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Samantha estava me esperando na porta do dormitório, enquanto andava de um lado para o outro como se estivesse desesperadamente ansiosa para encontrar alguém e o pior era que esse alguém era eu.
Quando notou que eu havia chegado, correu para me abraçar e me deu muitos beijos em meu rosto dizendo que estava morrendo saudades. Ela era muito carinhosa com as suas amigas no geral, é muito bom ter uma amiga que diz que te ama ao seu lado, a confiava dobra em questão de segundos.
Sam mal me deixou chegar e já me empurrou para quarto me pedindo para contar todas a novidades das minhas férias na casa dos meus pais. Na verdade eu não tinha muita coisa para contar, apenas da grande oportunidade que acabei de ganhar.
Aos sairmos da diretorias, meu irmão veio me acompanhar até a entrada do prédio e após se despedir saiu em direção ao seu que não ficava muito longe. Eu não sabia muito bem o que tinha acontecido entre meu irmão e Samantha, mas de repente eles começaram a se odiar profundamente, então eles se evitam sempre que podem.
Por muito tempo pensei que eles pudessem até mesmo namorar, mas pelo estava enganada. Sempre quando perguntou o que aconteceu, ela muda de assunto rapidamente, então preferi não insistir muito pelo bem da nossa amizade.
– Então, suas férias se resumiram em trabalhar na loja do seu pai e voltar para casa para ler ou assistir alguma coisa na televisão? – Sam perguntou após ouvir toda a história que tinha para contar, quando confirmei com um aceno de cabeça acrescentou. – Você precisa arrumar um namorado urgentemente.
– Eu não preciso de um namorado no momento, preciso terminar os meus estudos e conseguir aquele estágio para poder ajudar os meus pais e comprar edições lindas de livros. – Falei enquanto colocava algumas das minhas roupas no armário. – Aliás não tenho uma boa experiência no assunto, o único que tive era um cretino que tentou me agarrar a força.
Tudo ocorreu durante o meu último ano ensino médio, ainda era uma garotinha sonhadora que acreditava nos homens perfeitos que as autoras de seus preferidos descreviam. Uma perfeita enganação!
Havia um garoto que ela admirava, sua admiração devia ser muito óbvia já que um ele a chamou para sair em um encontro de verdade para conversarem um pouco. Tudo ocorreu bem naquela noite e até dei meu primeiro beijo, mas depois ele mostrou as garras e acabei me decepcionando profundamente, como consequência minhas notas foram prejudicadas e tive que realizar uma segunda chamada.
Todos acreditaram que era por causa do problema de saúde que a minha mãe tinha enfrentado na época e eu não desmenti, ou seja, nem mesmo os meus pais e o meu irmão sabem da verdade.
Nem mesmo Samantha sabe de tudo, porém depois daquele dia jurei a mim mesma que jamais deixaria outro garoto atrapalhar a minha vida.
– Você não pode se prender a uma experiência ruim, tem que tentar de novo. – Sam insistiu se aproximando de mim. – Eu sou sua amiga e quero o seu bem.
– Eu sei, mas ainda não estou pronta para iniciar uma relacionamento, ainda mais com os homens que estudam aqui. – Expliquei a abraçando. – Tenho muitas coisas para resolver no momento, mas eu te prometo que vou tentar ser mais sociável.
– Assim espero, odeio ter que ir nas festas sem você do meu lado, seus comentários depreciativos são engraçados. – Sam falou me ajudando a arrumar as roupas que ainda estava na minha mala.
– Opa! Eu não falei em ir em festas.
– Tinha que tentar pelo menos. – Sam suspirou derrotada me fazendo rir. – Você sabe muito bem que não desistir de te ajudar.
– Sei e é por isso que me preocupo, você é maluca.
Sam tem muito sonhos na vida e me levar para uma festa é um deles. De acordo com ela e com a aprovação da minha mãe, tenho que conhecer o ambiente antes de julga-lo como ruim. Meu maior problema não é em acompanhá-la em uma festa – o que eu já fiz isso uma vez e me arrependo profundamente – é lidar com os amigos populares com quem ela também anda. Alguns são até simpáticos, mas Alexia me odeia por motivos que desconheço, sempre fala ou faz alguma coisa para me constranger na frente de todos.
