t r i n t a e q u a t r o
Com uma taça exibindo o líquido vermelho vibrante do Cosmopolitan em minhas mãos, comecei a me questionar em que momento permiti que o controle da minha vida saísse de minhas mãos e passa-se a girar em torno de um sentimento tão volúvel quanto o amor.
Sim, eu acabei me apaixonando justamente pela pessoa que prometi nunca me apaixonar ou me envolver sentimentalmente. E sim, também precisei estar praticamente bêbada jogada em um jardim para entender a bagunça de emoções e sentimentos que o meu coração estava.
Que poético!
Em um instante, tinha minha vida totalmente planejada como em uma planilha muito bem organizada com datas e horários pré-definidos, e o no outro estou envolvida em um acordo de sexo sem compromisso que acabou terrivelmente mau, principalmente para mim que agora estou com o meu coração despedaçado e o orgulho na lama.
Só na cabeça de uma viciada em livros de romances como eu, poderia acreditar na redenção de um canalha "bad boy" que só pensa nos prazeres de uma vida de solteiro e nas mulheres que ainda pode conhecer nessa vida. A realidade é bem diferente da fantasia de nossos doces sonhos juvenis, homens errados não mudam por uma mulher somente pelo sentimento que envolve ambos, na realidade acabam
a machucando.
— Merda. — Murmurei me apoiando no chão de concreto da escada estonteante que dava acesso ao jardim do apartamento luxuoso de Alexia, me sentindo extremamente tonta pelo acesso de bebida consumido. — Não devia ter bebido tanto, é mais forte do que pensei.
Colocando a taça sobre o batente da escada, fechei os meus olhos tentando recuperar a razão e não sair cambaleando como uma louca até a saída, não posso me humilhar mais do que já estou sendo. Não é necessário que uma multidão de pessoas te olhe com julgamento para que você se sinta mal em um momento como esse, para muitos como eu, basta uma mente perfeccionista e ansiosa que joga na sua cara como em um telão de filme em um loop infinito, todas as idiotices que você fez.
Meu celular apitou chamando a minha atenção e para o meu desgosto era uma mensagem de Ethan, perguntando onde eu estava, já que não havia me encontrado em meu apartamento.
Com um gosto amargo em minha boca, resolvi responde-lo com uma simples mensagem para colocar um fim nisso tudo que começamos. Se ele está pensando que vai me fazer de idiota, está muito enganado, vou acabar com isso antes que ele me chute como um brinquedo velho e usado.
Me encontre na festa de Alexia, estarei te esperando.
Sei que soa muito estranho eu estar justamente na casa da garota por quem fui trocada, aliás por quem todas as outras foram trocadas, porém sinceramente não sinto nenhum pouco de raiva ou mágoa dela, apenas de mim que me iludi como uma tonta por alguém que jurei conhecer mais do que qualquer pessoa.
Com um último gole em meu coquetel, me levantei pronta para me encontrar com ele pela última vez como amantes. Assim como iniciamos tudo com uma conversa civilizada, vamos terminar tudo com outra.
Apesar do meu medo de não conseguir, mantive minha expressão impassível ao observar sua chegada na casa de Alexia. Com uma roupa preta típica do seu vestuário, Ethan roubava a atenção por onde passava com sua beleza exótica, atraindo os olhares de todos sem ao menos notar ou se esforçar.
Ao me encontrar encostada em uma das paredes do hall de entrada do apartamento, ele me lançou um sorriso malicioso que por alguns segundos roubou o meu ar e causou um frio repentino em meu estômago, mas logo sua expressão se fechou ao notar que dessa vez não retribui o seu cumprimento.
Com um andar confiante veio até mim, sem nem ao menos vacilar, sem nem ao menos desconfiar do que estava prestes a acontecer.
— Te procurei por toda parte, amor. — Ethan falou após me dar um selinho demorado nos lábios, provavelmente por notar minha falta de entusiasmo. — Nunca imaginei que te encontraria por aqui, pensei que íamos sair para assistir aquele filme no cinema que você tanto queria.
Céus, como ele pode fingir tão bem? Ele deveria investir na carreira de ator, não posso negar que fingir se importar é uma ótima tática para levar quem ele quiser para a cama, não é à toa que acabei me iludindo achando que eu era a única que ele tratava dessa forma.
— O que foi que aconteceu? Você está com uma carinha estranha. — Indagou tocando o meu rosto com carinho, me encarando com cenho franzido.— Alguém fez algo para te magoar? Me diz amor, eu só quero te ajudar.
