Capítulo Vinte e Seis
Drake Timberg:
Não tenho lembranças claras de como conseguimos escapar daquele lugar após a explosão. Tudo o que me recordo é de ter gritado até ficar rouco e, finalmente, perdido a consciência minutos depois.
Fui arrastado para um mundo de sonhos estranhos, repletos de criaturas deformadas, algumas delas sendo eletrificadas diante dos meus olhos. No centro de tudo isso, eu chorava em silêncio, clamando por socorro a quem quer que pudesse ouvir.
Em algum momento, acordei várias vezes, mas as visões e sons que me cercavam eram confusos e sem sentido, então eu desmaiava novamente. Lembro-me de estar deitado em uma cama macia, sendo alimentado com colheradas por meu pai, cujos olhos estavam marejados de lágrimas. Ricardo também estava presente, com os olhos vermelhos de preocupação. Ambos sussurravam palavras de conforto, assegurando-me de que tudo ficaria bem. Em seguida, a cena mudou, e Ryan estava sentado ao meu lado, apertando minha mão com desespero.
— Por favor, volte! — Ele implorava, lágrimas silenciosas escorrendo pelo seu rosto. — Acorde. Por favor, acorde. Preciso contar o que sinto por você.
Eu tentei responder, mas apenas murmurei algo ininteligível antes de perder novamente a consciência.
Quando finalmente despertei de forma mais clara, estava cercado por uma atmosfera que parecia normal, exceto por ser mais acolhedora do que eu estava acostumado. Estava deitado em uma cama incrivelmente confortável, e minha visão gradualmente se ajustou à sala de emergência da agência e aos equipamentos familiares que a compunham.
Uma manta aconchegante cobria minhas pernas, e um travesseiro estava posicionado atrás do meu pescoço para o conforto. Tudo parecia ótimo, mas minha boca estava seca como um deserto, e meus dentes doíam. Minha língua estava pegajosa e desidratada. Na mesa ao lado, vi um copo alto com líquido.
Meus dedos tremiam de fraqueza quando alcancei o copo.
— Cuidado — disse uma voz conhecida.
Virei lentamente e, sentado em uma cadeira diante de uma janela, vi Santiago. Ele usava jeans, tênis Converse de cano alto e uma camiseta laranja-claro. Seu semblante estava marcado pela falta de sono das últimas semanas.
Ele se aproximou e, ao observá-lo de perto, percebi que havia uma angústia profunda em seus olhos.
— Você salvou minha vida — disse Santiago, e seus olhos desviaram para suas próprias mãos. — Annabelle foi uma heroína. Ela conseguiu atrasar um pouco os planos da Lilli.
Lembrei-me de Anabelle, da coragem que ela mostrou ao se sacrificar para atrasar os planos de uma mulher sociopata.
— Pode me dar um pouco de água! — implorei, sentindo minha garganta arder.
Ele pegou o copo e ajudou-me a beber o líquido, proporcionando um alívio bem-vindo à minha garganta seca.
— O que aconteceu depois que apaguei? — Perguntei, ansioso por detalhes.
Santiago suspirou e parecia estar reunindo forças para continuar.
— Muitas coisas. Vou explicar em detalhes — prometeu, apertando as mãos com firmeza, como se estivessem segurando sua sanidade. — Drake, depois que resgatamos você e as outras pessoas que foram sequestradas daquele lugar, prendemos alguns dos capangas que sobreviveram à explosão...
Sua voz tremeu novamente, e era evidente que ele se culpava profundamente pelo que acontecera.
— Encontramos vários adultos acorrentados às paredes de um quarto. Continuamos a vasculhar e descobrimos mais pessoas em um estado semelhante, à beira da morte. Em um quarto mais distante, havia crianças sujas e aterrorizadas, com cortes em suas peles e vestindo trapos rasgados.
A voz de Santiago vacilou mais uma vez, e eu pude perceber a dor em seus olhos. Sabia que era difícil para ele admitir que alguém o controlara de tal forma a ponto de destruir o lugar que ele considerava um lar, onde ele e sua mãe haviam sido aceitos e protegidos.
— Por causa do que fiz, mesmo que de forma indireta, achei melhor me afastar da agência por um tempo — continuou Santiago. — Gisele concordou, dizendo que eu poderia ficar em Londres até me recuperar. Depois do funeral, devo partir imediatamente.
