Capítulo 3.1
Novamente, aquela sensação de formigamento alcançou partes estranhas de minha mente e corpo. Minha nuca latejava em um calor estranho, pigarreando, levei os dedos até o local a fim de aliviar a sensação.
Virei o celular para ele, a tela ligada na minha barra de pesquisa. Felizmente, naqueles últimos dias minhas pesquisas se resumiam em roteiros de passeios, indicações de restaurantes em conta e linhas de metrô.
— 5 lugares para conhecer em Londres.. Restaurantes que servem comidas orientais.. É, nada mal.
Notei o sarcasmo embutido em sua última fala, por isso, revirei os olhos, guardando o celular de volta na bolsa. Um pequeno momento de silêncio se instaurou em seguida, e antes que ele me lembrasse que a vez estava comigo, disparei.
— E a sua?
Esperei que ele digitasse a senha no celular, levando mais um pouco de sushi à boca. Notei que não havia olhado para o lado de fora em nenhum momento desde que chegamos ao restaurante, então não faria mal olhar agora.
Não durou muito, o suficiente para que duas pessoas passassem, parecendo muito próximas. A garota estava de braços dados com o companheiro, olhando-o com aquele olhar que indicava que ela estava completamente apaixonada. Antes que eu pudesse deduzir mais, Sasuke virou a tela do seu celular na minha direção, pondo fim ao meu passatempo.
— FAD atualização 3.0.. Nakano Tsueda outros trabalhos.. A ponte da paixão nova temporada.. — Arqueei as sobrancelhas, tirando os olhos do celular. — Isso são doramas? E o que é FAD?
— Em minha defesa, a Izumi pediu para pesquisar. Ela é fascinada por essas coisas, e como eu estou em casa na maioria das vezes que ela está assistindo.. — Sasuke levantou os braços para cima, parecendo um culpado. — E FAD é a abreviação para Forest At Dawn, um jogo de RPG gacha.
Assenti, precisando esboçar uma reação diferente para cada sequência. Balancei a cabeça com mais intensidade no comentário sobre o jogo, mesmo parecendo que ele estava falando em hieróglifos para mim. Jogos online e a minha pessoa certamente eram como água e óleo.
— Já te disseram que você é uma pessoa muito aleatória?
— Acho que não. — Respondeu ele, aos risos. — É uma coisa boa? — Balancei a cabeça em afirmação, compartilhando da risada. — Que bom. Se você fosse um animal, qual seria?
E lá estava a mudança repentina de assunto. Talvez eu estivesse começando a gostar daquilo, mas não era algo que eu repetiria em voz alta.
— Acho que um passarinho, talvez? Gosto da possibilidade de alçar novos voos. E você?
— Um falcão.
— Um falcão? — Repeti, juntando as sobrancelhas em uma expressão de dúvida. — Por quê?
— Acho que os falcões são ótimos observadores. Às vezes, sinto como se eu estivesse do lado de fora, apenas observando a vida ao meu redor. Esperando o meu momento certo de agir, mas sentindo que nunca é a hora de fato.
— Uau, que profundo. — Comentei, mantendo um tom sarcástico. — E eu aqui só querendo comer alpiste.
— Querer alçar novos voos também é uma coisa profunda. — Sasuke rebateu, sorrindo de modo a mostrar apenas uma covinha. — Significa que você quer ampliar o seu conhecimento.
— Você está me saindo um ótimo coach. Já pensou na ideia?
— Prefiro dar os meus ótimos conselhos só nas horas vagas. — Ele sorriu, dando mais uma daquelas piscadas de tirar o fôlego. Eu já estava no terceiro copo de refrigerante, e ainda me sentia em um deserto árido e sufocante. — Qual o seu maior medo?
Acostumada com as perguntas vindas tal qual a velocidade de um trem bala, suspirei, pensativa. — Acho que conseguir realizar os meus objetivos, e mesmo assim não estar satisfeita. Ter a sensação de que preciso de algo, mas não saber o quê. E o seu?
— Não conseguir ser marcante na vida de alguém. De um jeito positivo, é claro. Quero ter a certeza de que consegui deixar a marca da minha presença, sabe? Algo que dissesse que eu estive ali.
Assenti. Olhando por uma certa perspectiva, nossos medos não pareciam tão distantes um do outro. Todos eram sobre satisfazer a nossa existência, de alguma forma.
— Acho que é da nossa existência como seres humanos, estar sempre à procura de mais do que podemos ter.
— Por isso, viver o presente é importante. Ser aberto a todas as experiências. A gente só vive uma vez. — Assenti, parecendo entender mais do que queria àquelas palavras. De repente, nós dois parecíamos mais suspirantes do que o normal.
— O assunto ficou filosófico demais. — Sasuke abriu um sorriso, retirando mais um sushi do meu prato, o levando aos lábios. Ele não sabia pegar um prato para si? — E se você fosse parte da natureza?
