v i n t e e n o v e . p a r t e d o i s
Treinar sozinho é muito chato, porém ajuda a manter concentração e a afugentar pensamentos ruins e insistentes. O parque perto do condomínio onde moramos, possui uma área verde preservada muito linda e que possui muitos animais resgatados de zonas de perigo.
A natureza de alguma forma me acalma.
O estranho silêncio de Adela e a conversa em grupo que tivemos mais cedo, gerou uma possibilidade em minha mente que me deixou extremamente inquieto e assustado: a possibilidade de termos ido rápido demais.
Apesar de muitos homens idiotas desconsiderarem o prazer feminino, eu sempre procuro deixar minhas parceiras o mais confortáveis possíveis em uma relação sexual, afinal mesmo sem sentimento romântico envolvido, é uma troca entre duas pessoas. Pode ser algo natural para o ser humano, porém sem o consentimento e a confiança necessária de ambas as partes, se torna vazio e em alguns casos traumáticos.
Preciso encontrar uma maneira de conversar com ela sobre isso, não gosto de pensar que tornei algo que poderia ter sido tão legal para ela em algo para ser esquecido.
Quando voltei para o apartamento, o encontrei parcialmente vazio. Sentado em uma das poltronas da sala de televisão, Logan me esperava com um livro estranho nas mãos, provavelmente de outra pessoa, já que ele não é muito fã de romances.
As prateleiras do seu quarto são repletas de livros de suspense policial e alguns únicos de terror, que geralmente ele pegava para ler apenas em época de Halloween ou em sextas-feiras treze, um hábito estranho adquirido há muito tempo por causa da mãe que é uma cinéfila de carteirinha.
— O que houve, agora? — Perguntei tirando os fones do meu ouvido, a música Sweet Child O Mine ainda retinia em meus tímpanos me trazendo uma sensação simplória de paz. — Não me diga que aconteceu mais uma coisa? Se tiver, me conte apenas amanhã, minha cota para problemas para hoje já estourou.
Logan negou com um aceno rápido de cabeça.
— Não é nada disso.
— Então...
— Provavelmente irei me arrepender disso futuramente. — Murmurou se levantando da poltrona visivelmente nervoso, como se não tivesse tão certo do que estava prestes a fazer. — Pegue. Acho que isso vai te ajudar com a sua garota.
Logan enfiou o livro em minhas mãos rapidamente, como se o objeto estivesse queimando as suas mãos. Encarei o item sem entender como um romance de época água com açúcar e com um homem seminu, poderia me ajudar a chamar a atenção da Adela.
Porra, o que eu vou fazer com isso?
— Esse livro é dela, estava lendo na boate. — Explicou ao notar minha cara de idiota, só minha princesa mesmo para ler em meio a uma boate de música eletrônica. — Ela esqueceu no balcão no meio da confusão. Peguei para devolver depois, mas ao notar o seu estado hoje de manhã, achei melhor te entregar.
Sei bem do que ele estava falando, James não me deixaria esquecer nunca o mico que paguei mais cedo, o desgraçado deixou em minha cama antes de sair, um panfleto com instruções para jovens precoces.
— Fez bem, muito obrigada. — Agradeci, já imaginando a sua expressão quando receber o livro de um jeitinho especial. — Estava há tempos procurando um motivo para chamar a atenção dela.
Logan riu do meu desespero.
— Só espero que você saiba o que está fazendo. — Logan pediu um pouco mais cauteloso. — Não quero que tudo isso acabe em um desastre, ela é uma mulher maravilhosa, não merece ser magoada.
— Se depender de mim, isso nunca vai acontecer.
Sentindo uma animação estranha me preencher, ignorei o cansaço do meu corpo e com a carteira em mãos, rumei em direção a porta.
— Vem comigo!
Tenho uma missão para concluir.
As lágrimas gélidas desciam pelo meu rosto, extravasando para fora do meu corpo toda a dor que estava sentindo no momento. Tentei conter os soluços para não acordar Samantha que ainda dormia na cama ao lado, provavelmente ficaria apagada por um longo tempo por conta da bebida, mas não arriscaria acordá-la sem necessidade.