Reunião toda a coragem existente em meu corpo, eu retirei sua mão do meu rosto fugindo do seu toque, ao notar meu gesto se tornaram tristes. Se eu passasse mais um segundo com ele me tocando, talvez não conseguisse terminar o que eu devo fazer para a felicidade de ambos.
— Nós dois precisamos conversar. — Murmurei em tom rouco, arrancando as palavras do fundo da minha garganta. — Vamos para um lugar mais calmo, não quero que ninguém ouça o que vamos falar.
Ethan não me respondeu, mas me seguiu quando lhe virei as coisas e adentrei o interior da casa em busca de um cômodo um pouco mais reservado. A multidão de jovens ensandecidos pela música alta mal notou a nossa movimentação, nos dando passagem em meio a empurrões.
Encontramos um dos quartos de hóspedes vazio no segundo andar do prédio, provavelmente onde as amigas de Alexia ficavam no período de férias da faculdade quando não queria voltar para a casa dos pais ou encarar a realidade pobre de muitas famílias pelo país.
— Pronto, acho que agora podemos conversar em paz. — Constatei me virando para encara-lo de frente, não posso demostrar covardia nesse momento tão crucial.
Ethan passou as mãos pelo cabelo negro, uma mania que realiza todas as vezes que está nervoso ou preocupado, algo que reparei durante o nosso tempo de convivência.
— Eu fiz algo de errado? — Ethan perguntou mantendo uma distância cautelosa entre nós, me fazendo respirar um pouco mais aliviada, não conseguiria raciocinar com o seu corpo quente tão perto do meu.— Logan conversou comigo hoje a tarde, mas quero ouvir de você o motivo de estar chateada comigo.
Neguei com um aceno de cabeça.
— O problema não é com você. Eu estou chateada comigo mesma. — Declarei o confundindo ainda mais, sentindo o meu coração doer a cada palavra proferida como se fossem facas afiadas. — Isso que está acontecendo entre nós dois, não pode mais continuar.
Ethan me encarou atônito, parecendo ter levado um balde de água fria.
— Por que? — Proferiu após minutos de silêncio.
— Eu...
— Por que essa mudança repentina? — Indagou visivelmente magoado andando de um lado para o outro, com a voz embargada. — Pensei que estivesse gostando de estar comigo, pensei que isso fosse diferente para você da mesma forma que foi para mim.
— E foi, mas nem sempre o diferente representa o melhor. — Respondi sentindo os meus olhos arderem, me sentindo como uma boba por estar praticamente chorando na frente dele. — Eu quebrei uma das regras.
— Do que porra você está falando, amor? — Ethan indagou tentando se aproximar de mim, mas me afastei novamente do seu toque. Fugindo pela segunda vez em uma noite do toque do homem que amo. — Que regras são essas, Adela?
Passei a manga do meu casaco de malha azul nos olhos, enxugando as lágrimas que insistiam a sair deles, borrando a leve maquiagem que havia colocado mais cedo. Respirei fundo e endireitei a postura, Ethan tem o direito de saber a verdade antes de sair por aquela porta.
Eu quebrei as regras.
As malditas regras que criei para proteger o meu coração e que falharam miseravelmente.
— Quando soube pelo meu irmão que você havia se encontrado com a Alexia hoje a tarde, eu me incomodei e através desse ciúme que senti percebi algo que a muito tempo estava tentando esconder. Esconder de mim mesma! — Comecei a falar olhando em seus olhos, tentando manter a calma e não me debulhar em lágrimas mais uma vez. — Por mais que eu tente, não posso mais continuar fingindo para você. Eu quebrei a principal regra de uma amizade como a nossa, eu me apaixonei por você.
Fechei os olhos e apertei fortemente as minhas pálpebras sem ter coragem de abri-los para encarar o caos que poderia ter causado com essa confissão.
— Como é? — Ethan perguntou em choque, porém logo ouvi o som dos seus passos sobre o carpete se aproximando de mim lentamente, me puxando para perto de si com uma de suas mãos, mas dessa vez não tive força e coragem para fugir mais uma vez. — Você está apaixonada por mim?
Apoiei meu rosto em seu peito sentindo o aroma amadeirado de seu perfume e permiti que me envolvesse em um abraço apertando em uma despedida, talvez nunca mais o tivesse assim tão próximo de mim.
— Sim. — Respondi me perguntando se ele sentiria o rubor do meu rosto através do tecido fino de sua camisa.
— Isso é muito bom. — Sussurrou apoiando sua cabeça na minha, parecendo extremamente aliviado com alguma coisa. — Por que também estou completamente apaixonado por você, princesa.
Espero que tenham gostado, até o próximo capítulo!
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