t r i n t a e s e t e

O treino terminou da melhor forma possível, os outros caras do time estão melhorando muito e com mais algumas semanas de treino estarão todos prontos para o jogo da semana que vem, dessa vez vamos enfrentar um time forte, aos poucos estamos nos encaminhando para a final, sinto que dessa vez sairemos vencedores da competição.

Até os efeitos colaterais terríveis do remédio que tomo diariamente para melhorar a minha concentração e diminuir os sintomas do déficit de atenção estão menores, não sinto enjoo pela manhã e nem falta de sono a noite.

O comprimido branco contra a minha é um dos poucos e quase rasos recursos que tenho para me ajudar com o meu problema. Na verdade, o melhor "remédio" para o déficit e para a minha dislexia é a terapia, me sinto muito melhor durante as consultas, principalmente porque está me ajudando a me aceitar como eu sou.

Por conta da minha rotina, infelizmente tenho que me contentar com as minhas consultas on-line, me locomover três horas de carro uma vez na semana para outra cidade é muito exaustivo para encaixar em minha rotina pesada de treinos e de estudos. Um dos pontos positivos disso, é que consigo ter mais de uma consulta por semana e em diferentes horários do dia.

Joguei o comprimido na garganta e engoli com um pouco de água da minha garrafinha térmica. Com base nos meus horários de aula, tenho duas horas para dormir e descansar até encarar mais cinco horas de aula sem pausa no campus de advocacia.

Espero em breve conseguir a minha tão sonhada vaga em um time grande, sempre tem um olheiro nos observando nas arquibancadas e eu confio que dessa vez eles vão me notar na minha melhor forma.

Antes que eu pudesse concluir o meu pensamento, senti um soco forte em meu ombro que me fez por impulso soltar a garrafa que estava em minha mão no chão. A garrafa não quebrou, mas como ela é feita de alumínio, estrondou um som horrível no vestiário, quase me deixando surdo. 

— Resolveu dar uma de cupido agora? — Liam perguntou surgindo das profundezas do inferno, estampando um sorriso arrogante que indicava que não estava realmente bravo comigo. — Você não precisava fazer isso por mim.

— Você estava com uma cara de merda durante a semana inteira, seu rendimento e o do James na quadra estava péssimo, como capitão precisei tomar uma atitude.

Tentei manter a minha pose de capitão sem sentimentos, mas logo comecei a rir ao notar as marcas roxas no pescoço do meu amigo.

— Filho da puta, você me ajudou muito no meu relacionamento com a Adela, não fiz nada demais comparado com o que você fez comigo.

— Obrigado, Ethan — Logan me agradeceu com um sorriso emocionado — James estava preso demais no próprio medo para encarar que ele estava jogando fora o que sentíamos um pelo o outro. Pode ser que no futuro nossos caminhos sejam diferentes, mas agora está tão certo.

— Você não sabe o quanto eu fico feliz por vocês dois — Falei deixando bem claro o meu apoio aos dois — Não deixe ninguém acabar com isso, lutem pelo relacionamento de vocês.

Meu celular vibrou no bolso chamando a minha atenção, sempre deixo vibrando para não me distrair de minhas atividades, qualquer coisa mais interessante me distrai do que eu estou fazendo. Franzindo o cenho, notei no visor do celular um contato que até então nunca tinha me ligado.

— É a sua garota? — Logan perguntou em um tom de voz baixo.

— Não, é a Samantha — Respondi, preocupado, atendendo a ligação em seguida. A garota nunca tinha me ligado durante os nossos anos de faculdade, apesar de termos muito contato nas festas universitárias — Sam, aconteceu alguma coisa?

O silêncio do outro lado da linha fez o meu sangue gelar, ela nunca é silenciosa.

— Sam?

— É a Adela.

Porra.

— O que aconteceu com ela?

— Adela está tendo uma crise de ansiedade — Sam explicou com a voz embargada — Ela está trancada no quarto chorando e eu não sei mais o que fazer, preciso da sua ajuda Ethan.

– Estou indo para aí.

