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Com todas as novas atividades que apareceram de repente em minha frente, acabei esquecendo completamente dos meus problemas e medos relativos ao trabalho que passei várias horas em claro para fazer. Meus professores pareciam ter voltado com muito mais afinco do que no ano passado, com uma vontade enorme de sobrecarregarem os alunos com uma carga horária quase que impossível de se cumprir.

Tentando evitar acumular matéria para o final de semana, passei toda a tarde enfiada na biblioteca com vários livros ao meu lado. Desmarquei meu almoço com Sam e optei por comer qualquer coisa das máquinas de salgadinhos com um refrigerante, sei que não é uma alimentação nada saudável para alguém que tem problemas cardíacos, mas no mundo estudantil vale tudo.

Porém como a minha sorte é bastante relativa, tudo mudou de uma maneira bem drástica e logo a minha antiga preocupação voltou com força.

Despertei do meu transe quando algumas garotas entraram correndo para dentro da biblioteca, causando uma grande algazarra ao derrubarem uma lata de lixo de metal no chão no processo, deixando a senhora que cuida da biblioteca irritadíssima.

Bufei de desgosto.

Por melhor que seja a biblioteca, ela tinha um defeito terrível: Era a única sala de toda a faculdade que possuía vista para o campo de treinamento dos garotos do time de futebol americano, ou seja, homens sem camisa correndo pelo campo suados.

– Tenho que procurar outro lugar para estudar. – Resmunguei ao ouvir os gritinhos histéricos das garotas ao meu lado, como se a própria rainha da Inglaterra estivesse desfilando com suas roupas coloridas pelo lugar.

Elas deviam estar cursando o primeiro ano na faculdade, pois não sabiam como funcionavam o horário da biblioteca e o treino dos garotos. Eu não as culpava. Por causa desse bendito campeonato, Ethan está treinando praticamente todos os dias no campo e agora que isso se tornou nítido para todos, minha vida havia se tornado um martírio.

– Júlia, me deixe olhar. – Uma garota loira pediu para a amiga. – Quero ver se Ethan está jogando, ele estava tão lindo hoje de manhã.

Senti uma vontade enorme de vomitar. Tive que me segurar bastante para perguntar se ela não estava precisando de um óculos.

– Eu prefiro o amigo dele, John. – A amiga morena retrucou. – Ethan tem cara de idiota, como se o mundo fosse dele.

Não tive como não concordar, meu irmão é incrível.

Uma gota de esperança surgiu no meu peito, afinal nem todas as alunas de Goldbriar foram enganadas pelo sorriso cafajeste de Ethan Walker. Ainda tinham aquelas que eram inteligentes e que não acreditavam em qualquer bobagem que os homens diziam, apenas para as levarem para cama por uma noite.

– Adela, a professora Juliet está te procurando. – Liam, o ajudante da bibliotecária me avisou desviando a minha atenção das garotas. – Está te esperando na sala dela.

– Liam, você sabe o motivo? – Perguntei franzindo o cenho. – Pensei que ela já tivesse encerrado o expediente por hoje.

Liam parou de organizar os livros e me encarou. Nos conhecemos desde o meu primeiro ano de faculdade e nos tornamos bons amigos, ele possuía um porte atlético que combinava perfeitamente com o seu cabelo ralo e moreno, poderia muito bem ter se dado bem no mundo dos esportes, mas seguiu caminho no mundo literário e está estudando letras.

Suas histórias eram muito bem escritas e espero um dia que ele consiga publicar algumas delas, para que receba o devido reconhecimento.

– Não tenho ideia, mas não deve ser nada sério.

A professora Juliet não era de chamar os alunos de última hora, só podia significar que algo realmente tinha dado errado no meu trabalho e que estava totalmente horrível para ser aprovado.

– Obrigada por avisar. – Falei guardando os livros na minha mochila. – Avise por favor a bibliotecária, que peguei esses dois volumes para estudar.

– Não tem problemas, afinal ela te adora muito. – Liam respondeu me lançando um sorriso sincero. – Quando quiser conversar com alguém, saiba que pode me ligar a qualquer momento.

Sorri em sua direção.

– Você é um ótimo amigo. – Falei percebendo que o seu sorriso murchou um pouco, não podia lhe dar falsas esperanças em relação a mim, principalmente sabendo que não podia correspondê-lo.

– Você também é maravilhosa.

Liam era meu amigo há muito tempo, eu não queria que nada desse errado nessa amizade, principalmente quando só consigo enxergá-lo como um irmão mais velho e nada mais. Não conseguia agir como Samantha, que se relaciona com alguns homens somente pelo prazer de uma ou duas noites, quero algo especial e não momentâneo.