Mesmo que quisesse devolver o sorriso ao seu rosto e aconselhá-la nesse processo, não posso obrigá-la a encarrar o passado cheio de mágoas que construiu ao lado do meu irmão.
Nem sempre empurrar uma pessoa em direção ao abismo é a melhor solução, o final dele pode não ser macio e causar danos ainda piores que os anteriores.
Apoiei o aparelho Kindle na mesa de cabeceira, sem acreditar que Liam havia criado uma história de romance aquiliano tão lindo e tão emocionante, para depois me destruir com um final trágico e totalmente inesperado.
Preciso urgentemente da continuação desse futuro best-seller nacional.
Com um lenço de papel limpei o meu rosto em uma tentativa falha de esconder a minha emoção, meus olhos vermelhos e rosto inchado me denunciavam facilmente para qualquer pessoa.
Meu irmão facilmente deduziria o que tinha acontecido comigo, ele já estava acostumado com a minha mania de chorar com livros tristes — um vício que não estava disposta a abrir mão tão cedo — e diversas vezes ele me encontrou chorando como uma louca em meu quarto.
Peguei meu celular dentro da gaveta, apesar de ter passado a noite inteira em claro para terminar o livro, tenho responsabilidades a cumprir com a faculdade e com a minha família.
Por causa dessas mesmas responsabilidades, que estou tentando evitar o máximo me encontrar com o Ethan. Depois daquela noite, toda vez que penso nele, sinto um calor latejante subir pelo meu corpo e se concentrar no meio das minhas pernas, me deixando quase subindo pelas paredes.
Não quero ele pense que estou ficando desesperada por sexo, afinal quem está no comando da relação sou eu, não posso deixar que ele pense o contrário e tome as rédeas da situação. A fama dele corre pelos corredores da faculdade, não pretendo ser mais uma que volta chorando para casa com o coração partido e com a autoestima no chão.
Por duas vezes nessa semana tive que me aliviar sozinha durante o banho, imaginando o seu corpo colado no meu e a sua respiração batendo contra a minha carótida, enquanto distribuía beijos quentes em meu pescoço e a sua mão no lugar da minha dando estocadas firmes em minha intimidade me deixando extasiada.
Ethan acordou algo em mim que ainda não sei como lidar, minha sexualidade sempre foi uma questão que deixei de lado em minha vida para focar em coisas mais importantes, como em meus estudos, mas agora que experimentei um pouco desse meu lado mais ousado, não quero abrir mão de novas experiências que ele pode me proporcionar.
Com um aceno rápido de cabeça, dispensei esse pensamentos e voltei a ficar no aparelho eletrônico em minhas mãos. Diferente das outras vezes, não havia nenhuma mensagem dele, pelo visto finalmente havia entendido sua posição em minha vida.
Liam havia me mandado algumas mensagens perguntando se nós duas estávamos precisando de alguma coisa, rapidamente digitei uma resposta negando qualquer ajuda por enquanto. Mudando para um assunto mais feliz, digitei com um sorriso no rosto minha opinião sobre o romance que ele havia escrito.
— Ah, merda. — Balbuciei ao me deparar com uma mensagem da minha professora de redação, me convidando para almoçar com o único intuito de saber mais sobre o meu trabalho pendente.
O único problema é que esqueci de refazer a redação.
Como posso explicar para ela, que por causa do seu maldito conselho minha vida tinha virado de cabeça para baixo em menos de um mês de ano letivo? Não sei nem se consigo expressar em um papel tudo o que aconteceu durante esses dias.
A folha de papel com a logo da faculdade continuava repousada em cima da escrivaninha há semanas, em um sinal evidente da minha falta de produtividade por esses últimos dias.
A contra gosto mandei uma mensagem pedindo para Liam vir correndo para o apartamento, alguém tinha que cuidar para Sam não fazer nenhuma besteira quando acordasse.
Já bastava o prejuízo que John causou em uma única noite de bebedeira. Só de lembrar que estou devendo um favor enorme para Alexia por culpa dele, sinto vontade espancá-lo com um taco de beisebol.