O trajeto do meu apartamento para o da minha namorada não é muito longo, de acordo com o GPS não dura menos que cinco minutos de carro, mas nunca me pareceu tão longo como hoje.

Cada um dos malditos minutos me soou como longas horas.

Logan nem ao menos me perguntou quando simplesmente sai correndo do vestiário que nem um louco. Adela já tinha me mencionado que desde muito novinha enfrenta problemas com a ansiedade, a necessidade de ser perfeita e a pressão de ser a primeira mulher a concluir uma universidade em sua família veio pouco a pouco pesando em seu ombros, gerando alguns comportamentos prejudiciais à sua saúde.

John de vez em quando comentava no vestiário sobre o assunto, mas nunca dei muita importância. Agora, que Adela se tornou uma das pessoas mais importantes da minha vida daria tudo para voltar no tempo e ter escutado.

– Onde ela está? – Perguntei assim que avistei Sam sentada na calçada da rua.

– No quarto – Ela respondeu em um tom cansado – Adela chegou assim hoje a tarde, alguma coisa provocou nela um gatilho para a crise de ansiedade.

Durante as nossas conversas, Adela me explicou muitos termos e variações da ansiedade. Gatilho é termo que se refere a situações, frases ou momentos que remetem ao trauma da pessoa, gerando uma crise de ansiedade ou um mal estar.

– Ela não disse nada? Não explicou o que aconteceu?

– Não, quando ela fica assim não fala com ninguém – Sam tirou do bolso uma chave pequena e me entregou – Geralmente chamo o John para ajudá-la, mas eu tenho certeza que dessa vez a minha amiga vai preferir ver você.

– Eu não tenho ideia do que fazer – Confessei sentindo um aperto no peito, me sentindo um inútil por não saber como ajudá-la.

Sam me olhou como se eu fosse um idiota.

– Você a ama – Sam afirmou com um pequeno sorriso – O seu amor e a sua compreensão são as duas únicas coisas que ela precisa de você no momento.

Isso eu tenho de sobra para minha garota.

– Obrigada – Agradeci sem saber o que responder.

– Não vá se acostumando, eu ainda te acho um idiota.

O quarto de Adela está com as luzes apagadas e sem qualquer sinal de vida aparente, bem diferente do ambiente animado e iluminado de dias atrás, parece até um novo cômodo, por um momento pensei que ela estivesse dormindo em sua cama, mas logo escutei pequenos soluços que quebraram o meu coração em mil pedacinhos.

– Adela? – Chamei o seu nome enquanto procuro o interruptor na parede ao lado da porta – Minha linda, eu estou aqui.

A luz da lâmpada iluminou o ambiente revelando a figura esguia da minha namorada sentada no chão abraçando os próprios joelhos. O seu rosto e os seus olhos estão vermelhos pelo choro, por um instante ela tentou se esconder de mim, mas logo a impedi segurando suas mãos delicadamente entre as minhas

– Vai embora, por favor – Ela sussurrou com a voz embargada – Não quero que você me veja assim.

– Assim como?

– Como uma fracassada.

O modo como os seus olhos se encheram de lágrimas novamente me deixou angustiado, ela realmente está acreditando em cada palavra do que está dizendo sobre ela mesma.

– Você não é uma fracassada – Sussurrei beijando com carinho uma de suas mãos – Você é a garota mais inteligente, bonita, obstinada, corajosa e amorosa que eu conheço. Adela, você é a razão da minha vida.

– Você está dizendo isso por que está com pena de mim – Adela retrucou, esfregando o olho direito com o punho, provavelmente irritado com o sal das lágrimas.

– Eu estou dizendo isso por que te amo – Afirmei, ganhando totalmente a sua atenção – E por te amar tanto, acabei conhecendo e me apaixonando por cada faceta sua durante esses últimos meses. Conheci cada qualidade e cada pequeno defeito que formam a sua personalidade, mas tenha certeza que entre esses defeitos não se encaixa em nenhum lugar a palavra fracassada.

