. — Isso soou errado, não queria contar ainda da possível nomeação como professor assistente. Gosto de ter as coisas certas antes de comemorar. Prometi internamente leva-lo para jantar quando acontecesse.

Bem, se eu tentasse consertar isso agora, atrairia mais atenção. Mantive minha boca fechada.

Leonardo começou a olhar pela parte final do menu. — Provavelmente devíamos fazer compras com o dinheiro do jantar ou algo mais prático, mas pensei que seria divertido? — A frase saiu mais como uma pergunta e ele olhou para mim como se não tivesse certeza do que eu iria pensar.

— Sim, um jantar fora é bem mais divertido, — disse a ele com um encolher de ombros. — Estou feliz por não ter que comer na minha própria comida. — Colegas de quarto saem pra jantar de vez em quando. Isso é normal.

Fui até a seção de jantar, querendo algo substancial, mas nem mesmo sabendo por onde começar. Léo parecia estar com o mesmo problema. Seus olhos estavam passando pelo cardápio de novo e de novo, mas ele continuou voltando para a seção com o bolo de carne. Finalmente, ele olhou para mim. — É estúpido eu não poder decidir?

— Vendo como estou sentado aqui por dez minutos tentando escolher? Não, — eu respondi, piscando-lhe um sorriso.

O sorriso de Leonardo aumentou. — Eu vou pegar o bife. — O sorriso vacilou, e ele começou a parecer um pouco menos seguro de si mesmo. — Hum, você quer dividir? Como se você pegasse metade da minha, e eu pegasse metade da sua? Então, só no caso de o seu ser uma porcaria, você não fica sem jantar?

Fazia anos desde que eu saí para comer fora, e não deveria ter me surpreendido que tantas coisas tivessem mudado. Eu não conhecia Léo, não profundamente, e ele não era a pessoa mais fácil de se conhecer. Ele era tão sério, tão sincero, mas ao mesmo tempo...

Ele era vulnerável, incapaz de esconder suas emoções. Não pude deixar de me perguntar se eu era ilegível para ele, se tudo era tão novo quanto era para mim ou se eu era mais previsível.

— Bife é bom, — eu concordei sorrindo. — Em seguida, você vai me dizer que gosta de garotos.

E se ele gostasse? Ele nunca levou ninguém ao apartamento, mas soube de uma namorada. Uns anos atrás. Eu acho.

Isso tornaria tudo ainda mais complicado, mas do que já era. Tomei um gole da minha água, tentando não me contorcer.

Leonardo apenas piscou para mim, e pude ver milhares de pensamentos em seu rosto. Eu imaginei ele rindo ou até mesmo fazendo algum tipo de comentário sarcástico como eu faria, mas a resposta dele não era nada como eu esperava.

— Não acho que mudei muito desde que entrei na faculdade até agora, mas acho que isso significa que sabia do que eu gostava desde sempre. — A frase foi um pouco complicada, mas se eu a seguisse corretamente...

Não. Eu não queria tentar adivinhar o que ele queria dizer. Isso só iria confundir tudo ainda mais. Antes que eu pudesse descobrir uma maneira de quebrar o silêncio constrangedor, a garçonete parou ao lado da mesa. — Vocês meninos decidiram o que vão querer? —, perguntou ela. Provavelmente era a terceira vez que ela aparecia, mas ainda era tão casual e amigável quanto às duas primeiras vezes.

— Oh. — Eu disse, mexendo enquanto tentava me lembrar como usar palavras. — Eu vou querer risoto de funghi. Ele vai querer o bife, meio cozido.

— Claro, — disse ela, inclinando em um aceno de cabeça.

Não foi até que ela saiu que percebi que tinha feito o pedido sem perguntar nada para Leonardo.

— Hum. Desculpe? — Me aventurei.

Léo levantou o ombro em um encolher casual. — Não me importo quando você se cuida de mim.

Ele honestamente não parecia perceber como saiu. Quando comecei a tossir, ele olhou para mim, como se estivesse começando a se preocupar com minha saúde, ou talvez apenas com minha saúde mental, que parecia estar pendurada por um fio ultimamente.