De onde ele tirava tantas perguntas aleatórias, mas boas de serem respondidas? Será que era do BuzzFeed?
— Acho que eu seria o céu. Vasto e imprevisível, além de ser cheio de faces. Um céu sem nuvens é como um rosto sorridente. Já quando ele tem nuvens pesadas, significa que não é um bom dia. E quando chove, é como se ele descarregasse tudo o que estava fazendo mal.
— Você se definiria assim? — O olhar de Sasuke era penetrante, como se estivesse vendo o mais profundo da minha alma. Não desviei o olhar naquele momento, deixando à mostra todos os meus sentimentos ocultos.
— Talvez. — Dei de ombros. — E você?
— Seria o mar. Profundo, instável, mas ao mesmo tempo, apaziguador. — Sua mão procurava a minha, e mesmo tendo a opção de desviar, não o fiz. Diferente de antes, sua palma estava quente, e o compartilhamento de calor enviava choques nada saudáveis para todas as minhas terminações nervosas. — Além de ser agraciado todos os dias pela beleza do céu, até mesmo quando chove.
Irresistível e galanteador. Aquele era o cara que estava à minha frente, com olhos tão opacos, mas que ao mesmo tempo exibiam uma avidez contagiante. Seus lábios estavam curvados para cima, autorizando à vista para as covinhas que marcavam as suas bochechas, profundas e capazes de cravar o mais desinteressado dos olhares. Seus dedos roçavam no espaço entre os meus, em movimentos vagarosos e delicados. Não sei por quanto tempo ficamos assim, nos encarando, deixando que os olhos fizessem o papel da fala. Apenas quando uma mocinha que aparentava ser alguns anos mais velha do que eu, com um olhar de sinceras desculpas, se aproximou de nossa mesa, Sasuke desviou o olhar, parecendo ter lutado incessantemente contra a sua mente para fazê-lo.
— Peço desculpas pela interrupção. — Começou a jovem, pondo as mãos na frente de seu corpo, se curvando em seguida. — Mas já estamos fechando. Vocês podem realizar o pagamento no caixa.
Pisquei os olhos, boquiaberta ao ligar o celular e notar os números que indicavam as horas. Já ultrapassavam das 3h da manhã, e o mais chocante é que em nenhum momento daquela conversa, eu havia prestado atenção no horário. Me levantando, acompanhei Sasuke até o caixa, observando-o retirar o celular do bolso.
— Como você ajudou a manter a minha coleção de funkos intacta, nada mais justo que a refeição fique por minha conta.
— Não costumo aceitar. — Fiz um pequeno bico, demonstrando estar chateada por como começamos. Apostas eram muito colegial vibes, e mesmo nessa época, são vergonhosas demais.
Contive um xingamento com a onda repentina de frio. Depois de passar horas em um ambiente aquecido, toda aquela temperatura gelada pareciam agulhas entrando lentamente no meu corpo. Olhei novamente para a tela do celular, a fim de ver se o carro de aplicativo estava próximo. Sasuke havia se pontificado à me acompanhar, mas algo me dizia que nossa noite não terminaria com a despedida no carro. E eu definitivamente não estava pronta para ser a garota que leva um bonitão para casa, mesmo que esse bonitão tenha admiráveis olhos noturnos e sorriso arrebatador.
— Então, posso te mandar uma mensagem amanhã? — Ele se virou para mim, vendo que eu parecia um gato molhado. Devagar, Sasuke se aproximou, envolvendo a minha cintura, trazendo o meu corpo para mais perto dele. Em outra ocasião, ele levaria um soco. Mas entendi que ele estava tentando me livrar do frio. Ao menos, minha mente entendeu. Meu corpo não.
— Tem certeza que está tudo bem se eu for? — Tentei não pensar em nada fora do comum, enquanto estávamos daquele jeito. Mas o cheiro de chá preto que provinha de seu pescoço era demais para que a minha mente ficasse silenciosa.
— Não tem problema. O dono da casa é bem tranquilo, eu já tomei conta das gatas outras vezes. — Arqueando uma das sobrancelhas ao notar que eu ainda não havia parado de tremer, Sasuke me apertou mais contra o seu corpo, parecendo não notar que o contato do corpo dele ao meu era justamente a causa por toda a tremedeira da vez. Mesmo com todas as camadas de tecido, ainda era possível sentir os seus músculos contra as minhas costas, e os efeitos que isso causava em partes inapropriadas de meu corpo não eram nada, nada bons. Talvez eu estivesse repensando sobre o fato de estar pronta para levar um bonitão para casa, e a minha mente tão traiçoeira, enviava ao meu corpo sinais positivos para que aquela ideia se concretizasse.