Adela se jogou em meu colo, envolvendo o meu pescoço com os seus braços delicados. Ela ainda está chorando, molhando o meu moleton com as suas lágrimas, mas sinto que pelo modo como ela distribuindo pequenos beijos em meu rosto que dessa vez é de felicidade.

– Calma, minha princesa.

– Eu me sinto tão pequena, não sei se vou conseguir esse estágio – Confessou afundando o seu rosto delicado em meu peito, como se estivesse com vergonha de me encarar.

– Foi isso que fez você ficar ansiosa? – Perguntei dando um pequeno beijo em seu rosto

– Um pouco, mas não foi só isso – Adela se afastou de mim, se afastando do meu olhar.

Ela estava tentando me esconder algo, como se estivesse com medo da minha reação.

– Quem disse isso para você? – Perguntei pausadamente, tentando controlar o meu temperamento.

Adela ficou em silêncio por alguns segundos, presa nos próprios pensamentos, até que após um suspiro de resignação ela decidiu contar tudo.

– O diretor me chamou na sala dele me questionando sobre o meu comportamento de ultimamente, de acordo com ele eu estou manchando a minha imagem.

– Desgraçado! – Exclamei sentindo uma revolta enorme me preencher, não é a primeira vez que o novo diretor vem atormentando a vida dos universitários de GoldBriar, mas dessa vez ele não vai sair impune disso, ninguém machuca a minha namorada dessa forma.

– Ele disse que não estou me esforçando o suficiente e eu...

– Acreditou nele por alguns instantes, não é mesmo? – Completei o seu pensamento – Por isso você se trancou no quarto.

Adela confirmou com um pequeno aceno de cabeça. Ela parecia tão frágil, como se a qualquer momento fosse quebrar como um daqueles vasos de cristais que enfeitam a casa dos meus pais.

– Eu sinto muito.

– Sente muito pelo o que? – Indaguei sem entender.

– Por você ter se apaixonado por uma pessoa tão quebrada quanto eu.

Com cuidado me aproximei lentamente dela e levantei o seu rosto com uma de minhas mãos, queria que ela notasse através de meus olhos todo o sentimento que venho sentindo dias após dia por ela.

Um silêncio estranho preencheu o ambiente, me deixando à beira de lágrimas. Dói para caralho ouvir da boca da pessoa que você ama palavras tão depreciativas. Respirei fundo e me controlei, ela precisa da minha força nesse momento.

– Desde pequeno eu sofria muito por não ser o filho que o meu pai queria que eu fosse, então minha avó me acolhia e me dizia que não tinha nada mais bonito do que uma pessoa vencer as suas limitações — Expliquei acariciando o seu rosto com carinho, sentindo a sua pele macia entre os meus dedos — Eu não me arrependo de te amar Adela. Eu tenho orgulho de você e do sentimento que estamos construindo juntos.

– Você..

– Eu te amo, princesa — Repeti mais uma vez — Vou estar aqui do seu lado o tempo inteiro para dizer o quão incrível e maravilhosa você é até que você mesmo acredite.

— Eu te amo, Ethan — Adela suspirou se jogando em meus braços.

Sem dizer mais nada a acolhi em meus braços sussurrando todos os motivos que tenho para amá-la, quando me dei conta já era de madrugada e ela ressonava em um sono profundo deitada sobre o meu peito.

Olá, eu estou viva 🙌🏻
Confesso que passei um bom tempo longe da plataforma para cuidar da minha saúde mental e dos meus estudos para o vestibular, mas agora estou de volta.

Passei por um bloqueio de criatividade muito grande, pois tive que escrever uma cena que mexe muito comigo no capítulo passado, a ansiedade não é persegue apenas os meus personagens nesse enredo e tive que falar de assuntos um pouco delicados.

Muito obrigada pelos comentários de carinho , eles me incentivaram a voltar a escrever.

Muito obrigada por terem dado uma chance a esse livro, até o próximo capítulo.

Obs: não vai demorar mais.

Se gostou não esqueça de clicar na estrelinha para ajudar no crescimento do livro na plataforma.

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