— Você está bem? — Sua expressão confusa ficou preocupada quando levei um minuto para recuperar o fôlego. Levei mais alguns segundos para me recompor, mas assenti rapidamente.

— Oh, sim, completamente bem, — eu menti. — Apenas um pouco de tosse. — Como se para provar o ponto, peguei meu copo de água e tomei um gole. — Bem agora. Como vai o projeto? — Perguntei, e percebi tarde demais que estava transformando a conversa em zonas de "perigo" e "não entre" — Pelo amor de Deus Otávio, pare com essa porra de linha de raciocínio agora —, sinais de alerta pulavam na dentro da minha cabeça.

Suas sobrancelhas se uniram e ele olhou para a mesa. Seus ombros se curvaram e sua preocupação se desvaneceu em algo que parecia vergonha. — Hum, algumas coisas estão indo bem. Eu conversei com... Eu entrevistei alguém sobre o estilo de vida, então isso será bom para a argumentação, mas a parte prática real não está indo tão bem.

Ele realmente conversou com alguém? Fiquei boquiaberto por um momento, surpreso. — Como foi? — Eu finalmente consegui falar. — Está mesmo conversando com alguém? Quero dizer, talvez eles pudessem te ajudar com a parte prática... — Parei, surpreso pela feroz pontada de ciúmes que a ideia evocou.

Não, não era ciúme. Estava me sentindo protetor com meu colega de quarto ingênuo.

Ele levantou a cabeça e sua carranca se aprofundou. — Não, é apenas informação. Foi interessante. Hum, você queria... Quero dizer, você quer que eu encontre alguém para me ajudar? Eu acho que sei como encontrar mais pessoas nesse estilo de vida agora, mas você disse... — Sua voz sumiu. Ele corou antes de olhar de volta para a mesa, de repente fascinado pela maneira como seus talheres estavam embrulhados.

— Não! — Eu disse, um pouco apressadamente. — Não, — repeti, tomando meu tempo repetindo a palavra. — Está tudo bem. Se ainda quer minha ajuda, eu ajudo. Eu gostaria de ajudar, como da última vez. — Com aquela paz perfeita descendo sobre nós, e me sentindo mais perto dele do que tinha há muito tempo. O resto... O resto, eu poderia lidar mais tarde.

Muito tarde.

Talvez nunca.

— Qual... parte você está tendo problema? — Eu perguntei.

Seu corpo caiu no assento, alívio claro em seu rosto quando eu disse a ele que não estava tentando deixar de ajudar. Mas, evidentemente, entrevistar alguém era mais fácil do que admitir o que ele realmente precisava que eu fizesse, porque ele ficou da cor de um tomate maduro e sua boca se fechou de novo.

Não sei como responder, apenas olhei para ele. Não ia começar a listar a merda para tentar adivinhar. Isso ficaria estranho rapidamente, se já não estivéssemos lá. Finalmente, Leonardo olhou para a mesa e começou a pegar o guardanapo. — Eu... — Ele respirou fundo e começou de novo. — Eu não consegui fazer mais nada sozinho.

Outra respiração profunda fez meu estômago revirar. O que ele ia dizer?

— Quero tentar...quero dizer, eu preciso saber como me sinto com tudo isso. — Ele ficou quieto por mais um momento, em seguida, olhou para mim antes de seus olhos voltarem para o guardanapo, que estava sobre a mesa rasgado em pedaços. — Eu nunca fiz nada... e eu não sei como...

Léo estava claramente se debatendo, mas apenas fiquei sentado, atordoado.

Finalmente, algo estúpido acabou de sair. — Você quer dizer a cauda?

Eu não deveria ter perguntado, porque o pensamento dele nu na minha frente com o rabo enfiado na sua bunda... e vê-lo abanar quando o chamasse de um bom menino, me fez mexer desconfortavelmente no meu lugar.

Eu não sabia por que era tão atraente. Este era a porra do meu colega de quarto nerd. Mas de repente, desesperadamente, esperava que fosse o que ele queria dizer.

Leonardo começou a rasgar pequenos pedaços de papel que se espalhavam na mesa. Ele ficou quieto por tanto tempo que comecei a pensar que ele não estava planejando responder. Assim que comecei a abrir a boca, ele olhou para mim novamente e assentiu.