— Parece que o seu carro chegou. — Disse ele, me soltando. Tive que firmar meus pés no chão para me manter de pé. Maldito Sasuke Uchiha, com seus gestos tão despretensiosamente perigosos. Ele não fazia ideia de toda a turbulência que causava na minha mente apenas por estar ali. — Nos vemos amanhã?
Assenti, recuperando o fôlego como se estivesse a minutos debaixo da água. Entrei no carro, olhando apenas uma vez para o lado de fora. Com um sorriso fraco e coração pulsante dentro do peito, acenei, deixando que o carro seguisse. Antes que o motorista virasse na outra rua, senti um bip no celular. Ao ligar a tela, deixei que uma risada genuína escapasse dos meus lábios, junto ao rubor fumegante das minhas bochechas.
(03:14) Sasuke, minha futura paixonite: Você estava linda hoje. Mal posso esperar para ver como estará vestida amanhã.
❀
— “Sasuke, minha futura paixonite”. Sério?
— É, o modo como eu salvei o contato não foi muito correto. — A voz surgiu do outro lado depois de alguns segundos de risada, desconcertante o bastante para me ruborizar até quando estávamos falando pelo telefone. — Deveria ser “Sasuke, minha paixão.” É um fato.
— Vai sonhando. — Respondi, precisando de um tempo para pegar os meus fones de ouvido e voltar para a minha cama. Eu não esperava que Sasuke me ligasse depois de termos acabado de nos separar, mas aí estávamos nós, envolvidos em uma conversa que vez ou outra me obrigava a tampar a boca para conter uma risada mais alta, já que o horário não permitia o feito.
— Você é péssimo nisso. — Tomando fôlego, limpei o canto dos olhos lacrimejantes, sendo a causa da minha perda temporária de ar, Sasuke e sua cantada nada nada estimulante. Ri por minutos inteiros até que minha barriga protestasse pela força imposta aos músculos.
— Vai me dizer que você não aceitaria?
— Assistir Star Wars com você? Hmm.. — Levei o indicador até o canto dos lábios, estreitando os olhos em uma expressão pensativa. Depois de alguns segundos, respondi, enfática. — Não, obrigada.
— Ainda não me conformo com a sua opinião sobre o filme. É quase uma heresia falar que Star Wars é ruim.
— É chato, entediante.. — Mesmo que Sasuke não pudesse ver, levantei um dedo para cada adjetivo que eu atribuía ao filme. Minhas pernas estavam cruzadas e vez ou outra, eu as balançava em movimentos aleatórios.
— Definitivamente não? — Sua entonação denunciava a indignação imposta na frase. Era engraçado. — Star Wars é como o One Piece dos cinemas.
— Isso foi dito em uma tentativa de levantar a moral do filme? — Perguntei, com uma acidez “levemente” provocativa.
— Ah, não. — Sasuke fez uma pausa dramática que quase me obrigou a checar se ele ainda estava na linha. — Não vai me dizer que você também não gosta de One Piece.
Não precisei. Dessa vez, foi a minha vez de fazer uma pausa dramática e como a resposta não veio, era claro para o garoto que a resposta fosse negativa.
— Ok. — Sasuke prosseguiu, suspirando, do mesmo jeito que se lida com uma criança. Inflei as bochechas em reação, ato que durou até a próxima pergunta. — Qual é o seu filme favorito?
— Meu filme favorito? — Perguntei, precisando de um tempo para acessar a minha caixa mental que guardava memórias de filmes. Segundos depois, respondi. — Legalmente loira.
— Legalmente loira? É um bom filme.
— Você já assistiu? — Ele não podia ver o meu rosto, mas eu estava chocada. Não podia imaginar que Sasuke gostava de filmes como aquele, mas julgando toda a conversa que tivemos horas atrás, não era muito improvável que Legalmente loira estivesse na lista de filmes que Sasuke Uchiha já assistiu.
— Já, é um filme legal. — Ele respondeu, talvez não notando a minha incredulidade. — E o que mais a senhorita Haruno gosta, além de falar mal dos filmes alheios?
Mordi a língua com o título dado a mim, mas não rebati. Sasuke Uchiha tinha o dom de ser irritante, e infelizmente aquilo era muito atraente. Não vou negar que o modo como ele pronunciou o meu sobrenome, de uma maneira soprada, mexia com partes importantes do meu corpo. Passando a focar na pergunta, suspirei, encarando o teto. Eu não tinha ideia de quanto tempo estávamos naquela ligação.
— Ler.
— Ler? Bom, bom. — Sasuke prosseguiu. — Qual livro você me recomendaria para ler?
— O diário de Cassy. — Respondi, depois de algum tempo. Recomendar um livro não era uma tarefa fácil. Uma coisa é indicar algum livro para uma amiga, mas isso mudava quando a pessoa em questão era um possível affair. De qualquer forma, o título que recomendei era de um livro que eu li a pouco tempo, e havia se tornado um dos meus favoritos desde então.