Diferente de Samantha, eu não conseguia lidar muito bem com essa vida dupla, então preferia me manter afastada dessas pessoas tóxicas. Ela só começou a fumar depois que começou a andar com eles, mas para não haver discussões não a contrario e a deixo ir para onde quiser, desde que não me obrigue a ir junto.
– Não custa tentar mais uma vez. – Samantha implorou com uma voz infantil, tentando de algum modo me convencer.
– Vou pensar no assunto. – Prometi cruzando os dedos atrás sem que ela visse. Samantha parecia ter aceitado com facilidade, mas logo teria que pensar em uma desculpa melhor para ela me deixar em paz.
Depois de arrumar todas as minhas roupas e livros no meu guarda-roupa, Samantha e eu decidimos passear pelo campus para ver se encontrávamos alguns dos nossos amigos.
Não achamos muitas pessoas, afinal o ano letivo só começaria de verdade daqui a uma semana, a maioria só chegava por esse período, mas como sou bolsista tinha que chegar primeiro que todo mundo.
– É a época mais chata da faculdade! – Samantha exclamou se jogando em uma das mesas da cantina. – Não tem nada de divertido para fazer.
– Eu falei que não precisava vir me fazer companhia, eu saberia me virar muito bem sozinha. – Falei me servindo de um sanduíche delicioso.
Nessa época Sam deveria estar viajando com os pais e não aqui nessa faculdade vazia que mais parecia um castelo mal assombrado.
– Eu não te deixaria aqui sozinha, afinal é só uma semana que passaremos aqui em paz e na plenitude do silêncio. – Sam retrucou em tom irônico. – Sempre podemos sair um pouco para irmos ao shopping para fazermos compras.
Olhei para a minha amiga com certo cansaço, Sam não conseguia ouvir um não como resposta e geralmente eu sempre dizia isso para as suas ofertas malucas. Da primeira vez que fomos juntas a um shopping, ela me obrigou a aceitar dois vestidos que valiam quase que dois meses de aluguel do dormitório, eu nunca cheguei a usar nenhum deles por não combinar muito com o meu estilo.
– Seria, mas eu não tenho dinheiro para gastar com roupas ou com qualquer outra coisa. – Respondi sentindo minhas bochechas corarem. – Prefiro esperar que o meu trabalho comece para poder dar conta dos meus gastos.
– Isso é sério? Eu sou sua melhor amiga, posso pagar alguma coisa para você. – Samantha ofereceu animada. – Claro que eu te ajudaria escolher as melhores roupas do lugar, as suas são muito simples e comportadas.
– Eu gosto das minhas roupas do jeito que são, não me vejo usando nenhum daqueles vestidos que me você me presentou, são curtos e decotados demais. – Expliquei tentando colocar um pouco de juízo na cabeça dela. – Eles ficam ótimos no seu corpo, porém no meu que não tem nada de interessante, fica horrível.
Sam respirou fundo e se endireitou na cadeira.
– Ás vezes gostaria de melhorar sua auto confiança na base da violência, Adela seu corpo é perfeito, só precisa ser valorizado com as roupas certas. – Samantha falou me encarando de maneira profunda.
Ótimo, ativei o modo palestrante da minha amiga, onde desligo?
– Quanto ao dinheiro, você pode me pagar depois que terminar a faculdade.
– De jeito nenhum, não posso me comprometer a pagar mais uma dívida. – Recusei imediatamente, com todos os gastos que já tinha feito com livros didáticos, meu três primeiros salários como médica serão só para pagá-los. – Já tenho muitas com o que me preocupar, quando meu trabalho voltar ao horário de expediente normal, podemos ir.
Sam balançou a cabeça em descrença, mas não insistiu mais no assunto, ela sabia que jamais aceitaria que ela pagasse mais uma coisa para mim.