Tinha que correr contra o tempo.
O restaurante do campus possui um clima muito agradável nessa época do ano, nem muito quente nem muito frio, ótimo para usar roupas leves e confortáveis durante as aulas da faculdade. Tem muitos que preferem o inverno, mas eu simplesmente não suporto o clima gélido e as roupas volumosas que me tornam menor do que realmente sou.
Se eu não estivesse prestes a ser estrangulada pela minha professora, poderia dizer que estava aproveitando o raro momento de passeio.
— Estamos aqui a meia hora, querida. — Juliet comentou dando um gole em seu milkshake de graviola com um canudo de papel, que combinava perfeitamente com a sua camiseta descolada do Greenpeace. — Apesar de estar aproveitando o nosso almoço, necessito de respostas sobre o seu trabalho.
Assim como eu, estava usando uma roupa confortável e totalmente fora dos padrões exigidos pela faculdade para uma professora de sua categoria. Parecíamos duas mulheres jovens conversando sobre trivialidades de um dia normal e não uma relação profissional de educadora e aluna.
Adorei.
— Não consegui terminar de escrever a redação. — Confessei me reunindo de coragem para contar a verdade. — Depois que segui o conselho que me deu no nosso último encontro, aconteceram coisas muito estranhas em minha vida.
Juliet respirou fundo e me analisou.
— Você transou, querida. — Juliet soltou de repente, me fazendo engasgar com a minha própria saliva. — Ou pelo menos gozou loucamente com um cara que sabe fazer uma boa preliminar.
Sinalizei para que ela falasse mais baixo, enquanto olhava ao redor em uma tentativa falha de verificar se alguém estava ouvindo nossa conversa, tudo o que menos quero no momento é que a minha vida sexual seja o próximo assunto dos fofoqueiros de plantão.
— Sexo é algo comum na vida de qualquer ser humano, não sinta vergonha por estar explorando esse lado que até pouco tempo estava aprisionado dentro de você. — Juliet explicou segurando minha mão em sinal de apoio. — Estudar e realizar sonhos é importante, mas deixar de lado a sua felicidade é inaceitável.
Assenti em concordância.
Eu sabia que ela estava certa, desde que sai prejudicada no colégio após me envolver romanticamente com um canalha que tentou forçar a barra comigo, que venho me blindando contra qualquer tipo de envolvimento com outra pessoa.
Ethan foi o único que conseguiu ultrapassar essa barreira e mesmo assim ainda vejo em flashs quando olho para ele, a expressão de desgosto no rosto dos meus pais quando fui reprovada pela primeira e única vez.
É um fantasma que me persegue e me impulsiona desde os quatorze anos.
— Vamos, me conte como tudo aconteceu. — Juliet pediu visivelmente empolgada com as minhas recentes descobertas sexuais. — O que foi? Minha vida de professora universitária não tão empolgante assim, preciso me distrair com vida sórdida dos meus alunos.
Fiquei receosa, mas como estou precisando de uma segunda opinião acabei narrando tudo o que aconteceu desde o início, apenas omiti o nome da pessoa com quem acabei me envolvendo, mesmo acreditando em sua discrição profissional, preferi não me arriscar mais do que já estou me arriscando com isso tudo.
— Então, vocês estão em uma espécie de amizade colorida? — Juliet indagou quando terminei minha história, parecendo avaliar minha escolha. — Sem compromisso ou responsabilidades com o outro, gostei.
Bufei indignada, esperava que ela me disse-se que isso era uma loucura.
— Esse é o problema, nem mesmo somos amigos. — Retruquei indignada com a calma que ela estava demonstrando. — Na verdade nos odiamos em boa parte do tempo, até o início desse ano mal havia trocado duas palavras com ele.
— Queria eu ter esse tipo de inimizade. — Juliet murmurou reflexiva. — Geralmente as pessoas que odeio querem colocar arsênico em meu café.