Com reverência, ele colocou uma caixa em meu colo.
Dentro dela, encontrei uma espada de Eléctron novinha em folha.
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Santiago continuou falando, revelando que sua mãe havia criado a espada que agora repousava em minha palma, bem como a outra que eu havia usado anteriormente. Ela sabia o que estava acontecendo comigo e havia começado a desenvolvê-la para que eu a tivesse o mais rápido possível.
Apertei o objeto com força, pensando em Anabelle e em como ela havia cuidado de todos nós, trabalhando incansavelmente ao nosso lado.
Uma batida na porta interrompeu nossos pensamentos, e Isabel Hall entrou no quarto como um furacão. Ela usava um vestido preto sob uma jaqueta de couro, e seu olhar estava carregado de tristeza.
Isabel Hall era uma das melhores agentes da américa pelo que eu sei e vi nos arquivos da agência, talvez eu seja um pouco historiador de cada agente que passou pela empresa.
— Santiago, estão chamando você — disse ela, dirigindo-se a Santiago com um olhar preocupado.
— Ahn, Isabel, não precisa levá-lo tão rapidamente... — Eu comecei a dizer, mas Santiago me cortou.
— Não se preocupe comigo — ele respondeu, colocando a mão em meu ombro. — Vou ficar bem, só pense em descansar.
Santiago se levantou e saiu do quarto, me deixando sozinho com Isabel, que continuava olhando para a porta com uma expressão tensa. Ela ocupou o lugar vago de Santiago e suspirou profundamente.
— Santiago não vai enfrentar muitos problemas, vai? — perguntei a ela. — Quer dizer... ele foi um excelente protetor todos esses anos. Certamente não podem culpá-lo por algo que ele foi controlado para fazer.
Isabel suspirou novamente e abriu o zíper do casaco, brincando nervosamente com os dedos.
— Santiago sonha alto, Drake. Talvez mais alto do que seria razoável. Para alcançar seus objetivos, ele precisa primeiro demonstrar uma grande coragem e ter sucesso como espião, o que ele fez. No entanto, as coisas mudaram depois do que aconteceu contra a agência. Os espiões mais antigos não confiam mais tanto nele. — Isabel falou com uma expressão que indicava que, se os mais velhos não quisessem, seria difícil discordar.
— Mas ele fez tudo isso para nos proteger por tanto tempo, e agora querem colocar toda a culpa sobre ele! — Eu disse, indignado. — Isso é injusto demais.
Isabel suspirou mais uma vez e olhou para mim com um misto de compreensão e pesar.
— Eu poderia concordar com você — disse ela. — Mas não cabe a mim julgar. Gisele está tentando convencer as pessoas a não enviá-lo para a prisão principal. Se ela conseguir, ele será enviado para Londres, onde será observado por um longo período até que possa voltar à ativa novamente.
Aquela última parte da conversa com Isabel deixou meu coração ansioso, repleto de incertezas sobre o que o futuro reservava. Eu queria protestar, defender Santiago e deixar claro que nada do que acontecera era culpa dele.
— Às vezes somos impotentes quando se trata de proteger alguém que amamos — Isabel falou com sabedoria. — Meus pais costumavam me dizer isso. Eu sei que você se sente impotente agora, mas apenas aguarde o tempo.
Ela bagunçou meus cabelos carinhosamente, tentando aliviar um pouco da tensão que eu estava sentindo.
— Por enquanto, seja apenas um adolescente — acrescentou Isabel com um sorriso gentil. — Viva feliz com sua família e amigos.
Depois da conversa com Isabel, meus amigos, primos e pais entraram no quarto, todos preocupados e expressando alívio por eu finalmente ter acordado. Eles me repreenderam por ter desmaiado e demorado a recobrar a consciência.
Na madrugada seguinte, foi realizado o enterro de Annabelle, com seu caixão fechado. Isabel havia me informado que o corpo dela estava em pedaços devido à explosão.
Eu me aproximei do caixão e me ajoelhei diante dele, sentindo o peso da despedida.
— Obrigado por me dar a chance de fazer a diferença no mundo e de me tornar a melhor versão de mim mesmo — sussurrei com emoção. — Adeus, Annabelle.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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