– Sam, eu sei que você quer o meu bem, que gostaria de me ver toda arrumada e elegante, mas não se esqueça que as nossas condições financeiras são diferentes. – Expliquei percebendo que havia a chateado. – A única coisa que quero de você, é a sua amizade verdadeira.
Sam sorriu.
– Isso você já tem, eu só queria poder te dar mais como amiga.
Dei de ombros.
– Eu não preciso de mais nada, me conte mais sobre os eventos que irão acontecer nesse ano e esqueça essa bobagem de me dar presentes fora de época. – Falei mudando para um assunto que ela não podia deixar de falar.
Os olhos de Samantha brilharam de uma forma que só acontecia quando alguma coleção nova de moda da Prada era lançada. A mãe dela era uma modelo aposentada que vivia atualmente do lucro obtido durante a carreira e do trabalho do pai que era empresário de uma rede lojas, ou seja, moda estava impregnada no seu sangue antes mesmo do nascimento.
– Não entendo o motivo, mas os maiores eventos escolares desse ano são os campeonatos de futebol e hóquei e a sua disputa nerd para conseguir um estágio. – Sam suspirou derrotada por não conseguir uma boa farra. – Como não sou extremamente inteligente e não gosto de esportes, vou ter que me contentar com festas esporádicas de fraternidade.
Revirei os olhos pelo seu exagero, ano passado não teve quase nada de novidade e ela mesmo assim não reclamou nenhum pouco depois de voltar bêbada e animada de uma dessas "festas" de fraternidade. Meu irmão era um frequentador assíduo desses eventos, na verdade a maioria eram oferecidas no dormitório dele – que era muito mais espaçoso e com quartos individuais para os jogadores do time – por causa das vitórias ocasionais ou só porque capitão estava com vontade de se "divertir."
– Os jogos sempre são animados, nesse ano vou tirar um tempinho para torcer pelo meu irmão nas arquibancadas. – Confessei animada. – Ele passou as férias inteiras reclamando de mim por não apoiá-lo na torcida.
– Seu irmão é insuportável, não consegue enxergar nada além do esporte. – Sam falou fazendo uma careta de desgosto. – Ainda não acredito que ele teve que vir com você.
– É a vida dele. – Confirmei. – John conquistou muitas coisas com ele, por isso ele precisa se esforçar em dobro para manter o posto.
– E perdeu muitas também. – Sam retrucou em um sussurro, porém consegui ouvir muito bem cada palavra.
Há muito tempo havia prometido a mim mesma que não perguntaria o que tinha acontecido entre eles, não queria pressioná-la a contar algo que não queria, eu mesma estava escondendo muitas coisas dela, então era um pacto de silêncio que não estava a fim de quebrar.
– Sim, perdeu muitas coisas. – Concordei. – Espero que ele não tenha se arrependido de nenhuma delas.
Samantha deu de ombros como se não se importasse.
– O que você vai fazer mais tarde? – Sam perguntou tentando cortar o clima constrangedor que tinha se instalado no ambiente.
– Vou jantar com o meu irmão. Quer vir com a gente?
Sam recusou rapidamente.
– Não estou afim de me martirizar. – Sam explicou. – Seu irmão não me suporta e o sentimento é recíproco. Esse jantar se transformaria em um campo de guerra.
Ela tinha razão, os dois juntos não era uma combinação, sempre algo dava muito errado.
– Tudo bem, nos vemos mais tarde. – Falei me levantando. – Tenho que me arrumar antes de ir encontrá-lo, John odeia quando me atraso.
Samantha levantou seu copo de cerveja em saudação.
– Desejo que você volte viva, não é todos que suportam tanta chatice.
Fiquei um pouco chateada por deixá-la sozinha na faculdade sem ninguém para conversar ou com algo para fazer, mas também não podia recusar um convite do meu irmão, principalmente quando estávamos tão perto de não nos vermos com tanta frequência.
Olá, meus leitores amados! Espero que tenham gostado do capítulo de hoje e do enredo que o livro está tomando.
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E S T R E L I N H A ⭐️
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