Não que eu esteja julgando o comportamento da minha melhor amiga, todas as mulheres possuem o direito de fazerem o que quiserem com o próprio corpo, apenas escolhi algo diferente dela.

Juliet era uma professora universitária muito jovem, principalmente quando comparada com o resto do corpo docente da faculdade, mas possuía uma sabedoria invejável e muito cobiçada pelos alunos. Quero um dia ser como ela, ser reconhecida pelo meu trabalho na área da saúde e um dia poder passar tudo o que aprendi para outras mentes mais jovens.

É um caminho bem difícil a ser percorrido, já que a medicina antigamente era considerado um trabalho apenas feito por homens. Ninguém pode negar que os sonhos da mulher sempre foram considerados inferiores ao serem comparados com os do homens, temos que lutar em dobro pelo mesmo reconhecimento.

E eu não estou disposta a desistir, principalmente quando tenho uma inspiração.

– Professora Juliet. – A chamei dando uma batidinha na porta para anunciar minha chegada. – Liam me avisou que a senhora queria falar comigo.

– Adela, querida fico feliz em vê-la. – Juliet falou apontando para a cadeira em frente a sua mesa, indicando para que eu me senta-se. – Apesar de não ser do meu feitio chamar alunos para conversar fora do horário escolar, tive que abrir uma exceção para o seu caso.

– O meu caso? – Repeti confusa. – Aconteceu algo com o meu trabalho?

Juliet deu de ombros.

– Nada de muito sério, querida. – Juliet respondeu com um pequeno sorriso. – Só estou um pouco preocupada com você.

– Comigo? – Perguntei me sentindo um papagaio. – Eu estou muito bem, não estou entendendo o motivo dessa reunião.

Não queria soar como mal educada, porém Juliet tem um péssimo hábito de enrolar o máximo em uma conversa que deveria ser simples, não tinha muito tempo para desperdiçar ouvindo como ela colocava o filho de cinco anos para dormir assistindo galinha pintadinha no final de semana passado.

– Soube da sua inscrição na competição de vagas de estágio desse ano. – Juliet respondeu colocando na mesa de frente para mim, a redação que havia redigido com o meu estoque de mentiras improvisadas. – Querida, esse é um momento muito importante da sua vida, não são todos os alunos do seu curso que são escolhidos para participar do projeto, temo que você não consiga dar conta.

Fiquei sem palavras, não era todo dia que a sua professora preferida lhe dizia que não tinha potencial.

– Não pense que estou duvidando da sua competência profissional, você já provou para todos que é capaz de ser uma médica excelente.

– Então, qual é o problema?

– Sua vida pessoal. – Juliet respondeu sendo direta. – Escrever essa redação com base na vida pessoal da sua amiga, não me enganou nenhum pouco. Tenho te observado desde que colocou os pés nessa faculdade, principalmente quando seu grande potencial na área se destacou dos demais.

– Me desculpe. – Falei me sentindo muito envergonhada e idiota por acreditar que conseguiria enganar uma mulher como ela. – Não sou uma pessoa muito sociável, tenho dificuldades em me relacionar com outras pessoas.

Juliet segurou minhas mãos.

– Querida, eu te entendo muito bem, tanto que terei que pedir que você refaça essa redação com base em fatos verdadeiros. – Juliet falou me deixando sobressaltada. – Tenho medo que a profissão te sugue, impedindo que tenha uma vida normal. Ser médica não significa abdicar de sua própria vida.

Minha professora estava certa, há muito tempo venho tentando me enganar, dizendo para mim mesma que ser antissocial era algo normal e que me fazia feliz, estava na hora de mudar esse conceito pelo meu próprio bem, só não sabia como.

– Como eu faço isso?

Juliet não hesitou em sua resposta.

– Saia fora da sua zona de conforto, tente novas experiências.

Droga! Preferia estar escutando sobre as histórias estranhas de vida dela a ter que escutar a verdade sobre a minha vida social fracassada.

– Você tem até o final do mês para me entregar a nova redação, se for do meu agrado, terá o meu apoio incondicional no seu ingresso no concurso.

Era o máximo que iria conseguir.

Estamos quase chegado a 200 visualizações, muito obrigada por tudo!❤️

Espero que tenham gostado do capítulo de hoje, até o próximo!

Se você gostou vote na estrelinha por favor para ajudar no crescimento da história.

E S T R E L I N H A ⭐️

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