DEGUSTAÇÃO: A Loja
DING DONG.
A porta automática da lojinha de conveniência abre de repente.
Cambaleio para dentro do estabelecimento suspeito e minhas narinas são imediatamente invadidas pelo cheiro forte de eucalipto fresh, que emana do piso branco impecavelmente lustroso do lugar.
— Bem-vindo à Apocrypha, a loja além das possibilidades! — o jovem de voz irritante atrás do balcão me recebe com um sorriso forçado, depositando uma pequena ampulheta sobre o balcão e derrubando uma placa de avisos qualquer — Seus trinta minutos começam agora.
Quando infernos eu decidi comprar alguma coisa em um loja de conveniência à essa hora da noite? Nem lembro como cheguei aqui pra início de conversa!
Mas mais importante ainda: Apocrypha? Que nome idiota é esse?
— Obrigado... — respondo sem paciência, fingindo o mínimo possível de educação — Mas acho que me enganei ou me distraí e entrei aqui sem querer.
— Ninguém entra aqui sem querer. — responde o jovem, sem mover o olhar de minha direção.
Quer saber? Tô fora!
Viro em direção à porta automática, mas a mesma não aciona o sensor e permanece fechada. Gesticulo, empurro o vidro e até pulo na frente da porcaria de porta. Nada.
— Só abre depois que o timer zerar os trinta minutos ou você comprar algum item da loja. — adverte o rapaz do balcão, com o mesmo sorriso besta de antes.
— Isso é ridículo.
— Isso são as regras do estabelecimento. Quando você entrou aqui, automaticamente concordou com elas, gostando ou não.
— Não lembro de ter sido avisado.
O rapaz dá os ombros e lança um olhar indutivo na direção da ampulheta, como se quisesse me apressar ou algo assim.
Suspiro profundamente. Mesmo confuso com a situação estranha, não sinto perigo nenhum nessa loja de conveniência que nada tem de diferente do que qualquer outra do tipo. Exceto o nome e as regras.
Até mesmo o rapaz franzino de cabelos castanhos e piercing no nariz não tem nada de anormal além do sorriso estranho e da cara de paspalho.
Tento me localizar enxergando através dos vidros da porta e da fachada mas um espesso nevoeiro do lado de fora impede a visão. Só consigo enxergar uma infinidade branca, como se a cidade tivesse sido tomada por aquela fumaça fodida do Stephen King.
"Calma Clive, tá tudo bem. Na vida tudo sempre tem uma explicação plausível." — fecho os olhos e penso positivo por alguns segundos.
Me aproximo do balcão ignorando a ampulheta e todo aquele papo de regra, enfio a mão em um cesto de balinhas de menta e as bato contra o balcão enquanto minha outra mão afunda no bolso da jaqueta procurando alguns trocados.
— Dez balas de menta ficam por quinhentos. — contabiliza o jovem, dedilhando as guloseimas.
— Não brinca. — respondo rindo, jogando alguns trocados sobre o balcão de vidro. — Quinhentos reais nessas balinhas?
— Reais? Não senhor, não aceitamos esse tipo de pagamento aqui.
— E vou pagar com o quê então?
O atendente aponta para a etiqueta grudada no cesto de balas.
"50 D$ cada!"
— D$? Não faço a menor ideia do que seja essa moeda.
O jovem atendente responde puxando uma pequena tabela de preços por de trás do balcão, à oferecendo com a mesma cara irritante de antes.
Mesmo contrariado, arranco a cartolina porcamente plastificada das mãos do rapaz e finalmente entendo o que a sigla D$ significa. Na verdade, entender mesmo eu não entendi coisa nenhuma, só fiquei mais confuso e nervoso ainda.
D$ - DIAS DE VIDA
A$ - ANOS DE VIDA
MS$ - MEMÓRIA SELECIONADA
MA$ - MEMÓRIA ALEATÓRIA
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