Nesse momento meu sorvete de chocolate com morango chegou, nos distraindo do assunto principal. Uma pausa que me ajudou a reorganizar as ideias em minha cabeça, procurei a professora em busca de conselhos sábios que me fizesse desistir de tudo isso, mas ao invés disso, encontrei uma versão mais nova da minha mãe.
— Já que não pode dizer o nome do felizardo, me descreva como ele é.
Descrever o desgraçado é a última coisa que quero no momento, me lembrar da sua aparência de cretino sedutor me deixa inquieta comigo mesma. Ele sabe que é bonito e usa isso ao seu favor quando estamos juntos. Uma mistura extasiante de Nehra Mitra de Lágrimas de Diamente e de Honw Voyer de Sáfira de Prata.
— Um arrogante presunçoso. — Resumi, não perdendo a oportunidade de alfinetá-lo. — Na verdade nem sei...
Antes que eu pudesse concluir minha fala, um rapaz moreno de aparentemente quase trinta anos nos interrompeu, carregando consigo um enorme ramalhete de rosas em um braço e no outro um livro.
Ah, merda.
É o meu livro.
Não tinha como não reconhecer o meu marcador de página de silicone com um pompom rosa, foi um presente de aniversário do meu pai, feito somente para mim.
— Adela Steiner? — Perguntou depositando de qualquer jeito as rosas em cima da mesa, como se quisesse se livrar delas o mais rápido possível. — Essa entrega é para à senhorita, pode assinar aqui por favor?
Ainda atônita assinei o recibo de entrega sem ao menos verificar se a minha letra estava legível. O que diabos estava acontecendo?
— O livro também faz parte da encomenda, tem algo dentro dele para você. — Explicou ao notar minha confusão. — Tenha cuidado com as rosas, elas possuem espinhos bem afiados.
Sem mais nenhuma explicação, o entregador saiu me deixando para trás com cara de tonta. Olhei para o exemplar bem conservado de Corte de Névoa e Fúria em minhas mãos e notei que saindo dele havia um pedaço de papel que antes não estava lá.
— Leia, querida. — Juliet incentivou. — Pior do que descobrir que o Tamlin é um babaca opressor e machista, não pode ficar.
Respirando fundo peguei e desdobrei o papel cautelosamente, me deparando com um bilhete curto e objetivo. E pelo teor malicioso do conteúdo só havia uma única pessoa que poderia ter me mandado.
Ethan.
Espero que tenha gostado de recuperar o seu livro, princesa.
Não espero um agradecimento formal de sua parte, só de você lembrar de mim todas as vezes que olhar para ele, já é uma recompensa valiosa. Mas caso esteja entediada por esses dias — como por exemplo, hoje — saiba que estou disposto a encenar um capítulo cinquenta e cinco com você.
Ah, merda.
Meu gosto peculiar para livros eróticos foi descoberto. Ethan vai me perturbar pelo resto da minha vida com essa informação.
— Professora, eu preciso ir. — Informei pegando minha bolsa que estava pendurada na cadeira de maneira desajeitada. — Te entrego a redação amanhã, não se preocupe.
Juliet deu de ombros.
— Deixa para semana que vem. Parece que você vai estar bem ocupada por esses dias.
Senti meu rosto queimar por seu comentário sugestivo. Se Ethan estava querendo chamar minha atenção, ele conseguiu da pior maneira possível, nunca mais poderei encarar minha professora sem corar como uma adolescente do ensino fundamental.
Encenar o capítulo cinquenta e cinco?
Eu vou matar esse cretino.
Espero que tenham gostado!
Capítulo cinquenta e cinco?! Nunca pensei que escrever uma personagem bookstan fosse tão divertido, tenho várias referências para usar.
Caso queiram conferir conteúdos extras sobre os personagens, no insta @beatrizescreve trago alguns conteúdos extras para vocês que estão dando uma chance para essa história :)
Me desculpem qualquer erro de ortografia, escrevo muitas vezes pelo celular e as vezes um errinho escapa da minha revisão.
Até o próximo capítulo!
Se gostou vote na estrelinha por favor para ajudar no crescimento da história.
E S T R E L I N H A ⭐️
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