Ele parecia vulnerável e assustado, como se estivesse com tanto medo do que eu diria que mal conseguia pensar.

— Tudo bem, — eu disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo ajudar um amigo a ser um cachorrinho, e jogando como seu mestre, ainda por cima. — Você quer fazer, quando chegarmos em casa?

As garçonetes sempre tinham uma noção perfeita do tempo, e as nossas voltavam com nossos pratos na mão antes que ele pudesse responder. Pelo olhar no rosto de Léo, eu não tinha certeza se ele estava aliviado ou com medo de que quanto mais isso demorasse, mais estranho ficaria.

— Cuidado. Os pratos estão quentes — disse ela, como se não tivesse acabado de interromper um momento carregado de tensão.

Eu deveria ter ficado aliviado com o adiamento, mas fiquei aborrecido. Isso daria a Leonardo a chance de repensar, desistir e eu não queria que isso acontecesse.

— Obrigado, — eu disse, oferecendo-lhe um sorriso.

— Claro — ela respondeu. — Precisa de mais alguma coisa?

— Eu não. — Olhei para Léo, arqueando uma sobrancelha. — Você?

— Eu, um, preciso de outro guardanapo. — Leonardo apontou para a bagunça, um pouco embaraçado.

— Não tem problema querido. — A garçonete mais velha sorriu compreensiva. — Aqui, deixe-me ajudar. — Ela recolheu os pequenos pedaços de forma eficiente e parecia magicamente produzir mais guardanapos do avental que estava em volta de sua cintura. — E não se preocupe com isso. Tenho certeza de que ele está tão nervoso quanto você em seu primeiro encontro. Ora, a tensão entre vocês meninos poderia ser cortada com uma faca. Apenas relaxe e conheça um ao outro. — Léo deu-lhe um olhar tímido antes de lançar um rápido olhar para mim. Estava esperando que ele a corrigisse, mas ele apenas se mexeu em seu assento e olhou para o jantar. — Obrigado.

Eu fiquei boquiaberto. O que eu deveria dizer sobre isso? Nosso primeiro encontro?

Por que achei que Leonardo iria desconsiderar esse negócio de primeiro encontro? Por que eu não fiz isso?

E não pude deixar de pensar que se estivéssemos namorando seria nosso primeiro encontro, mas nós não estávamos. Mas então Léo não havia dito a ela o contrário. Muito embaraçoso, talvez?

Ela estava certa sobre uma coisa, no entanto. Nós precisávamos nos conhecer.

— Obrigado, — eu ecoei fracamente, fui atingido pelo comentário mais do que queria admitir.

Esperei que ela fosse embora e olhei para Leonardo, não tendo a mínima ideia do que dizer.

Léo percebeu que eu estava atordoado em silêncio ou não tinha ideia do que dizer, porque ele olhou para mim sem jeito, em seguida, gesticulou para os pratos. — Você quer experimentar um pouco do bife? — Ele conseguiu me dar um sorriso provocante. — Eu sei que é médio, mesmo que não tenha certeza de todo o resto. — Não estou pronto para admitir que não tinha ideia do que dizer, assenti e comecei a me concentrar na comida. Meu colega e eu estávamos nos dando muito bem ultimamente, então isso não deveria ter sido estranho. Mas havia algo mais, alguma tensão elétrica que eu não conseguia explicar, e também não tinha ideia do que fazer com aquilo.

Leonardo começou a cortar seu bife ao meio, mas parou por um momento para cortar uma única mordida. Segurando o garfo hesitante, ele estendeu a mão por cima da mesa e me ofereceu o pedaço. — Então você pode ver se gosta.

Não sabia se eu deveria pegar o garfo ou apenas comer da mão dele, mas porra, se nós vamos tratar isso como um encontro...

**

olá filhotes e mestres,

o clima tá esquentando. como eles vão lidar com essa coisa que está nascendo entre eles? não só a cena de Mestre/filhote... todo esse sentimento represado. espero que quando a represa romper não afogue eles no processo.

está gostando? deixe seu comentário. clica na estrelinha. deixa a autora motivada para escrever mais.

bjokas e até a próxima att. 

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