— E qual é o assunto abordado no livro?
— O livro fala sobre uma garota terminal. Ela recebe o diagnóstico na infância, mas o livro começa na sua adolescência. — Como não houve resposta, prossegui. — É, eu sei. Parece um livro triste o bastante para ser recomendado mas, por mais que a gente saiba que ela irá morrer, o livro meio que não gira em torno disso, sabe? É só a Cassy e a vida normal de adolescente dela, os sonhos que ela quer realizar, e o jeito que ela vive apesar da doença. E não, não é um livro de autoajuda.
— Uau. — Sasuke respondeu, parecendo genuinamente impressionado. — Eu vou ler esse livro que vai me fazer chorar como uma criancinha, mas em troca quero que você dê uma chance para Star Wars. — Sabendo que eu iria rebater, Sasuke me cortou antes mesmo que eu tivesse a chance. — Eu sei que você não curte, mas como sabe que não gosta, se não se permitir gostar?
— Tá, você venceu. — Afundando o rosto no travesseiro, odiei Sasuke e a habilidade que ele tinha de transformar as palavras em faíscas endereçadas ao meu coração. — Já te disseram que você é muito filosófico?
— Talvez. — Sasuke respondeu, rindo. — É uma coisa boa?
— Bobo. — Abri um sorriso em resposta, ainda escutando o som melódico da risada dele. Em seguida bocejei, sentindo os primeiros sinais de sonolência.
— Parece que alguém está prestes a cair no sono. — Tornando a voz mais baixa, ele prosseguiu. — Antes que você durma e eu fique falando com as paredes, posso te pedir uma coisa?
— Algo me diz que você pediria mesmo que a resposta fosse não. — Sibilei, sendo respondida com mais uma daquelas risadas açucaradas.
— Tem razão. — Concordando, Sasuke continuou. — Veja o céu comigo.
— O céu? — Perguntei, arqueando as sobrancelhas. Com a confirmação, deslizei para fora do cobertor e calcei minhas pantufas, precisando de poucos passos até que meus olhos encarassem a imensidão mesclada em tons de azul e roxo, indicando que logo logo o sol nasceria.
— O quê você vê?
— O céu estrelado.. E a lua. — Respondi, incerta. Será que era para eu estar vendo mais alguma coisa?
— Ela está linda hoje, não está? — Eu não podia ver, mas Sasuke estava sorrindo. Podia sentir na entonação da sua voz, o sorriso entre os lábios fartos e a aparição das duas covinhas. Ao encarar a lua, grande e majestosa, senti vontade de vê-lo naquele momento.
— Uhum. — Murmurei, sentindo um vento gelado soprar em meu rosto e levar os fios róseos consigo. A imagem da lua, em seu ápice, totalmente iluminada, e aquele sentimento que crescia dentro de mim ao observá-la eram hipnotizantes. Do outro lado, tudo o que eu escutava era a respiração suave de Sasuke, e naquele momento, tive a certeza que aqueles pensamentos não estavam presentes somente no meu coração.
— Eu.. eu acho melhor desligar.
— Tem razão. Não vou mais atrapalhar o seu momento de descanso.
— Então, boa noite..?
— Boa noite, Sakura. — O silêncio que ficava após o encerramento da chamada competia com o barulho incessante das batidas do meu coração, martelando os meus ouvidos. Segurei o celular em frente ao meu peito, relembrando as palavras de Sasuke e o momento em que elas não foram necessárias. Ele ainda estava sorrindo quando se despediu, e agora, encarando o céu sozinha, eu ainda desejava vê-lo.
— Ora, Sakura.. Você não é mais uma garotinha! — As palavras pareciam morrer no ar, sendo contrárias às borboletas que dançavam em meu peito. Balancei a cabeça fortemente, desgrenhando por completo o meu cabelo, até que eu expulsasse aquelas borboletas na base da violência. Continuava repetindo aquele mantra até que o meu consciente acreditasse nisso, mas irritantemente, todas as tentativas de controlar a minha mente diante daquele surto adolescente eram interrompidas com flashes da lua e as palavras roucas destinadas ao meu ouvido.
Sem sucesso, afundei o rosto novamente no travesseiro, deixando que ele fosse uma máscara para o rubor que crescia em minhas bochechas e as deixava idênticas à um tomate. Fiquei daquele modo, sufocando a mim mesma e os meus sentimentos tolos até que pegasse no sono, e tudo fosse um mar cristalino que eu me afogava pouco a pouco, até precisar de ar.
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Oii, corações! Como vocês estão? Nem deu tempo de sentir saudades né? Um capítulo surpresa com momentos fofinhos do nosso casal e um possível amor nascendo? Como será que nossos pombinhos vão lidar com isso? Continuem acompanhando os capítulos e até a próxima!
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